CARTA A MUITOS AMIGOS
Faz tempos uma pessoa amiga e de respeito afirmou que nem ela os filhos e netos pagariam as ditas dívidas ocultas.
Há
poucos dias depois do anúncio da subida do preço do combustível e dos
anúncios que lá para Janeiro o preço do pão aumentaria, perguntei-lhe se
não estávamos já a pagar as falcatruas ocorridas.
Vemos
o FMI a impor condições, os países que sempre nos apoiaram e nos
ofertavam doações para vários sectores a recuarem ou cessarem a ajuda.
Os índices do desempenho da nossa economia e as previsões do seu
crescimento baixam dia a dia.
Quando
em toda a parte gostassem ou não de nós ninguém punha em causa a
honestidade e hombridade dos nossos dirigentes, facilmente na rua, nos
chapas, fora e dentro das fronteiras fala-se da gatunagem de elementos
da direcção.
Claro
que não nos sentimos bem. Estamos conscientes que a maioria esmagadora
dos moçambicanos e dos quadros nacionais nos mais variados sectores
fazem parte das pessoas com as mãos limpas, coração e mente honradas.
A
PGR abriu processos, mas até agora nada se sabe. Claro, há que
respeitar as normas do segredo de justiça e não se fazerem acusações
infundadas ou com base nos boatos. Mas por favor, celeridade!
O FMI quer investigar o que se passa na nossa casa, devemos reconhecer que o silêncio fomenta a suspeita e a exigência.
Acredito
que eu, tal como o grosso dos moçambicanos não nos sentimos bem.
Precisamos de reganhar a confiança em nós, no país e nas direcções dos
mais diversos escalões.
Há
poucos dias terminou na Matola uma reunião que congregou cerca de três
mil quadros da FRELIMO, vindos de todos os distritos e províncias que se
distribuíram em 25 grupos de trabalho para melhor discussão.
A
síntese de todas as 25 sínteses reflectiu efectivamente as discussões e
intervenções e na sequência uma sessão extraordinária do CC debruçou-se
sobre a matéria, com vista à preparação do XI Congresso da FRELIMO no
próximo ano. Quem participou tomou nota quer da ansiedade dos presentes,
quer da vontade unânime em levar os membros e o povo em geral a
voltarem a confiar na FRELIMO e na sua direcção.
Uma
exigência unânime e premente centrou-se na purificação das fileiras e
nos critérios que assegurem filtros seguros nas admissões.
Saber
quem é quem, que trajecto o trouxe ao partido, como se comporta no
local de trabalho e residência, que dedicação demonstrou e que serviços
meritórios prestou.
Igualmente se requereu nas discussões o limite do número dos mandatos.
Já
existe para o Presidente da República, porque não se aplicarem normas
similares para todos os cargos, desde os deputados, edis, membros dos
secretariados aos mais diversos níveis?
Precisamos de vitalícios? Muitas vezes um vitalício torna-se autista, indiferente ao que se diz e ao que vê à sua volta!
Claro
há que garantir a continuidade e transmissão das experiências, por isso
mesmo se referiu que dever-se-ia limitar a continuidade a um máximo de
50%, respeitando as proporções de jovens, mulheres, combatentes da
libertação nacional nessa continuidade.
De
igual modo se desejou melhorar as proporções dos vários sectores na
renovação. Isso assegura que o Partido não se transforme numa associação
de interesses pouco claros e de patrocínios para indesejados.
Já se faz isso em vários países, a China, por exemplo fixa limites de idade e de mandatos para os dirigentes.
Dirigentes
com uma certa idade e bom desempenho integram automaticamente um órgão
que de um certo modo supervisiona as decisões dos órgãos e as propostas
para novos membros da direcção. São de algum modo um comité superior de
verificação nos diferentes escalões, do distrito ao topo.
Todos
se recordam como a eternização de dirigentes na URSS e no PCUS levou ao
suicídio do país e do partido. Até um bêbado notório chegou à direcção
máxima para mal do país.
No
nosso país e suscitando um sentimento de frustração e revolta
testemunhamos comportamentos bem incorrectos em numerosos escalões do
estado e da governação.
Há
escândalos com a construção de residências para administradores, parece
que um deles mandou construir com o erário público um palacete com 8
divisões, não vi, não estive lá, mas camaradas dessa província
mencionaram-me o caso.
A
meu ver deveria haver um modelo único com adequações necessárias para
residências, gabinetes, moradias para professores, enfermeiros,
funcionários.
Tipo
T3, mobílias inventariadas e responsabilizar o utente pela manutenção,
reposição e até reparação dos danos que causou. A irresponsabilidade faz
parte do intolerável!
Estamos
nas vésperas do XI Congresso, em 2018 realizam-se as eleições
autárquicas e em 2019 as gerais, incluindo as presidenciais.
Não
se trata de um partido monopolizar o poder, há que garantir os sistemas
mais rigorosos de fiscalização a partir da mesa de voto, garantir que
as diversas forças políticas que concorrem estejam representadas a
partir das mesas.
Que
haja e, se necessário, uma participação internacional na supervisão do
processo, assegurando o máximo de credibilidade e do fim do eterno
discurso de fraude do fanfarrão habitual.
Necessitamos
de levar a cabo uma renovação, que nos faça respeitados, trabalhadores,
responsáveis pelas nossas acções. Como já o fizemos.
Faz
dias o Mário Machungo recordou que no tempo de Samora qualquer corrupto
se apresentava ao público num comício e, claro, nas instâncias
competentes do Estado, da Justiça e do Partido respondia pelos seus
actos.
Ele bem o sabe, pois ainda nos tempos de Samora ocupou várias direcções de ministérios e até as funções de Primeiro-Ministro.
As
angústias que assolam os moçambicanos podem conduzir a tragédias de
várias ordens, desde motins organizados ou não por terceiros, até a
derrotas eleitorais sérias, como acabamos de testemunhar num vizinho bem
próximo.
Há
que ponderar seriamente e apoiar o Presidente Nyusi e a sua equipa a
cumprirem o programa aprovado, incluindo no respeitante ao Estado.
Saber
por termo ao despesismo desenfreado, à proliferação de ministérios e
funcionários que nada fazem. Perguntemos quantos ministérios surgiram a
partir do Ministério da Educação e Cultura e o que fazem?
Um abraço ao trabalho sério e à mobilização de todos para atingirmos o que desejamos para nós, nossos filhos, netos e o país.
P.S. Soubemos que Mário Wilson que tanto nos orgulhou no futebol aqui e em Portugal partiu para sempre.
Lá na Académica e no Sporting, aqui no Desportivo trabalhou e bem
Ficamos com a saudade e o exemplo que precisamos.
SV
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