quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Estamos assistindo à queda do império frelo (Frelimo era outra coisa). Vai ser ruidoso.





7 h ·

Recebido por whatsApp., apenas repassando

Marcelo Mosse

Meu Caro,
Estamos assistindo à queda do império frelo (Frelimo era outra coisa). Vai ser ruidoso. Devastador nalguns aspectos, perigoso em muitos outros. E, com um final absolutamente imprevisível.
Quando este pessoal se meteu nas tão badaladas golpaças das chamadas dívidas escondidas, os tipos, ou por excesso de álcool ou por profunda ignorância, acharam-se donos do mundo, e desataram a fazer o que lhes apeteceu ou lhes sugeriram.
Acontece que a finança internacional está cada vez mais regulada, as golpaças financeiras já não passam tão bem, seja na Suíça, em Moscovo ou Pequim. Mas eles ignoraram tudo isso. Agora, estão a contas também com o FBI! Estes, por inerência de funções, não podem deixar passar estas golpaças sem ver do que se trata, se não há terrorismo à mistura, lavagem de dinheiro, etc. e, nesta data, já estão carecas de saber, quanto dinheiro foi desviado, para que contas, o que se comprou com ele, etc., etc. Por isso, instruíram o FMI – ou se faz uma auditoria forense ou não há
nada entre nós e vocês. Isto, não é um pedido, é uma ordem! O FMI é credor de Moçambique não é capanga de Moçambique. A estratégia dos “espertos” foi a da fuga para a frente. Mais uma vez, ou por efeito do álcool ou por profunda ignorância. Mas, nesta última reunião, o FMI, disse isso na cara do nosso querido presidente – amigo, esta brincadeira acabou! Chegou-se ao fim da linha.
E o que vai acontecer?! A Lava Jato brasileira mostrou ser o método mais barato e pacífico de derrubar um governo com 54 milhões de apoiantes. Por isso, não tenho dúvidas que, também aqui, alguns iminentes vão parar à cadeia! É isso que os cowboys também querem, por vingança, por causa dos subornos que tiveram de pagar pelas concessões de gás, e pelo vexame, quando o guebas os mandou à merda, quando queriam que ele lhes entregasse os barões da droga, os quais protegeu até ao fim.
Os frelos estão encurralados e, com muito medo. E já não duvidam que têm a cabeça a prémio.
Num encontro ocasional que tive com um iminente, dizia-lhe eu: - façam as concessões todas que a renamo quer antes que seja tarde. Depois, todos vamos concluir que não há meios de as concretizar. Mas isso será outra história. No próximo ano o país é ingovernável e o povo vai revoltar-se, e aí, será o nosso fim. Resposta: - eles querem a nossa cabeça, e isso é demais!
A tão badalada aliança chinesa com que sempre sonharam, já não lhes serve de nada.
Actualmente, os cowboys já não disfarçam o seu confronto político aberto com os russos e chineses, em qualquer parte do mundo. Hoje, a Síria é um claro exemplo. E está ficando claro, que inclusivamente aqui, se está montando o palco. A última cena na Base das Lages, nos Açores, é elucidativa. Os cowboys fizeram o presidente chinês esperar pela aterragem de seis dos seus aviões militares, antes de autorizarem a descolagem do avião presidencial. Em termos protocolares isso não se
faz, é um insulto. A mensagem foi clara - não iludam os tugas, porque mesmo na nossa ausência, não vos queremos nas Lages!
O império dos cowboys também está a cair, daí uma desmedida agressividade contra tudo e contra todos! Por isso, nestas próximas eleições, será presidente quem der mais confiança à máquina de guerra, quem estiver pronto(a) para puxar o gatilho! Se o derrube dos frelos não for pela via da auditoria, como tudo indica que será, vai por outra. A renamo foi posta em standby. Os cowboys não precisam de gastar muito para a mandar tomar o poder pela força! Mas acho que os frelos, a julgar pelo incendiário pedido de armas para o povo acabar com a renamo, consideram isto impossível, tal é a bebedeira!
Em Portugal, com a mudança da direcção da Caixa Geral dos Depósitos, vieram à superfície novas escandaleiras. A recapitalização da Caixa não é um assunto pacífico, nem exclusivamente português. A União Europeia quer saber como, porquê e porquanto, o governo português precisa capitalizar a instituição. Então, a nova direcção começou a vasculha das contas – a clássica auditoria. E aí, veio a público que, afinal, há um jovem empresário moçambicano devedor à caixa por uns meros 60 – 80 milhões de euros, por um empréstimo que lhe foi concedido para comprar 18% do capital do BCI. Que o jovem não vale nem 1% desse valor todo o mundo sabe. Mas fica mais estranho que fosse acordado com os credores (a Caixa), que esse empréstimo seria garantido por acções do BCI e amortizado com os lucros / dividendos que o próprio BCI distribuísse. Como o BCI não tem distribuído lucros, o jovem mandou dizer que não paga o empréstimo. Num país normal o jovem era demitido de ministro por se considerar pouco ético e obscuros os interesses do negócio das partes. E, se Portugal fosse também um país normal, ia para a pildra o ex-conselho de administração da Caixa que autorizou um empréstimo de uma instituição pública, em tais condições.
Que empresário brilhante tem Moçambique!
Passei alguns anos na banca, fundei bancos e nunca consegui comprar participações desta maneira. Sou burro! Recordo-me apenas de um caso idêntico, com o falecido Champalimaud, que comprou um banco com o cheque do próprio banco! Mas isso foi no tempo da outra senhora, sem os chamados Acordos de Basileia I e II que regulam o sector financeiro internacional.
Mesmo bem lida, a legislação financeira da nossa república não permite essa operação sem que o banco Central faça muitas perguntas, e solicite respostas por escrito! Teoricamente foi contraído um considerável empréstimo externo, (quem o autorizou?) cuja garantia são acções de um banco local (e se for à falência?), a ser amortizado com dividendos do próprio banco (quantos anos para pagar capital e juros? Os juros não pagos acrescem à dívida?). E tudo isto, todo este estranho negócio, faz-se em troca de quê, exactamente? Mas o Gove não fez perguntas porque sabia que os 18% comprados por esta via pertencem ao patrão dele, que graças a isso, o manteve governador durante o seu mandato!
O jovem empresário afinal, é provavelmente dono apenas de umas quantas empresitas falidas que nem salários pagam – dono de um imperiosito falido!
Portanto, quando o nó górdio for para a cadeia, toda a teia se desfaz e, com ela, uma boa parte da actual máquina do poder! Venham as pipocas, sentemo-nos, para ver o filme!

Dos visionários a especiais o tempo se encarregou de desmentir


Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Estamos na “ressaca” de tudo.
E diga-se em abono da verdade que ressaca dolorosa em que as dores de cabeça se misturam com dores em todo o corpo.
É todo um país que se ressente da forma autoritária e arrogante com tem sido governado e abocanhado.
O capitalismo de assinatura e prepotente que guindou-se a forma eleita de governação está dando os seus frutos que, como se tem verificado, são abortos.
No panorama político sofrem-se os efeitos de sucessivas fraudes, primeiramente ocultadas e apoiadas por missões de observação eleitoral da SADC, da UA e da EU.
Uma comunicação social arregimentada e servil, com assessoria nacional e internacional teve um papel instrumental para a emergência de uma paz que se tem revelado podre e malcheirosa.
Agora que a tampa da panela com “caril de vermes” foi descoberta e apresentada ao público, recrutam-se novos actores de gabarito ou credibilidade para apimentar um caldo indigesto para a maioria.
Muitos “spin doctors”, cientes de que rapidamente poderão participar na mesa de “segunda categoria” em que se consomem os restos do banquete principal, aceitam a tarefa de “agentes especiais”, que, nas redes sociais e estações televisivas, espalham o seu perfume e sabedoria. Tudo para continuar a influenciar os seus concidadãos no sentido de acreditar que existe em Moçambique quem deve imperativamente continuar no poder.
Passado é o tempo em que Edson Macuácua e Damião José ou Filipe Paúnde eram úteis para as missões confiadas. De porta-vozes e secretários, foram recompensados como deputados da bancada maioritária, num processo que só eles podem explicar. Se Graça Machel já veio a público dizer que entre os “camaradas” se compram e vendem votos, quem somos para desmentir?
Como ressaca é ressaca, espalhou-se como cancro para a esfera económica e financeira.
A rapidez com que se privatizou para eles próprios, “os camaradas”, o parque agro-industrial e industrial para eles próprios foi o embrião do capitalismo ao “estilo moçambicano”. Na essência, terá sido uma distribuição pura e simples do que existia, um pouco ao estilo do que se faz com o espólio de guerra.
Esta génese do nosso capitalismo condicionou tudo o que aconteceu daí para a frente.
Com as finanças e a economia completamente controlados por pessoas do poder e ligadas ao poder, a equação daí para a frente foi a construção de um esquema político-judicial de manutenção do poder.
Se quisermos sem floreados dissecar as causas de todo o enredo pré-eleitoral e pós-eleitoral, encontraremos as fortunas acumuladas como origem de tudo.
As fraudes começaram mesmo antes do período pré-eleitoral. Os erros repetidos e sempre assinalados têm sido repetidos, porque são do interesse dos detentores do poder.
Há uma concertada e coordenada estratégia para delinquir e roubar votos, de modo a que a alternância democrática do poder não aconteça.
Numa entrevista muito interessante, David Aloni dissecou a situação do país de uma maneira magistral, que continua actualíssima.
As assimetrias e a falta de reconciliação continuam na ordem do dia, e os esquemas assim como alinhamentos para excluir todos os que não comunguem com aquilo que querem que o “povo engula” presidem.
Agora que as dívidas antes ocultas se tornaram públicas, os efeitos fazem-se sentir em toda a escala do país. As antes consideradas “maravilhas” e símbolos da visão e diligência empresarial de alguns moçambicanos está desmoronando a grande velocidade. Era tudo uma fantochada alimentada pelo tráfico nacional e internacional de influências. Era um capitalismo de encosto e de representação, um capitalismo de “procurement” em exclusividade, como ficou demonstrado em empresas como a EDM.
Uma banca politizada e beneficiária da mão e ajuda do Estado começa a “engasgar-se” com o fim do período áureo da II República.
As tentativas de remendar os enormes buracos detectados nas finanças públicas e nos rácios de solvabilidade dos bancos privados mostra que vivíamos de injecções de fundos e não de trabalho transparente. Vivia-se numa bolha aparentemente bonita, muito “charme”, perfumes caros, mas só aparências, engenharias e colagens seguidas de recauchutagens.
Face à gravidade dos dias que passam, não se vislumbra vontade de mudar de atitude ou de procedimentos.
Repete-se enfadonhamente “slogans” e “discursos furados” que jamais convenceram.
Mesmo com a grave crise, o que se pode ver são “mágicos” propondo curas milagrosas para uma economia que não produz.
Quem propunha “revolução verde”, agora propõe que se confie na Comissão Mista que trabalha para que se encontre a paz na esteira do falhanço das conversações no CCJC entre o Governo e a Renamo.
Porque se persiste no recurso à demagogia e ao disfarce para encobrir agendas não se avança.
Insiste-se na guerra verbal enquanto se registam também ataques envolvendo FDS e forças residuais da Renamo, e as lideranças não se mostram dispostas a adoptar medidas que aproximem as partes e resolvam diferendos e corrijam o que tem sido mal feito ao longo dos tempos desde que se assinou o AGP de Roma.
A espiral de violência agora envolve assassinatos mais ou menos de retaliação com o condão de aumentar o ambiente de medo e terror.
Fala-se muito e faz-se muito pouco.
O tipo de pronunciamento das lideranças mostra que se está mais preocupado em defender posições ou a preparar posições para que as pretensões eleitoralistas sejam asseguradas. Não é a agenda nacional de paz, desenvolvimento, combate às assimetrias e à exclusão que guia muitos de nossos políticos, mas aquilo que percebem como seus interesses particulares.
Infelizmente o 4 de Outubro de 2016 foi celebrado sem PAZ.
Os discursos do dia demonstram inequivocamente a existência de falta de foco e uma incompreensível falta de prioridades.
Esperemos que o PR coloque foco nos trabalhos da Comissão Mista, pois não teremos estabilidade e condições para governar Moçambique sem que haja paz. Engajar todos nos esforços pela paz vai requerer uma atitude prenhe de patriotismo que supere os nossos egos e diferenças.
Aquilo que alguns continuam defendendo como via para a paz, nomeadamente o desarmamento unilateral da Renamo, está prolongando as discussões de maneira infrutífera e insustentável.
Embora as FDS sejam constitucionalmente legítimas, não se pode ignorar que sua cadeia de comando obedece a comandos partidários. Isto não constitui calúnia ou invenção de alguém com intenções sinistras.
Chegou a altura de assumirmos todos que perdemos tempo enganando-nos uns aos outros de cada vez que nos recusamos a aceitar uma moçambicanidade real, vida e vibrante.
Nivelar o campo, normalizar, moralizar dependem de todos e de cada um.
Moçambique não pertence a uma elite empoleirada ou encostada aos detentores do poder. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 06.10.2016

SELO: A voz de um outro - Por Iner Muchine

Escrito por Redação em 06 Outubro 2016





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Amontoei, infinitamente, mil noites de profunda meditação, exercício que me muniu de vontade de passa o tempo numa ilha tão distante quanto o futuro: a memória de um recluso. Honestamente, foi assustador ter que embarcar, servente de um regresso incerto, para um lugar demasiado obscuro. No entanto, há que crer que entre as memórias desses indivíduos, ainda que repletas de actos autenticamente obscenos, podem estar hospedadas as maiores histórias de superação, iniquidade e acima de tudo grandes verdades.

Tirei parte do dia, dentro das minhas funções profissão de jornalista, e dirigi-me à uma prisão. No primeiro instante entre os muros infinitamente altos, minha alma foi atravessada por um terramoto: estremeci vertiginosamente. Ali moviam-se “ventos do apocalipse”. O homem que se dignou a encaminhar-me à pessoa com a qual iria passar a tarde chamava-se Rui e apareceu prontamente. Partimos rumo ao que me levava. Depois de vários corredores, cada um mais longo que o outro, detivemo-nos num compartimento silencioso, penumbroso, que minimamente permitia a invasão solar.

Estava diante de nós um homem voltado de costas. Já me tinham dito que chamava-se Matateu Kupha. Percebia-se que vivia para lá da idade: vivia momentos de compensação. Era sua vida elástica? Não soube. O facto foi que lentamente foi expondo o rosto. Parecia-me que pretendia simpatizar-se embora não me conhecesse. O fulano que me acompanhava estava disposto a deixar-nos-á sós ? a mim e ao Matateu ? mas eu sobrepus-me:

- Fique!

Estava conscientemente ciente de que os desconhecidos sempre são bichos, até que se prove o contrário.

Seguiram-se momentos de cordiais apresentações, culminando com a exposição da razão pela qual eu estava ali: saber o que resta na memória de um ex-prisioneiro e qual era a história desse homem sóbrio?

- Nada mais prodigioso ? dizia Kupha ? que procurar vislumbrar uma pomba branca entre os malignos corvos que empoleirados, moram na minha consciência. Era bom que o fizessem mais vezes, sobre tudo aos outros colegas que pendulam entre a liberdade e a perdição.

Se calhar não era esse o mundo, não era essa distância que devia intrometer-se entre os actos e a voz do remorso. Eu sonho com a distorção do sentido no qual a lógica orienta-se. Era bom que a moral fosse o pano de fundo do que pensamos e fazemos, se calhar um dia, num lugar distante, perceber-se-á que o arrependimento deve vencer previamente o mal.

Todos representamos um animal tanto selvagem quanto feroz, dentre os quais durante uma longa temporada da vida eu representei o próprio homem e essa postura, essa apanágio incontornável, só serviu para repelir-me ainda mais de tudo e de todos. Neste momento, Sou tão solitários, que dou graças aos fungos e as demais parasitas que passam os longos dias comigo.

Quero dizer que muitas pessoas olham com maus olhos os contornos que a nossa vida tem. Mas os males que perpetramos advieram de uma causa, que no momento, preenchia cabalmente um abismo na nossa alma.

De um tempo para cá tenho levado a cabo veementes leituras com vista a colorir um certo espaço dentro de mim. Ainda assim, teimo em convencer-me que as coisas mais belas que tenho lido, visto e acompanhado quotidianamente, são vencidas pelo que carrego; pelas visões mas ignóbeis que vêem dum passado forçosamente presente. Hoje quando fecho os olhos, os que de meus macabros actos sucumbiram, mordem-me, cospem-me e em função disso, contorço-me arduamente. Se calhar até grito buscando despertar. As tantas, desperto e Eis que o pesadelo propriamente dito é o que vivo.

Há um ponto elevado cá na prisão. Tenho caminhado solitariamente até lá sempre ao aterrar da noite. Parece paradoxal que disponha de tanta liberdade, não parece? De facto esse liberalismo descende necessariamente de eu já ter esgotado a infinita pena de 45 anos, por ter feito o que não devia: tirado a vida de um juiz que julgara três casos que, contudo pesavam-me, de entre os quais o assassinato de três padres, em plena semana santa. Porém, já envelhecido, detenho-me diante desse lugar altivo e assisto o lento por do sol. Sou a plateia mais reduzida do mundo. Até Acredito que eu é que ponho o sol com os olhos, em gesto de gratidão pois, este é que em plenas manhas mais frias, traz-me uma significativa Porção de luz que, entretanto, transforma-se num espaço de jogos similares ao Xadrez que pratico sozinho e sempre perco. Caem-me lágrimas quando o sol já à meia-orla, vai-se como se engolido pelo horizonte, e surge no fundo de mim uma incerteza que povoa-me e apaga o sonho de ser um individuo do amanhã.

Senti um silêncio condensado que demorou-se alguns minutos que não contei. Rui, perspicazmente, entendeu o que se passava e já não estava ao meu lado quando olhei por distracção. Esperei por ele com a mesma mestria que esperei nascer, até que regressara com uma garrafa que, pelo aspecto, continha uma bebida seca. Eu estava certo, afinal para grandes viagens de barco, há que se aumentar o oceano. Assim que tomou, Matateu parecia procurar a respiração certa e o momento de pausa.

Dinatal é um parente meu que, de tanta frustração, já nem sei que grau nos une. Tenho recebido constantemente algumas cartas a respeito de sei lá o quê: não têm respeito, aliás não continham nenhum assunto definido. Não sei explicar ao certo. Confesso que os seus primeiros escritos, assim que chegavam eu os rasgava antes que me desse o trabalho de ler. Tudo engravidava-me de pudor e aversão. Lançava os desajeitados pedaços ao chão. Murmurava desesperada e perdidamente. Durante uma data de vezes foi assim: Uma, duas, depois três, quatro… Foram muitas cartas rasgadas ignorantemente. No sexto ano, algo que nunca soube ao certo, impeliu-me a lê-las. Comecei por reconstruir as primeiras cartas.

A primeira que li foi a segunda. Dinatal nessa altura simplesmente ajudava-me matematicamente a decompor o tempo. Entre as fendas percebia-se “ VI ano, segundo mês e quatro dias; escrevo-te as 13:41.” E assim foi até ao vigésimo terceiro ano. Era o modelo do hino genuíno. De alguma forma percebia que ainda havia alguém que dedicava alguns dias, horas, minutos ou as fracções de tempo mais expeças buscando dar-me alguma felicidade. Entretanto, desde o vigésimo quarto ano passaram-se meses sem que as recebesse. Uma desolação estalou-se em mim. Perdi peso, moscas pousavam pisavam-me, faltou-me higiene, tanta que os dentes frontais ficaram sem o escasso encanto que ostentavam, até que cederam, dando espaço a um orifício apocalíptico. Não ousava desabotoar um sorriso sequer: estava, no entanto, declarada a veemente crise. Passaram-se outros meses e eu caminhava a trote largo à um estado terminal, apoderado por uma data de enfermidades fatais.

Eu pereceria se numa manha fria de Junho ? o que já era habitual ? não se tivesse intrometido por de baixo da porta, um papel dobrado com jeito. Meus olhos gatinharam em direcção ao enigma. Passaram-se dias sem que o mexesse por falta de forcas. Um dia, movido pelo estrupido vindo do corredor, fiz-me ao papel, desdobrei-o e pus-me a ler jovialmente. Eram poemas de Carlos Drummond de Andrade, todavia vindo de outra pessoa e não de Dinatal. Depois de umas tantas cartas recebidas com a mesma frequência com que recebia as outras, vindas de um desconhecido, comecei a reagir, confrontando as abomináveis enfermidades pelas quais padecia. Venci uma malária, uma anemia que me urdia um esqueleto com sangue, uma gripe bovina e as restantes nem as soube que existiam. Já sorria, embora com um sorriso completamente escancarado.

As cartas que recebia, ora identificadas pelo nome de Clara Melo, continham máximas de filósofos, frases nobres e grandes poemas. Passei a conviver com, por exemplo, Sócrates, Martin Luther King Jr., José Saramago, Óscar Wild, Noémia de Souza, Eduardo Galiano, etc.. Ganhei o hábito de responde-las. De facto era um autêntico absurdo, por que essas respostas permaneciam aqui comigo sem nunca partir. Ainda que, como disse, se definisse como uma grande insanidade, esse instante conferia-me um jubiloso sossego, capaz de derrubar todos os adamastores com os quais lutava. Assim suportei tantos anos.

Hoje, embora com a pena cumprida, continuo cá na prisão e não me sinto apto a abandona-la. Quiçá a morte antecipe o dia em que me sentirei reabilitado para fazer parte da sociedade, mas aguardo pacientemente a concretização da minha vontade de sentir-me bem comigo mesmo e com os demais. É normal que não excite saudades pois, para existir saudade deve existir tempo e, para mim, o meu tempo foi a minha pena.

Estou feliz. Ultimamente tenho visto figuras “arranha-céus” dando sua compareça por cá razões que desconheço. Mas pelo tempo que instalam-se, parece-me que lá fora a justiça esta sendo feita. Um antigo ministro fez uma turbulenta aparição. Igualmente, a sua excelência ex-presidente de uma bancada. Todos esses chegaram depois de quem? Da sua excelência eu, se me permitem. A chegada dessas pessoas pode ser, queira Deus, um holofote que anuncia uma geração que vá perceba o seguinte: para um desenvolvimento plenamente equilibrado, é fundamental que sejamos, a princípio, todos pobres.

Eu só queria que me ouvissem e deixassem-me conhecer Dinatal e Clara Melo. Caíram lágrimas durante longos momentos sem conta.

Três semanas mais tarde, essa reportagem fez parte do jornal e, por conseguinte, dada grande aderência, a mentalidade das pessoas mudou acentuadamente.

Por Iner Muchine

43 comentários
Comentários

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Muhove Tata A escrever...
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Iyambo Issogorovy Ui!!!!!!!!

Muhove Tata É a verdade meu Irmão.

Livaningo Tembe Kanimambo rapaz, quem viver vera.mas espero ver a democracia avante a comencar pelas seis provincias, isso e urgente a qualquer cidadao normal.
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Portazio Calisto Tiole Estou a espera na primeira fila.

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Contudo aguardando o descalabro dos tais "Kings".

Bilaal Ramadan Abubakar Frelimo já caiu não se sabe oque se espera nas próximas eleições dessa vez vão robar sem vergonha para pelomenos ganhar maputo
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Manito Nixon SOMETHING ITS VERY WRONG ..WHEN THE GOING GETS TOUGH...!!! IGNORANCE ITS KIND,,,, THERE'S NO CONFORT IN FALSE PARADISE...!!HARDNESS OF BRAIN KILLS....!!Ver Tradução
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Antonio Carvalho Falam em nome do povo e meia volta se transfomam em vampiros ladroes assassinos mais crueis na historia e assim agem os comunistas

Bizmungo Arape Tuto Frelimo é um erro nacional.

António Menete A procissão ainda vai ao adro.
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Simone Tazondiwa Interessante mesmo. Para onde estamos a ir com esta coisa publica assim? Ainda vamos ouvir mais.
Gosto · 2 · 5 h · Editado

Jose Banze Almo Gimo Ernesto texto longo mas bastante interessante.

Gosto · 2 · 5 h

Alberto Constantino yuuuuuuuuuuuuwe! k absurdo, a frelo xta de pernas para o ar; lançamento.

Americo M. Muchanga Enigma um esperto =estúpido

Jerry Parruque Só pra nos leitores competente e pacientes...
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Imelde John Naracao fascinante

Eugenio Matine Mazine vai ser um filme com desfecho triste....

Mandlate Angelo Emilio Isto vai animar eu cara, minha vontade é ver este elenco todo atrás das grades. Até aqueles que se acham impunes vão entrar.
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Americo Pinheiro Excelente análise política e econômica da situação actual no mundo em especial em Moçambique. Peço encarecidamente que continue a presentear nos com análises inteligentes e brilhantes como esta. Não sei a quem congratular pois o artigo não está assinado. Dá apenas a entender ser uma resposta a um artigo de MM.

Americo Pinheiro Já estou refastelado com as pipocas ao lado aguardando pacientemente pelo final incerto mas previsível desta tragi-comedia

Zacarias Matope Matope Evitou indicar os nomes.

Gomez Man Tsolo isto vai doer!!

Simao Matavele Boa narração, até os incrédulos acabarão embarcando na nossa Canoa.


Luis António Macuacua As dividas tao a roer o meu bolso nhadayeyoooooo?
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Remane Abudo Ainda estou a ler

Quiky Peter Henry Boa notícia, o filme merece assistir a comer milho torado apesar da crise.
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Nunes Januario Raul Nihia Tou quase a terminar com o trecho. So gostei dos nomes aqui figurados.



Felismino Santos Santos É o começo de um teatro barato mas que vai nos custar muito sacrificio; vamos pagar éo preço da independência.

Rauljoao Chai-chai Esta chegando ao fim toda essa mafia.

Afonso Muatocuene Porque não produzir um filme ou novela relatando tudo isto?

Tungstenio Cufene Começou a luta contra riqueza absoluta.contra os inimigos do progresso,as mascaras cairam!!

Elias John Chizy Hum, está quente isto. Este filme quero ver até ao fim in louco.

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