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O fecho das negociações entre o governo de Moçambique e as petrolíferas para a exploração de gás natural é uma das chaves para reanimar uma economia que está a abrandar. É a convicção de José Augusto Duarte, para quem é vital inverter a tendência de queda do investimento externo num país em que Portugal é um dos principais investidores e criadores de emprego. Sem dramatizar a situação económica, que diz ser conjuntural, o diplomata acredita que “não se pode falar do potencial, sem falar dos problemas.” E é disso que fala nesta conversa com o Económico.
Como descreve o ambiente económico em Moçambique?
A economia abrandou. A crescer a uma média de 7,5% na última década, estava previsto um crescimento de 7,8% este ano, mas as últimas previsões reduziram em baixa o crescimento para 6,3%, o que é significativo numa economia pequena, apesar de o país ser grande. Está longe de uma recessão, mas acaba por se sentir esse arrefecimento económico.
O que explica o abrandamento?
Há uma série de factores externos e internos que contribuem para uma conjuntura menos favorável e ela agora gira sobretudo à volta da depreciação muito acelerada do metical face ao dólar e a outras divisas estrangeiras. Tendo em conta que a dívida externa do país é em dólares, a cada dia que o metical se deprecia, a dívida aumenta. E isso afecta a situação económica. Mas há outros factores externos como, por exemplo, a crise no Brasil ou o menor crescimento económico na China, que são parceiros importantes.
E quais os factores internos?
Passou a haver também uma diminuição significativa do investimento, sendo que uma parte é externa. Houve uma grande queda face ao ano anterior: foram cerca de 345 milhões de dólares a menos de investimento externo. A isto junta-se uma redução significativa de mais-valias que Moçambique cobra relativamente à transacção de empresas. O que significa que há uma estagnação do comércio interno e da criação de empresas. Tudo contribui para um arrefecimento económico que não é dramático, mas tem de ser levado a sério.
O investimento português está a acompanhar essa quebra?
É um dos investidores mais importantes e o que, desde 2008, mais tem contribuído para o crescimento da economia moçambicana. Está habitualmente entre os cinco primeiros investidores: já investiu cerca de 1,6 biliões de dólares e isso faz com que seja o que mais empregos gera para os próprios moçambicanos. Mas também acompanha essa quebra generalizada.
Como inverter essa tendência?
Acredito que, uma vez concluídas as negociações em curso entre o governo de Moçambique e as petrolíferas [caso da Anadarko ou da Eni] que vão investir na exploração de gás natural no norte do país, na bacia do rio Rovuma, o investimento é de tal maneira elevado que arrastará, para cima, investimentos em todas as áreas. Agora, até isso acontecer, a situação pode ficar um pouco mais turbulenta para os investidores durante alguns meses. Não estamos perante algo estruturante, mas sim conjuntural e de curto prazo e, uma vez materializadas as perspectivas de investimento em larga escala na exploração do gás natural, as taxas de crescimento voltarão.
Que dificuldades sentem as empresas, em especial as PME?
A primeira é a menor procura, a segunda é a menor liquidez para pagar as contratações. É o normal, ou seja, há uma depreciação da moeda local face às divisas estrangeiras, há menos investimento e um menor crescimento – tudo isso faz com que haja menor liquidez para pagar a tempo e horas. Há áreas em que isso se pode sentir mais como, por exemplo, para quem depende do Estado, que é o grande motor desta economia ainda frágil. Está a abrir menos concursos públicos do que há dois anos e a fazer menos contratos com privados.
Até que ponto a tensão política também influencia tudo isso?
Uma eventual conflitualidade interna em termos militares é sempre pouco propícia a um bom ambiente de negócios. A competitividade não se coaduna com um país em conflito interno. Houve escaramuças em vários sítios, mas não há um conflito militar. Há tensões e um diálogo em curso que ainda não produziu todos os resultados que se esperam. Mas justificar o todo pelas questões políticas, seria redutor e superficial.
Portugal preside pela primeira vez ao G19 (grupo que entretanto passou de 19 para 14 países), que ajuda ao financiamento de Moçambique. Qual a importância desta participação?
Portugal tem a presidência desse grupo de doadores externos para o orçamento do Estado moçambicano, que costuma ter um papel muito importante dada a quantidade de dinheiro doada todos os anos por estes países. Numa situação de crise, um doador externo acaba por ter uma relevância ainda maior. O desejável, porém, é que Moçambique caminhe para a auto-suficiência e deixe de necessitar desta ajuda externa. E o que estamos a fazer é um esforço permanente para promover e valorizar a imagem do país junto dos doadores internacionais e também a imagem desses parceiros junto das autoridades moçambicanas. Queremos mostrar aos parceiros que Moçambique é um país em que vale a pena apostar, promover o investimento e ter confiança.
O presidente de Moçambique esteve em Portugal em Julho deste ano com uma forte missão empresarial. Já há resultados dessa visita?
Está em curso uma série de contactos entre vários actores da economia portuguesa e moçambicana que visam fazer investimentos em diversas áreas. Há em perspectiva novos investimentos na área agro-industrial, mas também no comércio. Mas ainda não deu tempo para concretizar tudo.
Por Helena Cristina Coelho, in economico.sapo.pt