segunda-feira, 20 de junho de 2016

Joaquim Chissano considera precipitadas conclusões nas chamadas dívidas escondidas em Moçambique

O antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano considerou hoje precipitadas conclusões sobre as chamadas dívidas escondidas em Moçambique, defendendo que o processo de investigação deve ser feito com calma porque envolve pessoas com "certa integridade".
"Este é um tema delicado e que tem a ver com pessoas que têm certa integridade", disse à imprensa o ex-chefe de Estado moçambicano, falando à margem do lançamento da obra "Construindo um novo Dia", uma iniciativa da Embaixada de Portugal em Maputo.
Destacando a importância de um ambiente calmo no processo da investigação das dívidas que o anterior Governo contraiu, entre 2013 e 2014, à revelia da Assembleia da República e das instituições financeiras internacionais, Joaquim Chissano disse que a questão está bem encaminhada e agora é necessário que seja criado um ambiente calmo, que não atrapalhe as investigações.
Para Joaquim Chissano, o povo moçambicano deve evitar agir e comentar com emoção, na medida em que o Governo moçambicano já mostrou a abertura necessária para resolver o problema.
"A questão das dívidas está bem entregue", afirmou o antigo Presidente, acrescentando que é da calma que depende a resolução da situação.

O Governo moçambicano esteve recentemente no parlamento para explicar os contornos de dívidas escondidas de mais de mil milhões de euros contraídas e avalizadas pelo anterior executivo.
O primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, na ocasião, reconheceu a existência de dívidas fora das contas públicas de 1,4 mil milhões de dólares (1,25 mil milhões de euros), justificando com razões de segurança e infraestruturas estratégicas do país, o que levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a suspender a segunda parcela de um empréstimo a Moçambique e a deslocação de uma missão a Maputo.
O grupo de 14 doadores do Orçamento do Estado suspendeu o seu apoio, uma medida acompanhada pelos Estados Unidos, que anunciaram que vão rever a sua ajuda e exigiram, à semelhança do Reino Unido, uma auditoria forense internacional.
A Procuradoria-Geral da República de Moçambique instaurou dois processos para averiguar a legalidade das dívidas e já decorrem audições.
No sábado, centenas de pessoas saíram à rua em Maputo para marchar contra a situação política e económica de Moçambique, exigindo a responsabilização dos autores das dívidas escondidas e o fim das confrontações militares entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido de oposição.
Com a revelação dos novos empréstimos, a dívida pública de Moçambique é agora de 11,66 mil milhões de dólares (10,1 mil milhões de euros), dos quais 9,89 mil milhões de dólares (8,6 mil milhões de euros) são dívida externa.
EYAC // EL
Lusa – 20.06.2016

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