É pouco provável que o partido Frelimo acuse os responsáveis pelos avales ilegais que aumentaram a dívida externa de Moçambique |
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Escrito por Adérito Caldeira em 26 Abril 2016 |
O povo moçambicano, pelo menos aquele mais urbanizado e com acesso à informação para além da propaganda governamental, já identificou pelo menos dois responsáveis pelos empréstimos ilegalmente avalizados pelo Estado, e cujo montante ainda não é certo, contudo “o partido Frelimo é uma formação política que assume a responsabilidade colectiva das suas lideranças” explica o professor de Ciência Política João Pereira numa entrevista ao @Verdade onde também afirma que Filipe Nyusi não tem muito tempo para ganhar as eleições que se avizinham, Autárquicas em 2018 e Gerais em 2019, se não “mostrar sinais de que quer combater aquilo que são os grandes males desta sociedade”.
Embora a 5ª sessão ordinária do Comité Central (CC) do partido no poder tenha-se debruçado, entre outros temas, sobre a corrupção - que tem nos avales emitidos pelo Governo de Armando Guebuza em montante ainda a determinar, e que violam a Constituição da República, um dos exemplos mais gritantes – o professor João Pereira acredita que “nunca o partido Frelimo há-de vir acusar o anterior Presidente Guebuza de corrupção ou o ministro Chang, porque muitos deles também na altura faziam parte do Governo, não é agora que se tem que atribuir culpas a este ou a aquele. O partido assume como uma culpa colectiva”.
“A questão agora não é ir buscar o passado, a questão é ver como no futuro se pode evitar repetir o mesmo tipo de erros”, acrescenta o docente da Universidade Eduardo Mondlane(UEM) em entrevista telefónica ao @Verdade onde enfatiza que “o partido Frelimo é uma formação política que assume a responsabilidade colectiva das suas lideranças”.
Esta análise do politólogo João Pereira encontra-se de certa forma reflectida no discurso de encerramento Comité Central onde o presidente do partido Frelimo, Filipe Nyusi, afirmou que a formação política tem na forja uma directiva anti-corrupcão, que deverá regular a conduta dos membros do partido a todos os níveis.
“O problema para trás é que é muito difícil dizer quem é que não é corrupto, ir para trás é como se estivesse a cavar uma sepultura para grande parte dos membros do partido Frelimo. Dificilmente alguém no partido Frelimo pode dizer que nunca esteve envolvido em actos de corrupção” esclarece Pereira.
Para o professor de Ciência Política da UEM, “(...) a história da Humanidade faz-se também por esquecer um pouco o passado e avançar um pouco no presente e no futuro, e principalmente chegar num momento da vida e dizer que agora é que temos de acabar com isto, então a partir dali entrar numa nova forma de fazer política neste país. Se a corrupção é a prioridade da Frelimo então tem que combater. Se formos ao passado vamos ter poucas cadeias”.
Efectivamente Nyusi e o seu Governo estão a “dar a cara” aos doadores e investidores. Questionado na Bélgica se existirão “consequências dos casos EMATUM e Proindicus”, cujos empréstimos foram avalizados pelo Executivo de Armando Guebuza violando a Lei Orçamental de 2013 e a Constituição da República, o Chefe de Estado moçambicano declarou que “Primeiro vamos lidar com o problema, percebê-lo e sempre na perspectiva de sairmos airosos e de resolvermos o problema”.
João Pereira crê que o actual Presidente de Moçambique, embora fosse ministro da Defesa, à altura em que os empréstimos foram contraídos por empresas ligadas ao exército e avalizados ilegalmente pelo Governo, “(...) podia saber do projecto mas não saberia da complexidade ou do dossier detalhado sobre o tipo de dívida que estava a ser contraído”.
“Dentro do partido alguns sectores não devem conhecer muito bem aquele dossier e isso deixa sempre a margem de pensar que algum grupo possa ter beneficiado de comissões ou de outro tipo de situações no que ser refere a essa tal dívida pública” acrescenta o nosso entrevistado.
Nyusi não tem muito tempo para ganhar as eleições que se avizinham
“E eles (membros do partido Frelimo) sabem que a questão da corrupção, a questão da crise económica, a questão da instabilidade política e da instabilidade social podem ser grandes inimigos da Frelimo nas próximas eleições. E as eleições estão praticamente à porta, 2018 (Autárquicas) e 2019 (Gerais)” declara Pereira.
O docente afirma ainda que o Presidente da formação política no poder “não tem muito tempo para ganhar essas eleições se não fizer reformas muito profundas ou mostrar sinais de que quer combater aquilo que são os grandes males desta sociedade, e a corrupção é um dos maiores”, conclui João Pereira.
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