segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Sobre o justo pagar pelo pecador

  

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CARTA A MUITOS AMIGOS
Faz tempos uma pessoa amiga e de respeito afirmou que nem ela os filhos e netos pagariam as ditas dívidas ocultas.

Há poucos dias depois do anúncio da subida do preço do combustível e dos anúncios que lá para Janeiro o preço do pão aumentaria, perguntei-lhe se não estávamos já a pagar as falcatruas ocorridas.

Vemos o FMI a impor condições, os países que sempre nos apoiaram e nos ofertavam doações para vários sectores a recuarem ou cessarem a ajuda. Os índices do desempenho da nossa economia e as previsões do seu crescimento baixam dia a dia.

Quando em toda a parte gostassem ou não de nós ninguém punha em causa a honestidade e hombridade dos nossos dirigentes, facilmente na rua, nos chapas, fora e dentro das fronteiras fala-se da gatunagem de elementos da direcção.

Claro que não nos sentimos bem. Estamos conscientes que a maioria esmagadora dos moçambicanos e dos quadros nacionais nos mais variados sectores fazem parte das pessoas com as mãos limpas, coração e mente honradas.

A PGR abriu processos, mas até agora nada se sabe. Claro, há que respeitar as normas do segredo de justiça e não se fazerem acusações infundadas ou com base nos boatos. Mas por favor, celeridade!

O FMI quer investigar o que se passa na nossa casa, devemos reconhecer que o silêncio fomenta a suspeita e a exigência.

Acredito que eu, tal como o grosso dos moçambicanos não nos sentimos bem. Precisamos de reganhar a confiança em nós, no país e nas direcções dos mais diversos escalões.

Há poucos dias terminou na Matola uma reunião que congregou cerca de três mil quadros da FRELIMO, vindos de todos os distritos e províncias que se distribuíram em 25 grupos de trabalho para melhor discussão.

A síntese de todas as 25 sínteses reflectiu efectivamente as discussões e intervenções e na sequência uma sessão extraordinária do CC debruçou-se sobre a matéria, com vista à preparação do XI Congresso da FRELIMO no próximo ano. Quem participou tomou nota quer da ansiedade dos presentes, quer da vontade unânime em levar os membros e o povo em geral a voltarem a confiar na FRELIMO e na sua direcção.

Uma exigência unânime e premente centrou-se na purificação das fileiras e nos critérios que assegurem filtros seguros nas admissões.

Saber quem é quem, que trajecto o trouxe ao partido, como se comporta no local de trabalho e residência, que dedicação demonstrou e que serviços meritórios prestou.

Igualmente se requereu nas discussões o limite do número dos mandatos.

Já existe para o Presidente da República, porque não se aplicarem normas similares para todos os cargos, desde os deputados, edis, membros dos secretariados aos mais diversos níveis?

Precisamos de vitalícios? Muitas vezes um vitalício torna-se autista, indiferente ao que se diz e ao que vê à sua volta!

Claro há que garantir a continuidade e transmissão das experiências, por isso mesmo se referiu que dever-se-ia limitar a continuidade a um máximo de 50%, respeitando as proporções de jovens, mulheres, combatentes da libertação nacional nessa continuidade.

De igual modo se desejou melhorar as proporções dos vários sectores na renovação. Isso assegura que o Partido não se transforme numa associação de interesses pouco claros e de patrocínios para indesejados.

Já se faz isso em vários países, a China, por exemplo fixa limites de idade e de mandatos para os dirigentes.

Dirigentes com uma certa idade e bom desempenho integram automaticamente um órgão que de um certo modo supervisiona as decisões dos órgãos e as propostas para novos membros da direcção. São de algum modo um comité superior de verificação nos diferentes escalões, do distrito ao topo.

Todos se recordam como a eternização de dirigentes na URSS e no PCUS levou ao suicídio do país e do partido. Até um bêbado notório chegou à direcção máxima para mal do país.

No nosso país e suscitando um sentimento de frustração e revolta testemunhamos comportamentos bem incorrectos em numerosos escalões do estado e da governação.

Há escândalos com a construção de residências para administradores, parece que um deles mandou construir com o erário público um palacete com 8 divisões, não vi, não estive lá, mas camaradas dessa província mencionaram-me o caso.

A meu ver deveria haver um modelo único com adequações necessárias para residências, gabinetes, moradias para professores, enfermeiros, funcionários.

Tipo T3, mobílias inventariadas e responsabilizar o utente pela manutenção, reposição e até reparação dos danos que causou. A irresponsabilidade faz parte do intolerável!

Estamos nas vésperas do XI Congresso, em 2018 realizam-se as eleições autárquicas e em 2019 as gerais, incluindo as presidenciais.

Não se trata de um partido monopolizar o poder, há que garantir os sistemas mais rigorosos de fiscalização a partir da mesa de voto, garantir que as diversas forças políticas que concorrem estejam representadas a partir das mesas.

Que haja e, se necessário, uma participação internacional na supervisão do processo, assegurando o máximo de credibilidade e do fim do eterno discurso de fraude do fanfarrão habitual.

Necessitamos de levar a cabo uma renovação, que nos faça respeitados, trabalhadores, responsáveis pelas nossas acções. Como já o fizemos.

Faz dias o Mário Machungo recordou que no tempo de Samora qualquer corrupto se apresentava ao público num comício e, claro, nas instâncias competentes do Estado, da Justiça e do Partido respondia pelos seus actos. 

Ele bem o sabe, pois ainda nos tempos de Samora ocupou várias direcções de ministérios e até as funções de Primeiro-Ministro.

As angústias que assolam os moçambicanos podem conduzir a tragédias de várias ordens, desde motins organizados ou não por terceiros, até a derrotas eleitorais sérias, como acabamos de testemunhar num vizinho bem próximo.

Há que ponderar seriamente e apoiar o Presidente Nyusi e a sua equipa a cumprirem o programa aprovado, incluindo no respeitante ao Estado.

Saber por termo ao despesismo desenfreado, à proliferação de ministérios e funcionários que nada fazem. Perguntemos quantos ministérios surgiram a partir do Ministério da Educação e Cultura e o que fazem?

Um abraço ao trabalho sério e à mobilização de todos para atingirmos o que desejamos para nós, nossos filhos, netos e o país.

P.S. Soubemos que Mário Wilson que tanto nos orgulhou no futebol aqui e em Portugal partiu para sempre.

Lá na Académica e no Sporting, aqui no Desportivo trabalhou e bem

Ficamos com a saudade e o exemplo que precisamos.

SV

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