Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com)
A idade das ideias não se mede pela antiguidade ou frescura dos ossos, mas pela cristalização ou inovação do pensamento. Marcolino Moco in Angola: Estado-Nação ou Estado-Etnia Política?, 2015, p.166.
Há
sensivelmente três semanas que Rogério Zandamela, também chamado de
“Xerife de Washington”, está sob fogo cruzado, sobretudo em algumas
redes sociais corriqueiras, por suspeita de ter conduzido “mal” o dossier
da recapitalização e gestão do Moza Banco, pela Sociedade Kunhanha,
entidade que tutela o fundo de pensões do Banco de Moçambique (BM).
Subsidiado
pela dúvida metódica, decidi levantar algumas questões: quem são afinal
os que criticam Zandamela? E porque o fazem? Aquando da sua nomeação
para o cargo de governador do BM, as vozes que hoje o criticam,
vociferaram que o presidente da República estava a trazer um “espião”
para Moçambique. Até citaram Samora “Quando o feiticeiro nos entra pela casa adentro é porque alguém lhe abriu a porta! O feiticeiro seria, então, o governador do BM e o porteiro o presidente da República.
Havia a
tradicional ideia de que o presidente Nyusi nomearia um elemento da
mesma família partidária ou da casta superior de economistas nacionais,
provavelmente para alimentar o clientelismo que hodiernamente presenteia
o nosso país. Felizmente, os tempos mudaram, ainda que permaneçam
alguns focos de resistência.
A dinâmica de
actuação e a coragem de tomar decisões, sem precisar de eucaristias
partidárias ou vindo de qualquer grupo de interesse, a compatibilidade
da dupla Nyusi e Zandamela acabaram com o pensamento fossilizado e
rompeu com alguns “cordões umbilicais” que se alimentavam do Banco
Central. Governar é assumir riscos, mesmo quando algumas receitas são
amargas e difíceis de digerir. O exercício do poder não admite curvas.
Sou um
defensor acérrimo da análise contrafactual (o uso do “se”). Com efeito,
acredito que possa ter havido alguma falta de ética na indicação da
Kunhanha para a recapitalização e gestão do Moza Banco, mas também
acredito (passe o pleonasmo) que uma decisão contrária daquela que se
tomou, teria tido consequências dramáticas, se tivesse sido uma outra
entidade, da qual não se conhece a “alma”. Os moçambicanos não devem
pensar que estão fora dos radares do terrorismo, só porque nunca foi
alvo de um ataque. A decisão de Zandamela pode ter sido tomada com base
nestes critérios: a segurança do sistema financeiro nacional.
É claro que
Zandamela, como qualquer ser humano, está sujeito a erros. Não
criticá-lo, penso que seria um acto de cobardia. Mas, convenhamos,
estabelecer cruzadas com o fito de lhe assassinar o seu carácter, é uma
atitude feia e desonesta de transpirar o rancor. A raiva é cega.
Há um tempo
atrás eu considerava os críticos de Zandamela como indutores do
desenvolvimento, mal soube que alguns deles deram pareceres fraudulentos
para que instituições como o Moza Banco e outras estivessem exauridas e
à beira da falência, só depois é que me apercebi da crueldade da minha
inocência.
Todos nós
devíamos agradecer a Zandamela por se um extintor que vem de geografias
em que o rigor financeiro é uma didáctica, por isso deixem-no trabalhar
livremente na sua nobre missão, para resgatar o prestígio do banco
central. Atacá-lo, sem princípios básicos da lógica, não adiantará em
nada, até porque ele próprio compreendera que “um gladiador deve morrer na arena.”
Esta semana
consultei ao meu amigo Nkulu sobre a matéria em apreço. Eis a resposta
“Esta é uma das áreas em que sou leigo, analfabeto, mas, quando o
Governador falou, entendi que a situação melhorou e que, em comparação
aos meses anteriores, a depreciação do metical está a diminuir. Em todo o
caso, aquela pasta é concorrida e o que as pessoas gostam de ouvir é
dizer que tudo está mal. Estamos mal acostumados e algumas
contestações são internas, do BM, porque as gorduras ilógicas estão a
ser extirpadas. A vaca leiteira está deixando de dar o leite, das mamas e
dos mamilos o conteúdo já não brota. Dr. Zandamela está produzindo
inimigos a partir das suas medidas e estes que hoje gritam, ontem tinham
bocas seladas/lacradas pelas benesses ilegítimas/ilegais. Deixem-no
trabalhar e arrumar a desorganizada casa. Toda a cirurgia é mais ou
menos dolorosa.”
Termino com uma frase popular que diz “Quando tiveres dúvida para que lado seguir, siga o povo.”
Zicomo e um abraço nhúngue ao Valentim, colombiano de solo e moçambicano de alma.
WAMPHULA FAX – 27.06.2017
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