Última
TEMA DA SEMANA 2 Savana 23-09-2016
A Linhas Aéreas de Moçambique
(LAM) confirmou em 2015 que
está em queda nos resultados líquidos,
averbando prejuízos de cerca
de 1.8 mil milhões de meticais nesse
ano. Em 2014, já tinha “aterrado”
em proveitos negativos de cerca de
900 milhões de meticais.
O mais recente quadro da situação
financeira da companhia de bandeira
moçambicana consta de uma informação
interna, a que o SAVANA
teve acesso, e que é parte do processo
de passagem de pastas do Conselho
de Administração Cessante ao
Novo Conselho de Administração.
A LAM tem conhecido mudanças
sistemáticas de direcção e fortes interferências
políticas, o que é visto
como pernicioso para o desempenho
da empresa.
Ao que o SAVANA apurou, as fortes
interferências políticas na LAM
terão igualmente levado o novo homem
forte do Ministério de tutela
a tentar uma aprovação de um contrato
de consultoria para coordenar
a “consultoria externa” no valor de
USD35 mil/mês. O consultor era
a empresa de um antigo PCA da
LAM. Soubemos que o administrador-delegado,
que sucedeu Marlene
Manave, terá recusado a “proposta”,
o que custou o seu afastamento. Outra
razão era a exigência de prestação
de contas ao Ministério de Transportes
e Comunicação (MTC) e não
ao Instituto de Gestão e participa-
ção do Estado (IGEPE). A LAM
é detida pelo Estado (96%) e pelos
Gestores Técnicos e Trabalhadores
(GTT), que controlam 4%.
Marlene Manave foi exonerada em
Julho de 2014 do cargo de Administradora
Delegada, tendo sido
substituída por Iacumba Aiuba, que
dois anos depois saiu para dar lugar a
António Pinto. O Conselho de Administração
é actualmente dirigido
por António Pinto de Abreu, desde
Fevereiro deste ano. É o quarto PCA
em cinco anos. Depois de Silvestre
Sechene (desde Julho de 2014 a Fevereiro
2016), Carlos Jeque (2013-
2014) e Teodoro Waty(2011-2013).
Se do lado dos prejuízos a aterragem
é visível, os custos operacionais
voam a uma velocidade de cruzeiro.
No ano passado, a transportadora
averbou seis biliões de meticais, ligeiramente
abaixo do que já tinha
atingido em 2014.
Nos gráficos do “presente” com que
o elenco agora presidido por Pinto
de Abreu foi brindado pelo anterior
Conselho de Administração é possí-
vel ver que a última vez que a LAM
podia sentir-se orgulhosa do estatuto
de companhia de bandeira foi em
2013. Nesse ano, arrecadou resultados
líquidos positivos: 30,7 milhões
de meticais.
“A estratégia do sector de transportes
preconiza a “blindagem” das
companhias de bandeira de modo a
permitir o transporte de passageiros
e carga entre as diferentes regiões do
país e do mundo assim como potenciar
as mesmas para a concorrência
resultante da liberalização do espaço
aéreo”, lê-se no sumário executivo da
apresentação feita pelo CA cessante
ao CA actual, cujo documento está
na posse do SAVANA .
“Distribuir o mal pela aldeia”
Com um total de 886 trabalhadores,
a situação financeira da LAM é
tão calamitosa que no documento a
que tivemos acesso é proposto que o
Estado moçambicano assuma uma
dívida de USD73 milhões contraída
pela companhia junto do BCI. Desse
valor, 63 milhões de dólares correspondem
à chamada Fase I do projecto
de renovação da frota e USD10
milhões ao financiamento adicional
para a cobertura de passivos.
As medidas cirúrgicas para que a
transportadora saia do terreno perigoso
em termos de resultados vão
mais longe: Propõe-se que sejam
vendidas ou alugadas duas aeronaves
Embraer 190 para que a empresa
consiga reverter a situação negativa
de tesouraria.
É ainda defendido o adiamento da
recepção de três boeings B 737-800
do projecto em curso de expansão
da frota para 2017 e 2018. Aliás, o
PCA da LAM, António Pinto de
Abreu, disse em princípios deste
mês que a compra de três aeronaves
foi suspensa devido ao mau momento
financeiro da empresa. Na altura
precisou que a empresa tem uma dí-
vida de USD139 milhões, abaixo dos
USD160 milhões, que a nova administração
encontrou quando chegou
há seis meses à empresa.
A matriz de reformas pede ainda “a
restruturação e negociação dos financiamentos
que a LAM tem dos
bancos, incluindo o financiamento
de 15 milhões de dólares do BNI,
conversão dos passivos financeiros
de curto prazo em passivos de médio
e longo prazo”.
As medidas de restruturação contemplam
também a venda de activos
financeiros onde se mostrar adequado
e oportuno, revisão da orgânica
da empresa e reformulação dos processos
de trabalho face à introdução
de plataformas informáticas robustas
e modernização da companhia.
A terciarização das lojas de vendas
LAM no modelo de “franchising”,
em substituição do actual modelo
de gestão directa, a não inclusão
do IVA na tarifa doméstica e no
montante referente à taxa de compensação
pela variação anómala do
preço de combustível, bem como a
passagem de gestão dos serviços de
“handling” noutras escalas para a
empresa MAHS são também parte
das medidas de restruturação.
O texto do relatório salienta que ao
longo de vários exercícios económicos,
a companhia não tem sido beneficiada
de injecção de capital por
parte dos accionistas, o que resulta
em incapacidade em fazer face aos
investimentos necessários para a sua
rentabilização e continuidade operacional.
Por outro lado, a indexação de cerca
de 75% das despesas à moeda externa,
nomeadamente o dólar, aumenta
o risco cambial da empresa e, consequentemente,
a sua sustentabilidade
financeira.
Nessa perspectiva, prossegue o documento,
foi enviado ao Ministério
de Economia e Finanças e à Direc-
ção Nacional do Tesouro um pedido
de apoio financeiro ao accionista
Estado no valor de 30 milhões de
dólares, para fazer face aos custos
operacionais, compromissos financeiros
e a dívidas com fornecedores
nacionais e estrangeiros.
Risco de insustentabilidade
elevada
O estado lastimável das contas da
LAM é clamoroso. A empresa de
auditoria e consultoria KPMG
considera que a operadora nacional
apresenta um risco de 90% de insustentabilidade
financeira e os custos
elevados em que a companhia de
bandeira moçambicana incorre representam
72% para o seu negócio.
O relatório sobre os resultados de
risco, que resultou de um processo
interno de análise de risco que foi
facilitado pela consultora KPMG,
diz ainda que a redução da quota do
mercado, fuga de quadros especializados,
perda de imagem, perda de
competitividade e falta de um plano
de continuidade de negócio traduzem
48% de risco para o negócio da
LAM.
A desaceleração dos investimentos
na economia moçambicana e pessoal
não competente, com 24%, respectivamente,
ocorrência de acidentes,
30%, ocorrência de incidentes, 18%,
bem como a perda de certificações
nacionais e internacionais, 15%, representam
menores factores de risco
para o negócio da transportadora.
“A LAM não está imune aos desafios
que a indústria de aviação enfrenta,
razão pela qual deve investir
tempo e recursos na gestão de riscos.
Os riscos financeiros e regulamentares
têm sido o foco de grande parte
deste esforço e, como resultado, o
risco inerente e residual que é o mais
alto, foi avaliado pelos participantes
como sendo associado à insustentabilidade
financeira”, lê-se no texto
do relatório da KPMG.
O Conselho de Administração cessante
considera que pode angariar
mais de 604 mil dólares mensais
pelo aluguer dos dois Embraer e 355
mil dólares pelo Boeing.
O plano prevê ainda a redução das
tarifas das passagens aéreas, aumento
significativo do tráfego doméstico
e expansão da rede, melhoria da eficiência
no atendimento e fortalecimento
das companhias nacionais.
“Caso adicionalmente o Estado assuma
as frotas, ou qualquer um dos
cenários apresentados, a rubrica dos
custos financeiros fica reduzida e
consequentemente aumentam os
lucros, aumenta o Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Colectivas
e dividendos para os accionistas”, lê-
-se ainda no documento.
Há precisamente um ano, o Primeiro-Ministro,
Carlos Agostinho
do Rosário, visitou a LAM, onde
recomendou que se fizesse uma avaliação
económico-Financeira mais
profunda e apresentar opções a curto,
médio e longo prazos, para levar
a empresa a níveis de rentabilidade
aceitáveis.
Para o efeito, a LAM lançou um
concurso para a contratação de
serviços de consultoria para a restruturação
da companhia. Segundo
documentos na nossa posse, foram
recebidas nove propostas das quais
quatro são de empresas domiciliadas
em Moçambique e igual número de
empresas estrangeiras. Das nacionais
consta a Deloite, Ernest &Young,
KPMG e PWC associada à JCF
Strategy Consultant. IATA, ICF
Lufthansa Consulting e Mackenziemorgan
foram as empresas estrangeiras
que submeteram propostas
para uma consultoria de restrutura-
ção da LAM. O concurso foi ganho
pela Lufthansa consulting e não há
indicações de que tenha começado a
trabalhar, numa proposta que deverá
custar a LAM USD434.500.
LAM “despenha” a pique nos prejuízos
pelo segundo ano
OPCA da LAM, António
Pinto de Abreu,
que está na superintendência
daquela
firma desde Fevereiro deste
ano, disse há duas semanas, em
Maputo, que a transportadora
aérea nacional reduziu, em seis
meses, a sua dívida em USD20
milhões, estando agora, segundo
ele, fixada em USD139 milhões.
Entretanto, fontes do SAVANA,
profundas conhecedoras
das contas da LAM, dizem que
tal não corresponde à verdade.
“As contas da LAM se acham
dispostas em meticais, pelo que,
ao passar o passivo desta moeda
para o USD, pode-se, erradamente,
ficar com a impressão de
que a dívida está a baixar, tendo
em conta que a moeda norte-
-americana tem estado a apreciar de
forma muito significativa. Se ele tivesse
apresentado a saúde financeira
da empresa em meticais, claramente
que se veria que a dívida até aumentou”,
sublinhou uma das nossas
fontes.
O SAVANA sabe que, de Fevereiro
a Agosto de 2016, a LAM teve
um prejuízo operacional de cerca
de USD30 milhões, “pelo que é, no
mínimo, inverídico que, no mesmo
período, a empresa tenha reduzido a
dívida em USD20 milhões. Para que
isso fosse hipoteticamente correcto,
a firma deveria ter encaixado, no
mesmo período, USD50 milhões”.
Apurámos que, ultimamente, a
LAM está, inclusive, a ver incrementado
o seu nível de endividamento,
estando já em situações de “problemática
mora” com diversos fornecedores,
incluindo SMS, empresa
de catering que serve os voos
da LAM. “A situação está tão
má que até as contribuições ao
INSS (Instituto Nacional de
Segurança Social) têm estado
a registar atrasos”, frisaram as
fontes do SAVANA .
As nossas fontes dizem mesmo
que o facto de, mesmo passando
a posição financeira da
empresa de meticais para USD,
a dívida “só reduziria” em 12.5
por cento (20 milhões USD) e
não em perto de 50 por cento,
se se assumir que o USD apreciou
em cerca de 100 por cento
face ao metical, “é prova bastante
de que os números estão
a ser vergonhosamente manipulados”.
Manipulação de números na LAM?
TEMA DA SEMANA Savana 23-09-2016 3
PUBLICIDADE
TEMA DA SEMANA 4 Savana 23-09-2016
Enquanto o Presidente
Nyusi jogava os seus últimos
trunfos em Washington
para a recuperação
da confiança junto dos
parceiros internacionais, com
destaque para o Fundo Monetá-
rio Internacional (FMI), de Maputo
chegavam sinais de mobilização
de um “grupo de choque”,
sobretudo nas redes sociais, para
argumentarem a desfavor de uma
auditoria internacional às chamadas
dívidas escondidas e reduzirem
a cinzas os entendimentos
alcançados entre o Governo e a
instituição dirigida por Christine
Lagarde.
Filipe Nyusi terminou esta quarta-feira
uma visita de trabalho
que iniciou a 14 de Setembro
aos Estados Unidos da América
(EUA), uma cruzada em que se
fez acompanhar por três ministros
e 54 empresários, PCA de
empresas públicas ligadas à indústria
extractiva e à logística. Na
delegação não foi Adriano Maleiane,
o ministro da Economia
e Finanças cuja cabeça “é pedida
em Washington”, mas já lá estava
o novo governador do Banco de
Moçambique, Rogério Zandamela,
ele próprio um quadro de
três décadas ao serviço do FMI.
Nyusi foi recebido na sede do
Banco Mundial, do FMI, na Casa
Branca, no Departamento do Estado
e manteve reuniões com o
secretário do Estado para o Comércio
e Energia e importantes
Ecos da visita de Nyusi a Washington
Por Francisco Carmona
quadros do MCC (Millennium
Challenge Account). Ainda na
capital norte-americana, avistou-
-se com homens de negócios e
com a comunidade moçambicana
ali residente. Foi distinguido
pela International Conservation
Caucus Foundation (ICCF), em
reconhecimento do compromisso
e acções desenvolvidas pelo Governo
no âmbito da conservação
da natureza, uma semana depois
de o governo ter prolongado por
mais 25 anos a gestão do Parque
Nacional da Gorongosa (PNG) a
cargo da fundação do filantropo
americano, Greg Carr.
Lagarde e “grupo de
choque”
Antes da partida para Washington,
o Governo moçambicano,
nas últimas semanas, fez uma
série de esforços para convencer
os parceiros internacionais da
capacidade e vontade para ultrapassar
a crise da dívida, que passa
pela aceitação de uma auditoria
internacional às dívidas ocultas e
mexidas na direcção máxima do
Banco de Moçambique e no Ministério
da Economia e Finanças.
E não era para menos: Está em
jogo o resgate da credibilidade
internacional de Moçambique
atirada para a sarjeta após a descoberta
das chamadas dívidas
escondidas contraídas pela administração
de Armando Guebuza.
Ao “suspense” e nervosismo criados
nas vésperas da reunião com
a directora do FMI, Christine
Lagarde, saiu um Nyusi sorridente,
o que indiciava que o encontro
de 30 minutos havia atingido
resultados animadores para uma
economia que assiste a sua moeda
a deteriorar-se face às principais
divisas de referência mundial, a
inflação acima dos 20% e as reservas
internacionais líquidas a
caírem a pique.
Contrariamente ao que aconteceu
no Departamento de Estado, não
houve declarações à imprensa no
encontro entre Nyusi e Lagarde
na sede do FMI. Mas um comunicado
distribuído horas depois
sintetizava o que ali foi acordado.
Basicamente Lagarde “saudou os
passos iniciais adoptados pelas
autoridades moçambicanas sobre
as reformas e as políticas acordadas.
Salientou a necessidade
de novas medidas destinadas a
estabilizar a economia e de esfor-
ços mais decisivos para melhorar
a transparência, nomeadamente
uma auditoria internacional e
independente das empresas que
foram financiadas no âmbito
dos empréstimos divulgados em
Abril de 2016”. Para este fim,
uma equipa do FMI aterrou esta
quarta-feira em Maputo, devendo
aqui permanecer por uma semana.
Lagarde acolheu positivamente
a disposição do Governo de
Moçambique de trabalhar com
o FMI na definição dos termos
de referência para este processo
—a ser lançado pela Procuradoria
Geral da República (PGR) —e
de implementá-lo.
Esta era uma das exigências cruciais
por parte da comunidade internacional
para voltar a colocar
Moçambique no mapa dos apoios
externos, mas que encontra resistência
nos sectores conservadores
do partido governamental,
porque tal tem o potencial de
atingir Armando Guebuza e os
seus mais próximos colaboradores.
Daí que logo que ficou publicamente
conhecido o teor do
acordo Nyusi vs Lagarde, era a
confusão total em Maputo nos
sectores gravitando em torno do
anterior timoneiro que chegaram
a acusar o PR de ter hipotecado a
soberania do país.
Antes dos encontros com o presidente
do Banco Mundial, Jim
Yong Kim, e com a directora do
FMI, Christine Lagarde, Filipe
Nyusi recebeu, no hotel St Regis,
na 1900 da Pennsylvania ave
NW, onde estava hospedado, Peter
Larose, director executivo da
constituência para a África, Grupo
1 (de que Moçambique faz
parte) do Banco Mundial.
Ao SAVANA foi dito que Larose,
acompanhado pelo antigo
ministro da Indústria e Comércio
de Moçambique, António
Fernando (agora assalariado do
Banco Mundial), ia aconselhar
Nyusi sobre a matriz que deve
seguir nos contactos com Kim
e Lagarde e outras autoridades
norte-americanas, no esforço que
o Presidente empreende para restaurar
a credibilidade internacional
de Moçambique.
A visita de Nyusi aos EUA era
considerada nos meios diplomá-
ticos como importante para o futuro
das relações bilaterais e com
parceiros como o Banco Mundial
e o FMI, afectadas com a descoberta
de uma dívida escondida
de 1.4 mil milhões de dólares, o
que resvalou para a suspensão da
ajuda.
Uma fonte diplomática disse ao
SAVANA, horas antes do encontro
com Lagarde, que a ideia
é que Moçambique aceite uma
auditoria internacional e negoceie
apenas o que fazer com os
resultados da empreitada, que
claramente podem mexer com a
imagem do anterior timoneiro.
O termo “forense”
Depois de algumas contradições,
sublinhe-se que, antes de embarcar
para Washington, Nyusi já se
mostrava aberto à auditoria internacional,
o que irritou sectores
aliados da anterior administração,
que mobilizaram parte do seu
arsenal nas redes sociais para se
posicionarem contra.
“Se não aceitarmos a auditoria
internacional estamos perdidos.
Temos de dizer sim e negociarmos
o que fazer com os resultados”,
frisou uma fonte diplomática
moçambicana que não quis ser
nomeada dada a sensibili- d a -
de do assunto.
É preciso notar que em
vários encontros que o
Kerry: Bom dia a todos.
Sinto-me feliz em dar
as boas-vindas, a Washington,
ao Presidente
Nyusi de Moçambique. Esperamos
ter discussões hoje sobre uma
variedade de diferentes assuntos,
mas gostaria de congratular
o Presidente pelo seu empenho
pessoal quanto à biodiversidade
e conservação. Ele foi premiado
por isso; é uma iniciativa de enorme
significado por parte do seu
governo. Também me sinto feliz
em dar-lhes as boas-vindas porque
acontece que Moçambique
é o lugar onde a minha esposa,
Teresa (Simões Ferreira, filha de
um médico com o mesmo nome),
nasceu, cresceu e viveu durante
muitos, muitos anos antes de ela
vir para a América. E por isso é
para mim um prazer ter a oportunidade
de falar, e eu pessoalmente
estou muito ansioso em
visitar Moçambique antes do fim
do meu mandato aqui.
Também devemos falar hoje acerca
dos grandes desafios que Mo-
çambique enfrenta em termos da
sua economia, a necessidade de
transparência e de prestação de
contas e de conseguir ultrapassar
os seus desafios fiscais e orçamentais.
Também precisamos de
falar sobre como reduzir alguns
dos níveis de violência que têm
estado a acontecer ao lidar com
a oposição – partido da oposição.
Estes são desafios bastante difí-
ceis – sabemos disso – e espero
ouvir do Presidente o que pensa
sobre o caminho em frente.
Presidente Nyusi: Muito obrigado.
Também gostaria de manifestar
o meu sentimento de prazer
em me encontrar aqui com o Secretário
Kerry. Viemos reforçar as
nossas muito boas e estratégicas
relações entre Moçambique e
os Estados Unidos da América
e aqui estaremos a discutir uma
série de assuntos. Claro que iremos
abordar assuntos – iremos
partilhar pontos de vista sobre
a situação política em Moçambique,
bem como discutir sobre
questões económicas. Trago aqui
comigo uma equipa de homens
de negócios porque pretendemo-
-nos envolver na diplomacia
económica porque este país tem
muita experiência e nós acreditamos
que precisamos de dar um
ímpeto à nossa cooperação económica.
E claro, existe uma outra
agenda que me trouxe para aqui,
que é a diplomacia ambiental.
Portanto estamos envolvidos na
conservação e iremos lidar com
isto – estas são questões de que
iremos falar. E claro, este país
tem muita experiência em termos
de democracia, transparência,
boas práticas, e nós iremos partilhar
essas boas práticas e iremos
aprender uns dos outros sobre as
experiências da diplomacia e gestão
de instituições, transparência,
(inaudível). Portanto iremos trocar
tudo isto.
Portanto esta é, mais uma vez,
uma grande oportunidade de estar
aqui.
Muito obrigado
Kerry: Muito obrigado.
Presidente Nyusi: Muito obrigado.
Mas quero dar-lhe o passaporte
para Moçambique. (Risos)
Declarações de John Kerry e de Filipe Nyusi
Momentos antes do encontro a dois
Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique, e Christine Lagarde, directora-geral do FMI, Washington
TEMA DA SEMANA Savana 23-09-2016 5
PUBLICIDADE
Presidente manteve na capital
norte-americana foi incontornável
o tema sobre as dívidas
escondidas contraídas pela anterior
administração e a exigência,
sobretudo, externa, para que se
avance para uma auditoria forense
internacional. Era a pergunta que
teimava em não calar nos corredores
diplomáticos norte-americanos.
Basicamente, em termos
públicos caiu o termo “forense”,
mas os seus mecanismos, destinados
a levar à justiça potenciais
ilícitos, serão incorporados nos
termos de referência da auditoria,
acção em que o FMI tem parte
leonina. Também para consumo
público, Nyusi “salvou” a imagem
das instituições moçambicanas,
uma vez que competirá à PGR e
aos tribunais lidar com os ilícitos
e os potenciais violadores de leis
ou envolvidos em actos corruptos,
como salientou anteriormente
Lagarde.
Reunião com Kerry
Outro importante encontro que
Nyusi manteve em Washington
foi com Secretário do Estado
norte-americano, John Kerry, à
sua chegada à capital norte-americana.
Nyusi reuniu-se com Kerry onde
passaram em revista as relações
bilaterais e de cooperação econó-
mica entre os dois países.
Antes do encontro a dois, Kerry
afirmou que iria abordar com
Nyusi “sobre como reduzir alguns
dos níveis de violência que têm
estado a acontecer ao lidar com
a oposição – partido da oposição.
Estes são desafios bastante difí-
ceis – sabemos disso – e espero
ouvir do Presidente o que pensa
sobre o caminho à frente”. Claramente,
Kerry manifestava preocupação
com a violência contra
a oposição e estava a referir-se
aos esquadrões da morte, aos assassinatos
políticos de membros
da oposição e à existência de valas
comuns no centro do país. Na
Casa Branca, Nyusi não viu Barack
Obama, mas esteve com Susan
Rice, a poderosa assessora para a
Segurança Nacional que se senta
no gabinete presidencial mais
restrito e onde foi possível abordar
os assuntos que têm a ver com
o conflito interno moçambicano
e os potenciais alastramentos externos,
com o envolvimento de
outros actores político-militares.
Nyusi reuniu-se também com
a secretária do comércio, Penny
Pitzker e da Energia, Ernest Moniz.
Encontrou-se com a vice-
-presidente para as operações do
compacto do Millennium Challenge
Corporation (MCC) e com
a vice-presidente para a avaliação
de políticas do MCC. A ideia,
segundo apurámos, era procurar
obter um segundo compacto para
Moçambique, após o primeiro
no valor de USD 500 milhões,
onde o país não ficou bem na fotografia.
Ao SAVANA foi dito
que há poucas possibilidades de
Moçambique voltar a obter um
compacto II, depois das falhas
no primeiro que basicamente tinham
a ver, por exemplo, com a
construção do sistema de abastecimento
de água de Nacala em
que as obras não chegaram ao fim
(foi aumentada a capacidade da
barragem, mas até hoje não foi
construída a nova conduta para
abastecimento à cidade). Quando
foi interrompido o primeiro
programa em 2013, e quando havia
todos os indícios que haveria
uma versão dois, um diplomata
comentou ao SAVANA: “claramente,
quem pode ir buscar
um empréstimo internacional de
USD 850 milhões (as obrigações
da Ematum SA), não precisa dos
nossos fundos para projectos de
desenvolvimento”.
Na frente do petróleo, Filipe
Nyusi escalou Houston (Texas)
onde manteve encontros com o
CEO da Anadarko e a direcção
da General Electric. Participou
num Fórum empresarial e manteve
um encontro com a Câmara de
Comércio EUA - Árabe, encabe-
çada pela Senhora Araizzi, fundadora
e presidente da organização.
Já em Nova Iorque esteve
também com o CEO da Exxon
Mobil, a empresa que se apresta a
pesquisar vários blocos de petró-
leo em Moçambique e mantém
um acordo (ainda confidencial)
para entrar na exploração do gás
no bloco 4 da bacia do Rovuma,
em conjunto com a italiana Eni.
Selou a sua passagem pelos EsUm
dos mais prestigiados
jornalistas da
África Austral e antigo
editor do jornal Rand
Daily Mail, Allister Sparks,
morreu na segunda-feira na sua
residência em Joanesburgo, aos
83 anos de idade.
Nascido a 10 de Março de 1933,
Sparks iniciou a sua carreira
como jornalista aos 17 anos de
idade, trabalhando como repórter
no Queenstown’s Daily Representative,
na região actualmente
conhecida por Cabo Oriental.
A celebridade de Sparks come-
çou aos 19 anos, quando ele teve
a oportunidade de entrevistar o
arquitecto do apartheid, Hendrik
Verwoerd, num hotel de
Queenstown. Anos mais tarde
viria a torna-se amigo da neta
de Verwoerd, Melanie, 34 anos
mais nova que ele.
Foi nessa entrevista que pela primeira
vez Verwoerd utilizou o
termo “desenvolvimento separado”,
que na altura nem sequer era
política oficial do Partido NacioMorreu
o jornalista Allister Sparks
nal, mas que mais tarde, em 1948,
viria a ser conhecido como o apartheid,
a política oficial de segrega-
ção e exploração racial que prevaleceu
na África do Sul até 1994.
Na sua autobiografia, publicada no
ano passado, e intitulada The Sword
and the Pen (A Espada e a Caneta),
Sparks explica como ficou estupefacto
quanto à ideia de “desenvolvimento
separado”, ao mesmo tempo
que se convencia de que a mesma
não iria funcionar.
Na entrevista, Verwoerd teria dito
a Sparks que “não haverá paz neste
país, meu rapaz, até que os negros
tenham os seus próprios países”.
“De quê é que ele estaria a falar”,
diz Sparks no seu livro. “Como é
que os negros poderiam ter ‘os seus
próprios países’ quando eles estão
aqui, à nossa volta, numa África
do Sul racialmente misturada”. Na
verdade, os “países” para os negros
a que Verwoerd se referia eram os
bantustões que o regime viria a
criar nos anos 80, naquilo que acreditava
que iria resolver o problema
da luta pelo fim do apartheid.
No seu livro, Sparks diz que sempre
considerou Verwoerd “o Lenine e
não o Staline do apartheid, que não
só refinou a ideologia, mas tentou
também implementá-la com desastrosos
resultados humanitários”.
Em 1967 Sparks tornou-se editor
do Rand Daily Mail, de Joanesburgo,
um jornal de língua inglesa que
tinha uma linha editorial liberal
e marcadamente anti-apartheid.
Foi neste jornal que em 1977 ele
denunciou o assassinato de Steve
Biko nas mãos da polícia sul africana,
quando esta pretendia fazer
passar a mensagem de que Biko se
tinha suicidado na cadeia.
Foi também sob sua liderança que
o Rand Daily Mail denunciou,
em 1978, o escândalo de Mudelrgate,
em que o regime do
apartheid, no seu esforço de
propaganda, usou fundos públicos
para a aquisição e criação de
jornais que lhe seriam favoráveis
dentro e fora da África do Sul.
Sparks abandonou o Rand Daily
Mail em 1979, depois de desinteligências
com os administradores
do mesmo, que pretendiam
que o jornal se dedicasse
exclusivamente a uma audiência
branca.
Passou depois a ser correspondente
do Washington Post e do
Observer de Londres, tendo trabalhado
também para a agência
Reuters. Até à data da sua morte,
alimentava uma coluna semanal
no jornal Business Day, de Joanesburgo.
De 1992 a 1997 foi director
executivo do Instituto para o
Desenvolvimento do Jornalismo
na África do Sul, instituição por
si criada, e que tem contribuído
para a formação de jovens jornalistas.
tados Unidos, intervindo quarta-
-feira em Nova Iorque na 71ª
sessão da Assembleia Geral das
Nações Unidas, um evento que
este ano teve como tema Objectivos
de Desenvolvimento Sustentável:
Impulso Universal para
Transformar o Mundo. Em Nova
Iorque esteve com o seu “amigo”
e homólogo Marcelo Rebelo de
Sousa de Portugal, que o convidou
para uma nova visita a Lisboa.
6 Savana 23-09-2016 SOCIEDADE
Depois de o governo e a
Renamo terem surpreendentemente
acordado
segunda-feira saltar
para o ponto 3 das conversações,
que versa sobre a integração das
forças da Renamo no aparato de
Defesa e Segurança (FDS) governamental
(incluindo polícia
e serviços secretos), quarta-feira
as duas delegações remeteram-
-se a um prudente silêncio, enquanto
prosseguem os trabalhos
em várias frentes à porta fechada.
O governo mostrou alguma
abertura em relação à discussão
do ponto, especialmente por entender,
na opinião do general Jacinto
Veloso, que falhas podem
ter havido no processo da implementação
do Acordo Geral de
Paz (AGP), especialmente em
relação à integração.
“Esta delegação (Renamo) apresentou
o ponto e indicou que
houve irregularidades diversas
na implementação do Acordo
Geral de Paz (AGP) e, como tal,
propõe que na base desse acordo
sejam implementadas correcções
e foi aceite. Ficou a delegação da
Renamo de apresentar o modelo
de rectificação destes eventuais
erros para a integração ou
reintegração ou confirmação da
reintegração”, precisou segunda-
-feira Jacinto Veloso, o negociador
chefe do lado governamental.
“Segundo a apresentação da
Renamo que parece ser correta,
na PRM e no SISE não houve
integração dos homens da Renamo.
Mas, tudo isto deve ser feito
e estudado na base de princípios
fundamentais”, disse.
Tal como acordado, a Renamo
apresentou uma proposta do
modelo de rectificação das irregularidades
de aplicação do
AGP rumo à reintegração ou
integração dos seus elementos
naqueles sectores. Ao que o SAVANA
apurou, a proposta era
“muito política” e “pouco prática”,
pelo que se acordou em que
o texto deve ser alterado para
que para cima da mesa venham
questões concretas a serem implementadas
pelas instituições
visadas.
Apesar das reticências levantadas
pelos sectores castrenses e
a ala conservadora da Frelimo
à abertura demonstrada por Jacinto
Veloso segunda-feira, os
observadores da comissão mista
fazem notar que a maior abertura
da delegação governamental
acontece no decorrer da visita
do presidente Nyusi aos Estados
Unidos, onde a questão do
Dada a reivindicação de Afonso Dhlakama e Renamo da vitória eleitoral em seis províncias nas eleições
gerais de 2014, recapitulamos os números da Oposição e da Frelimo nas seis províncias em questão, sublinhando
a amarelo o que constituem as maiorias nos territórios em questão.
Eleições 2014
Oposição vs Frelimo
$') $'* $)+ +)# %*% ((# %%# #*' &'$ &+$ $%& #,%
,& %+'
$+ (%%
$&+ +)( $(, )&$ %(% )(& %$$ ,%( &#+ $%&
diálogo e paz foi um dos temas
recorrentes. A semana passada,
depois da concordância inicial
da delegação de Jacinto Veloso
em se passar do ponto 1 para o
ponto 3, houve depois um recuo
que só veio a ser desbloqueado
esta segunda-feira.
De um ponto de vista global, e
segundo indicações preliminares
da Renamo, a integração e revisitação
do quadro de integração
visa sobretudo corrigir erros do
passado e não tanto observar
novas adesões às FDS. O resto
dos elementos do quadro militar
devem ter pensões atribuídas ou
serem alvo de um programa de
reintegração social.
Na terça-feira, a sub-comissão
de descentralização política, governativa
e administrativa, reuniu-se
para dar continuidade aos
seus trabalhos. Segundo apurou
o SAVANA, é praticamente
ponto assente que o governo
está disposto a aceitar a nomeação
de governadores da Renamo,
mas o seu número e poderes,
assim como a extensão a outros
responsáveis provinciais, deverá
ser matéria a decidir no encontro
cimeiro entre Filipe Nyusi e
Afonso Dhlakama.
Quinta-feira, um especialista em
descentralização falou para toda
a comissão no sentido de dar alguns
inputs que podem ajudar a
dar melhor seguimento e discussão
de um assunto que incorpora
a governação, pela Renamo, das
seis províncias.
Trata-se do pesquisador alemão,
Bernhard Weimer, autor do livro
Moçambique: Descentralizar o
Centralismo – Economia Política,
Recursos e Resultados e, tal
como Gilles Cistac, responsável
por grande parte dos estudos de
descentralização em Moçambique.
De acordo com Mario
Raffaelli, chefe dos mediadores,
Weimer deverá dissertar sobre
como deve acontecer a descentralização
administrativa no
país. O Movimento Democrá-
tico de Moçambique (MDM),
a terceira maior força política e
que tem reclamado fazer parte
do diálogo, também apresentou
a sua proposta sobre a descentralização
aos mediadores e
às delegações mandatadas por
Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama.
Raffaelli tem feito questão
em manter o MDM informado
da evolução das negociações,
até porque este partido poderá
desempenhar um papel importante
se o poder de nomeação
dos governadores passar pelas
Assembleias Provinciais, onde
a formação de Daviz Simango
tem um papel charneiro, se votar
conjuntamente com a Renamo.
Os mediadores continuam a
Sopram ventos de Washington no diálogo Governo-Renamo
Semana de moderado optimismo
Por Argunaldo Nhampossa
batalhar em paralelo em dois
pontos que consideram cruciais
para um desfecho positivo das
presentes conversações: acesso
directo a Afonso Dhlakama na
serra da Gorongosa e o estabelecimento
de uma trégua provisória
enquanto não é estabelecido
um cessar-fogo definitivo.
O diálogo será interrompido a
30 de Setembro e reatado a 9 de
Outubro.
Savana 23-09-2016
7
PUBLICIDADE
8 Savana 23-09-2016 SOCIEDADE
Se a Conta Geral do Estado
(CGE) é o principal
documento de presta-
ção de contas do Tesouro
Público, dedicar-lhe a devida
atenção e monitoria é uma das
melhores maneiras de ajudar o Estado
e a sociedade a gastar melhor
e, sobretudo, a não se confundir
gastar melhor com gastar mais ou
demasiado. A recente divulgação
da CGE de 2015 e do Relatório de
Execução do Orçamento (REO),
de Janeiro a Junho de 2016, fornece
nova informação que justifica
revisitarmos as questões relativas
aos saldos rolantes acumulados no
Orçamento do Estado (OE) de
Moçambique (Francisco e Semedo,
2016), uma das quais é: o que
mudou e o que ficou na mesma em
2015 e 2016?
Quando falamos de saldos rolantes,
referimo-nos aos saldos de
caixa acumulados ao longo do corrente
século XXI na Conta Única
do Tesouro, nas Recebedorias, em
Outras Contas do Tesouro e Outras
Contas de Estado. Saldos de
caixa parcialmente usados e repostos
ou substituídos por novas
receitas fiscais de Estado e outras
(donativos e empréstimos), transitam
para o ano seguinte. Para
além da sua dimensão (no início de
2015 representaram 25% do valor
total dos recursos totais do Estado
em 2015), não menos importante é
tais saldos rolantes serem tratados
como residuais, ou quiçá, demasiado
irrelevantes e marginais, para
serem incluídos no Orçamento de
Estado para cobertura do deficit
orçamental, ou para justificarem
atenção específica nos relatórios
de execução orçamental corrente
e na supervisão do Tribunal Administrativo
(TA). Nem mesmo
a Assembleia da República (AR),
quando solicitada a aprovar a proposta
do Governo para aumento
dos limites de empréstimo interno
e externo, se interroga sobre os saldos
de caixa transitados dos anos
anteriores.
A nova informação orçamental
disponibilizada confirma o nosso
questionamento quanto à alegação,
amplamente difundida na imprensa
local em 2015: “Filipe Nyusi
encontrou os cofres vazios”. Quando
procuramos entender a origem
desta alegação, admitimos derivar
da inesperada polémica provocada
em 2013 e 2014, pela revelação
pública da primeira vaga de endividamento
externo extra-legal,
contraído pelo Governo do Presidente
(PR) Armando Guebuza.
Endividamento feito à margem da
Lei Orçamental, violando ostensivamente
a Constituição da Repú-
blica, sem a aprovação ou mesmo
conhecimento quer das entidades
competentes para o efeito, quer
De novo a questão dos saldos rolantes
na Conta Geral do Estado
Por António Francisco e Ivan Semedo*
das autoridades supervisoras da
macro-economia, tanto nacionais
(e.g. TA) como internacionais (e.g.
Fundo Monetário Internacional -
FMI).
Na lógica do senso comum mais
vulgar, se o Governo do ex-PR
Guebuza contraiu tão elevado e
inesperado endividamento oculto,
nos últimos dois anos do seu mandato,
não admiraríamos que o seu
sucessor encontrasse os cofres vazios.
O vulgar raciocínio do óbvio
fez com que a falácia dos cofres vazios
se tornasse viral na imprensa
e redes sociais. E como que a corroborar
tal raciocínio do óbvio, em
meados de 2015 surgiram as declarações
do Ministro da Economia
e Finanças (MEF) Adriano Maleiane,
anunciando que o Governo
estava a renegociar a reestruturação
dos 850 milhões de USD da dívida
da Empresa Moçambicana de
Atum (EMATUM), por considerar
“curto” o prazo do pagamento
do encargo.
Quando publicamos o IDeIAS 82,
estávamos longe de imaginar que
dois meses depois, novos endividamentos
ocultos seriam revelados
pela imprensa internacional, adicionando
mais 1,4 mil milhões de
USD à dívida pública. Mais uma
vez, dívida contraída em 2013 e
2014 pelos Serviços de Segurança
do Estado (SISE), para empresas
alegadamente em regime jurídico
privado (ProIndicus - $622
milhões de dólares americanos
(USD), Mozambique Asset Management
(MAM) - $535 milhões
de USD, Ministério do Interior-
$200 milhões de USD) e com garantias
do Estado.
Subitamente, Moçambique viu-se
a braços com uma espantosa dívida
pública, de viabilidade, legalidade e
utilidade pública duvidosas; a última
vaga de endividamentos foi
formalizada à posteriori nas “Garantias
e Avales” da CGE 2015, em
Maio passado (MEF, 2016, p. 78–
79). Em qualquer parte do mundo,
de Estado de Direito minimamente
funcional, uma dívida pública
oculta que representasse mais de
10% do produto interno bruto
(PIB) do país, teria provocado uma
enorme crise política e institucional
interna. Como Moçambique
continua longe de ser um Estado
de Direito, a actual crise financeira
e institucional circunscreve-se ao
relacionamento com os doadores
e credores internacionais, colocando
o País em situação de default
ou incumprimento selectivo.
Desconhece-se como, quando ou
se o Governo conseguirá encontrar
uma saída positiva. Entendemos
por saída positiva, evitar o risco
iminente de falência, se as suspeitas
de incapacidade de o Estado
honrar os compromissos credití-
cios que assumiu, por sua conta e
risco, se concretizarem (Francisco e
Mosca, 2016).
Num contexto tão sui generis como
este, aparecer ao público a declarar
que a despeito da pesada factura
creditícia e do imbróglio que o
Governo de Nyusi herdou do seu
antecessor, o Governo de Guebuza
deixou 72 mil milhões de MT em
saldo de caixa efectivo, causou alguma
perplexidade, tanto nos crí-
ticos como nos defensores do regime
do partido Frelimo. Para certos
críticos, a denúncia da falácia dos
cofres vazios foi inoportuna, porque
desvia as atenções da crítica
ao alegado sucesso da governação
económica do Presidente Guebuza.
Para os apoiantes mais comuns
da actual governação, mostrar que
o Presidente Nyusi está longe de
ter os cofres vazios, retira-lhes munições
úteis, na eventualidade de
ser preciso desculpabilizar novos
descalabros económicos e financeiros.
Um terceiro grupo, menor do
que o anterior, mas associado a ele
e de longe o que melhor conhece as
reais disponibilidades orçamentais,
sentiu-se como se tivesse ficado
sem uma carta escondida na manga,
para ser usada à discrição.
O que mudou e o que continua
na mesma?
À semelhança do que fizemos no
IDeIAS 82, vale a pena prestar
atenção ao mapa global de receitas,
despesas e financiamento da
CGE de 2015 (Figura 1), afim de
identificar as principais diferenças
e semelhanças, comparativamente
à CGE de 2014. Comecemos pelas
diferenças:
1. A mobilização de recursos em
2015 representou cerca de 36% do
PIB, tendo decrescido 9,0 pontos
percentuais em relação ao nível de
realização do exercício económico
anterior. As Receitas do Estado
decresceram 2% em comparação ao
nível de receitas do período homó-
logo, mas a maior queda aconteceu
nos Recursos Externos (-33%), devido
à redução dos Empréstimos
(-38%) e dos Donativos (-23%).
Em contrapartida, os Empréstimos
Internos, essencialmente Obriga-
ções do Tesouro, aumentaram 60%
relativamente a 2014, de 5,7 para 9
mil milhões de MT, se bem que em
termos proporcionais, o seu peso
relativo no PIB continua inferior a
5% (MEF, 2016a, p. 36-38).
2. O Governo registou uma varia-
ção positiva de 14 mil milhões de
MT nos saldos de caixa, “situação
resultante do desembolso tardio
de parte considerável de fundos
externos, o que não permitiu a sua
utilização durante o exercício económico”
(MEF, 2016a, p. 40).
3. Se o Governo não tivesse usado
parte dos saldos de caixa acumulados
em 2015, teria terminado no
fim de 2015 com 86 mil milhões de
MT. Porém, como mostra a Figura
1, o saldo de caixa transitado para
2016 baixou para 46 mil milhões
de MT; ou seja, 39 mil milhões
de MT (46%). Uma redução que
tanto pode representar um gasto
efectivo, como poderá parcialmente
corresponder a uma espécie de
transferência ou migração de fundos
das contas do Tesouro para
Outras Contas de Estado.
4. O saldo de caixa transitado para
2016 baixou para pouco menos de
dois terços do valor transitado para
2015. Assim, enquanto no último
ano da governação de Guebuza foram
utilizados fora do OE cerca de
oito mil milhões, no primeiro ano
da governação de Nyusi, a utiliza-
ção dos saldos rolantes quase quintuplicou
(em “Outras Instituições
do Estado”).
5. O uso de 39 mil milhões de
MT do saldo de caixa não tem
precedente, no corrente século
XX. Onde e como foram usados
tais recursos? Infelizmente, à semelhança
do que adiantámos em
relação à CGE 2014, a partir do
reportado na CGE 2015, não nos é
possível responder à questão anterior.
Tão pouco é possível responder
a perguntas tão simples como
as seguintes: Onde e como é gasto
o saldo de caixa transitado para o
ano seguinte? Alguém monitora
a execução orçamental dos saldos
rolantes?
6. A AR fixou o limite do financiamento
interno em quase nove mil
milhões de MT, para o OE 2015;
ou seja, 1,6 vezes mais do que o limite
aprovado, em Obrigações de
Tesouro, no último ano da governação
de Guebuza. Mais surpreendente
ainda, é o recente Orçamento
Rectificativo surgir com o triplo
do valor do crédito interno em relação
ao previsto no OE inicial de
2016 (Mosca e Francisco, 2016).
Como entender o aumento do cré-
dito interno de 7,6 mil milhões de
MT, num OE em situação normal,
para 21,8 mil milhões de MT, num
orçamento rectificativo? Veremos
se a próxima Missão do FMI, prevista
para a segunda quinzena do
corrente mês de Setembro, considera
o aumento do financiamento
interno para o triplo, consistente
com as recomendações da Missão
do Fundo, de Junho passado, e em
linha com a necessidade de se
contrariar o expansionismo
fiscal, e em particular, os exa-
Savana 23-09-2016 9
SOCIEDADE
gerados créditos líquidos ao Governo.
Quanto às semelhanças. Apesar
do incremento significativo no uso
dos recursos orçamentais, dentro
e fora do OE, a governação Nyusi
não tem mostrado melhorias na
transparência e prestação de contas,
relativamente aos saldos rolantes.
Tem, sim, intensificado o recurso
a eles e, simultaneamente, procura
ampliar os limites de financiamento
interno, para níveis nunca antes
vistos. Será para acomodar, em
tempo oportuno, os encargos da
dívida oculta incorporados à posteriori
na CGE 2015? Em devido
tempo saberemos. Por enquanto, o
que observamos, é que a lógica de
endividamento da actual governa-
ção, tal como na anterior, segue a
mesma estratégia de crescimento
económico: maximização da substituição
da poupança interna pela
poupança externa (Francisco et al.,
2016).
Cofres mais cheios em
2016 do que em 2015?
A execução do OE de Janeiro e
Junho de 2016 reporta uma mobilização
de 104 mil milhões de
MT em novos recursos, dos quais:
72 mil milhões de MT em receitas
do Estado, 29 mil milhões de MT
em recursos externos e dois mil
milhões de MT em empréstimos
internos. Não obstante a quebra na
arrecadação de receitas do Estado
(41% do previsto no OE inicial e
44% do programado no OE Retificativo),
em meados deste ano
os recursos totais superaram as
despesas (38,7% do previsto) situadas
em 95 mil milhões de MT. O
abrandamento da despesa deveu-se
principalmente ao fraco nível de
redução da execução da despesa de
Investimento que situou em apenas
19,6% do orçamentado (MEF,
2016b, p. 33).
O excesso de receitas sobre as despesas,
no primeiro semestre, resultou
num aumento dos saldos de
caixa em quase nove mil milhões
de MT (MEF, 2016b, p. 10). Adicionando
este valor aos 46 mil milhões
de MT transitados de 2015,
o saldo rolante acumulado ronda
55 mil milhões de MT (cerca de
$785 milhões de USD, ao câmbio
médio de 70 MT/USD). A menos
que este montante seja totalmente
gasto nos meses que ainda restam
em 2016, o que é improvável,
o Presidente Nyusi deverá iniciar
o ano 2017 com os cofres mais
cheios do que iniciou 2016. Esperamos
que esta folga orçamental
não seja vista como uma margem
negocial suficiente para se teimar
em dificultar a auditoria internacional
independente em nome de
pseudo-soberanias.
Oportunidade para
5HFRQTXLVWDUD&RQÀDQoD
Em tudo na vida, quer seja no negócio,
na política, no amor, ou na
amizade, a confiança conquista-se
com o tempo, mas quando quebrada,
por vezes nem o tempo é capaz
de recuperá-la. Esta nota surge
num dos momentos de maior descrédito
e desconfiança na governa-
ção política e económica moçambicana.
No recente encontro em Washington,
entre o Presidente Nyusi e a
Directora do FMI, Christine Lagarde
“salientou a necessidade de
novas medidas destinadas a estabilizar
a economia e de esforços mais
decisivos para melhorar a transparência,
nomeadamente uma auditoria
internacional e independente
das empresas que foram financiadas
no âmbito dos empréstimos divulgados
em Abril de 2016” (VOA,
2016).
Entendemos a preocupação do
FMI com as controversas dívidas
ocultas, pelas graves violações dos
princípios elementares de parceria
internacional e boas prática financeiras
. Contudo, o esclarecimento
das dívidas ocultas não passa de
um passo, sem dúvida fundamental,
para o restabelecimento de
uma nova confiança na governação
moçambicana, tanto a nível nacional
como internacional. Mas a
verdadeira e efectiva estabilização
da economia moçambicana vai depender
de algo mais do que apenas
melhorar transparência financeira
do Estado.
O Estado Moçambicano tem fi-
nanciado défices crónicos das contas
correntes, recorrendo às duas
opções convencionalmente possíveis:
endividamento e emissão
monetária. A capacidade de endividamento
depende do nível de intolerância
à dívida, que no caso de
Moçambique, está visto ser muito
elevada. Quanto à emissão monetária,
apesar da recente advertência
da Missão do FMI, em Junho
passado, o actual OE Rectificativo
levanta mais dúvidas do que o
OE 2016 inicial 2016 (Mosca e
Francisco, 2016). Obviamente, as
autoridades monetárias nacionais
dificilmente admitirão que a triplicação
do crédito interno, possa
ser uma via disfarçada de injectar
moeda nacional sem suporte real.
A situação de quase-falência em
que se encontra a economia mo-
çambicana, agravada pelas incertezas
da instabilidade político-militar,
poderá encorajar o Governo
a intensificar o recurso aos 55 mil
milhões de MT de saldos rolantes
disponíveis. Contudo, só algo muito
inesperado e improvável, poderá
justificar que o Governo termine o
corrente ano 2016 com os cofres
realmente vazios.
Por determinação da Constituição
da República, sendo o TA a entidade
oficial encarregue de “emitir o
Relatório e o Parecer sobre a Conta
Geral do Estado”, será que este ano
vai surpreender-nos pela positiva?
Ou seja, contrariamente aos anos
anteriores, irá o relatório do TA
sobre a CGE 2015 e a execução do
OE em 2016 prestar a devida aten-
ção aos saldos rolantes? Esperemos
que sim.
De igual modo, do FMI também
aguardaremos com expectativa
uma postura mais atenta e diligente,
relativamente aos saldos rolantes.
Não obstante o descrédito do
actual Governo, Moçambique continua
membro do FMI. Terá que
se encontrar uma saída para o actual
imbróglio e do FMI esparamos
que se empenhe num novo tipo de
relacionamento com as autoridades
governativas e o Banco de Moçambique;
um relacionamento menos
paternalista, laxista e complacente,
na gestão de contas públicas. É
claro que, em última instância, o
restabelecimento de uma nova cooperação
internacional, com maior
ou menor confiança, dependerá
sobretudo de quem a danificou - o
Governo de Moçambique.
*Instituto de Estudos Sociais e Económicos
(IESE)
Boletim IDeIAS Nº 91
21 de Setembro 2016
Referências Principais
Francisco, A., e Mosca, J. (2016) Pagar ou
Não Pagar a Dívida? Canal de Moçambique,
13 de Julho. Maputo.
Francisco, A., e Semedo, I. (2016) Saldos
Rolantes no Orçamento do Estado
Moçambicano: Nyusi Encontrou Cofres
Vazios? IDeIAS, Boletim No 82p, 4 de
Fevereiro.
Francisco, A., Siúta, M., e Semedo, I.
(2016) Estratégia de Crescimento Económico
em Moçambique: Desta vez é diferente?
L. de Brito, C. N. Castel-Branco,
S. Chichava, & A. Francisco (Eds), Desafios
para Moçambique 2016. IESE,
Maputo.
MEF. (2016a) Conta Geral do Estado,
Ano 2015. Volume I. Ministério da Economia
e Finanças (MEF), Maputo.
MEF. (2016b) Relatório de Execução do
Orçamento do Estado, Ano 2016, Janeiro
a Junho. Ministério de Economia e Finanças
(MEF), Maputo.
Mosca, J., e Francisco, A. (2016) Orçamento:
Rectificativo ou Ratificativo?
Jornal Savana, 05 de Agosto, p. 14–15.
Maputo.
10 Savana 23-09-2016 RELATÓRIO E CONTAS SINTÉTICO
Relatório e Contas Sintético
do Exercício findo
a 30 de Junho de 2016
Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos, SA
NUIT : 400102961
Av. Julius Nyererenº4003,
Telefs. 21 498257/8, 21 498260 – Fax 21 498262
Maputo – Moçambique
Julho 2015 – Junho 2016
O relatório completo está disponível na página da CMH: www.cmh.co.mz
MENSAGEM DO PRESIDENTE
DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Temos o prazer de submeter as contas auditadas e o Relatório do Conselho
de Administração, respeitantes ao exercício findo em 30 de Junho de 2016.
Este exercício financeiro foi caracterizado por elevados volumes de vendas de
gás natural e reduzidos volumes de vendas de condensado. O aumento dos
volumes de vendas de gás natural foi afectado pelos baixos preços praticados
para o gás e condensado. O Consórcio foi negativamente afectado pela baixa
de preços de petróleo no mercado internacional. Este teve um impacto
negativo de cerca de 40% no preço inicialmente orçamentado para o gás e
de 82% no preço orçamentado para o condensado. A remoção dos tectos e
bases no contrato inicial de venda de gás ao consumidor âncora, Sasol Gas, e o
aumento dos volumes de gás fornecido ao mercado doméstico, não permitiram
reduzir o efeito negativo da queda dos preços no mercado Internacional. As
receitas da CMH caíram em cerca de 36% quando comparadas com o exercício
financeiro anterior. No sentido de se reduzir o efeito da queda dos preços
de gás e condensado, medidas foram implementadas durante o exercício
financeiro findo, nas operações, para se reduzirem custos de operação e se
adiarem alguns investimentos para os anos seguintes.
Apesar da situação, os nossos accionistas continuam a receber níveis
adequados de dividendos, em conformidade com os rácios financeiros
correntes e passados da sociedade. Continua a ser nossa prioridade o
pagamento de montantes adequados de dividendos aos nossos accionistas,
não obstante o facto de, a sociedade ter muitos desafios em termos de
investimentos, com vista à manutenção da actual capacidade de produção
instalada, e ter que garantir o fornecimento aos contratos assinados. A
sociedade tem também que estar atenta às novas oportunidades de negócio
e possibilidades de diversificação do seu portfólio.
Continuamos a dar especial atenção durante o ano, à avaliação das reservas e
recursos, de modo a aumentar as reservas provadas e prováveis de gás, com
vista a permitir a implementação de projectos industriais em Moçambique
que procuram volumes adicionais de gás natural.
Podemos verificar, pelo nosso Relatório e contas, que a CMH registou um
lucro líquido depois de impostos de USD 24 241 878 (Vinte e quatro milhões,
duzentos e quarenta e um mil, oitocentos e setenta e oito dólares norte
americanos), o que representa uma descida acentuada dos lucros da sociedade
de cerca de 54% quando comparados com os resultados do ano financeiro
de 2015, isto, principalmente devido à queda dos preços do petróleo no
mercado internacional.
Durante este ano financeiro, a CMH pagou de impostos um total de USD 23 033
025 ao Estado, dos quais, 63% em forma de imposto sobre o rendimento
(IRPC), 7% em forma de impostos retidos na fonte, 29% impostos sobre os
salários dos trabalhadores (IRPS) e 1% de contribuição para a segurança
social (INSS).
Relativamente aos empréstimos, o montante de USD 17 156 111 (dezassete
milhões, cento e cinquenta e seis mil, cento e onze dólares norte americanos)
foi pago como serviço da dívida, sendo USD 14 576 643 para amortização
do capital e USD 2 579 468 relacionados com o pagamento dos juros dos
empréstimos. No fim deste ano financeiro, o saldo da dívida da CMH era de
USD 36 053 141.
Durante este ano, a CMH continuou com a política de investimentos de curto
prazo, dos fundos que constituem as reservas nas contas offshore, tendo sido
obtidos neste ano fiscal, juros no valor de USD 407 656.
Em termos ambientais, apraz-nos informar que continuamos a registar bons
indicadores de segurança, saúde ocupacional e meio ambiente, nas operações.
Os programas de saúde ocupacional continuaram a ser bem geridos e houve
bons indicadores de desempenho.
No que concerne à Responsabilidade Social, a CMH continuou a dar a sua
contribuição a projectos sociais no âmbito do Consórcio e também de forma
directa. Através do Consórcio, a CMH contribuiu nos projectos sociais conjuntos
com um montante de USD 454 422 (Quatrocentos e cinquenta e quatro mil,
quatrocentos e vinte e dois dólares norte americanos), e directamente com
um total de USD 586 674 (quinhentos e oitenta e seis mil, seiscentos e setenta
quatro dólares norte americanos), contribuindo para o desenvolvimento das
comunidades menos privilegiadas em várias províncias de Moçambique,
através de investimentos em projectos de educação, ciência, aumento de
acesso a água potável e gás natural para cozinha, contribuindo para a redução
da eliminação da floresta, promoção da cultura e desporto, solidariedade com
as vítimas da corrente seca e o bem estar dos trabalhadores.
A implementação dos projectos sociais, no âmbito do Consórcio, tem vindo
a melhorar, mas acreditamos que ainda há espaco para mais melhorias. De
modo a aumentar o número de moçambicanos qualificados nas operações em
Temane, foi construído na cidade de Vilanculos, um complexo habitacional com
todas as condições sociais para promover o recrutamento de moçambicanos
qualificados para trabalharem no Complexo Industrial de Temane (CPF).
Reconhecemos com agrado que as posições mais importantes na Central
de Processamento de gás natural em Temane já estão a ser ocupadas por
profissionais moçambicanos, e as operações estão a ser bem conduzidas e
de forma profissional.
A CMH continua a reforçar a estrutura organizacional da Companhia. Durante
este ano fiscal, foi nomeado um Director Técnico que passou a supervisar as
actividades da Direcção Técnica.
Em termos de formação, continuamos a prestar grande atenção ao nosso
pessoal. Todo o pessoal da CMH beneficiou de formação tanto no país, como
no estrangeiro, com especial ênfase em áreas relacionadas com petróleo e
gás natural.
Estamos comprometidos com a transparência, integridade e o combate à
corrupção e a qualquer potencial tipo de negligência, fraude ou corrupção
no nosso negócio. Todos os nossos relatórios anuais são tornados públicos
através do jornal de maior circulação no país e na nossa página da internet.
As nossas acções continuaram a ser transaccionadas na Bolsa de Valores de
Moçambique (BVM), durante o ano, e tiveram uma variação de 650 Mt para
775 Mt. Até 30 de Junho de 2016, a CMH tinha 1 256 accionistas, dos quais,
1 254 da Classe “C” (privados), um da Classe “A” (Estado) e um da Classe
“B” (ENH).
Relativamente a este ano financeiro não houve litígios a reportar.
Continuamos a honrar todos os nossos compromissos com empréstimos,
impostos e outras despesas com os nossos parceiros, numa base regular.
Em conclusão, queremos expressar o nosso sentimento de gratidão a todos os
que acreditaram em nós e continuam a nos apoiar nestes momentos difíceis,
especialmente aos nossos accionistas, entidades financeiras, parceiros e
membros do Governo Moçambicano, que sempre nos encorajaram a continuar
a construir esta empresa, como veículo de participação de moçambicanos no
empreendimento de Gás natural de Pande e Temane.
Maputo, 26 de Agosto de 2016
Joaquim Ali Caronga
Presidente do Conselho de Administração
g
Joaquim Ali Caronga
Savana 23-09-2016 11 RELATÓRIO E CONTAS SINTÉTICO
DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE
DOS ADMINISTRADORES EM RELAÇÃO ÀS
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS RESUMIDAS
DO EXERCÍCIO FINDO EM 30 DE JUNHO DE 2016
Os Administradores são responsáveis pela preparação e apresentação
adequada das demonstrações financeiras anuais resumidas da Companhia
Moçambicana de Hidrocarbonetos, SA, que compreendem o balanço resumido
em 30 de Junho de 2016, a respectiva demonstração de resultados e a
demonstração de fluxos de caixa resumida do exercício findo naquela data.
APROVAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS ANUAIS RESUMIDAS
As demonstrações financeiras anuais resumidas da Companhia
Moçambicana de Hidrocarbonetos, SA, conforme mencionado no primeiro
parágrafo, foram aprovadas pelo Conselho de Administração em 26 de Agosto
de 2016 e vão ser assinadas em seu nome por:
Maputo, 26 de Agosto de 2016
Joaquim Ali Caronga
Presidente do Conselho de Administração
RELATÓRIO DOS AUDITORES INDEPENDENTES
SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
ANUAIS RESUMIDAS
DEMONSTRAÇÃO DA POSIÇÃO FINANCEIRA
(Valores expressos em USD) 30 de Junho de 2016 30 de Junho de 2015
ACTIVO
ĐƟǀŽƐ ŶĆŽ ʹ ĐŽƌƌĞŶƚĞƐ
Propriedade, instalações e
equipamento 251 269 883 247 724 219
ĐƟǀŽƐ ŝŶƚĂŶŐşǀĞŝƐ 8 460 215 9 131 606
ĐƟǀŽƐ ŶĆŽ ʹ ĐŽƌƌĞŶƚĞƐ 259 730 098 256 855 825
ĐƟǀŽƐ ĐŽƌƌĞŶƚĞƐ
Existências 1 230 985 1 058 825
ůŝĞŶƚĞƐ Ğ ŽƵƚƌŽƐ ĚĞǀĞĚŽƌĞƐ 9 616 250 10 947 372
ĂŝdžĂ Ğ ĞƋƵŝǀĂůĞŶƚĞƐ ĚĞ ĐĂŝdžĂ 135 411 987 140 608 705
ĐƟǀŽƐ ĐŽƌƌĞŶƚĞƐ 146 259 222 152 614 902
dŽƚĂů ĚŽ ĂĐƟǀŽ 405 989 320 409 470 727
ĂƉŝƚĂů ƉƌſƉƌŝŽ
Capital social 25 286 649 25 286 649
Capital suplementar 4 000 000 4 000 000
ZĞƐĞƌǀĂƐ ůĞŐĂŝƐ 5 057 330 5 057 330
ZĞƐĞƌǀĂƐ ĚĞ ŝŶǀĞƐƟŵĞŶƚŽ 14 296 822 14 296 822
Resultados acumulados 165 360 706 162 548 828
dŽƚĂů ĚĞ ĐĂƉŝƚĂŝƐ ƉƌſƉƌŝŽƐ 214 001 507 211 189 629
PASSIVO
WĂƐƐŝǀŽƐ ŶĆŽ ʹ ĐŽƌƌĞŶƚĞƐ
ŵƉƌĠƐƟŵŽƐ ŽďƟĚŽƐ 22 813 275 36 052 881
WƌŽǀŝƐƁĞƐ 88 131 682 75 840 417
Outros credores 46 379 57 171
Impostos diferidos 62 649 855 57 542 248
WĂƐƐŝǀŽƐ ŶĆŽ ʹ ĐŽƌƌĞŶƚĞƐ 173 641 191 169 492 717
WĂƐƐŝǀŽƐ ĐŽƌƌĞŶƚĞƐ
ŵƉƌĠƐƟŵŽƐ ŽďƟĚŽƐ 13 239 866 14 576 903
Fornecedores e outros
credores 3 596 148 4 698 927
WƌŽǀŝƐƁĞƐ 1 499 051 1 470 199
/ŵƉŽƐƚŽ ƐŽďƌĞ Ž ƌĞŶĚŝŵĞŶƚŽ - 8 009 354
şǀŝĚĂƐ Ă ƉĂŐĂƌ ĞŶƚƌĞ
ĞŵƉƌĞƐĂƐ ĚŽ ŐƌƵƉŽ
11 557 32 998
WĂƐƐŝǀŽƐ ĐŽƌƌĞŶƚĞƐ 18 346 622 28 788 381
dŽƚĂů ĚŽ ƉĂƐƐŝǀŽ 191 987 813 198 281 098
dŽƚĂů ĚĞ ĐĂƉŝƚĂŝƐ ƉƌſƉƌŝŽƐ Ğ
ƉĂƐƐŝǀŽ 405 989 320 409 470 727
p g
Joaquim Ali Caronga
12 Savana 23-09-2016 RELATÓRIO E CONTAS SINTÉTICO
DEMONSTRAÇÃO DE LUCRO OU PREJUÍZOS E OUTROS
RESULTADOS COMPREENSIVOS
(Valores expressos em USD) 30 de Junho de 2016 30 de Junho de 2015
Receitas 70 810 818 109 735 798
Outras receitas 1 785 56 213
Custos operacionais (33 599 303) (28 574 435)
37 213 300 81 217 576
ĞƐƉĞƐĂƐ ĮŶĂŶĐĞŝƌĂƐ ůşƋƵŝĚĂƐ (1 828 530) (4 133 625)
ZĞĐĞŝƚĂƐ ĮŶĂŶĐĞŝƌĂƐ 3 248 220 1 436 274
ĞƐƉĞƐĂƐ ĮŶĂŶĐĞŝƌĂƐ (5 076 750) (5 569 899)
>ƵĐƌŽ ĂŶƚĞƐ ĚŽ ŝŵƉŽƐƚŽ 35 384 770 77 083 951
/ŵƉŽƐƚŽ ƐŽďƌĞ Ž ZĞŶĚŝŵĞŶƚŽ (11 142 892) (24 164 365)
>ƵĐƌŽ Ğ ƌĞƐƵůƚĂĚŽ ĂďƌĂŶŐĞŶƚĞ
ƚŽƚĂů ĚŽ ĞdžĞƌĐşĐŝŽ 24 241 878 52 919 586
Total dos resultados
ĐŽŵƉƌĞĞŶƐŝǀŽƐ 24 241 878 52 919 586
'ĂŶŚŽƐ ƉŽƌ ĂĐĕĆŽ
'ĂŶŚŽƐ ďĄƐŝĐŽƐ ƉŽƌ ĂĐĕĆŽ 4.08 8.92
'ĂŶŚŽƐ ĚŝůƵşĚŽƐ ƉŽƌ ĂĐĕĆŽ 4.08 8.92
DEMONSTRAÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA
(Valores expressos em USD) 30 de Junho de 2016 30 de Junho de 2015
&ůƵdžŽƐ ĚĞ ĐĂŝdžĂ ĚĞ ĂĐƟǀŝĚĂĚĞƐ
operacionais
>ƵĐƌŽ ůşƋƵŝĚŽ 24 241 878 52 919 586
Ajustamento para:
ĞƉƌĞĐŝĂĕĆŽ Ğ ĂŵŽƌƟnjĂĕĆŽ 18 626 502 12 254 836
ŝĨĞƌĞŶĕĂ ĚĂƐ ƉĞƌĚĂƐ ĐĂŵďŝĂŝƐ ŶĆŽ
ƌĞĂůŝnjĂĚĂƐ 265 136 (56 812)
'ĂŶŚŽ ĚĞ ǀĞŶĚĂ ĚĞ ĂĐƟǀŽƐ (1 785) -
Receitas de juros (461 244) (572 799)
Despesas de juros 5 067 036 5 561 610
/ŵƉŽƐƚŽ ƐŽďƌĞ Ž ƌĞŶĚŝŵĞŶƚŽ 11 142 892 24 164 365
58 880 415 94 270 786
sĂƌŝĂĕĆŽ ĚŽ ĐĂƉŝƚĂů ĐŽƌƌĞŶƚĞ
^ĂůĚŽ ĞŶƚƌĞ ĞŵƉƌĞƐĂƐ ĚŽ ŐƌƵƉŽ (21 441) 230 146
ůŝĞŶƚĞƐ Ğ ŽƵƚƌŽƐ ĚĞǀĞĚŽƌĞƐ 1 331 122 3 766 186
Existências (172 160) 173 915
Fornecedores e outros credores (992 452) (1 006 491)
ĂŝdžĂ ŐĞƌĂĚŽ ĚĞ ĂĐƟǀŝĚĂĚĞƐ
operacionais 59 025 484 97 434 542
:ƵƌŽƐ ƌĞĐĞďŝĚŽƐ 461 244 572 799
:ƵƌŽƐ ƉĂŐŽƐ (2 851 475) (3 723 838)
/ŵƉŽƐƚŽ ƉĂŐŽ (14 594 387) (17 706 143)
ĂŝdžĂ ůşƋƵŝĚŽ ƵƟůŝnjĂĚŽ Ğŵ
ĂĐƟǀŝĚĂĚĞƐ ŽƉĞƌĂĐŝŽŶĂŝƐ 42 040 866 76 577 360
&ůƵdžŽƐ ůşƋƵŝĚŽƐ ĚĞ ĐĂŝdžĂ ĚĞ
ĂĐƟǀŝĚĂĚĞƐ ĚĞ ŝŶǀĞƐƟŵĞŶƚŽ
ƋƵŝƐŝĕĆŽ ĚĞ ƉƌŽƉƌŝĞĚĂĚĞ͕
instalações e equipamento (11 566 965) (24 696 883)
ůŝĞŶĂĕĆŽ ĚĞ ƉƌŽƉƌŝĞĚĂĚĞ͕
instalações e equipamento 49 626 50 673
&ůƵdžŽ ůşƋƵŝĚŽ ĚĞ ĐĂŝdžĂ ƵƟůŝnjĂĚŽ Ğŵ
ĂĐƟǀŝĚĂĚĞƐ ĚĞ ŝŶǀĞƐƟŵĞŶƚŽ (11 517 339) (24 646 210)
&ůƵdžŽ ůşƋƵŝĚŽ ĚĞ ĐĂŝdžĂ de
ĂĐƟǀŝĚĂĚĞƐ ĚĞ ĮŶĂŶĐŝĂŵĞŶƚŽ
ZĞĞŵďŽůƐŽ ĚĞ ĞŵƉƌĠƐƟŵŽƐ (14 576 643) (15 138 988)
ŝǀŝĚĞŶĚŽƐ ƉĂŐŽƐ (21 430 000) (30 000 000)
ĂŝdžĂ ůşƋƵŝĚŽ ĚĞ ĂĐƟǀŝĚĂĚĞƐ ĚĞ
ĮŶĂŶĐŝĂŵĞŶƚŽ (36 006 643) (45 138 988)
>şƋƵŝĚŽ ĚĞ ĐĂŝdžĂ Ğ ĞƋƵŝǀĂůĞŶƚĞƐ ĚĞ
caixa (5 483 116) 6 792 162
ĂŝdžĂ Ğ ĞƋƵŝǀĂůĞŶƚĞƐ ĚĞ ĐĂŝdžĂ ŶŽ
ŝŶşĐŝŽ ĚŽ ĂŶŽ
140 608 705 133 702 961
ĨĞŝƚŽƐ ĐĂŵďŝĂŝƐ ƐŽďƌĞ Ž ĐĂŝdžĂ 286 398 113 582
ĂŝdžĂ Ğ ĞƋƵŝǀĂůĞŶƚĞƐ ĚĞ ĐĂŝdžĂ ŶŽ
ĮŶĂů ĚŽ ĂŶŽ
135 411 987 140 608 705
Savana 23-09-2016 13 RELATÓRIO E CONTAS SINTÉTICO
COMPANHIA MOÇAMBICANA
DE HIDROCARBONETOS, SA
CONSELHO FISCAL
PARECER
1. De acordo com as disposições legais e estatutárias da Companhia
Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH), SA, o Conselho Fiscal apreciou
o Relatório do Conselho de Administração, a Demonstração da Posição
Financeira, o Relatório de Contas e as Demonstrações dos Resultados
Compreensivos do exercício económico findo a 30 de Junho de 2016 e os
respectivos anexos. -------------------------------------------------------------
----
2. O Conselho Fiscal constatou que as Demonstrações dos
Resultados Compreensivos, do período findo em 30 de Junho de 2016,
foram preparadas em conformidade com as Normas Internacionais do
Relato Financeiro (NIRF) e as respectivas interpretações publicadas pelo
Conselho Internacional de Padrões de Contabilidade (CIPC). --------------
------------------------------------
3. No decurso do período em análise, o Conselho Fiscal acompanhou
as actividades desenvolvidas pela Companhia Moçambicana de
Hidrocarbonetos, SA, tendo registado o esforço empreendido na
consolidação da estrutura organizacional e do papel e posição da
companhia a nível nacional e regional; no cumprimento regular dos seus
compromissos e obrigações que fortaleceram os mecanismos acordados
com os credores e incrementaram as acções desenvolvidas no âmbito
da responsabilidade empresarial e social, nas áreas da saúde, educação
e ciência, abastecimento de água, desenvolvimento das comunidades e,
de actividades culturais e desportivas. O Conselho Fiscal constatou o
cometimento da CMH na ajuda prestada às populações das províncias de
Gaza, Inhambane e Manica no âmbito da mitigação dos efeitos provocados
pela seca. -------------------------------------------------------------------------
4. O Conselho Fiscal, por outro lado, constatou que as actividades
desenvolvidas pela Companhia durante o exercício económico findo a 30
de Junho de 2016, foram caracterizadas por elevados volumes de vendas
de Gás natural e reduzidos volumes de vendas de Condensado e pela
baixa de preços de petróleo no mercado internacional, o que resultou na
descida acentuada dos lucros da sociedade, em cerca de 54%, face aos
resultados do ano financeiro de 2015. ----------------------------------------
-----------------
5. O Conselho Fiscal destaca, igualmente, a “não objecção” dos
financiadores da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos, SA, a
DBSA e a AFD, para efectuar o pagamento de dividendos, relativos ao
ano financeiro de 2014, no montante até 50% do lucro líquido declarado
para o ano financeiro 2015. ----------------------------------------------------
------------
6. A formação e capacitação dos trabalhadores da Companhia
Moçambicana de Hidrocarbonetos, SA, mereceu, igualmente, uma
atenção especial na qualificação da força laboral e recrutamento de mais
moçambicanos, bem como a adequação da Estrutura Organizacional,
tendo sido reforçada a Área Técnica, melhoradas as condições
habitacionais dos trabalhadores em Vilanculos. -----------------------------
-------------------------
7. O Conselho Fiscal, na apreciação do Relatório do Conselho de
Administração, a Demonstração da Posição Financeira, o Relatório de
Contas e as Demonstrações dos Resultados Compreensivos do exercício
económico findo a 30 de Junho de 2016, foi suportado, do ponto de vista
técnico, pelo Relatório de Auditoria Externa. --------------------------------
---------------------
8. Como resultado das verificações efectuadas e informações
obtidas, o Conselho Fiscal é da opinião que Relatório do Conselho de
Administração, a Demonstração da Posição Financeira, o Relatório de
Contas e as Demonstrações dos Resultados Compreensivos do exercício
económico findo a 30 de Junho de 2016 apresentadas, reflectem,
adequadamente, os aspectos materialmente relevantes e a situação da
Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos, SA, para o exercício findo,
em conformidade com os princípios geralmente aceites em Moçambique
e as disposições legais aplicáveis. ---------------------------------------------
-------------------------------
9. Neste contexto, o Conselho Fiscal é de parecer que a
Assembleia Geral aprove o Relatório, a Demonstração da Posição
Financeira, o Relatório de Contas e as Demonstrações dos Resultados
Compreensivos do exercício económico findo a 30 de Junho de 2016
apresentadas pelo Conselho de Administração, bem como a aplicação
dos resultados de acordo com a política de dividendos da Sociedade.
_______________________________
10. O Conselho Fiscal saúda o esforço e a dedicação demonstrado
pelo Conselho de Administração no período em análise, bem como pelos
trabalhadores e colaboradores, no exercício das suas funções, aos quais
endereça o seu voto de louvor. Aos Auditores Externos, o Conselho Fiscal
agradece pela colaboração prestada. _______________________________
Maputo, aos 05 de Setembro de 2016
O Conselho Fiscal
O Presidente 1º Vogal
(Ussumane Aly Dauto) (Afonso Mabica)
2º Vogal
(Rosa Munguambe)
RELATÓRIO E CONTAS
Sintético do Exercício
findo a 30 de Junho de 2016
14 Savana 23-09-2016 Savana 23 -09-2016 15
NO CENTRO DO FURACÃO
L
á se vão os tempos em que o país
decidiu pelo sinuoso processo
de municipalização. São 18 anos
desde que, em 1998, Moçambique
realizou as primeiras eleições autárquicas.
Liderado por um dos mais
progressistas jovens da Frelimo, Tagir
Carimo, Pemba, no extremo norte do
país, faz acreditar que o futuro de Mo-
çambique é mesmo a descentralização
político-administrativa (quer ela leve
o epíteto de autarquias provinciais ou
federalismo), desde que essa “devolu-
ção de poderes ao povo” não seja num
figurino em que os partidos políticos
são principais players que ditam todas
as regras de jogo. Na colecta de receitas
para a sua auto-suficiência, Pemba encontrou
a forma para uma verdadeira
autonomia política. Mas isso não basta.
Ao seu elenco, Tagir Carimo deixou
claro que das questões políticas vai cuidar
pessoalmente. “Vocês vieram para
cá para me solucionarem os problemas.
Não têm cão, cacem com gato, não têm
ovos, façam omeletes. Em algum momento
vão ter de fazer omeletes sem
ovos, sem fogão, nem frigideira” diz aos
vereadores no primeiro dia depois da
sua investidura em 2014.
Logo à entrada da cidade que, nos últimos
anos assistiu a uma corrida desenfreada
de investimentos motivados
pelo gás e petróleo do Rovuma, as infra-estruturas
empresariais ao largo da
Estrada Nacional Número Um (EN1),
anunciam a nova era de uma cidade
que, há cinco anos, era tida como estando
parada no tempo e no espaço.
Mas petróleo e gás de lado. Na governação
municipal, foi preciso esperar
uma eleição intercalar, em 2011, para
substituir Sadique Yacub na presidência
do município pelo seu camarada de
partido, Tagir Carimo, um antigo continuador
(Organização da Continuadores
de Moçambique é uma espécie de
braço infantil da Frelimo) que, ao longo
dos anos, foi fazendo história no partido.
“Ele não vem de famílias influentes,
mas é um filho de casa”, comenta ao
SAVANA fonte próxima do edil, que
é tido como dos poucos progressistas e
com visão mais moderna na Frelimo, à
semelhança de Calisto Cossa da Matola.
Com as quartas eleições autárquicas
de 2013, Carimo, que em entrevista
este ano ao nosso jornal deixou a má-
xima de que “não podemos fazer apenas
aquilo que nos agrada”, mas sim o que
realmente é o problema ao nível da comunidade,
através da governação participativa
por si introduzida em Pemba e
que se tornou marca da sua governação,
foi confiado pelos munícipes para cinco
anos em frente daquele pólo de desenvolvimento.
O “buldozer” toma posse em Fevereiro
de 2014, o mesmo ano em que a cidade
é devastada por cheias que sobre ela não
se abatiam há cerca de meio século.
“Foi neste período que Pemba teve uma
situação que não se verificava há cerca
de 40 anos. Tivemos chuvas acima de
150 mililitros”, contou-nos na entrevista
de Fevereiro.
Estava assim colocado o primeiro tira-
-teimas para o jovem edil de uma urbe
cuja população disparou nos últimos
anos para mais de 200 mil habitantes.
Redesenhou a estratégia e atacou o sector
de infra-estruturas. De intervenções
pontuais, Pemba passou para obras de
raízes. Estradas cortadas pela força das
águas foram reconstruídas e/ou reabilitadas.
Bairros que estavam isolados voltaram
a ter comunicação através da constru-
ção de pontecas. Cariacó, o bairro mais
populoso e Natite, o segundo mais populoso,
são alguns dos que o SAVANA
foi testemunhar, na última semana,
obras de vulto.
“Nestas pontecas, antes eram enormíssimas
crateras provocadas pelas águas
que tinham cortado a circulação. Aqui
não havia comunicação entre os bairros”,
comenta Armando John, que nos
guia pelos bairros, onde aponta vestí-
gios de danos extremos que obrigaram
a edilidade a fazer omeletes sem ovos.
O histórico bairro de Paquitequete já
tem uma estrada de raiz. “Este bairro
foi o primeiro assentamento popular
de Pemba. Quando chovesse, era tudo
lama que dificultava a circulação”, conta
John que afirma que a nova estrada veio
aliviar a sina a que estavam submetidos
os residentes.
Dezoito anos depois do início da municipalização
iniciada em 1998, em Mo-
çambique, só no segundo semestre de
2015 é que os “pembenses” viram o cintilar
de um semáforo na cidade. “Quem
veio a Pemba há cinco anos, hoje pode
vir se perder”, ironiza um munícipe que
não poupa elogios à edilidade.
Estamos na Avenida 25 de Setembro,
bem defronte do Campo com o mesmo
nome, o local de onde há uma semana
o secretário-geral da Associação dos
Combatentes da Luta de Libertação
Nacional (ACLLN), Fernando Faustino,
pediu armas ao presidente da Repú-
blica, para “ensinar” Afonso Dhlakama,
o presidente da Renamo, nas celebra-
ções do Dia da Vitória cujas cerimónias
a nível nacional tiveram lugar exactamente
em Pemba.
É a vez de enfrentarmos a ditadura
da luz vermelha do semáforo que foi
uma medida encontrada para regular o
crescente fluxo rodoviário numa cidade
que, num passado recente, o número de
carros era contável num piscar de olho.
Desta vez o destino é Muxara, o bairro
que em 2012 acolheu o decisivo X
Congresso da Frelimo que serviu para o
presidente Armando Guebuza purificar
os órgãos decisivos do partido.
Em Muxara, o último bairro que totaliza
os 15 quilómetros que perfazem o
perímetro municipal, há infra-estruturas
por confirmar. Uma Escola Primária
e Completa construída pela edilidade
colocou fim, a partir deste ano, ao drama
a que os petizes estavam sujeitos.
Por lá, aproveitamos saborear, com direito
a uma segunda volta, a maçaroca
com que os munícipes fazem o pão de
cada dia.
Sele Abudo, 54 anos, interpelámo-
-lo na zona baixa de Paquite, como é,
abreviadamente, designado o bairro de
Paquitequete.
Primeiro recusa falar. Então fica na
condição de ouvinte. Não há tempo a
perder. A palavra agora está com Abílio
Marcelino, 58 anos, que relata avanços,
mas também deixa desafios à edilidade
porque, diz ele, o caminho é longo.
“Há avanços sim, mas a cidade baixa
parece estar esquecida. Precisamos de
mercado. Se asfalto é caro, então, que se
coloque pavê. Aqui não há drenagem”,
diz o general na reserva, que lá vive desde
1972.
Os seus recados parece que incomodam
Abudo cuja voz, de repente, irrompe da
janela da sua barraca.
“É verdade que a cidade velha (Paquite
foi construída de pedra e cal) clama
por reabilitação, mas não restam dúvidas
que Pemba está a andar para frente.
Tínhamos uma cidade esburacada, mas
hoje temos ruas e estradas asfaltadas.
Hoje Pemba tem uma nova roupagem.
A cidade vestiu-se de outra maneira.
Hoje a praia do Wimbe é um mimo.
Está toda limpa. Hoje há carros a recolher
lixo pela cidade. Aqui mesmo no
Paquite não passam três dias sem se recolher
lixo”, sentenceia Sele Abudo que
aponta o abastecimento de água como
um dos desafios para a edilidade.
Na verdade, repostos os danos das
cheias e, à luz da descentralização de
alguns serviços básicos, a edilidade
atacou a construção e/ou reabilitação
de algumas escolas, unidades sanitá-
rias, sedes administrativas entre outras
infra-estruturas que testemunhamos no
terreno.
Em Paquite, onde as crianças estudavam
em condições difíceis, nos
princípios do ano lectivo 2016 foram
agraciadas com uma Escola Primária e
Completa equipada, incluindo biblioteca,
sala de professores e campo para a
prática de actividades desportivas.
Quando Tagir Carimo venceu as intercalares
de 2011, quase todas as administrações
locais da cidade funcionavam
nas células de bairro da Frelimo, mas
cinco anos depois, todos os bairros têm
as suas sedes administravas.
O lixo, uma dor de cabeça no Pemba
de ontem, passou para as páginas da
história.
Infra-estruturas, economia/
ÀQDQoDVHVDQHDPHQWR
Os nós que salvaram Pemba
Durante a nossa curta estadia em Pemba,
o respectivo edil se encontrava fora
do município em missão de serviço.
Assim, coube ao vereador de Economia
e Finanças e Colecta de Receitas, falar
em nome da edilidade.
Moniz Hassam, formado em Economia,
é um empresário de sucesso que
o edil foi buscar, exactamente, para
“arrumar a casa”. No início, Hassam recusou
o convite por entender que não
tem estômago para engolir sapos, em
referência a pressões partidárias que,
regra geral, recaem sobre os municípios
dirigidos pela Frelimo. Mas era mesmo
para “eliminar brincadeiras” que Tagir
apostou no empresário que acabou cedendo
às insistências do edil.
Foi nomeado em 2014 e a primeira ac-
ção que Hassam desencadeou, sabe o
SAVANA, foi fechar todos os canais
que alimentavam as redes clientelistas.
Colheu inimigos, alguns dos quais até
o combateram com textos anónimos ou
sob pseudónimo.
Num caso que pode ser o único ou dos
poucos, o vereador prescindiu de salá-
rio e pediu que fosse revertido para financiar
bolsas de dois funcionários da
edilidade de Pemba. Sobre o assunto,
Moniz Hassam evita comentar.
Quando foi trazido ao seu município,
as suas responsabilidades foram claras:
Reconstrução e informatização do cadastro
Financeiro Municipal; Gestão
Financeira do Município; Elaboração
do Plano Estratégico 2014-2018; Elaboração
dos Orçamentos e Planos de
Actividades Anuais; Análise de Projectos
Municipais e Mobilização de recursos
financeiros às agências de coopera-
ção Internacional”.
À nossa reportagem, lembra: “quando
tomámos posse, fomos baptizados pelas
grandes cheias. Choveu em três meses
o que não chovia nos últimos 100
anos e Pemba mudou de configuração.
Em Pemba surgiram lagos, em Pemba
surgiram riachos, em Pemba foram
construídas pontes para ligar a cidade.
Foram destruídas casas, tivemos 2 mil
pessoas completamente desalojadas.
Então, encontrámos Pemba numa situação
quase que de desastre e calamidade
pública”.
Continua a dar a imagem do que era
Pemba de há três anos: “os equipamentos
não estavam a funcionar, tínhamos
estradas cortadas, bairros que já não
tinham comunicação, as estradas que
existiam estavam completamente esburacadas,
já não tínhamos uma recolha
de lixo eficiente e sistematizada, os
equipamentos de saneamento básico já
não suportavam para aquilo que eram
as necessidades infra-estruturais da
província, estávamos numa fase em que
Pemba conheceu um substancial crescimento
populacional de quase o dobro
em quatro anos por causa do advento
do gás natural. Este aumento vertiginoso
da população criou uma pressão forte
para as infra-estruturas municipais
existentes, tanto de saneamento básico
como de drenagem e as chuvas destruí-
ram todo o sistema de drenagem que a
cidade tinha”, diz o vereador, vincando
que, basicamente a edilidade teve de renovar
tudo.
Moniz Hassam, que até há pouco tempo
assumia também a pasta de Infra-estruturas,
diz: “durante o primeiro ano,
foi praticamente recuperar e tentar pôr
a cidade a funcionar. Recuperar os equipamentos,
os sistemas de vala de drenagem
e de recolha de lixo, ligar bairros
através de pontecas, reabilitar as valas
de drenagem que foram destruídas, reabilitar
escolas que foram destruídas, os
acessos da cidade, as espinhas dorsais
que garantem tráfego normal, come-
çar a pensar num plano de saneamento
básico do ponto de vista de salubridade
Por Armando Nhantumbo
e recolha de lixo, numa mudança mais
estruturada, ou seja, não fazendo as coisas
ah doc conforme se vai podendo, mas
tentar olhar o problema numa visão
mais estratégica sobre como resolver
um problema de vez e não estar sempre
com intervenções pontuais, para além
de que tivemos de reassentar quase
duas mil pessoas que perderam tudo
nas cheias”.
A dado passo, deixa um recado: “todos
os problemas que existiam, eram problemas
que se revelavam de forma muito
tímida e que eram resolvidos temporariamente,
mas bastava passar um ano
voltava o problema”.
Agora anda com a conta feita sobre o
que foi feito: “Pemba hoje é uma cidade
em que foram reabilitados 13 quilómetros
de estrada, completamente,
asfaltados, estamos a falar das espinhas
dorsais da cidade de Pemba, designadamente,
a estrada do Aeroporto, Avenida
25 de Setembro, Avenida 16 de Junho,
a Marginal, Avenida General Alberto
Chipande, Avenida Eduardo Mondlane.
São aquelas vias que consideramos
estruturais, ou seja, aquelas em que
passa todo o fluxo de trânsito aqui na
cidade. Basta que uma destas avenidas
feche, a gente sente logo o trânsito a
mudar”.
Fala da relação entre o aumento populacional
e o fluxo rodoviário: “a acompanhar
este aumento vertiginoso da
população, obviamente, esteve também
o tráfego que hoje é intenso em Pemba.
Pemba nunca tinha tido sinais luminosos
e agora foi mesmo necessário
pôr sinais para organizar o tráfego que
já não era sustentável. Se disser a um
cidadão que não esteve cá nos últimos
anos, que em Pemba já há sinais luminosos,
não vai acreditar porque Pemba
era uma cidade pacata que, só de vez em
quando, passava um carro, mas hoje temos
problemas de tráfego, acidentes de
viação, etc”.
Apesar de reconhecer que algumas vias
ainda carecem de intervenção, e que
neste momento beneficiam de algumas
obras de reabilitação, diz que no geral
Pemba tem boas vias de acesso.
Ainda que cauteloso, volta a colocar
dedo na ferida, afirmando que, nos últimos
30 anos, os bairros periurbanos
foram muito poucos intervencionados.
“Estavam literalmente caídos no
esquecimento. Os problemas que os
afectavam não eram considerados pelas
gestões anteriores. Não quero dizer
que não se tivesse tentado. Não estou a
criticar os meus antecessores, mas tudo
é em função das capacidades financeiras
que o município tem para fazer as
respectivas intervenções”, afirma, acrescentando
que as enxurradas apenas revelaram
ainda mais as deficiências que
esses bairros já tinham que, inclusivamente,
propiciavam o surto de cólera.
“A nossa preocupação foi de que este
seria um mandato virado para os bairros
periurbanos e a primeira interven-
ção que fizemos foi construir e reconstruir
todas as pontecas que tinham sido
destruídas, construir aquelas que eram
necessárias construir para restabelecer
a ligação entre os bairros em que
vizinhos se conseguiam ver, mas não
podiam atravessar, não podiam apertar
a mão porque não tinham como se comunicar”,
insiste, ajuntando que foram
no total 11 pontecas restabelecidas, 4
construídas de novo e três valas de drenagem
definitivas para garantir escoamento
de águas.
A verdadeira autonomia
A exiguidade orçamental na maioria
dos municípios moçambicanos tem
sido a arma de arremesso para as edilidades
se justificarem. O SAVANA
perguntou a edilidade de Pemba onde
busca dinheiro para tão ambiciosas intervenções
e a resposta não tardou: “um
dos objectivos estratégicos deste município
é a arrecadação de receitas”.
Entende Moniz que a verdadeira autonomia
dos municípios é financeira.
“Para consolidarmos a nossa autonomia
política, primeiro temos de consolidar
a nossa autonomia financeira porque
é isso que cria uma capacidade intervencionista
maior do ponto de vista
de prestação de serviços públicos” diz,
vincando que, sem receitas, sem recursos
financeiros, não é possível fazer mudanças
estruturais.
Refere que uma das mudanças estruturais
que Pemba atacou foi o departamento
financeiro do município, através
da informatização do município para
que numa primeira fase melhorasse de
forma significativa as receitas.
“Em média, os municípios moçambicanos
estão a arrecadar apenas 16% do
que deviam efectivamente arrecadar”,
anota, mencionando erros na implementação
da descentralização do país
como alguns dos motivos para esta fraca
colecta de receitas.
“Em Pemba estamos a arrecadar receitas
fazendo aquilo que poucos municí-
pios ainda fizeram que é criar no município
de Pemba, uma base tributável
e a essência da arrecadação de receitas
são os impostos que na maior parte dos
municípios não são arrecadados”, continua,
indicando que tudo que era imposto
arrecadado pelo governo central
antes da municipalização, deixou de ser
cobrado, o que obriga os municípios a
terem de fazer um esforço inicial, que
começa com o registo de todos os pré-
dios, empresas, indivíduos entre outros
activos tributáveis.
“Foi um trabalho que fizemos e ainda
está em curso. Estamos aproximadamente
a 40 por cento do processo e é
contínuo”, avisa.
Dá o exemplo do bairro do cimento,
onde estão concentrados os maiores
edifícios e as maiores empresas da cidade,
onde já foi possível cadastrar e informatizar
toda a base tributável, estando
por cobrar cerca de 120 milhões de
meticais, quando o cadastro está ainda
na ordem de 30 por cento do potencial
existente.
“120 milhões de meticais equivale à metade
do orçamento global do município.
O nosso orçamento total deste ano é de
252 milhões de meticais. Isto quer dizer
que se nós formos até aos 75 por cento
da capacidade total tributável, estamos
a falar de um orçamento aproximado
a 700 milhões de meticais. Se nós com
cerca de 250 fizemos o que fizemos,
imaginem o que podemos fazer com
três vezes mais. Então, não estamos a
falar de evoluções tímidas, mas sim de
questões em que passa o município de
um campeonato para o outro”, explica o
economista que acredita que até ao fim
do ano Pemba estará bastante consolidado
em termos de gestão financeira.
O terceiro objectivo estratégico, depois
de infra-estruturas e finanças, foi
a saúde e salubridade física. “O que nós
dissemos é que se não temos recursos
agora e sabemos que esses recursos podem
ser adquiridos ao longo do tempo,
fizemos um esforço em ir buscar alternativas
de financiamento que estão
disponíveis no mercado. Existe neste
momento um erro de percepção de instituições
que têm alguma autonomia financeira
como é o caso dos municípios,
em pensar como se fossem instituições
puramente públicas que dependem
pura e exclusivamente do Orçamento
do Estado. Os municípios ainda não
despiram esse capote e não alargaram
o horizonte porque eles têm autonomia
administrativa e financeira. Parte das
receitas vem do Estado por obrigação
legal e outra parte deverá ser arrecadada
por esforço do próprio município”,
repara, acrescentando que “o município
só vai ser um bom município quando
não depender dos fundos do Estado
que, como é próprio de qualquer processo
de descentralização, vão reduzindo
cada vez mais”.
Repete que a maior parte dos municípios
em Moçambique nem chegam
a atingir os 16 por cento de receitas
próprias, ou seja, com receitas próprias
não dá sequer para pagar salários e dependem
absolutamente dos fundos do
Estado.
“Estes municípios só se chamam municípios,
mas não o são. Eles podem legalmente
ser municípios, mas como a verdadeira
autonomia está na capacidade
financeira de implementar mudanças e
isto precisa de recursos e é preciso que
os municípios comecem ir à procura e
essa é um pouco a filosofia que tivemos
logo desde o princípio. Nunca vou me
esquecer do primeiro encontro que tivemos
com o presidente e as primeiras
palavras que disse foi que vocês vieram
para cá não para me disserem os problemas,
vocês vieram para cá para me solucionarem
os problemas. Não têm cão,
cacem com gato, não têm ovos, façam
omeletes, mesmo sem ovos. Em algum
momento vão ter de fazer omeletes sem
ovos, sem fogão, nem frigideira”, diz.
Na retrospectiva sobre o sector da salubridade,
lembra que encontrou uma
edilidade com apenas dois camiões para
a recolha de lixo, um dos quais acabou
avariando completamente, o que forçou
a edilidade a alugar um camião para recolher
lixo numa cidade em que habitavam
cerca de 200 mil habitantes.
“Três anos depois, temos 12 camiões.
Neste momento o município tem a
capacidade de recolher o lixo. Foi uma
intervenção estrutural com objectivo
estratégico de resolver o problema de
vez” diz, frisando que aliás resolver os
problemas definitivamente é a aposta
do município em todos os sectores.
Há algo que o vereador considera como
imoral, mas que em cidades como Maputo
e Matola é o pão de cada dia.
“Nós não podemos dizer ao munícipe
para pagar a taxa de lixo quando ele todos
os dias vê lixo na sua porta. É absolutamente
imoral fazer isso. Temos de
recolher o lixo, mostrar o serviço para
encorajar ao munícipe a decidir que sim
pode pagar o lixo porque o serviço está
a ser recolhido”, recomenda.
Quisemos saber como é que Pemba
consegue se desfazer das forças frelimistas
que são apontados como aquelas
que interfere negativamente na função
pública. Em resposta, deixou claro que
Pemba não está imune dessa saga, mas
disse que os vereadores não foram nomeados
para fazer política, mas, isso
sim, para servir os munícipes.
Segundo ele, o presidente do município
deixou claro que os quadros do município
estão lá para trabalhar nas suas
áreas de saber e trazer resultados, deixando
para o edil a gestão das pressões
do partidão.
Na longa entrevista ao SAVANA, o
economista Hassam falou ainda da
crise económica que se abate sobre o
país, sobre a qual disse que este não é o
momento de os moçambicanos ficarem
cruzados, de lamentações em lamenta-
ções, pelo contrário, devem pensar em
como, todos em conjunto, podem tirar
o país da crise.
Diz que as crises são cíclicas e sempre
existirão, mas elas são uma oportunidade
para se reinventar as bases económicas
do país.
Municipalização enquanto descentralização de poderes: o caso de Pemba
Minoz Hassan, vereador
Sale Abudo, residente do Bairro
Paquitequete
Estradas cortadas pela força das águas foram reconstruídas e/ou reabilitadas
Fevereiro de 2014, o mesmo ano em que a cidade foi devastada por cheias
16 Savana 23-09-2016 PUBLICIDADE
Savana 23-09-2016 17 PUBLICIDADE
18 Savana 23-09-2016 OPINIÃO
Registado sob número 007/RRA/DNI/93
NUIT: 400109001
Propriedade da
Maputo-República de Moçambique
KOk NAM
Director Emérito
Conselho de Administração:
Fernando B. de Lima (presidente)
e Naita Ussene
Direcção, Redacção e Administração:
AV. Amílcar Cabral nr.1049 cp 73
Telefones:
(+258)21301737,823171100,
843171100
Editor:
Fernando Gonçalves
editorsav@mediacoop.co.mz
Editor Executivo:
Franscisco Carmona
(francisco.carmona@mediacoop.co.mz)
Redacção:
Raúl Senda, Abdul Sulemane, Argunaldo
Nhampossa, Armando Nhantumbo e
Abílio Maolela
)RWRJUDÀD
Naita Ussene (editor)
e Ilec Vilanculos
Colaboradores Permanentes:
Fernando Manuel, Fernando Lima,
António Cabrita, Carlos Serra,
Ivone Soares, Luis Guevane, João
Mosca, Paulo Mubalo (Desporto).
Colaboradores:
André Catueira (Manica)
Aunício Silva (Nampula)
Eugénio Arão (Inhambane)
António Munaíta (Zambézia)
Maquetização:
Auscêncio Machavane e
Hermenegildo Timana.
Revisão
Gervásio Nhalicale
Publicidade
Benvinda Tamele (823282870)
(benvinda.tamele@mediacoop.co.mz)
Distribuição:
Miguel Bila
(824576190 / 840135281)
(miguel.bila@mediacoop.co.mz)
(incluindo via e-mail e PDF)
Fax: +258 21302402 (Redacção)
82 3051790 (Publicidade/Directo)
Delegação da Beira
Prédio Aruanga, nº 32 – 1º andar, A
Telefone: (+258) 825 847050821
savana@mediacoop.co.mz
Redacção
admc@mediacoop.co.mz
Administração
www.savana.co.mz
EDITORIAL Cartoon
A
Queda do preço das
comodities, a crescente
valorização do Dó-
lar norte-americano no
mercado internacional, afecta
directamente as economias nacionais,
em virtude destas necessitarem
de interagir com o mundo
para se abastecerem quer de
capitais e bem como de produtos
e bens, sob risco de entrarem em
colapso.
Com o actual cenário, só sobrevivem
economias que tenham o seu
volume de exportação superior ao
das importações, ou seja, sobrevivem
aqueles que têm capacidade
de abastecer os próprios mercados
e influenciar outros.
Nos negócios de base tecnológica,
o investimento em pesquisa e
desenvolvimento de novas funcionalidades
deve ser feito com
a velocidade capaz de manter a
competitividade e, se possível,
marcar a diferença e liderar o
mercado, para exemplificar: vemos
quase que trimestralmente
o lançamento de telemóveis dos
gigantes Samsung, Apple, Huawei,
etc.
Moçambique sofre directamente
este efeito pelo facto de não produzir
tecnologia e ser mero consumidor
desta, tendo as operadoras
locais de adquirir plataformas
e terminais (celulares) a terceiros.
Quando na vizinha África do Sul
já é possivel ter a rede 4G, a nossa
companhia nacional, mCel, ainda
publicita a rede 3G, porquê?
Com a economia moçambicana
em crise, os utilizadores têm de
rever os seus custos, relegando
ao último plano a conversação
telefonica, optando pela comunicação
de baixo custo, oferecidas
pelas redes sociais (facebook,
whatsApp, etc), no entanto, há
necessidade de fazer o upgrade
para rede 4G, enquanto isso
os Pesquisadores do Centro de
Inovação da Universidade de
Surrey na Inglaterra iniciaram
testes para o lançamento da rede
de quinta geração, numa investida
estimada em USD 600 milhões.
A Vodacom e Movitel possuem
estrutura accionista capaz de contapor
este fenomeno e já fizeram
o upgrade para Rede 3,75G.
Especialistas em gestão difinem
como falência a incapacidade de
uma empresa não poder investir
a sua base tecnológica e criar
valor económico. Para tornar a
mCel competitiva, é preciso que
os accionistas sejam chamados a
honrar o seu papel, investindo na
base tecnologica, abandonando
assim o financiamento bancário,
que é a forma tradicional como
a empresa sempre se emponderou.
As dificuldades desta opção
não se notavam antes quando não
tinha concorrêcia mas quando o
Estado aprovou a liberalização
do sector a companhia amarela
ressentiu-se, pois ela não foi antempadamente
preparada para
esse cenário.
As operadoras concorrentes fazem
parte de gigantes do sector
de telecomunicações e os seus
accionistas injectam Fundos nas
suas empresas, evitando assim
custos adicionais derivados do recurso
a banca Comercial.
Se todos os operadores fossem
obrigados a utilizar a Linha de
Transporte da TDM, não haveria
assimetria no mercado, sendo a
prestação de serviço ao cliente e
o marketing a diferença entre os
operadores, talvez, tal cenário não
colocaria a TDM na actual situação,
que caracteriza o sector de
Telecomunicações.
Este é o mesmo cenário que será
verificado no processo de migra-
ção digital, se não houver uma
plataforma comum, os operadores
que não tiverem capacidade
financeira para abandonar o analógico
por conta própria, terão de
anunciar um fecho de emissão
definitivo.
*MBA em Gestão de Empresas
Impacto da economia no
sector tecnológico (1)
Por Pedro Langa*
P
arece haver avanços nas actuais negociações entre o governo
e a Renamo para pôr fim ao conflito que divide as duas
partes desde o período que se seguiu às eleições gerais de
2009, mas uma grande questão permanece ainda sobre em
que sentido vão tais avanços.
Depois de se ter esgotado o primeiro dos quatro pontos da agenda,
que se refere à necessidade de aprofundamento do processo de
descentralização, as equipas negociais passaram para o segundo, em
relação ao qual parece não ter havido qualquer desenvolvimento.
O governo não aceita a exigência da Renamo de afastar as suas
forças do perímetro da Serra da Gorongosa, onde está concentrado
o fogo contra Afonso Dhlakama. Sem esse recuo, a Renamo não
aceita as tréguas que permitiriam aos mediadores internacionais
deslocarem-se àquela região para um tete-à-tete com o seu líder.
Ao que tudo indica, a palavra de Dhlakama é crucial para o posicionamento
dos seus representantes nas negociações, e enquanto
este impasse se impuser, nada será feito.
Enquanto isso, para reforçar a sua posição, a Renamo tem estado
a intensificar os seus ataques em várias partes do país, particularmente
nas províncias de Manica, Niassa, Sofala e Zambézia. Numa
entrevista recente, Dhlakama teria revelado que esta era a sua estratégia
para dispersar a atenção das forças do governo e dessa forma
obrigá-las a abandonar as suas posições em torno da Gorongosa.
Já no terceiro ponto da agenda das negociações, sugestões parecem
ter sido feitas para que se revisite o Protocolo 4 do Acordo Geral
de Paz (AGP) de 1992 em Roma, que trata das questões militares.
Essencialmente, este Protocolo preconizava que as novas Forças
Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) seriam constituídas
por um efectivo de 30 mil, numa base de paridade entre as duas
partes. Destes, 24 mil seriam para o Exército, 4 mil para a Força
Aérea, e 2 mil para a Marinha.
Numa altura de fadiga pela guerra, em que poucos dos combatentes
de ambos os lados estariam ainda na disposição de continuar na
carreira militar, este terá sido factor determinante para que os negociadores
do acordo previssem que os integrantes das novas forças
armadas o fariam numa base voluntária.
Possivelmente sem muitos voluntários, a Renamo não conseguiu
disponibilizar o total do efectivo que lhe cabia. Mas é precisamente
esta questão que tem sido o cavalo de batalha da Renamo, desde
que decidiu retomar a guerra, acusando o governo de ter agido de
má-fé para sabotar a integração dos seus militares nas Forças Armadas.
Era de crer que o acordo de cessação das hostilidades, assinado no
dia 5 de Setembro de 2014 entre o antigo Presidente da República,
Armando Guebuza, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, fosse
resolver este diferendo, com a integração dos homens da Renamo
nas Forças Armadas e na Polícia.
Contudo, ao que tudo indica, não era este o entendimento que a
Renamo pretendia. A exigência subsequente de reintegração dos
seus homens que já tinham passado à disponibilidade por tempo de
serviço e de paridade no topo da hierarquia militar não constituía
matéria do referido acordo. Os observadores militares internacionais
que deveriam ter acompanhado este processo de integração se
foram embora sem terem concluído o seu trabalho.
A última exigência agora é que tal integração seja extensiva aos
Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE). Nada do
que está a ser exigido parece impossível de satisfazer. Mas há necessidade
de se entender a urgência do desfecho de todo este processo
negocial, para que o país volte à normalidade e esteja em condições
de se concentrar nos esforços do seu desenvolvimento.
É preciso também evitar o desgaste da paciência dos mediadores
internacionais, que à semelhança dos observadores militares internacionais
em 2015 podem concluir que estão a perder o seu tempo
e regressarem às suas origens. Não perdem nada com isso. Quem
tem tudo a perder são os moçambicanos que já não podem continuar
a viver nesta grande incerteza.
Vivendo numa
grande incerteza
Savana 23-09-2016 19 OPINIÃO
495
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
Há uns dias prometi dar
continuidade a um
texto que escrevi neste
mesmo espaço, cujo tí-
tulo era “Minha dívida, dívida
soberana”.
Ora aqui vai. Na realidade é um
novo texto, que, no entanto, se
enquadra no mesmo contexto –
o desgoverno do meu, do nosso
país. Só que desta vez é uma
história real. São factos reais.
É uma história real que é paradigmática
da prepotência da
nossa polícia, dos seus CHEFES
E CHEFINHOS, estes a
aplicarem tudo o que lhes foi
ditado por quem está por cima,
sem questionar, com o intuito
apenas de agradar a esses mesmos
CHEFES, ou pura e simplesmente
para demonstrar a
sua autoridade, já perdida, uma
vez que a generalidade da população
não reconhece essa autoridade,
que deveria decorrer de
uma atitude impoluta, digna,
responsável e não da prepotência.
E esta história retrata uma
realidade que infelizmente se
instalou no nosso país, a realidade
dos CAMARADAS, da
GRANDE FAMÍLIA ALARGADA
e da prática de muitas
instituições públicas e dos seus
dirigentes, cujos desmandos e
atrocidades se desculpabilizam
por não haver outra hipótese,
ou porque a consciência política
de parte da população ainda
não atingiu a maturidade cívica
e democrática. Até quando.
Eis a história passada nesta nossa
Maputo – Dei-lhe um título:
“A Pistola do Calisto”.
Na noite do dia 23, uma noite
bem fria de Agosto o taxista,
já cansado de esperar em vão
por clientes na praça onde está
habitualmente estacionado, decidiu
recolher. Ia ele a caminho
de casa quando por um golpe de
sorte é mandado parar por um
cidadão - já não havia transportes
públicos a essa hora - a pedir
para que o transportasse até à
zona da Cadeia Feminina, algures
em Ndlavela. Assim seguiram
viagem depois de discutir o
preço (a vida está muito difícil
para todos, não é novidade) e
embora o valor fosse irrisório, o
taxista aceitou-o, uma vez que
estava a recolher não tinha muito
a perder.
Chegados à Cadeia Feminina
o cidadão pagou o preço combinado
e o taxista retomou viagem
a caminho de sua casa. Eis
que nas proximidades, bem ali,
no grande muro da Cadeia Feminina,
mais um golpe de sorte,
isto é azar, grande azar - é interpelado
por dois polícias solicitando
transporte para a Zona
Verde.
Já no táxi começou a discussão
sobre o preço a pagar. O taxista
foi-se apercebendo que os dois
polícias estavam embriagados.
Assustado, aceitou o valor irrisó-
rio imposto pelos dois polícias:
300 mt. Seguiram viagem e na
conversa foi se apercebendo que
os dois eram guardas em servi-
ço daquele estabelecimento, em
serviço, e estavam a abandonar
o seu posto para ir comprar na
Zona Verde a bebida conhecida
por tentação, com o argumento
de que era para aguentarem a
noite de serviço que era longa.
Chegados à Zona Verde a atmosfera
ficou ainda mais pesada
e perigosa para o taxista
devido à atitude dos dois polícias
na hora de pagar. Afinal
nem sequer tinham os 300 MT
prometidos, acabando por dar
apenas 150 MT ao taxista que
agradeceu, já com vontade de se
ver livre daqueles dois senhores
da autoridade policial moçambicana.
É um homem curioso este taxista.
É um homem de fé. Acredita
na palavra de Deus e tem fé
nas pessoas. Quem o conhece e
eu conheço-o, descreve-o como
um Homem de Bem. Amanhã é
outro dia – meditava o taxista já
na sua cama, encostando-se ao
corpo adormecido da mulher e
pensando também que não teria
direito a um carinhozinho, mas
apenas a umas horinhas de descanso
para logo de manhã cedo
retomar o seu trabalho.
Como sempre a rotina de um
taxista começa com a lavagem
do seu táxi. Uma limpeza minuciosa
para garantir que os
clientes viajam em espaço limpo
e seguro. Animado com o seu
trabalho de limpeza qual não
é seu espanto quando descobre
que no banco traseiro do táxi
descansava uma pistola. E não
era uma qualquer pois tinha o
respectivo coldre, de cabedal
preto, não é qualquer um que
tem uma arma destas, uma arma
de polícia.
Por uns instantes o homem não
quis acreditar.
Deus está me a pôr à prova
– pensou – mas desta forma?
– Senhor Deus o que fiz para
merecer tal coisa? - Rezava o
homem completamente aterrorizado.
– Deverei entregar a
arma numa esquadra, na minha
vida nunca vi uma arma de perto,
nunca entrei numa esquadra
de polícias, não sei como se faz
nem como agir. Senhor ilumina-me.
De repente deu arranque no seu
táxi, que apesar dos problemas
todos que tem nas manhãs frias
de não querer pegar, desta vez
pegou à primeira, e sem pentear
o cabelo ou lavar os dentes
o homem pegou na pistola
embrulhou-a com o paninho
encardido que usa para limpar
o carro, pô-la no guarda-luvas,
virada para o lado do passageiro,
não vá o diabo da arma disparar
com os solavancos na estrada e
rumou ao Comando Policial da
cidade de Maputo. Ali na Ho
Chi Mim. Quem não conhece
aquele sítio e o que lá acontece?
Chegado ao local pediu para
falar directamente com o Comandante.
Alguns entraves que
duraram uma boa meia hora,
o homem firme dizendo que
queria falar directamente com
o Comandante, finalmente foi-
-lhe permitido.
No gabinete deste começou a
contar o episódio da noite anterior.
O comandante apercebendo-se
da gravidade do assunto
fechou a porta do gabinete e
mandou chamar um agente a
quem depois de contar a história
deu ordens para ir com o
taxista até ao carro para buscar a
referida pistola.
Quando retornaram ao gabinete
do Comandante, o agente na
posse da pistola, o assunto muda
de figura. O Homem de Bem
foi imediatamente transformado
em marginal, obrigado sobre
ameaças a contar outra história
não aquela que tinha contado.
Foi obrigado a descalçar-se,
tiraram-lhe o cinto das calças,
o telemóvel, todos os documentos
e ameaçaram metê-lo numa
cela.
O taxista diz que começou a
chorar, a implorar que o deixassem
ir, que para ele aquele
assunto terminava ali. Ninguém
o quis ouvir. Em desespero pediu
pelo menos para fazer um
telefonema para o proprietário
do táxi, pedido que foi recusado.
Pediu para ligar para um familiar
e cederam.
Então o homem ligou para um
tio, polícia que por sinal se encontrava
no mesmo edifício.
Muito rapidamente disse ao tio
onde se encontrava e este imediatamente
foi ter ao Gabinete
do Comandante. Isto sim, foi
um golpe de sorte. O tio polícia
procurou inteirar-se do assunto
e exigiu que o mesmo fosse investigado.
Assim, ele e o agente
que desde a primeira hora tinha
sido chamado saíram deixando
o Comandante e o taxista no
gabinete, a caminho da Cadeia
Feminina.
Espantoso! Naquele sítio não se
falava noutra coisa. Falava-se do
assunto da pistola desaparecida
e do agente Calisto, dono da
pistola, que não se tinha apresentado
ao posto naquela manhã.
Não foi preciso perguntar
mais nada. O tio polícia mais
o agente regressaram para dar
conta da diligência ao Comandante.
COMANDANTE: pois bem,
apurados os factos o senhor
pode sair em liberdade.
Assim mesmo. Sem um pedido
desculpas. Sem pudor. Sem
reconhecimento. Para quê? O
ESTADO SOU EU!
Lições tiradas
Está claro que essas forças de
garante à segurança não estão
para servir as pessoas, pelo contrário,
numa atitude vexatória
para os cidadãos e para o país
tentam intimidar, mistificar e
esconder os factos quando estes
não lhe agradam pagar. Isto em
detrimento de outros objectivos,
que são a razão da sua existência,
zelar pela segurança e pelo
bem-estar das pessoas.
O Senhor Comandante da Polícia,
ao invés de promover a investigação,
de demonstrar empatia
e a possibilidade de sentir
com o taxista, sentido o que ele
sentiu a fim de ajudá-lo, optou
por desviar o assunto colocando
o Homem que por bem o procurou
como marginal.
O Senhor Comandante da
Polícia, ao invés de procurar o
agente cuja prática é repreensível
e que devia ser objecto de
punição, optou por deseducar
um cidadão que por ele procurou,
a bem, para expor os factos
e encontrar soluções.
O Senhor Comandante da Polícia,
ao invés de mostrar ao seu
colega agente conivente nesta
história, que não deve desculpabilizar
a classe, mas procurar
saber os contornos dos problemas,
optou por o mostrar que
quem tem poder não respeita os
cidadãos.
E assim a sua missão fica cumprida.
Mas, Senhor Comandante da
Polícia, por alguns instantes
não se pôs a pensar que aquele
homem, que a bem o procurou,
poderia ter feito coisa pior?
Que poderia optar por vender
ou alugar aquela arma aos malfeitores
que matam a própria
polícia na primeira oportunidade?
O senhor sabe, mais do que
ninguém, a procura que existe
de armas para fins nefastos nas
nossas cidades. Sim tem registos
e testemunhos bem na sua
gaveta.
Senhor Comandante da Polícia,
e esse apelo que anda por aí, que
os cidadãos devem devolver as
armas que possuem, como fica?
Imagina a adesão em massa das
pessoas portadoras de armas depois
deste episódio?
QUE ALGUÉM COM PODER
EFECTIVO, PODER E
RESPEITO PELOS CIDADÃOS,
PONHA COBRO A
ESTA SITUAÇÃO E SALVE
O PAÍS DE MAIS VEXAMES
COMO MESTE.
MAIS NÃO PEÇO.
A pistola do Calisto
3RU-RVHÀQD0DVVDQJR
Há pessoas que gostam
de colocar o acento
não nas diferenças
sociais verticais, mas
nas diferenças horizontais.
Tenha-se em conta o apego
ao multiculturalismo, às especificidades
nacionais, culturais,
filosóficas, raciais, etc.
Mas as coisas são mais complicadas
do que pensamos.
Por exemplo, como escreveu
há muitos anos Simone de
Beauvoir, ao esquema “simplista”
de Marx, que opunha
exploradores a explorados,
“se substitui um desenho tão
complexo que os opressores
entre si diferem tanto quanto
diferem dos oprimidos, a tal
ponto que esta última distin-
ção perde a sua importância”.
Mas não só. Por exemplo, não
são diferentes os criminosos e
as vítimas? Não são diferentes
os torcionários e as vítimas?
Então, que diferenças devemos
realmente respeitar? Por
outras palavras, para adaptar
as palavras de George Orwell:
todos somos diferentes, mas
há diferentes mais diferentes
do que outros.
Que diferenças devemos respeitar?
20 Savana 23-09-2016 OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
A
auditoria independente, já
acordada entre o Governo de
Moçambique e o Fundo Monetário
Internacional (FMI),
poderá vir a ocorrer nos próximos
tempos, o que constitui uma oportunidade
não só de aprendizagem, mas
também de reorganização da nossa
matriz de controlo e gestão da coisa
pública. Este “desbloquear do processo”,
este claro reconhecimento de que
Moçambique não pode continuar refém
dos impactos (negativos) dos cortes
financeiros internacionais devido à
“inexistência de transparência”, revelam
o nível de “respeito e considera-
ção” que o Governo tem relativamente
aos seus cidadãos e, particularmente,
ao eleitorado.
É verdade que o esclarecimento do
caso “dívidas escondidas” interessa
concretamente aos moçambicanos.
Entretanto, é também verdade que a
Auditoria independente
ideia já formada de que as instituições do
Estado estão minadas pela “partidarização”
e, logo, pela “disciplina partidária”, retira
uma boa dose de credibilidade de que,
supostamente, deviam ser defensoras. Esta
“ideia já formada” faz com que alguns pensem
inclusivamente na questão da verificação
da autenticidade da documentação
a ter em conta no processo de auditoria
independente (que se pretende que seja
claramente forense).
Na mesma esteira de pensamento, estas
viagens aos EUA, visando particularmente
encontros com o FMI, dão uma visão
interessante sobre o que pode significar
uma “atitude discriminatória”. As “coisas”
só se revolvem por mérito da pressão
internacional. As instituições de Breton
Woods conhecem o nível da nossa seriedade.
Prepararam um forte puxão de orelhas
que pode vir a ser doloroso mas que,
mesmo assim, não nos vai pôr em situação
de “revoltados”. Caber-nos-á agradecer.
A estas instituições financeiras devemos
grande “consideração e respeito” porque a
nossa dependência económica a isso nos
inspira. Em oposição, quando o cidadão
nacional exige transparência, separação de
poderes (legislativo, executivo e judicial),
esclarecimento urgente das “dívidas escondidas”,
despartidarização do Estado, seriedade,
paz e não guerra, etc., simplesmente
remetemo-lo ao “aumento da produção e
produtividade” e berramos “deixem-nos
trabalhar!” Não pensamos na “consideração
e no respeito”. Para os primeiros, atravessamos
oceanos para “ouvi-los” até largarem a
desejada moeda e, aos segundos, queremos
que corram para nos ouvirem e/ou obedecer
porque é isso que promove a unidade
nacional. É a inclusão.
Ainda que tenha havido tal “desbloqueio”,
há no ar um sentimento e um desejo para
que a auditoria tenha como objectivo principal
a questão da “responsabilização”,
cumprindo a lei, à risca. É um desejo que
traduz o cansaço produzido pela recorrente
machadada da impunidade.
Quem defende esta matriz de impunidade
para uns e não para outros?
Será que a expressão que refere que
“ninguém está acima da lei” já foi, alguma
vez, partidarizada? A auditoria
independente (desejada forense) está
em gestação. Esperemos que nos traga
mudanças que catapultem de forma
sustentável o nosso desenvolvimento.
Cá entre nós: tomando em conta que os
supostos culpados pelas “dívidas escondidas”
estão mapeados na mente popular
ou de quem assim acredita, a referida
auditoria independente (desejada forense)
deveria ocorrer em tempo útil. Com
a directora geral do FMI só levamos
cerca de trinta minutos (lá onde tempo é
dinheiro). Os partidos que se preparem
para ganhar e/ou perder membros e simpatizantes.
I
mperceptível, mas radicalmente, a minha
vida mudou desde que, em 1965,
fiz a 4.ª classe. Tinha 12 anos de idade.
Nasci em Maqueze, lá no interior de
Chibuto, no então distrito de Gaza, uma
vez que Moçambique era uma província.
Não me apercebi perfeitamente do que se
passou, mas houve uma guerra terrível entre
o meu pai e a minha mãe pelo seguinte:
eu era o último dos 27 filhos que ele tinha
com as suas 5 mulheres. A ideia dele era
que, em vez de eu seguir o caminho dos
meus irmãos mais velhos, que estavam todos
na diáspora - palavra que se usa agora,
na altura não -, eu fincasse as raízes em
Maqueze para perpetuar a herança ancestral
da tradição da minha família, que é
criar gado bovino, ovino, suíno, qualquer
gado, e ter mulheres e filhos. Perpetuar a
nossa estirpe.Mas – isso conto agora, porque
na altura não me apercebi – a minha
mãe jurou não aceitar essa ideia. Queria
que eu fosse continuar os meus estudos em
Lourenço Marques, onde tinha um dos
meus irmãos mais velhos, de outra mulher.
A minha mãe venceu. Então, numa bela
manhã- bela ou feia, já não me lembro,
digo bela por uma questão de poesia, para
endireitar a crónica - fui empacotado no
camião do Mussagy Valgy directamente
para Lourenço Marques. Estou a falar de
1965.
Fui viver para casa do meu irmão, que
tinha uma dependência de quarto e sala
no bairro do Vulcano, mesmo ali perto da
linha férrea. Coisa decente, na altura, para
um preto vindo de Maqueze. Ainda mais
decente para quem, como ele, trabalhava
como balconista na cantina do Narotam
Gulamussene, na loja do Gulamussene ali
no Xipamanine. Sim, para ti que entendes
disso e tens a minha idade, no Gulamussene
do Xipamanine.O meu sonho poderia
ter sido o de andar num liceu, mas,
falando a verdade, liceu naquele tempo
era o Salazar e o António Enes. Coisas
de elite. Nós, que vínhamos lá dos povoados
de Maqueze, Pessene, Funhalouro e
Mabote, tínhamos duas alternativas: ou
alinhar como empregado doméstico, ou
entrar numa escola técnica. O meu irmão
alinhou-me numa escola técnica.
Em Setembro de - 65 entrei na Escola
Preparatória General Joaquim Machado.
Coisa deslumbrante! Vi-me numa turma
com meninos brancos, pretos, mulatos, indianos;
chineses não havia. Mas não havia
fricções raciais, porque, no fundo, brancos
ou pretos ou mulatos, éramos todos de famílias
pobres.
O que quero dizer é o seguinte: o que me
fez saltar a tampa, como dizia o meu ilustre
amigo Kok Nam, foi que, nesse mesmo
ano, nas férias de Natal, que eram curtas,
voltei para Maqueze para visitar os meus
pais e fui recebido não como um herói,
mas como um deus. Não pelos meus pais,
mas pela população do meu povoado, que
era toda analfabeta.
Surpreendeu-me que, no dia seguinte à
minha chegada, logo de manhã, apareceu
uma senhora que eu conhecia, a Dona
Sara, com um bebé ao colo. Eu estava sentado
em baixo da figueira a apanhar sol e
a pensar no que havia de fazer, quando ela
apareceu. A minha mãe serviu-lhe uma
esteira e ela disse, em changana - “Meu
filho, venho pedir-te um favor: quero
escrever uma carta para o meu marido,
que está nas minas na África do Sul. Eu
sei, porque a tua mãe me disse, que és
um estudante das escolas grandes lá em
Lourenço Marques. Eu vou-te dizer em
changana e tu vais escrever em português
uma carta para o meu marido.”
Eu levantei-me, fui buscar o meu caderno
e um banco, e disse – “Dite lá, senhora
minha tia. E ela disse aquilo em changana.
E foi a primeira vez. Depois vieram
outras e outras e outras Então, de repente,
vi-me mergulhado num universo de
sonhos, de pesadelos, de desesperos, de
desesperanças Porque as cartas que elas
me ditavam para os maridos nas minas da
África do Sul, de onde os homens voltavam
ou com tuberculose, muitos, ou com
muitos randes, poucos, ou para as empresas
onde trabalhavam em Lourenço Marques
como empregados domésticos, ou
qualquer coisa do género, era um mundo
feito disso mesmo: de sonhos, de amores,
de desamores, de cordão umbilical assim,
assim, assim ou assado. E o que me comovia
mais era eu ter de penetrar na confian-
ça dessas mulheres, que tinham 30, 40, 50
anos, e que confiavam a mim, um menino
de 12 anos, os seus segredos de alma.
Então mergulhei profundamente nesse
mundo. Mergulhei de cabeça nesse universo,
porque nem tudo acaba no cordão
umbilical económico-financeiro. Havia
Depoimento 777
também os apetites duma mulher que
fica um ano, um ano e meio sem ver um
homem, tanto é que muitas acabavam por
me dizer assim - “Meu filho, escreve lá a
dizer ao meu marido: «Eu caí na tentação,
estou grávida do jovem que trata do gado na
casa do vizinho, mas não quero tirar a gravidez,
vou ter um filho desse jovem. Estou a
pedir para não voltares para aqui, para Maqueze.
Esquece-me!»”
Aos 18 anos de idade, definitivamente
convencido de que não haveria de conseguir
o curso de torneiro mecânico, como
era o sonho do meu irmão, que no fundo
era o sonho dele falhado, comecei a sofrer
de convulsões estomacais terríveis. Pensei
que tivesse comido alguma coisa má, mas
não: vi que eram dores de parto. Tive dores
de parto terríveis, longas, solitárias, em
noites de lua cheia ou quarto minguante.
O que é verdade é que aos 20 anos publiquei
o meu primeiro livro de poesia. Nunca
vi esse livro nas montras das livrarias,
mas isso também não me preocupa muito.
Foi uma tiragem mínima, 250 exemplares,
com capa e desenhos, no interior, do meu
ilustre amigo Kapaluka Kunyumba. Nunca
vi esse livro nas montras das grandes
livrarias, nem das pequenas, mas hoje, em
tardes de chuva, vejo-o nos alfarrabistas
que vendem antiguidades nos passeios das
ruas de Maputo e lembro-me de Louren-
ço Marques.
Se um dia passares por aí e vires um livro
de poesia cujo título é A Beleza Rara e
Efémera da Flor do Embondeiro, esse livro
é meu. Podes comprar. Fi-lo com muito
amor.
Savana 23-09-2016 21 OPINIÃO
No dia 25 de Junho de
1975, tinha eu quinze
anos, voltei a casa de madrugada.
Tinha andado
pelas ruas a revistar carros pois os
reaccionários inimigos da nossa
independência estavam à espreita.
Na sala, estava o meu pai, alguns
tios, todos meio eufóricos e meio
cépticos. Perguntei porquê e a resposta
saiu peremptória:
- Primeiro a tua missão não é revistar
carros, é estudar. Segundo,
estivemos aqui a comentar. O
Hino que ouvimos, logo no primeiro
verso diz viva, viva a Frelimo,
este país não vai ter mais partidos
políticos?
Cá para mim, pensei logo que era
uma americanice reaccionária, já
que quem me questionou foi um
tio recém-chegado dos Estados
Unidos, portanto, “com ideias
imperialistas”. Tal era a nossa politização
de cartilha, vinda de Nachingweia.
Entre euforia e disforia os velhos
estavam a comemorar moderadamente.
Fui dormir com a sensação
de que o meu pai e os tios ali presentes
eram reaccionários, tal era o
meu fervor político.
Volvidos estes anos todos, já na
casa dos cinquenta que estou, e
tendo lido alguma teoria socioló-
gica, dou-lhes alguma razão. Aliás,
os factos atestam a seu favor, as
razões da disforia então patentes
e vingaram: Em 1990 a nossa
Constituição mudou e passou a
acomodar o multipartidarismo.
O Hino Nacional também mudou.
Todavia, nem por isso somos
mais plurais. Seria suposto haver
um diálogo permanente sobre as
diferenças e o entendimento relativamente
aos caminhos a seguir
no interesse colectivo. Parece que
está difícil. Muitos de nós trazemos
essa visão nachingweiana sobre
Moçambique, de unanimismo
e homogeneização. A nação e os
seus destinos são tratados como se
de uma antiga farma se tratasse. O
discurso mantém-se rígido como
que a treinar militarmente toda a
nação, e por isso, exigindo passo
acertado do Rovuma ao Maputo.
Esta atitude faz com que uma
visão do mundo se sobreponha a
outras, como se Moçambique fosse
apenas a visão de Nachingweia,
se bem que a história do país se
confunda com a história da Frelimo
enunciada a partir de Nachingweia.
Como em todas as coisas, o
facto é que a nachingweização tem
virtudes e defeitos.
Das virtudes e dos defeitos
Ainda que haja vozes que dizem
ter havido défices de participação,
verdade seja dita, as pessoas participavam
nos comités, nas reuniões,
nas sessões de estudo político, e,
por vezes, na escolha dos dirigentes.
Esta é uma virtude da nachingweização.
Temos o exemplo da
escolha dos membros do partido
ou dos deputados à então Assembleia
Popular, onde os candidatos
passavam pelo crivo do povo.
Vindos de diferentes quadrantes
de Moçambique, em Nachingweia
se cruzaram as vidas de homens
e mulheres que se auto definiam
por oposição ao colonialismo que,
de igual modo, a todos subjugava.
Portanto, uma identificação fortemente
politizada. Decerto se punha
o problema da origem de classe,
mundividência e experiências
individuais ou grupais anteriores.
No entanto, no dizer de Cabaço,
em Nachingweia, a luta ideológica,
com forte ênfase em valores morais,
é levada à consciência de cada
um, convocado a uma dialéctica
interior entre passado e presente,
não muito distante da acção pedagógica
de algumas missões protestantes
“iluminadas”, que tinham
aberto, a muitos dos quadros as
portas da “modernidade” e do nacionalismo
(Cabaço:2010,289).
Por isso, Nachingweia representa
uma forma de estar que se traduziu
numa lógica de ética e moral
dignas de realce, embora, por vezes,
se tivesse manifestado com
algum puritanismo. Mesmo assim,
e assumindo-se como prescrição
universal, a fórmula Nachingweia
serviu de pedagogia para a universalização
dos valores da luta
e a consequente organização das
“massas populares”, ao estilo de
Partido-Estado providente, do
género Leviatan. Tal compreendia
bens políticos (delivery), culturais
(na promoção das diferentes manifestações
artísticas), assim como
encorajava e propiciava mudanças
nos modos de pensar, ser, estar e
agir (construção do homem novo).
Por conseguinte, foi encorajado
o colectivismo, a cooperação, a
construção colectiva de saberes e
sua partilha universal pelos estudantes,
combatentes, camponeses,
políticos e respectivas chefias.
Isso estimulou a camaradagem, o
sentido de pertença e de grupo,
sem necessariamente equacionar
a importância das especificidades
culturais, políticas, e de origem
de cada um. Antes pelo contrário,
sempre estiveram presentes as diferenciações,
o que resulta, quanto
menos não seja, da definição das
identidades como produção da diferença.
Portanto, penso que visões
reducionistas e essencialistas das
identidades tiveram algum campo
de manobra, daí o aparecimento de
vozes que definiam o inimigo pela
tez da pele, por exemplo.
A unidade nacional (no sentido
de inclusão nacional e de Estado
unitário) foi desde a fundação da
FRELIMO, a divisa chave da organização,
dada a proveniência diversificada
dos seus membros e o
reconhecimento de que até então
as lutas tinham sido perdidas por
falta dessa unidade.
No entanto, o estágio actual da na-
ção informa-nos que ficaram coisas
por resolver. Isto é, se eu quiser
usar um dito da sapiência popular
africana, “lavámos a criança e deitamos
a água fora com a criança”.
Ficámos com a bacia nas mãos e
a criança estatelada algures, a contorcer-se
de dores. Já me explico.
Se é verdade que em Nachingweia
foi construída uma organização
que integrou, pessoas vindas de
extractos muito diversos, e aqui
estou a parafrasear Óscar Monteiro,
também é verdade, no dizer do
mesmo, que essa integração pode
ser feita ou por cima (top down
approach) ou por baixo (bottom
up approach):
“Certamente que tivemos desfalecimentos
e deserções. A liberdade
estava para além da linha do horizonte,
era preciso imaginá-la,
sonhar com ela” (Monteiro, 2012).
Portanto, embora as duas formas
de se fazer a integração, de cima
para baixo e de baixo para cima,
tivessem sido usadas como estratégias,
em simultâneo, permaneceram
zonas de penumbra, por vezes
fissuras, que determinam o estado
actual de muitas coisas no processo
de construção do nosso Estado
Nação’
Marcar passo!
Foi em Nachingweia que nasceu
o método de consulta popular,
do respeito pelo povo, de servir
o povo, da colectivização da produção,
do método do centralismo
democrático e da divisa segundo
a qual os dirigentes deveriam ser
os primeiros em sacrifícios e os
últimos nos benefícios. Esses mé-
todos, atitudes e comportamentos
trazidos para Moçambique independente,
parecem terem sido
sublimados. Foram mais ou menos
eficazes durante os primeiros anos
da independência, digamos, até ao
fim da primeira República (1990),
simbolicamente representada pela
queda do Tupolev presidencial em
Mbuzini.
Hoje assistimos a dirigentes de
alto calibrada a enunciar à nação
que lutaram para ficarem ricos;
assistimos à viragem do partido de
vanguarda para uma corporação.
Isto é, as pessoas filiam-se à Frelimo
não para servirem mas para
se servirem. Quer dizer, a Frelimo
tornou numa plataforma de pagamento
de favores, ao género clientelista,
por via de cargos políticos
no Estado (deputados) e no Governo
(cargos diferenciados); hoje
assistimos, nos processos de elei-
ções internas da Frelimo, a actos
de pagamento de votos para a ocupação
de cargos directivos e entrada
nos órgãos colegiais como o
comité central, por exemplo. Estas
práticas literalmente contrárias ao
espírito de Nachingweia revelam
um revés e desrespeito ao pacto
social assinado em Nachingewia.
A unidade de pensamento propalada
em Nachingweia parece ter-se
esfumado. Assistimos a dirigentes,
referindo-se a um mesmo assunto
das formas mais díspares, até nos
órgãos de comunicação social, o
que denuncia falta de discussão interna,
falta de estudo político, prá-
tica comum em Nachingweia, e, ao
que tudo indica, indicia um forte
deficit de participação universal.
Dois passos em frente e
um a retaguarda
Foi em Nachingweia que Samora
sentenciou que a emancipação da
mulher era uma necessidade da revolução
e não um acto de caridade,
se bem que o Hino adoptado pela
Organização da Mulher Moçambicana
aí fundado, dê largas a imaginação
sociológica, no que concerne
à análise do seu conteúdo.
Tudo leva a crer que o mesmo tem
laivos de uma visão patriarcal da
sociedade, para além de confinar
a mulher aos papéis que, tradicionalmente
lhe são alocados: servir o
homem. Esta organização, parece
ter ficado intacta e pouco crítica.
Não se vislumbra a entrada de sangue
novo, o que sociologicamente
pode ser definido como auto definição
por fechamento. Isto quer
dizer que a emancipação da mulher
restringe-se à luta por igualdade
nos cargos políticos e não na
sua essência que se traduz numa
equidade de género, de facto.
Contrariamente ao que sucede no
partido Frelimo como um todo
que determina quotas para mulheres,
jovens, continuidade e novas
entradas, parece-me que a Organização
da Mulher Moçambicana,
no meu ver, é caracterizada pela
não agregação de valor e por pouco
sangue novo insuflado. Portanto, a
organização permanece intacta nos
seus métodos, actuação e comportamento:
receber chefes dançando,
servi-los como protocolo e à mesa.
Quanto ao comportamento da
juventude esta caracteriza-se pelo
facto de ser mais “papista que o
papa”. Estes jovens, em termos
ideológicos e de inovação, de grosso
modo, são mais velhos que os
jovens de Nachingweia. Ela fica-se
pelo mimetismo em termos de indumentária
formal, isto é, vestem-
-se de fato e gravata, e pautam
pela ausência de espírito crítico,
próprio da juventude, e muita propensão
pelo material, independentemente
do interesse colectivo. A
sua acção centra-se no mimetismo
do novo-riquismo que se patenteia
na ostentação, mesmo em campanhas
políticas onde a humildade
deveria ser um dos pilares de suporte
do discurso e da acção da
Frelimo.
Por outro lado, o discurso divisionista
combatido em Nachingweia,
tomou o poder. Do discurso inclusivo
de Nachingweia, hoje estamos
perante uma realidade em que se
fala dos pretos, dos brancos, dos
canecos, dos mulatos, dos chingondos
ou dos machanganas, em
artigos assinados por indivíduos
anónimos, cujo anonimato revela
a maneira de pensar e sentir dos
grupos que representam e defendem
a todo o custo, numa lógica
clientelista.
Da colectivização da economia
passou-se a um individualismo
exacerbado que se confunde com
o egoísmo neo-liberal: “é preciso
acumular capital”. O empreendedorismo
passou a ser a chave mestra
da acção dalguns que vieram de
Nachingweia e dos que os receberam
no Moçambique novo, salvas
as devidas excepções. Mais grave,
assistimos a coligação de elites nacionais
com as de outros quadrantes,
onde o ideológico cedeu lugar
à moda do neo-liberalismo à moda
do Washington consensus.
É assim que defino a perversidade
da nachingweização de Moçambique:
da colectivização a individualização;
do discurso ético ao
discurso da promiscuidade política;
da unidade a divisão e da coisa
pública ao abocanhamento dessa
mesma coisa pública. Se eu quiser
usar uma imagem diria, todos a
fazerem-se ao bolo colectivo, retalhando-o
conforme a força política
de cada um. Para além de que há
quem o faça a manu militari.
Este é, quanto a mim, o quadro
que pinto desse processo, complexo
e contraditório de construção
do Estado Nação, Pátria e cidadania,
que desfez o sentimento de
pertença e de referencial colectivo
produzido em Nachingweia.
*Excerto editado da comunicação
apresentada no simpósio “Samora
Machel: Re-Significando Pátria e
Cidadania Samora Vive”, Universidade
Eduardo Mondlane, 1 e 2 de
Setembro 2016
Sobre a Nachingweização de Moçambique:
Utopia versus distopia
Por Filimone Meigos*
Filimone Meigos
22 Savana 23-09-2016 DESPORTO
P
romessa feita, promessa
cumprida! É desta forma
como se pode descrever a
medalha de bronze conquistada
pela atleta paralímpica,
Edmilsa Governo, na final dos 400
metros, nos Jogos Paralímpicos do
Rio, na categoria T-12.
O facto é que, aquando da sua despedida,
a atleta prometeu levar a
bandeira de Moçambique ao pódio,
promessa concretizada na madrugada
do último domingo, ao terminar
em terceiro lugar, na final dos
400 metros planos, com o tempo de
53,89 segundos.
“Missão cumprida”-
Edmilsa Governo
À sua chegada a Maputo, na manhã
desta quarta-feira, a atleta disse, visivelmente
emocionada, sentir-se
com a sensação de “missão cumprida”
porque “desde 2012 que sonhava
com esta medalha”.
“Gostava de ter uma medalha melhor
que esta, mas acredito que,
em 2020, chegará a melhor”, disse
a atleta, frisando que partiu para a
prova confiante num resultado positivo.
“Não senti nenhum peso e estava
consciente de que não me devia
preocupar muito. Fiz os 100 metros
por falha da organização porque ia
correr nos 400 metros, já que fui
desqualificada nos 200 metros, nos
mundial de Doha”, revela.
Edmilsa Governo conquista medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos
Promessa cumprida!
Por Abílio Maolela
Edmilsa Governo é a segunda atleta
moçambicana a conquistar uma
medalha olímpica, depois de Lurdes
Mutola ter ganho o bronze, em
Atlanta (1996) e o ouro, em Sydney
(2000).
Este facto deixa a atleta orgulhosa e
reafirma que quer superar a compatriota.
“Esta medalha tem um significado
enorme e o meu sonho é
substituir Mutola”, diz.
A presidente do Comité Paralímpico
de Moçambique, Farida Gulamo,
diz que a sua instituição conseguiu
dignificar o país e mostrar que
as pessoas portadoras de deficiência
são capazes.
Por sua vez, o treinador da atleta,
Francisco Faquir, esclarece que
aquela medalha é resultado do
empenho e dedicação da mesma
porque “cumpriu com o programa
traçado no início do ano”.
“As marcas registadas não foram
compradas, mas são fruto do seu
trabalho. Superou os recordes pessoais
e o paralímpico”, sublinha.
Faquir vai mais longe ainda, afirmando
que este resultado constitui
uma chamada de atenção ao país,
de modo a dar mais atenção à modalidade,
algo que até então tem
sido uma miragem.
O Ministro da Juventude e Desportos,
Alberto Nkutumula, que
recebeu a atleta no Aeroporto Internacional
de Maputo, diz que
“valeu a pena” o investimento feito
pelo governo.
“Suportamos todas as viagens da
atleta, do Comité Paralímpico e da
Federação em todas as competi-
ções, sejam de qualificação aos Jogos
Paralímpicos, assim como para
a melhoria das suas marcas”, realça.
Bolsa paralímpica no
estrangeiro
Devido à medalha de bronze, o Ministro
da Juventude e Desportos,
Alberto Nkutumula, anunciou que
o governo vai oferecer uma bolsa
externa à atleta, de modo a melhorar
o seu desempenho, uma promessa
que não constitui novidade.
Nkutumula justifica a decisão com
o facto de a atleta ter provado ao
país que tem potencial, pois, o executivo
não queria investir no vazio.
“Terá uma bolsa externa, de modo
a estar num país com melhores
condições para melhorar o seu desempenho.
Há quem entende que
mesmo aqui ela pode melhorar o
seu desempenho, basta que se melhore
as condições de trabalho. Mas
a própria atleta escolheu treinar no
estrangeiro e temos de satisfazê-la
porque já provou que tem potencial.
Era isto que nós precisávamos
porque não podíamos investir no
vazio”, considera.
A atleta reage com satisfação à atribuição
da bolsa, mas sublinha que
“por mais que não tivesse a bolsa e
me focasse no trabalho e não nas
dificuldades também ia superar”.
Maria Muchavo fora das
provas por falta de exames
médicos
Uma das maiores ausências dos Jogos
Paralímpicos de Rio de Janeiro
é da medalha de prata dos Jogos da
Commonwealth de 2014, Maria
Muchavo. Francisco Faquir conta
que a atleta não esteve presente
no evento devido à falta de exames
médicos.
“Maria Muchavo não esteve presente
nos Jogos Paralímpicos por
carência de exames médicos. Ela
conseguiu os mínimos, mas por
causa dos exames não foi à competição.
Quando estes forem feitos
ela terá uma classificação médio-
-funcional porque já atingiu o limite
dos exames que tinha”, revela.
Realçar que, para além da medalha
de bronze dos Jogos Paralímpicos,
Edmilsa Governo coleciona mais
de duas dezenas de medalhas, com
destaque para a de bronze, conquistada
nos mundiais de Doha,
em 2015, mesmo ano em que ganhou
a medalha de ouro, nos Jogos
Africanos.
A final dos 400 metros planos
T-12 foi ganha pela cubana Omara
Durand, com 51.77, e a ucraniana
Oskana Boturshuk ficou na segunda
posição com 53.14.
Edmilsa Governo e seu guia exibindo o bronze paralímpico
Ilec Vilanculo
J
á é um dado adquirido. A
Federação Moçambicana de
Futebol (FMF) vai lançar,
dentro de dias, um concurso
público para a selecção de um
empreiteiro que se vai encarregar
pela construção de um campo,
com a capacidade até 10 mil pessoas,
no município da Maxixe,
província de Inhambane, como
materialização da promessa feita
por Alberto Simango Júnior, durante
a campanha eleitoral.
Com efeito, durante a retromencionada
campanha, Júnior reuniu-
-se com os clubes daquela parcela
do país, os quais prontamente
apontaram a falta de campos como
o maior nó de estrangulamento, ao
que receberam garantias do actual
presidente da federação de ver a
situação minimizada com a construção
de uma infra-estrutura para
o efeito.
E porque não foi uma promessa
para “boi dormir” até próximo ano
Maxixe poderá possuir, para satisPromessa
de Alberto Simango Júnior vai se materializar
FMF lança concurso para construção de um campo na Maxixe
Por Paulo Mubalo
fação dos mais de 93985 habitantes,
o correspondente a 8,4 % da
população total da província, mais
um campo em condições para
acolher todo o tipo de campeonatos,
à semelhança do Municipal
da Maxixe, usado pela equipa do
Wan Pone de Inhassoro, quando
participou, pela primeira vez, em
2003, no campeonato nacional
e que teve um fim trágico, com a
morte, por acidente de viação, de
parte dos seus jogadores.
Aliás, uma outra equipa que marcou
a história daquele município
é o Nova Aliança, que em 1981
disputou o campeonato nacional
em pé de igualdade com os colossos
da época, como Maxaquene
e Ferroviário, ambos de Maputo,
Têxtil do Púnguè (campeão nesse
ano), tornando-se numa formação
bastante temida.
Dados preliminares apontam que
a futura infra-estrutura está avaliada
em 600 mil dólares, montantes
esses que provavelmente poderão
vir a aumentar tendo em conta
os custos de materiais no mercado
nacional e não só, provocados pela
subida galopante do dólar e uma
depreciação vertiginosa do metical.
O SAVANA apurou que não se
sabe ainda o dia do arranque das
obras, pois tal está condicionado à
conclusão dos passos referentes à
primeira fase, mas há forte convic-
ção de que tal possa vir a acontecer
a partir do próximo ano.
Júnior garantiu ao SAVANA
que a direcção da FMF já recebeu,
do Governo da província de
Inhambane, o DUAT (Direito de
Uso e Aproveitamento de Terra)
correspondente a uma área de 10
hectares, tendo, em seguida, esclarecido
que o passo seguinte depois
do lançamento do concurso será a
mobilização de recursos para dar
início às obras.
Ajuntou que existe, dentro da
estratégia do Projecto Golo da
FIFA, uma iniciativa através da
qual aquela organização apoia
as federações nacionais, no caso
vertente, um financiamento destinado
ao projecto do campo da
Maxixe.
E porque há uma série de etapas
a seguir, uma equipa multiforme
deslocou-se ao terreno (Maxixe)
para o estudo dos solos e viabilidade
do projecto antes do lançamento
do concurso para a selecção
do empreiteiro.
Relativamente à escolha de
Inhambane em detrimento de
outros locais, o homem forte da
chamada Casa de Futebol advoga
o facto de existirem na Maxixe
muitos clubes que usam um único
campo, o que em parte, torna-se
empecilho para o crescimento do
futebol naquela parcela do país.
De referir que o manifesto de
Alberto Simango Júnior coloca o
acento tónico na formação em todos
escalões e níveis do dirigismo
desportivo, no combate à corrup-
ção, na necessidade de se dar primazia
à verdade desportiva, o que
passa por combater de forma enérgica
toda a forma de falsificar os
resultados e na selecção nacional. Alberto Simango Júnior
Savana 23-09-2016 23 PUBLICIDADE
24 Savana 23-09-2016 CULTURA
O
Centro Cultural Universitário
da Universidade
Eduardo Mondlane acolhe,
nesta sexta-feira, 23
de Setembro corrente, um concerto
musical protagonizado pelos
músicos de proa do país.
Vão participar e cantar os mú-
sicos Chico António, Wazimbo,
Xidiminguana, Rosália M’boa,
Dilon Djindji, Elvira Viegas, Gê-
meos Parruque, Willy & Anibal,
Gabriel Chiau, António Marcos,
Hortêncio Langa, Júlia Mwito,
José Barata, Paulo Muiambo, Joana
Couana, Salimo Mohamed,
Roberto Chitsondzo, Safira José,
Tomás Moiane, Will e Aníbal. “É
sem dúvidas um concerto que vai
marcar os que se fizerem presente
Concerto da “Velha Guarda”
ao local de concerto para assistir
estes grandes músicos a partilharem
o mesmo palco. Nos últimos
tempos é difícil ver um espectáculo
desta magnitude, onde desfilam
apenas artistas de proa do país. De
alguma forma serve para dignificar
a nossa cultura que muitas vezes
é marginalizada”, explica Arsénio
Sergio, membro da organização do
evento.
O concerto da Velha Guarda é
organizado pela Chitará Sound e
tem como objectivo valorizar os
músicos moçambicanos da velha
guarda. “Temos de reconhecer que
os organizadores merecem as felicitações
de todos os amantes da
música moçambicana e da cultura
no geral pelo esforço empreendido
para levar a cabo um concerto que
vai aumentar a autoestima dos artistas
e dos moçambicanos no geral.
Os músicos estão empenhados
em proporcionar um concerto memorável.
E assim vai ser”, promete
o músico Chico António.
Pretende-se através do concerto
imortalizar as vozes acima mencionadas,
gravando um disco e
DVD do espectáculo. “Reparem
neste aspecto da gravação de um
disco e um DVD do espectáculo,
é uma forma de imortalizar os artistas
que vão participar neste concerto.
É uma forma de preservar a
nossa música para as futuras gera-
ções. Os que estiverem presentes
terão a oportunidade de usufruir
de um dos maiores encontros de
artistas moçambicanos no mesmo
palco”, finaliza Arsénio Sérgio. A.S
Este concerto é um dos poucos momentos onde vemos os artistas de proa no
mesmo palco
A
pós a 6ª edição da Plataforma
internacional
de dança contemporâ-
nea - KINANI, a Iodine
produções apresenta a Semana internacional
de arte contemporânea
– Tridisciplinar. O evento decorre
de 21 a 29 de Setembro no Centro
Cultural Franco-Moçambicano. O
Tridisciplinar é um laboratório artístico
experimental e proporciona
o intercâmbio entre artistas multidisciplinares
com enfoque na dan-
ça, teatro e música. O programa
conta com oficinas criativas, encontros
temáticos, debates, espectáculos
e mostras de trabalhos em
processo, pelo que espera-se a participação
de artistas estabelecidos
É preciso promover intercâmbio entre artistas
e de jovens criadores representando
a comunidade artística de nível
local, regional e internacional.
Marlene Freitas, uma das mais
prestigiadas coreógrafas contemporâneas
a nível internacional,
virá a Maputo para apresentar a
sua obra “Guintche”. O destaque
internacional vai também para
sete artistas que irão orientar uma
oficina intercultural no âmbito do
projectoTridisciplinarFramewalk
baseado na Alemanha. Trata-se
dos Ghaneses, Kyekyeku e Mr.
Black, músico e Poeta, o coreógrafo
americano OtheloJohns, o dramaturgo
alemão Simon Eifelere e em
representação de Moçambique, o
Músico Matchume Zango, o actor
Felix Mambucho e o coreógrafo
Horácio Macuácua. Cie. Bakhus,
apresenta-nos Hip-hop contemporâneo
com a peça “A lombre de
Core”, do Coreógrafo MickaëlSix
e o Bailarino SamiLoviat-Tapie
provenientes da França.
A nível nacional, destaca-se o mais
recente solo da jovem coreógrafa e
bailarina Janeth Mulapha intitulado
“o meu género mora aqui” que
ganhou projecção internacional
a partir do 4° Andar - KINANI.
E ainda uma oficina criativa em
processo que se propõe a apresentar
um espectáculo que mistura a
dança tradicional moçambicana e
a dança contemporânea. A oficina
será orientada pelos coreógrafos Janeth Mulapha, coreógrafa e bailarina
e bailarinos Horácio Macuácua e
ÍdioChichava.
A Semana Internacional de arte
contemporânea - Tridisciplinar
possibilita sobretudo que os amantes
das artes em Maputo possam
explorar os seus interesses artísticos
a partir da perspectiva do processo
de construção por detrás da
obra, onde o artista apresenta, discute
e desconstrói o seu trabalho
com seus pares e com o público.
Esta iniciativa conta com a parceria
do Instituto Cultural Portugues
- Camões, do Centro cultural
Franco Moçambicano e a da organização
Alemã Kabawil. A.S
O
Saxofonista Moreira
Chonguiça emocionou a
plateia moçambicana que
se juntou à sul-africana
para assistir a sua actuação no
Joyof Jazz. A actuação de Moreira
começou com a entoação do Hino
Nacional de Moçambique – Pátria
Amada, sob acompanhamento de
coros na plateia.
Sentindo-se identificados, os muitos
moçambicanos presentes no
palco Conga acompanharam o
músico e ficaram emocionados.
No final da actuação, Moreira
Chonguiça disse: “estamos felizes.
O mais importante nesta actuação
era também lembrar donde viemos
e quem somos. Tocamos o nosso
hino na África do Sul porque
somos moçambicanos e isso nos
orgulha”.
O Joy of Jazz decorreu em Sandton
na África do Sul, entre os
dias 15 e 17 de Setembro corrente.
O mote do festival é a celebração
dos cinquenta anos de carreira do
emblemático músico sul-africano
Moreira distinguido na África do Sul
Sipho Hotstix Mabuse.
Desfilaram nos quatro palcos,
músicos provenientes de vários
países. Casos de Bob James, Jonathan
Butler, Gerald Albright, McCoy
Mrubata, Ranee Lee, Sipho
“Hotstix” Mabuse, Judith Sephuma,
SibonguileKhumalo, Ringo,
entre outros.
O Município de Joanesburgo ofereceu
a Moreira Chonguiça um
disco vinil de simbologia
elevada. “O disco
de vinil que recebi
do município deixa-
-me sem palavras.
Esse tipo de reconhecimento
só se dá aos
grandes músicos e eu
fui oferecido. É gratificante
para mim”,
reconhece o músico.
Moreira Chonguiça
é saxofonista, compositor,
produtor,
etnomusicólogo mo-
çambicano de jazz,
três vezes vencedor
do SAMA Awards
(South African Music Awards).
É selo Orgulho Moçambicano
-Made in Mozambique e selo
Superbrands. Mencione-se que
Moreira Chonguiça acaba de ser
nomeado pelo AllAfrican Music
Awards (AFRIMA) na categoria
de Best African Jazz com a música
“Ngoma” do seu mais recente álbum
“Live at Polana Serena Hotel”.
A.S
O evento serviu para celebrar os 50 anos de carreira do emblemático
músico sul-africano Sipho Hotstix Mabuse
N
uma acção que visa socializar
aquele que é já
o maior evento artístico
da cidade da Matola e
com dimensão Internacional, na
sua segunda edição consecutiva,
o Festival Literatas tem como
prioridade a população jovem
estudantil da cidade que é a sua
capital.
Desta feita as escolas secundá-
rias São Gabriel e da Liberdade
abrem o ciclo de encontros
literários com fins de divulgar o
festival bem como a promoção
da leitura. A Escola Secundária
São Gabriel recebeu o Festival
Literatas nesta quarta-feira, 21
de Setembro, e na quinta-feira,
foi a vez da Escola Secundária
da Liberdade.
A presente edição do Festival
Literatas que decorre de 21 a 23
de Outubro de 2016 no Auditório
Municipal da Matola terá
uma programação que valorizará
a inclusão de Jovens estudantes
Movimento literário
visita escolas na Matola
através de várias actividades com
destaque para oficinas de criação.
Para tornar o festival de conhecimento
deste público serão feitas
actividades em escolas até às
datas de realização do evento.
As escolas secundárias da Zona
Verde, Machava - Sede, Nkobe e
da Matola, são outras envolvidas
nesta programação pré-festival,
incluindo Instituições de ensino
superior.
O II Festival Literatas 2016 é
uma realização da Associação
Movimento Literário Kuphaluxa,
em parceria com o Conselho
Municipal da Cidade Matola,
Fundo Bibliografico de Língua
Portuguesa, com a produção da
Só Arte Media e Vice-Versa e
com os patrocínios da Cervejas
de Moçambique e mCel.
O Festival Literatas, recorde-se,
tem como objectivos a socialização
do livro, a massificação da
leitura, principalmente na população
jovem, promoção do livro e
do diálogo intercultural. A.S
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1185 DE SETEMBRO'(
SYMPATHY FOR THE DEVIL
A nova capa do àlbum dos
Rolling Stones, brevemente á
venda numa loja perto de si....
2 Savana 23-09-2016 SUPLEMENTO Savana 23-09-2016 3
Teor de um
telegrama
enviado pelos
cunhados a
semana passada
e que terá
causado grandes
preocupa-
ções em certo
círculo de
Maputo.
Comrades stop
Chief Zuma vai ter de
devolver 500.000 euros stop
uso pessoal indevido stop
atenção parece ser extremamente
contagioso stop
Savana 23-09-2016 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Ilec Vilanculo (Fotos) A
solidariedade sempre foi um gesto sublime entre os seres humanos,
um gesto que é preciso cultivar para termos uma sociedade sã. É
preciso que se disseminem os actos solidários para que as futuras
gerações perpetuem-nos.
Os homens ligados à religião procuram a todo o custo, mesmo perante um
ambiente de adversidade, disseminar a boa palavra para quem está à sua
volta. Uns não conseguem disfarçar o seu sentimento quando escutam as
boas palavras. Outros há que mesmo ouvindo boas palavras procuram não
mudar o seu semblante. Digo isso por causa desta primeira imagem onde o
Bispo Dinis Matsolo está a pregar a palavra de Deus e o jovem no meio não
esconde a sua satisfação. Já o jornalista Salomão Moyana mantém uma postura
séria. Será que é uma demonstração de insensibilidade perante questões
religiosas?
Há quem gosta e aproveita para exibir um momento de descontracção. Mesmo
quando estão para debater questões sérias da nossa sociedade. Nesta
segunda imagem parece que o Reitor da Universidade A Politécnica, Lourenço
do Rosário, está a dizer que o homem do momento agora é o Luís
Bernardo Honwana, que não conseguiu esconder a sua alegria.
Muitas vezes ouvi que o Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano,
Jorge Ferrão, é um verdadeiro cavalheiro. Isso não se duvida. A questão
de cavalheirismo é uma virtude que vem do berço. Muitos até nem sabem o
que isso significa. Para demonstrar que o cavalheirismo é um modo de estar
reparem o gesto de carinho que o Jorge Ferrão transmite para a governadora
da Província de Gaza, Stela Zeca.
Outro gesto que os seres humanos devem cultivar é a humildade. Com a
humildade tornamo-nos seres humanos ainda melhores. Não importa os
cargos que exercemos na sociedade. Quem disse que por exercer um cargo
de Ministro não pode agachar perante seu semelhante? Gostamos de ver
a sua humildade Ministro da Juventude e Desportos, Alberto Nkutumula,
diante da Presidente da Associação dos Deficientes de Moçambique, Farida
Gulamo.
Quando se fala da história da literatura moçambicana sempre vem à mente
o movimento Charrua, que era um grupo de jovens escritores que procurou
a todo o custo lançar a semente da literatura moçambicana pós-independência.
Nesta última imagem, deduzimos que o Director do ISArC, Filimone
Meigos, esteja a dizer para o Presidente do Conselho Superior de Comunicação
Social, Tomás Vieira Mário, que a humildade usada no passado serviu
para que o país conquistasse algumas vitórias na área da cultura, principalmente
da literatura. É mesmo para dizer que nas lides da vida precisamos de
ser humildes, solidários para alcançarmos o sucesso que almejamos.
Gestos carinhosos
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz hi5 5 . ' ,)5 5hfgl5R5 5 5R5 o
1185 Diz-se... Diz-se
Naíta Ussene
Oplenário do Conselho Superior
da Magistratura
Judicial (CSMJ) está reunido
na sua III sessão ordinária,
com vista a analisar, discutir
e deliberar em relação a vários temas
que marcam a realidade diária do
funcionamento dos tribunais. Dos
pontos de agenda consta a análise
de três exposições visando a juíza
do Tribunal Judicial do Distrito de
Marracuene, Judite Leonete Mahoche
Simão, a mesma que julgou o
caso da invasão e ocupação da concessão
pertencente à empresa florestal
Milhulamete, por um grupo
de supostos nativos daquela área do
distrito de Marracuene, província
de Maputo.
Em relação a este assunto, o mediaFAX/SAVANA
soube, na tarde
desta quarta-feira, que o plenário
daquele órgão já tinha decidido pela
suspensão da juíza em causa, dando,
deste modo, provimento a três
queixas e denúncias apresentadas
nos últimos tempos contra Judite
Mahoche.
5
5 ï5 /'5 ĉ,!ã)5 )(-.#./ #)-
nal, colegial e autónomo, de gestão
e disciplina da magistratura judicial,
2 , ( )65. ' ï'65$/,#- #éã)5-) , 5
os oficiais de justiça. Tem, igualmente,
competências de nomeação,
colocação, transferência e promoção
dos juízes dos tribunais judiciais e o
exercício da acção disciplinar, sendo,
simultaneamente, um órgão de salvaguarda
institucional dos juízes e
da sua independência.
&RQÁLWRGHWHUUDHP0DUUDFXHQH
-5 +/ #2 -5 5 5 #-ã)5 5 -/-* (-
são, ao que o mediaFAX/SAVANA
soube, tem directamente a ver com
o comportamento demonstrado
por Judite Mahoche durante todo o
processo de produção da prova, que
culminou com a decisão que autoriza
os “nativos” a darem continuidade
à invasão, destruição de eucaliptos,
parcelamento e posterior venda dos
espaços para construção. Durante a
produção de prova, a juíza ora suspensa,
rejeitou um pedido em que a
acusação solicitava que se recorres-
- 5 à5 0 ,#ŀ éã)5 5 #' ! (-5 - .ï&#. 5
que poderiam, no entendimento
desta (acusação), comprovar que os
supostos nativos estavam a agir de
'á7 ï5 ( 5 #- /--ã)5 -5 . -5 '5
que as obras terão sido erguidas. É
que os nativos disseram ao tribunal
que estavam a habitar naquela zona
já há muito, alegação negada pela
acusação que denunciou o facto de
os nativos terem continuado com a
construção das casas mesmo depois
de a providência cautelar ter sido
decretada.
Por outro lado, a juíza negou verificar
a perícia do tempo de construção
das casas, que os supostos nativos
alegam ter edificado em 2014, quando,
segundo a Milhulamete, as mesmas
tiveram lugar poucos dias antes
e depois da providência cautelar, pedida
pela empresa lesada e decretada
pelo tribunal.
5+/ 5' #-5#(.,#! 5 -5* --) -5( -. 5
novela do conflito de terra nos cerca
de 767 hectares, adquiridos em 1999
pela Milhulamete ao antigo projecto
7h5B#(# # )5 '5ŀ( #-5 5 ï 5
5mfC65ï5+/ 5)-5-/*)-.)-5( .#0)-5 )-
ram reassentados há mais de 30 anos
no âmbito da implementação do
projecto e reivindicar espaço que outrora
lhes terá pertencido, não pode
ser feita simplesmente invadindo
espaço que tem um Direito de Uso
5 *,)0 #. ' (.)5 5 ,, 5 0á&# )85
#),5 #( 65ï5+/ 5)-5-/*)-.)-5( .#0)-5
reivindicam e invadem a terra, destroem
bens alheios e, outorgando-se
o papel de Estado, parcelam a terra
e, por fim, vendem-na a terceiros por
valores que variam de 70 a 100 mil
Meticais, cada parcela de terra cujas
dimensões variam entre 450 e 600
metros quadrados.
Desde o início da invasão, o grupo
de “nativos” já destruiu cerca de 200
" . , -5 5 / &#*.)-85 #-.)65 5
#-
lhulamete diz que vai ter de cobrar a
&!/ï'65 --#'5+/ 5)5 -)5 .#0 ,5 --
fecho, acreditando que, por ter um
5 #( 5 '50#!),65)-5- /-5 #, #-
tos não serão nunca postos em causa.
&#á-65)5+/ 5- 5 (. ( 5ï5+/ 5 5 -
cisão do tribunal abre um perigoso
precedente, no sentido de que “se a
moda pega” muitos projectos implantados
estarão a correr riscos de
#(0 -ã)5 5 &!/ï'5+/ 65/'5 # 650#0 /5
ou tem campa dos seus antepassados
em determinada região.
5 *& (á,#)5 )5
5 ,,)&)/5 /'5
total de 20 pontos de agenda, numa
reunião que, decorrendo desde o dia
19, termina esta sexta-feira, 23 de
Setembro.
Juíza do caso Milhulamete suspensa
3RU,OyGLR%DWD
R555 ,. ' (. 5) 5 )'5 -5' . -5 -5, #. -5ŀ- #-65 5 )-
missária frel, que tomou conta dos impostos, resolveu dar
uma “bonificação” ao câmbio aplicado nas taxas aduaneiras.
)5 )& .#'5+/ 5()-5 " !)/5à-5'ã)-5)5 ĉ& ,5 -.á5 5mm6ii5
.865
)5, ( 5 5l6io5
.85 5)5 /,)5 5nm6gn
.85 ŀ( &65)5'#(#-.,)5& (-
ça perfume deve ver, dentro de portas, quem de facto anda a
promover a especulação do metical.
R555 5 #. 5 )'#--á,# 65+/ 5* , 5. &" 5 5* ,.#&" ,5 2* ,#ð( # -5
)'5)-5&ù , -5 5), # 5 )5 ),. 65 . '5 !), 5à5 -/ 5 #-*)-
-#éã)65()5 # ù #)5 - 65/'5 & 0 ),5 2 &/-#0)85 , 5 &ï'5 )5
exclusivo parque automóvel que faz alimentar o diz-se das
redes sociais.
R555 / ( )5 )(.#(/ 5 5 " '),, !# 5 -5' #, -5 * , 5 5"#( 5
com a cumplicidade de generais mafiosos e o censo internacional
dos elefantes em Moçambique diz que o número desceu
para menos de 10.000, causou espanto nos meios conser-
0 #)(#-. -5)5*,ï'#)5 )5 5 3/-#5()-5 . . -85 -5'á-5&ù(!/ -5
#4 '5+/ 5ï5)5&) 35 )5$)0 '5.#!, 5 5 /( #)( ,5V5*),5 )(. 5
das boas intenções já manifestadas.
R555 -5')é ' # ()-65* , 5 &ï'5 -5().ù # -5 -) , 5 5 / #.),# 5
internacional às contas das empresas securitárias, ficaram a
- ,5+/ 5)5*, -# (. 5 3/-#5 " 5+/ 5ï5- !/,)5#(0 -.#,5 '5
)é ' #+/ 85§5/' 5)*#(#ã)65' -5+/ 5(ã)5ï5* ,.#&" 65( '5
pelo coro dos empresários nacionais que o acompanhou aos
^ . . -_85 / 5 -' ( " 7*, 4 , -5V
R5555E por falar em empresas securitárias, uma delas tem (ou deve-
,# 5. ,C5/'5-#-. ' 5 5, , -5 5')(#.),# 5*),5- .ï&#. 5 5.)
5 )-. 5')é ' # ( 85 ),ï'65 -. 5 .)5(ã)5 0 5- ,5 )(" -
cido das autoridades marítimas que desesperam em saber do
paradeiro de um navio frigorífico indiano, desaparecido pelas
)-. -5 5 (" ' ( 65' #-5*,)*,# ' (. 5 '5
(! ')85 ŀ( &5
)5-#-. ' 5ï5-ĉ5* , 5 -5* .,)&ù , ->
R55555 )0)5-/-.)5& 0 , '5)-5 '* . -5 )5* ,.# ã)5 )5)/0#, '5
5
a falar todo descontraído da necessidade de se corrigirem os
,,)-5 )5 85 & -5+/ 5* (- 0 '5+/ 5 -- 5 , 5/'5 ), )5 (-
terrado há mais de 20 anos. Desta vez o general não foi forçado
a nenhuma marcha atrás. Do que depreende que há novo
!á-5#'*),. )5 #, . ' (. 5 5 -"#(!.)(5*),5
85 ,á>
R5555Por causa destas e doutras, nomeadamente as cortesias para
com madame Lagarde, aguarda-se com “suspense” o regresso
do timoneiro à pátria amada, onde, entre outros, deverá en-
, (. ,5 -5 Ě,# -5 5 65 5 " ŀ 5 5 ( 65 )5 - , .á,#)5
5 ,#! 5 )5, /'á.# )5+/ 5-)(" 5 )'5 ,' -85 ')-50 ,5- 5
a “reunião de quadros”, onde habitualmente há mais massa
crítica, produz os apoios necessários para que o jovem tenha
' #-5 ),é 5()5' ,. &)5V
R5555 5$/ù4 5" ,)ù( 5 )-5^( .#0)-_5j2j5 5
,, / ( 5 (.,)/5 '5
' ,ï5 5 4 ,85)'5. (. -5-#'* .# -5* &)-5( !ĉ #)-5 5. ,, 65
)/5 *),5 - ,5 -/-* (- 5 5 /(éċ -85 ),ï'65 -5' # -5 )5
conselho dos homens das togas não fazem reverter o “massacre”
de milhares de eucaliptos destruídos em nome da voragem
da especulação imobiliária.
(PYR]EDL[D
R555
á5 -.á5 '5 #, /& éã)5 5()0 5&#-. 5, # & 5 )5^ 7jf_650 ,-ã)5
#+/# 65)5")' '5 ),. 5+/ 5* , 5-/ -.#./#,5 5 /*& 5
/-
ácua/Muthisse à frente do “grupo de choque” que deve dar a
cara pelo partidão nas rádios e tvs, públicas e privadas. Mas
não está claro se o mais raivoso dos cachorros passou da lista
do cachimbo para a lista mapiko.
Savana 23-09-2016
EVENTOS
1
0DSXWR GH6HWHPEURGH $12;;,,,1o 1185
EVENTOS
“
A conservação foi sempre
o nosso compromisso e não
uma acção casual”. Foi assim
que o presidente moçambicano,
Filipe Nyusi, reagiu quando
lhe foi atribuído o Prémio de “Mé-
rito na Conservação” pela Funda-
ção ICCF (International Conservation
Caucus Foundation), na
semana passada, no Capitólio do
Senado, em Washington, capital
dos EUA.
O Grupo ICCF promove a liderança
dos EUA na conservação
internacional através de parcerias
públicas e privadas, assim como na
sensibilização sobre a conservação
entre os decisores políticos.
“A conservação foi sempre o nosso
compromisso e não uma acção
casual. 26% do nosso território são
Mérito na Conservação
reservas naturais. Estamos a trabalhar
para que sejam geridos como
o nosso potencial económico. Viemos
aos EUA para fazer uma diplomacia
ambiental”, frisou Nyusi,
aplaudido em pé num jantar alusivo
à cerimónia do prémio.
Na sala estavam senadores, filantropos
e amigos da natureza. Marcaram
igualmente presença, Gary
Knell, executivo-chefe da National
Geographic Society, que apoia
a conservação da fauna bravia no
Parque da Gorongosa, Helen Clark,
directora do Programa da ONU
para o Desenvolvimento (PNUD)
e candidata ao cargo da secretária-
-geral das Nações Unidas e Naoko
Ishii, CEO da Fundo Global para
o Meio Ambiente (GEF), que tem
ajudado na reflorestação da Serra
servas, enquanto promove, simultaneamente,
uma nova abordagem de
desenvolvimento rural: utilizar os
parques e reservas de Moçambique
como motores da educação, desenvolvimento
económico e prestação
de serviços para as comunidades
tradicionais que compartilham
ecossistemas com estes tesouros
naturais. No entanto, recentemente,
Agosto deste ano, foi publicado um
relatório do último censo aéreo de
elefantes em África. Em Moçambique,
o censo indicou 9.605 elefantes,
um declínio de 53 por cento
em cinco anos.
Recorde-se que em 2013, numa
reunião internacional da Conven-
ção sobre o Comércio Internacional
de Espécies Ameaçadas de
Fauna e Flora Selvagens (CITES),
Moçambique foi acusado de falta
da Gorongosa e representantes da
USAID e do Banco Mundial.
Os senadores Jeff Flake (Republicano)
do Arizona e Chris Coons
(Democrata) do Delaware – que
visitaram o Parque da Gorongosa
para avaliar o apoio do Governo
americano e a parceria entre Mo-
çambique e os EUA, destacavam-
-se igualmente na cerimónia, que
contou com a presença do Embaixador
dos EUA em Moçambique,
Dean Pittman.
Participaram também membros
do Governo moçambicano, nomeadamente
o Ministro dos Negó-
cios Estrangeiros, Oldemiro Balói,
o Ministro da Terra, Ambiente
e Desenvolvimento Rural, Celso
Correia e o Ministro da Indústria e
Comércio, Max Tonela. Estiveram
também o Embaixador de Moçambique
nos EUA, Carlos dos Santos
e a Primeira-Dama, Isaura Nyusi.
Novo conceito
No acto da entrega do prémio, que
coincidiu com a visita de trabalho
de quatro dias que o Presidente
moçambicano efectuou aos EUA,
John Gantt, presidente da ICCF,
fez notar que Filipe Nyusi mereceu
o galardão por “promover um novo
conceito de parque nacional no seu
país: o parque nacional enquanto
motor de desenvolvimento humano”.
Gantt lembrou que não é nenhum
segredo que a fauna bravia de Mo-
çambique sofre com a caça furtiva.
No entanto, Nyusi, acrescentou
Gantt, comprometeu o seu país a
efectuar uma melhor protecção dos
seus treze parques nacionais e re-
Savana 23-09-2016 EVENTOS
2
Aulas com métodos modernos (sempre que necessário)
Salas em perfeitas condições
Parque de estacionamento de viaturas,
amplo e com segurança
Professores com formação fora do país
Muita experiencia no ensino a funcionários, estudantes
universitários, técnicos superiores
Excelente localização na cidade de Maputo
Serviços adicionais:
7UDGXo}HVRÀFLDLVGH,QJOrV 3RUWXJXrV )UDQFrVH
LQWHUSUHWDo}HVHPFRQIHUrQFLDV
Contacte-nos na Paróquia de Santa Ana da
Munhuana
Sita na Av. Maguiguana, por de trás do HospiWDO
6DQWD)LORPHQD«HPGLUHFomR j$Y GH$Qgola
Cell: 84 47 21 963
Flor English Training
CURSO COMPLETO DE INGLÊS
6HUYLoRVGHWUDGXo}HVRÀFLDLVH
interpretações de línguas
Curso de Inglês
na STa. Ana da Munhuana
Aperfeiçoamento. Os candidatos devem
ter nível médio de escolaridade
de acção no combate à caça furtiva,
o que também motivou críticas de
organizações internacionais como
a World Wide Fund (WWF) em
2014.
Reagindo às críticas, Moçambique
avançou como uma legislação, que
endurece as penas para os caçadores
furtivos, incluindo pesadas multas
e penas de prisão que podem ir
até aos 12 anos, no caso de abate de
espécies protegidas.
No ano passado, cerca de 2.500
quilos de marfim, cornos de rinocerontes
e outro tipo de peças foram
reduzidas a cinzas em Maputo, um
acto aplaudido em todo o mundo
como um sinal de desincentivo à
caça furtiva
“No passado algumas pessoas entendiam
que a conservação da natureza
e o desenvolvimento humano
eram objectivos que competiam
entre si. Agora líderes visionários,
como o Presidente Nyusi, reconhecem
que o crescimento económico
sustentável está intimamente ligado
a um meio ambiente saudá-
vel – e que os seres humanos e as
economias naturais são interdependentes”,
frisou Gantt.
Gorongosa
No discurso de recepção do prémio,
Filipe Nyusi agradeceu ao ICCF
pelo prémio recebido e enalteceu o
trabalho que está a ser desenvolvido
na Gorongosa, um parque nacional
de referência do sistema de
áreas protegidas de Moçambique e
o impacto que o mesmo tem junto
das comunidades locais.
O parque da Gorongosa é gerido
conjuntamente pelo Governo de
Moçambique e pela Carr Foundation,
organização sem fins lucrativos
dos EUA.
O acordo de gestão conjunta para
a Gorongosa inclui o Parque Nacional
de 400 mil hectares e também
uma Zona Tampão (Zona de
Desenvolvimento Humano) de
sensivelmente 600 mil hectares,
adjacente ao Parque e onde vivem
cerca de 175 mil pessoas.
No Parque Nacional da Gorongosa
(PNG), ao longo dos últimos 10
anos, os números de animais selvagens
aumentaram de 10 mil para
mais de 71 mil.
Nyusi explicou que o PNG é um
exemplo de área de conservação
que protege a biodiversidade, enquanto
ajuda as comunidades humanas
que o circundam.
O Parque, entre outras realizações,
tem criado empregos na área do
turismo e estabeleceu o Laborató-
rio de Biodiversidade E.O. Wilson
que aprofunda os conhecimentos
ecológicos e forma jovens moçambicanos
para serem cientistas.
Na Zona de Desenvolvimento
Humano, o PNG implementou
programas nas áreas da saúde,
educação e agricultura sustentável.
No ano passado, cerca de 114 mil
pessoas beneficiaram de serviços
de saúde do Parque. Mais de quatro
mil famílias participaram num
programa agrícola que aumenta os
rendimentos familiares.
No evento no Capitólio dos EUA,
Greg Carr, membro da Comissão
de Supervisão do Parque, manifestou
a sua satisfação pela extensão
por 25 anos do acordo de gestão
conjunta do PNG. A extensão foi
aprovada em sessão do Conselho
de Ministros em princípios deste
mês, como resposta ao crescimento
que a área protegida tem vindo
a registar. O primeiro contrato de
gestão conjunta do PNG e a Fundação
Carr foi rubricado em 2007
com a vigência de 20 anos.
A Fundação do filantropo norte-
-americano, Gregory Carr, tem
apostado na reposição da popula-
ção animal, praticamente reduzida
a nada, durante os 16 anos de
guerra civil, que terminou em 1992,
com os acordos de Roma.
Greg Carr aproveitou o momento
para apresentar o lançamento de
um novo programa de educação de
raparigas nas 93 escolas primárias
que são vizinhas do Parque. Nestes
Clubes de Raparigas (financiados
pelo Parque) em horário pós-escolar,
as adolescentes podem concentrar-se
na leitura, estudar ciências
naturais (ir em visitas de estudo ao
Parque da Gorongosa), participar
em actividades recreativas, aprender
sobre segurança pessoal, saúde,
nutrição e planeamento familiar.
“As raparigas vão ouvir falar sobre
mulheres bem sucedidas através
de livros, filmes e histórias e irão
conhecer pessoalmente algumas
delas. O objectivo dos Clubes de
Raparigas é o de ajudar as meninas
a terminar o ensino secundário,
dar-lhes formação profissional, e
diminuir a alta prevalência de casamento
infantil e gravidez precoce
nestas áreas rurais”, sublinhou Carr.
Greg Carr explicou que o Parque
criou este programa com o apoio do
Ministério da Educação e Desenvolvimento
Humano de Moçambique
e com a inspiração e ideias
de programas similares que estão
a ser lançados em todo o mundo,
incluindo a iniciativa do Governo
dos EUA “Let Girls Learn”, recentemente
promovida pela primeira-
-dama dos EUA, Michelle Obama.
O ICCF-EUA educa e actua como
um secretariado para a liderança
dos congressistas bipartidários do
“International Conservation Caucus”,
composto por 1/3 do Congresso
dos EUA. Ampliou este
modelo de “caucus” a nível mundial,
com uma rede de “caucus” de conservação
parlamentar no Botswana,
Colômbia, Quénia, Malawi, México,
Moçambique, Namíbia, Tanzâ-
nia, Uganda e Zâmbia, com vários
outros em formação na África, Ásia
e na América Latina.
Savana 23-09-2016
EVENTOS
3
N
um país em que os crimes
contra a natureza já extinguiram
o rinoceronte e
agora ameaçam exterminar
o elefante, a Fundação para a Conservação
e Biodiversidade (BIOFUND)
está a levar a educação sobre
a conservação da biodiversidade
para as escolas, onde se molda o homem
do amanhã, com o objectivo
de travar o mal desde a raiz.
Foi neste quadro que, em parceria
com o Ministério da Educação e
Desenvolvimento Humano (MINEDH),
do Fundo Universitário da
Educação (FUNDE) e da Administração
Nacional das Áreas de Conservação
(ANAC), a BIOFUND
inaugurou, semana finda, no Instituto
de Formação de Professores (IFP)
Eduardo Mondlane, na cidade de
Xai-Xai, uma exposição subordinada
ao lema “a cultura da conservação
e do desenvolvimento sustentável”.
A feira, testemunhada pelo ministro
da Educação e Desenvolvimento
Humano, Jorge Ferrão, pelo presidente
do Conselho de Administra-
ção (PCA) da BIOFUND, Abdul
Osman, pelo director executivo da
BIOFUND, Luís Bernardo Honwana,
pela governadora de Gaza, Stela
Pinto, quadro docente e estudantil,
foi seguida por um fórum sobre a
conservação da biodiversidade que
teve lugar num outro estabelecimento
onde se moldam os professores do
amanhã, nomeadamente, no IFP de
Chongoene.
Na ocasião, Jorge Ferrão disse que
ao levar a mensagem sobre a conservação
da biodiversidade para as
escolas, numa campanha que deverá
calcorrear o país inteiro nos próximos
tempos, pretende-se iniciar a
consciencialização da comunidade,
Conservação da biodiversidade
Biofund procura atacar mal pela raiz
através do ensino, sobre a necessidade
de o homem se tornar amigo
da natureza, num Moçambique cuja
localização geográfica coloca o país
em bastante vulnerabilidade às mudanças
climáticas.
Para o PCA da BIOFUND, é verdade
que o país é rico em gás e carvão,
mas é preciso combinar essas
riquezas com um desenvolvimento
sustentável. “Temos de explorar o
que temos e deixar para as próximas
gerações”, desafiou o também antigo
ministro das Finanças.
Por sua vez, a governadora de Gaza
mostrou-se bastante preocupada
pela acção humana que não pára de
devastar a biodiversidade em Mo-
çambique, em geral, e naquela província
do sul, em particular, onde
denunciou a existência até de autoridades
comunitárias metidas em esquemas
contra a natureza, tais como
a caça furtiva do elefante que, depois
do extermínio do rinoceronte, parece
ser o próximo animal a desaparecer
da biodiversidade moçambicana, segundo
alertas, reiteradamente, emitidos
por vários estudos do sector.
(A. Nhantumbo)
S
ob o lema “novas tendências
tecnológicas para aumento
da produtividade”
a Dataserv celebrou esta
quinta-feira, 25 anos de existência,
actuando no mercado tecnológicos.
Numa cerimonia que contou com a
presença de representantes de algumas
das maiores marcas mundiais
do sector das tecnologias de informação,
como a HPE, a Microsoft a
HPinc, a Schneider APC, a Sophos
e a Servisis , o administrador da
empresa, Honorato Cassamo, assegurou
que a sua firma continuará a
investir forte neste sector de modo
que Moçambique possa acompanhar
o evoluir do sector tecnológico
que cresce a cada dia.
“ É muito importante, especialmente
nesta fase difícil que o país
atravessa, que as empresas percebam
como podem usar as tecnologias da
forma mais eficiente, no sentido de
diminuir os seus custos e, simultaneamente,
aumentar a produtividade”
sublinhou.
Dataserv celebra
25 anos apostando
na produtividade
Savana 23-09-2016 EVENTOS
4
PUBLICIDADE
Sem comentários:
Enviar um comentário