segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Trump ameaça maioria no Senado e deixa republicanos em pânico

Trump com o candidato a vice-presidente republicano, Mike Pence
Democratas prometem aproveitar divisão dentro do partido adversário. Na Câmara dos Representantes recuperação é mais difícil.
Há um ano, Marco Rubio sonhava ser o candidato republicano à Casa Branca. Hoje, está em risco de perder o lugar de senador da Florida para o democrata Patrick Murphy. A razão? Em grande parte o facto de Donald Trump - um milionário que ameaça expulsar todos os ilegais dos EUA, se vangloria de agarrar mulheres sem o seu consentimento e ameaça não reconhecer os resultados das eleições se perder - ser o candidato republicano às presidenciais americanas de 8 de novembro.
Na Florida, Rubio é apenas um exemplo de uma tendência nacional - são vários os senadores republicanos em perigo de perderem o lugar nas próximas eleições. Um cenário que ameaça a maioria do partido (quatro dos cem lugares) na Câmara Alta do Congresso. Na Câmara dos Representantes, onde a vantagem republicana é bem maior (têm mais 60 lugares em 435), os republicanos devem conseguir manter a maioria, mas muito menor do que a que têm agora.
No caso de Rubio, o problema parece ser a revolta do eleitorado latino. Filho de cubanos, seria de esperar que o senador atraísse esse voto. Mas os hispânicos, sobretudo os mais novos e mais liberais, parecem ter abandonado a fidelidade aos republicanos. Basta olhar para os números gerais no estado: 58% dos latinos dizem apoiar a democrata Hillary Clinton, apenas 28% apoiam Donald Trump, segundo uma sondagem Univision.
Nada de espantar se pensarmos que a promessa de campanha mais consistente de Trump é a construção de um muro na fronteira com o México para travar a entrada de ilegais. O milionário chamou ainda "violadores e traficantes" aos mexicanos e prometeu, mal chegue à Casa Branca, expulsar dois milhões de imigrantes ilegais (a maioria dos 11 milhões que vivem atualmente nos EUA são latinos).
Renovar o Congresso
Quando forem às urnas a 8 de novembro, os americanos estarão não só a eleger o novo presidente, mas também a renovar a totalidade da Câmara dos Representantes (por dois anos) e um terço do Senado (por seis anos). E o atual equilíbrio de poderes dificilmente se irá manter. No Senado, onde bastaria aos democratas conquistar cinco lugares para recuperarem a maioria, as probabilidades estão a favor deles. Não só por o comportamento de Trump poder prejudicar os candidatos da direita, mas porque neste ano vão a votos duas vezes mais lugares ocupados por republicanos do que por democratas.
Do lado republicano, o ambiente é sombrio. "Na verdade é um milagre ainda estarmos na disputa. Pensamos sempre: "Como é que isto pode ficar pior?" Mas fica", confessou ao Los Angeles Times um estratega republicano que preferiu manter o anonimato. Os problemas dos candidatos republicanos ao Congresso vão para além do estilo de Trump. Isto porque tanto alguns doadores como muitos eleitores tendem já a dar a campanha por acabada, uma vez que a vantagem de Hillary Clinton sobre o rival parece inultrapassável. Um facto que dificulta a recolha de fundos para os candidatos à câmara e ao Senado e pode fazer baixar a participação no dia das eleições.
Entre os democratas, a situação é a contrária. A própria Hillary Clinton, confiante na vitória a 8 de novembro, esteve em Filadélfia num comício de apoio a Katie McGinty, a candidata democrata ao Senado. E aproveitou para recordar que o rival republicano de McGinty, o atual senador da Pensilvânia, Pat Toomey, ainda não disse se vai ou não votar Trump. "Nos 17 dias que faltam até às eleições, vamos sublinhar a importância de eleger democratas", sublinhou Clinton, afirmando-se empenhada em ignorar as declarações do rival e em apostar antes em dar a conhecer as suas propostas para o país.
Não muito longe dali, em Gettysburg, Trump também preferiu ignorar a adversária e concentrar o discurso nas suas propostas para os cem primeiros dias. Cortes nos impostos, aumento da despesa militar, impor um limite de mandatos no Congresso ou o muro na fronteira com o México foram alguns dos assuntos que abordou junto ao local onde em 1863 Abraham Lincoln se dirigiu a um país dividido por uma Guerra Civil que viria a fazer 600 mil mortos. Mas o candidato republicano não resistiu a fugir ao discurso preparado para prometer que se for eleito presidente irá processar "as mentirosas" que o têm acusado de as assediar sexualmente.
Horas depois de a atriz porno Jessica Drake ter vindo a público dizer que Trump em 2006 lhe propôs ter relações sexuais a troco de dez mil dólares após os dois se terem conhecido num torneio de golfe na Califórnia, Hillary reagiu com ironia ao discurso do republicano em Gettysburg. "Vejo que o meu rival Donald Trump foi a Gettysburg, um dos locais mais extraordinários da história americana, e basicamente disse que se for presidente irá passar o tempo a processar mulheres que apresentaram queixa contra ele pelo seu comportamento passado."
Contra o cheque em branco
Convencidos - pelo menos a larga maioria - de que a Casa Branca está perdida, os republicanos têm duas semanas para tentar conter os estragos no Congresso. Até Karl Rove, a eminência parda da administração Bush filho, tido como o responsável por ter conseguido pô-lo na presidência, admitiu ontem na FOX News que Trump não tem hipóteses de ganhar. "Não vejo como é que possa acontecer", explicou o estratega republicano. "Se ele fizesse tudo certo, talvez ainda conseguisse, mas duvido que ele consiga fazer tudo certo."
Com o Senado praticamente perdido também, os esforços republicanos estão concentrados na Câmara dos Representantes. Um dos mais ativos é Paul Ryan, o speaker da câmara que neste mês anunciou já não ir fazer campanha por Trump. Ryan tem percorrido o país numa tentativa de salvar a sua maioria. Perante a perspetiva cada vez mais provável de uma administração Hillary, os republicanos têm insistido na necessidade de não passar um cheque em branco à próxima presidente, dando aos democratas o controlo do Congresso.

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