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Depois do fim do Acordo Geral de Roma, o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, tem uma posição chave para a resolução do conflito. Quem é este homem, que nasceu em 1953 no distrito de Chibabava, na província de Sofala?
O ponto de viragem na vida de Afonso Macacho Marceta Dhlakama, nascido em 1953 no interior da província de Sofala no centro de Moçambique, deve ter sido a segunda volta das eleições presidenciais de 1999. Oficialmente alcançou 47,7 % dos votos e perdeu por uma margem pequena contra o candidato do antigo movimento de libertação, FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), Joaquim Chissano, que obteve 52,3 % dos votos.
Mas muitos observadores eleitorais estão convencidos que o verdadeiro vencedor teria sido Afonso Dhlakama. Entre eles o consultor alemão em assuntos de desenvolvimento, Rainer Tump: "Houve uma manipulação maciça dos resultados eleitorais. Consideraram-se inválidos centenas de milhares de votos em bastiões da RENAMO."
Quatro candidaturas presidenciais
Dhlakama aceitou a derrota, mas a partir daí o seu partido entrou em declínio. No escrutínio de 2008, Dhlakama apenas obteve 31,7 % dos votos e perdeu contra Armando Guebuza da FRELIMO. A margem da vitória foi muito grande para levantar muitas suspeitas. Dhlakama não se deixou desanimar e candidatou-se uma quarta vez em 2009.
A guerra civil de Moçambique
Afonso Dhlakama lidera o partido desde 1979, ano em que foi morto durante a guerra civil o fundador da Resistência Nacional Moçambicana - RENAMO, André Matsangaissa. Até o fim da guerra em 1992, Dhlakama comandou as tropas da RENAMO. Com a ajuda dos regimes racistas dos países vizinhos, primeiro da Rodésia (o atual Zimbabué), e mais tarde com o apoio do governo branco da África do Sul, combateu o governo marxista da FRELIMO.
A guerra foi uma das mais brutais de África. A RENAMO teve má fama por causa da destruição de escolas e centros de saúde, da minagem de estradas e pelo recrutamento de crianças soldados. A violência dos dois lados causou aproximadamente 900.000 mortos. Milhões refugiaram-se dentro ou fora de Moçambique.
O fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul possibilitou o Acordo Geral de Paz de Roma no ano de 1992. Antes do acordo, a FRELIMO tinha abandonado a economia de planeamento e o monopartidarismo. Com alguma razão Dhlakama gaba-se de ser o "Pai da Democracia" de Moçambique.
Estrutura interna do partido
Mas como se explica o declínio dos seus resultados eleitorais nos últimos anos? "Acho que uma razão principal é que o partido nunca conseguiu construir uma democracia dentro da própria RENAMO. Ela sempre esteve muito focada no seu líder Afonso Dhlakama", responde o consultor alemão Rainer Tump. Isto também terá causado a criação de um novo partido, o MDM - Movimento Democrático de Moçambique.
"Também motivou a saída constante de personalidades importantes, que abandonaram a RENAMO. Pois estiveram cansados do jogo político de Dhlakama em que as decisões foram sempre tomadas por ele e muitas vezes sem nenhuma consulta prévia dos outros", conclui Rainer Tump.
Uma das maiores críticas de Dhlakama foi a predominância da FRELIMO e do seu Presidente, Armando Guebuza, no aparelho do Estado e na economia moçambicana. Neste caso, Dhlakama conseguiu exprimir as inquietudes de uma boa parte da população de Moçambique.
E se Dhlakama fosse Presidente...
À pergunta, o que Dhlakama faria, se fosse Presidente, respondeu numa entrevista à DW em 2008: "Primeiro, a reforma das instituições do Estado. Separar o partido das instituições. Porque um país democrático não se pode chamar um país democrático, quando as instituições do Estado estão ligadas a um único partido no poder."
Forças armadas da RENAMO
Mesmo contra os princípios do Acordo Geral de Paz de Roma, que previu a desmobilização total dos rebeldes da RENAMO, Dhlakama sempre manteve um exército privado do partido. Treinaram longe do olhar do público em bases fechadas no interior da província de Sofala, nas localidades de Maríngué e Inhaminga.
O escritor moçambicano Mia Couto criticou o estilo militarista de fazer política de Dhlakama numa entrevista ao canal privado STV: "Ficámos reféns do medo de alguém que reiteradamente veio anunciar que 'agora sim vou voltar à guerra, vou incendiar o país'… Ele escolheu vários tipos de discursos que são realmente ameaças".
Declínio eleitoral
Nos últimos anos, ficou evidente uma certa perda do sentimento de realidade. "As bases da RENAMO cada vez mais estão a crescer. Mesmo aqui em Maputo. Nós aqui não éramos nada há cinco ou dez anos", disse Dhlakama em 2008 à DW. "Hoje, se fizerem sondagens de opinião pública, aqui em Maputo, junto aos órgãos da universidade, reitores e intelectuais vão dizer 'Sou de Dhlakama e da RENAMO'". No ano seguinte seguiu a derrota histórica com apenas 16,4 % dos votos a nível nacional nas eleições presidenciais de 2009.
Nas autárquicas, a RENAMO veio perdendo todos os municípios que governara. No Parlamento nacional a bancada da RENAMO encolheu.
Em 2009 houve outro choque: a fundação do novo partido MDM por Daviz Simango, o edil da Beira. Simango abandonou a RENAMO, quando o partido lhe tinha retirado a confiança e escolhido outro candidato na Beira. Dentro de poucos meses o MDM consolidou-se como terceira força política do país.
De Maputo para o norte e o centro do país
Dhlakama reagiu com um auto-isolamento. Saiu da sua mansão em Maputo, primeiro para Nampula no norte do país.
No dia 17 de outubro de 2012 mais uma mudança, desta vez para a Serra da Gorongosa. Foi ali, no mesmo dia 33 anos antes, que soldados do Governo moçambicano tinham morto o seu antecessor André Matsangaissa.
Em abril de 2013, a RENAMO começou ataques armados esporádicos. "Desde outubro de 2012, quando Afonso Dhlakama se retirou para o seu antigo quartel general da guerra civil, abandonou de facto as instituições de Moçambique e as plataformas democráticas existentes", diz a analista do instituto britânico de estudos políticos, Chatham House, Elisabete Azevedo-Harman. "Isolou-se da capital Maputo e dos outros atores políticos."
No dia 21 de outubro, Dhlakama conseguiu fugir antes da tomada da base da RENAMO na Gorongosa pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). A seguir, o partido declarou por terminado o Acordo Geral de Paz de Roma. Desde então, Dhlakama mantem-se escondido em lugar desconhecido.
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