25 DE ABRIL
Mário Soares: «Descolonização foi óptima»
23 | 04 | 2009 16.27H
«A descolonização foi óptima, foi feita num tempo recorde que admirou muitos países que fizeram descolonizações, como os franceses», disse Mário Soares, no encerramento das Jornadas de Ciência Política promovidas pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.
Mário Soares, que então como ministro dos Negócios Estrangeiros foi um dos principais intervenientes no processo, sustentou que a forma como Portugal entregou as suas colónias «trouxe uma confraternização com os movimentos de libertação» que criou as condições para que fosse possível criar a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Na conferência, intitulada «25 de Abril: Ruptura ou evolução na continuidade?», o ex-Chefe de Estado revisitou na primeira pessoa alguns dos episódios que marcaram a «revolução exclusivamente nacional» que em 1975 pôs termo ao Estado Novo.
Perante uma plateia repleta de alunos e docentes do ISCSP, Mário Soares lembrou que o «primeiro objectivo» dos protagonistas da revolução era «acabar com a guerra», mas que «não faziam ideia do que queriam fazer para diante».
E lembrou o conflito com os comunistas e as forças de extrema-esquerda que culminou no 25 de Novembro de 1975: «Foi o grande conflito que tivemos com o PCP, se Portugal devia ser uma Cuba à europeia, de uma democracia pluralista».
Adriano Moreira, outro dos participantes no debate, prolongou a análise até à actualidade, chamando a atenção para o que considera ser um dos legados nunca resolvidos da revolução de Abril: o desaparecimento de um conceito estratégico nacional que nunca foi substituído.
«Portugal ainda não tem um conceito estratégico nacional estabelecido [para substituir o que foi extinto com o 25 de Abril] (…) o País nunca teve a experiência de ter uma multiplicidade de fronteiras (de segurança, comércio, política cultural) e ainda não definiu um modelo de governação para gerir essa multiplicidade», disse.
«A redefinição de um novo conceito estratégico nacional começou nesse dia [25 de Abril de 1974] e ainda não acabou», acrescentou.
Numa «era de extrema turbulência resultante do desastre total da governação mundial», o professor universitário chamou ainda a atenção que «alguma coisa absolutamente informal está a nascer» em consequência da tentativa de recuperar «um sistema que faliu».
Uma realidade a que acresce a «fragilidade em que está a Europa», dependente de energias não renováveis, de reservas alimentares estratégicas, de mão-de-obra, de matérias-primas.
Neste contexto, Portugal deve «avaliar os desafio e as capacidades que tem» para lhes dar resposta e apostar na «investigação e ensino».
«Tenho dúvidas de que isto esteja a ser feito quando vejo universidades em debilidade financeira (…) quando o conceito estratégico do ensino secundário não está articulado com o do ensino superior», comentou.
Para Adriano Moreira é ainda necessário restaurar a confiança, «um valor sem o qual não se constrói nenhuma viabilidade».
«É preciso reconhecer que a relação de confiança em relação a várias estruturas do regime democrático estão em crise e isso reflecte-se na sociedade civil», observou.
A antiga deputada do PCP Odete Santos criticou, por seu turno, o que considerou ser o «regresso dos monopólios», revertendo medidas tomadas após a revolução de Abril como as «nacionalizações e reforma agrária» que, em seu entender, contribuíram para eliminar factores que «oprimiam o povo».
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