sábado, 2 de janeiro de 2016

Que ligará M'telela a Wiriamu?


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Mão amiga fez-me chegar o livro de Barnabé Lucas Ncomo "URIA SIMANGO Um homem, uma causa".
Aproveito para transcrever o capítulo abaixo:

Do Pelotão Maldito ao efeito boomerang
Manuel Mapfavisse era um dos mais temidos carrascos de M'telela desde a abertura do Centro em 1975. Estava à testa de um pelotão de guardas e, por ser mais instruído literariamente do que a maioria de outros guardas, servia de correio entre M'telela e Lichinga.
Natural de Ampara, no distrito de Búzi em Sofala, Mapfavisse havia recebido a alcunha de "o Bazuca", dada a sua estatura latagónica. Tal como o comandante e a grande parte dos que integravam a Companhia de 150 homens que guarnecia o Centro, Mapfavisse vivia com a família nas cercanias do mesmo.
A páginas tantas, a situação dos presos começou a preocupar um certo grupo de guardas. Condoía-lhes a situação de alguns presos doentes e particularmente da Dra. Joana Simeão. Como esta era ainda muito jovem, chegado o período menstrual, viam-na na sua cela a contorcer-se de cólicas sem poderem ajudá-la. Aos trapos que lhe atiravam como pensos para conter o fluxo sanguíneo, cabia a eles voltar a recebê-los através da portinhola da cela e desembaraçarem-se dos mesmos.
Deste modo, até princípios de 1977, havia em M'telela dois tipos de guardas para mesmos prisioneiros: Um grupo de defensores acérrimos da causa do regime e um outro que aparentava ser defensor dos direitos dos prisioneiros. Bazuca alinhou com o segundo grupo constituído pelo pelotão que ele chefiava. Num dia, sem dar conta da dimensão do problema que ia criar, planeia com alguns do seu pelotão a fuga de três prisioneiros dentre os quais a Dra. Joana Simeão. Mas antes, Bazuca ter-se-á queixado junto do comandante dos transtornos que aqueles três presos davam. Falou da situação de Simeão e de homens que se prezavam como tal - como aqueles guardas - terem que suportar situações que contrariam a tradição, lidando com coisas íntimas que só às mulheres diziam respeito, apenas porque a infeliz prisioneira não podia sair da cela. Aparentemente, a lamentação foi ao encontro da sensibilidade de Mombola e este, tomando a peito a questão, garantiu que encontraria uma solução. Efectivamente, Mombola encaminhou a preocupação a Lichinga, usando como argumento a tradição africana e os "perigos" que advinham de um homem lidar com coisas femininas daquele tipo. A resposta de Lichinga não se fez esperar. Veio "curta e grossa": "Mandem a Joana e os outros dois cortar lenha!...'»9.
Na gíria da guerrilha da Frelimo, especialmente desde a abertura da base Moçambique D, próximo de Nangololo, na província de Cabo Delgado, "cortar lenha" significava execução sumária de prisioneiros.
Recebida a Ordem de Serviço, Mombola incumbiria a missão precisamente a Bazuca, a quem deu aval para escolher alguns do seu pelotão para executarem a missão. Bazuca escolheu então quatro guardas dentre os que com ele conspiravam e deu instruções claras, alertando-os como deviam agir para libertarem os três presos sem levantar suspeitas.
As instruções de Lichinga haviam chegado numa altura em que o Comandante preparava uma viagem para aquela cidade, exactamente na companhia de Bazuca. Assim, achou-se por bem executar a "missão Joana" antes da partida, de forma a poder relatar os resultados à chefia da Contra Inteligência Militar na capital provincial.
Ao entardecer, os quatro homens, sob ordens de Bazuca, que na circunstância se viu impossibilitado de se fazer à mata dado o avalanche de trabalho que tinha que executar antes de seguir para Lichinga, retiraram os presos e encaminharam-nos para o local da execução. Chegados aí, os quatro guardas deram instruções aos presos para que escapulissem. Mas antes, terão exigido que estes lhes assegurassem possuir capacidades para alcançarem "terra firme" , isto é, o vizinho Malawi. E mais, exigiram aos presos que nunca revelassem as circunstâncias da sua fuga. O receio de possíveis transtornos recaía sobre Joana Simeão por na época o seu nome ter sido muito sonante na opinião pública moçambicana. Se reaparecesse no estrangeiro, certamente que iria complicar a vida dos guardas. Joana Simeão assegurou, então, que se manteria calada, e uma vez a salvo no estrangeiro adoptaria um outro nome como garantia de passar ao anonimato.
Tendo concordado que tudo ficaria no segredo dos deuses, os guardas dispararam alguns tiros ao acaso e depois instruíram os presos como deviam caminhar e comportar-se na densa floresta de Niassa. Iniciou assim a fuga dos três prisioneiros incómodos. Todavia. Joana ficaria para trás por não conseguir manter a passada" dos seus companheiros de cárcere. Como consequência disso, viria a ser recapturada dias depois.
Mas antes, regressados ao Centro, os quatro carrascos relataram os factos ao seu chefe - Bazuca - o qual, por sua vez, informou ao Comandante sobre o "pleno cumprimento" da Missão Joana. Sossegado, no dia seguinte, Mombola empreende então a viagem programada a Lichinga, na companhia de Bazuca para, entre vários afazeres, informar aos seus superiores hierárquicos acerca da execução da Dra. Joana Simeão e de outros dois prisioneiros.
Contudo, contrariamente às garantias dadas pêlos presos, as coisas no terreno complicaram-se. Um dos prisioneiros, conhecedor da mata e natural de Majune, uma vila situada a norte de M'telela, conseguiu lá chegar pedindo protecção a familiares seus. Estes imediatamente esconderam-no, para mais tarde tratar do seu envio para o Malawi onde residiam pessoas de família. Antes, porém, o antigo prisioneiro revelaria as atrocidades cometidas pelas autoridades em M'telela e as circunstâncias da sua fuga na companhia de Joana Simeão e de outro prisioneiro. Se bem que o homem não tivesse denunciado os guardas que lhe facilitaram a fuga, não evitou que a notícia se espalhasse entre os aldeões, chegando ao conhecimento das autoridades locais.
Notificadas as autoridades em Lichinga sobre o acontecido em Majune, Mombola, ainda mergulhado nos seus afazeres na capital provincial, foi posto ao corrente da situação pelo chefe provincial da CIM. Perante o choque inicial da notícia, e longe de imaginar que Bazuca fosse a pessoa que planificou tudo, o Comandante recorre a este para com ele estudar a forma de se livrar da situação. Igualmente alarmado, Bazuca apercebe-se da dimensão do problema que criou. Precavido, ciente do que lhe aconteceria se Mombola regressasse primeiro à M'telela, sugere ao comandante do centro que permaneça em Lichinga para ultimar os seus afazeres, e que ele regressaria de imediato a M'telela para acudir à situação. Tanto Mombola como o Chefe da CIM terão concordado com a ideia e deu-se instruções para que assim que chegasse ao Centro, Bazuca perseguisse os fugitivos. Aos infractores que deixaram escapulir os presos, devia-se-lhes "mandar cortar lenha", vituperou o chefe da CIM.
De regresso a M'telela, Bazuca move-se no sentido de evitar que o seu nome se associe ao plano da fuga. Age com cautela e rapidez. Fala em surdina com os outros chefes de pelotões que ficam estupefactos com a notícia. Informa-os sobre os passos à seguir, de acordo com as instruções que trazia. Numa missão silenciosa, os quatro carrascos foram imediatamente presos e não se lhes deu tempo para se explicarem, pois perante um quadro devidamente pintado por um homem de extrema confiança como o era Bazuca, a medida não sofreu qualquer suspeita dos restantes chefes de M'telela. Na calada da noite, os detidos foram levados para um local afastado e executados a golpes de baioneta desferidos por Bazuca e outros chefes de pelotões.
"Aqueles tipos morreram sem perceber porquê. Primeiro porque não lhes passou pela cabeça que um dos presos foi parar ao Posto administrativo de Majune. Segundo, como cada um deles foi amordaçado, tendo uma venda colocada sobre a vista, não era possível perceber quantas pessoas estavam a sua volta. Depois foram arrastados para sítios diferentes e mortos."50.
No dia seguinte a morte dos 4 guardas, iniciou a caçada aos fugitivos. Um grupo de cerca de quinze homens armados de kalashnicovs fizeram-se ao mato à caça dos fugitivos. A Dra. Joana Simeão viria a ser recapturada pouco tempo depois. Sozinha na mata de Majune, não conseguiu ir longe. Os guardas, ao avistarem-na, gritaram para que parasse. Por não obedecer à ordem, um dos guardas disparou, atingindo-a na mão direita. Meses depois seria sumariamente executada na companhia do Rev. Uria Simango e dos restantes prisioneiros políticos.
Cerca de uma semana após a execução dos quatro carrascos e da recaptura de Joana Simeão, Mombola regressou ao Centro tendo felicitado Bazuca pelo trabalho. Todavia, para as autoridades, os guardas de M'telela haviam vacilado. Era necessário imprimir uma maior rigidez na disciplina do Centro. Mombola regressou a M'telela com uma ordem severa para cumprir, e, aos chefes dos vários pelotões, viria a declarar:
" (...) o que aconteceu aqui é grave. Todos vocês sabem que isto não é brincadeira camaradas. Nós que somos responsáveis aqui podemos ser culpados e morrermos por brincadeiras de alguns desordeiros. Trago ordens que devem ser cumpridas, doa a quem doer. Todos aqueles que estavam de serviço naquele dia também sabiam do jogo. Os chefes em Lichinga disseram que é preciso punir severamente todos para servir de lição para que ninguém no futuro aceite mais ser comprado ideologicamente por estes reaccionários aqui:51 .
Dessa forma, os restantes quinze guardas de um pelotão de 20 homens comandados por Bazuca, morriam. Levados para o local da matança, foram todos executados.
Entretanto, eliminados os guardas, surgiu o problema de como se informar as esposas de alguns deles sobre o brusco desaparecimento dos maridos. A solução encontrada foi a de se liquidar não só as senhoras, mas também os filhos52.
Medida semelhante estava, ao que se diz, reservada aos filhos do Rev. Uria Simango. Depois de o ter mandado executar, o regime da Frelimo insistentemente endereçava convites aos filhos do casal Simango para que se deslocassem ao Niassa a fim de "visitarem" os pais. "0s meus tios disseram-me que, por duas vezes, apareceram na Beira, vindas de Maputo, pessoas das nossas relações familiares ligadas a Frelimo. Não vou dizer os nomes dessas pessoas. Diziam que o governo queria que nós fossemos visitar os nossos país em Niassa. Nunca falavam directamente comigo. Dirigiam-se aos meus tios e os tios nunca nos diziam nada porque éramos menores, para além de que se nos dissessem nós imediatamente passaríamos a viver imaginando sempre a hora da partida para Niassa e o reencontro com os país"*.
Desconfiados da "boa fé" do regime, os tios dos três rapazes sempre se opuseram. Tinham informações, vindas de outras pessoas ligadas ao poder, de que tais convites encerravam em si algo de sinistro, que culminaria com o desaparecimento dos filhos do casal Simango.
-"Arranjem-se como puderem, mas não deixem que os meninos sigam para Niassa porque de lá não mais regressarão com vida" – diziam.
Mas a uma dada altura a nostalgia provocada pela separação forçada da família ter-se-á apossado de forma dramática do filho mais velho do Reverendo Simango. O jovem optou então por arriscar, espantando a fera na sua toca. Nos fins de 1981, sem o conhecimento dos tios, Lutero escreveu uma petição ao então ministro residente na província de Sofala, solicitando-lhe que autorizasse a sua deslocação e dos irmãos a Niassa, a fim de visitar os pais. Numa reflexão retrospectiva, Lutero Simango acredita também numa possível existência de separação de poderes no seio da Frelimo daquela época, pois, segundo suas palavras, a existir um plano para os liquidar, ou o ministro residente não estava ao par dele ou, simplesmente, quis poupa-los. "De contrário, não faria o que fez"55.
Com efeito, em face da petição que lhe chegou as mãos, o então ministro residente mandou chamar o rapaz. Eis o que diz Lutero Simango:
" Quatro ou cinco dias depois de ter recebido a minha petição, logo de manhã cedo mandou um jeep militar lá para casa do tio Francisco onde eu vivia, no bairro do Esturro. Foram lá 4 militares bem fardados e armados com AKM's. Os meus irmãos viviam no Bairro do Vaz com o tio Elijah. Como o jeep chegou antes das sete horas, ao tocarem a campainha quem abriu aporta foi o tio Francisco que se preparava para ir ao serviço. Ao deparar com dois homens armados, o velho entrou em pânico. Mas os homens acalmaram-no. Disseram-lhe que não havia problemas nenhuns. Perguntaram muito civilizadamente se era naquela casa onde vivia o filho de Uria Simango. O meu tio disse que sim mas quis saber o que se estava passando. Os homens insistiram que não havia problemas nenhuns. Tinham vindo a mando de sua excelência levar o senhor Lutero para ir ao gabinete do governo, porque sua excelência queria falar com ele. Eu ainda estava na cama. Acordaram-me. E como o velho nada sabia da carta que eu havia feito, ficou mais baralhado. Preparei-me então para seguir com aqueles homens. Os tipos até me deixaram matabichar. Estavam todos atentos aos meus gestos e sorridentes. Acho que nunca tinham visto de perto um filho de um reaccionário!... Achavam graça me vendo comer. Depois saí com eles direitinho para o gabinete do ministro residente. Só que quando lá chego, quem me recebe não é o ministro. Foi o chefe do gabinete. O homem foi muito gentil também. Estava todo sorridente. Começou por oferecer-me um café que recusei. Depois disse que o ministro recebeu a minha carta e pediu-lhe que conversasse comigo antes de estar frente a frente com ele num encontro que se previa para a semana seguinte. Disse que o governo sabia que nós estávamos passando algumas necessidades. Que o camarada ministro deu instruções para disponibilizar uma casa recheada de mobílias e uma viatura para nos os três, etc., etc. Estavam dispostos a disponibilizar-nos uma mesada e garantir as necessidades escolares. Eu deixei-lhe falar e depois disse-lhe: ok, diga ao camarada ministro que eu aceito que o governo tome conta de nós e nos dê mundos e fundos. Mas há uma condição: Que tudo isso esteja aliado a preocupação número um, visitar os nossos pais. Que nos fosse permitido, nem que uma vez de seis em seis meses, visitar nossos país. De contrário, nada feito.
Ele disse que ia encaminhar a preocupação ao ministro. Só que nunca mais me contactaram e eu também não insisti, porque quando regressei a casa os tios estavam em alvoroço. Coitado do tio, nem foi trabalhar nesse dia. A tia Mazwiona, então, estava mergulhada num charco de lágrimas. Só parou de soluçar quando me viu a entrar. Contei-lhes o que havia feito. Nesse dia levei um bom puxão de orelhas e avisaram-me de que nunca mais queriam ouvir falar disso. Foi daí que passei a saber que já houve tentativas de levar-nos para Niassa, e tudo fora água abaixo porque outros diziam que isso significava morte certa. Isso aconteceu entre 1977 e 1978. Como eu não soubesse nada disso, durante as férias escolares de 1981, se a memória não me engana, fiz então a petição, sem conhecimento dos tios. No ano seguinte vim para a Universidade em Maputo. Nunca mais se falou do assunto, porque os tios voltaram a avisar-me que em Maputo eu tinha a missão de estudar e nada de me meter em coisas que podiam dificultar os meus estudos. Penso que eles já desconfiavam que os nossos pais estavam mortos."56.
Bazuca saiu limpo do esquema por ele montado, mas não viveria por muito mais tempo. Nos meados de Janeiro de 1982, eclodiu no Centro de M'telela um problema de índole passional. Uma das filhas do comandante Mombola, já suficientemente donzela para atrair a gula dos homens, seria o centro de gravitação de dois amores: o de Manuel Mapfavisse (Bazuca) e o do jovem operador de rádio de comunicações do Centro. Enquanto Mapfavisse se esgrimia em presentear a rapariga de bugigangas que trazia de Lichinga onde constantemente se deslocava em missão de serviço e em visita a sua esposa que já nessa altura vivia naquela cidade, clandestinamente, a donzela correspondia ao amor do jovem operador de rádio, fazendo de Bazuca um bobo contente. Bazuca sabia que apesar das suas aliciantes ofertas, quem efectivamente tirava proveito da beldade da rapariga era o homem das telecomunicações que, para além de ainda jovem e com boas perspectivas de vir a casar com a rapariga, era, por outro lado, mais culto literariamente do que ele. Bazuca não encontrava formas de se desembaraçar do jovem apaixonado.
Um dia, a esposa do comandante, vê, na calada da noite, um vulto a sair da janela que dava acesso ao quarto da filha. Alarmada com a situação, informou de imediato o marido o que acabava de presenciar. Ferido no seu ego, o casal Mombola entende então pôr a filha na "prensa", para que dissesse quem havia saído pela janela naquela noite. A menina nega pelas "cinzas dos seus antepassados" ter visto alguém. O assunto não morreu por aí. No dia seguinte ao acontecimento, Mombola pôs em formatura todos os guardas que não estavam de serviço na noite anterior. Deles procura saber quem andava a saltar das janelas das meninas na calada na noite.
Enquanto aguardava pela resposta, confidenciou o sucedido à Bazuca, um que se encontrava a seu lado. Este, sem perca de tempo, sentenciou:
"É o Radista" - referindo-se ao jovem operador de rádio:
Havia muito tempo que Bazuca andava desconfiado dos movimentos do rapaz. O operador de rádio foi assim arrastado da formatura e de seguida, severamente punido. Tudo ficou por aí.
Entretanto, a simples punição que consistiu em fazer buracos de dois metros de profundidade e tornar a tapá-los durante quatro dias consecutivos não agradou a Bazuca. O "radista" tinha que sair do seu caminho.
Numa das suas habituais viagens à Lichinga, Bazuca forja um documento, com carimbo e tudo, onde se lia que o "radista" devia ser fuzilado, porque, segundo dados em poder da Contra Inteligência Militar em Lichinga, o rapaz passava informações ao inimigo. No seu regresso ao Centro, Bazuca exibe a Ordem de Serviço a Mombola. Dada a autenticidade do documento, ao comandante nada restou senão executar a medida. Para alegria de Manuel Mapfavisse, aliás, Bazuca, o jovem "radista" foi executado, deixando-lhe livre o caminho para a rapariga em disputa.
Passaram-se semanas até que o comandante se deslocou a Lichinga, desta feita sem ser acompanhado de Bazuca. O jovem operador de rádio, fora, entretanto, substituído por outro, o qual, perante os insistentes pedidos de colegas em Lichinga, não ousava informá-los por via da rede de telecomunicações os pormenores do que ocorrera com o jovem colega. A notícia da liquidação do "radista" chegou a Lichinga por vias não claras. Os operadores de rádio naquela cidade faziam notar ao novo operador de M'telela que o assunto já constava da agenda do chefe provincial da CIM. De facto, assim que Mombola chegou a capital provincial, o chefe da CIM quis ouvir do comandante do campo de M'telela o que se passara com o jovem operador das telecomunicações daquele Centro. Mombola, perplexo e boquiaberto, apercebe-se de que algo não batia certo, pois que a execução daquele rapaz fora a mando daquele mesmo homem que agora o questionava. Não fazia sentido que o chefe local da CIM quisesse saber de histórias passadas. Decide-se a contar tudo e informa que agiu de acordo com a Ordem de Serviço vinda do gabinete do próprio chefe do CIM.
Em face do que acabava de escutar, o chefe da CIM aconselhou Mombola a manter-se calmo. Deu ordens para que Bazuca fosse chamado à Lichinga com a maior urgência possível.
Uma vez em Lichinga, Bazuca comparece no gabinete do chefe da CIM. A princípio não se apercebe de que havia algo de errado. Desperta quando viu o seu Comandante, de semblante pesado, a entrar e tomar lugar no gabinete sob ordens do chefe da CIM. Confrontado com a célebre Ordem de Serviço, Bazuca nada soube explicar. É imediatamente preso e encaminhado para as celas do comando provincial da CIM em Lichinga. Depois de se confirmar que a Ordem de Serviços havia sido forjada, e que afinal, a história da fuga de Joana Simeão havia igualmente sido por si esquematizada, Bazuca viria a morrer enquanto se encontrava sob detenção em Lichinga, ao que se diz, vítima de um golpe de baioneta espetada por um outro prisioneiro. O golpe, desferido do lado inferior esquerdo do pescoço, provocou-lhe morte instantânea e um certo alívio entre alguns dos seus colegas em M'telela que já andavam cansados das peripécias de Bazuca58.
"A partir da morte de Bazuca começou a desvendar-se muita coisa em torno dos seus segredos e da forma como Simango e outros presos foram mortos. Mombola, apesar de na altura ser o comandante do Centro, era um homem calmo. Era apenas obediente às ordens de Lichinga e não queria problemas para ele. Bazuca não. Esse inventava ordens dele e até aldrabava Mombola. Alguns até ficaram felizes quando se soube que ficou preso em Lichinga. Quando chegou a notícia da sua morte, então é que se pulou de alegria porque era daqueles que punia a torto e a direita lá no Centro. Alguns guardas tinham cicatrizes provocadas pelas punições dele e sempre que se envolvesse em problemas pessoais com pessoas em Lichinga, arranjava forma de trazê-las como presos em M'telela para maltratá-las. Quem me conta a história dele é um dos guardas lá de M'telela, pouco tempo depois que nos chegou a notícia da sua morte"59.
Precavendo possíveis transtornos por parte da esposa de Bazuca que certamente não tardaria a procurar saber junto da CIM em Lichinga das causas do silêncio do marido, e dado que esta não possuía filhos ou familiares próximos naquela cidade que pudessem reclamar o seu desaparecimento, a chefia da CIM entendeu "por bem" encaminhá-la à M'telela para visitar o marido "que estava passando alguns problemas de saúde!..."60. A senhora havia sido colocada na mesma palhota onde viviam Celina Simango e Lúcia Tangane. Foi executada no mesmo dia com estas duas.
Os responsáveis? Todos sabemos os nomes.
Mas que ligará M'telela a Wiriamu?
Vejemos o que escreve, em 1977, Inácio de Passos, residente em Tete, no seu livro "Moçambique a escalada do terror":
Um outro elemento da minha confiança — comandante de talabarte da Frelimo — era também meu confidente. Por ele tinha conhecimento dos resultados do trabalho de limpeza ao cérebro de que o Presidente Samora Machel estava a ser cobaia pelo grupo marxista do Partido, resultados que eram palpáveis nos seus discursos e nas suas atitudes. Esse comandante, que para sua segurança não divulgo o nome, alarmava-se de dia para dia com o procedimento dos dirigentes da Frelimo.
Como o comandante Machava, não representava nenhuma corrente política e ainda possuía em comum com ele o desejo de preservar a ordem social e barrar a evolução de Moçambique para o liberalismo e para a anarquia. Tanto um como outro declinavam a ocupação de papéis de executantes da verdadeira justiça que ambicionavam para Moçambique, e aguardavam com ansiedade o momento que lhes proporcionasse, como em 1964, colocaram-se inteiramente ao dispor do seu país, integrando-se sob o verdadeiro mando do povo.
Com ele falei sobre a Fumo. Com ele discuti, e nem sempre estávamos de acordo, sobre a Rádio África Livre. De tudo quanto lhe contava guardava segredo, pois sabia que o seu silêncio não era traição ao seu povo, pois traição às massas e ao Partido era o procedimento e as ideias dos actuais dirigentes. Mas também por ele tomei conhecimento de factos que sei que até hoje não foram por ninguém revelados.
Quem dirigiu os militares portugueses a Wiriamu, ao «massacre» que serviu de ponta de lança à propaganda anti-portuguesa, encetada com sucesso pelo padre Hastings?
Quem os guiou num pequeno «Volks Wagen», protegido por aperradas armas até ao acesso da picada e os acompanhou até ao local?
Quem assassinou, após o 25 de Abril, o seu serviçal, conhecedor do seu segredo, para que a sua criminosa atitude não fosse divulgada aos dirigentes da Frelimo?
O seu nome é Raul Frechaud Fernandes, primo carnal de Sérgio Vieira, um dos homens que dirige e automatiza Samora Moisés Machel.
— Mas a Frelimo não sabe isso? — interroguei-o.
— Eu próprio informei o comandante José Moiane e ele como comandante provincial não procedeu. O velho afirmou que atitudes antigas eram para esquecer. Eu creio que ele não quer tocar na família de Sérgio Vieira... — respondeu-me.
Raul Frechaud Fernandes, mestiço asiático, é dirigente do Departamento Distrital da Frelimo de Informação e Propaganda. Mas apenas ocupa esse cargo após a Independência. Possuía uma pequena cantina comercial de onde o povo de Wiriamu se abastecia. Desse povo veio a adquirir os meios de fortuna que hoje possui, pois lhe furtava o gado que vendia a militares portugueses em candonga.
Colaborou no assassinato do povo moçambicano que mais intimamente lhe esteve ligado mas hoje é um dos dirigentes do Partido. O povo, porém, sabe que os seus inimigos de ontem são os de hoje. São seus inimigos desde que as teorias e as atitudes do dr. Eduardo Mondlane foram silenciadas pelo deflagrar de um livro armadilhado.
Povo de Moçambique, acorda!
Fernando Gil

02-10-2004

Reconstrução da História de Moçambique

PUBLICO -02 de Outubro de 2004
Jorge Heitor
A trajectória política de um missionário presbiteriano que foi vice-presidente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e depois acabou por ser fuzilado durante os primeiros cinco anos após a proclamação da independência do país é traçada por Barnabé Lucas Ncomo no livro "Uria Simango - Um homem, uma causa", recentemente editado em Maputo, onde tem provocado grande polémica.
Numa altura em que um dos filhos de Uria, Deviz, assume a presidência do município da Beira, a segunda cidade do país, eleito nas listas da Resistência Nacional (Renamo), principal força da oposição, os moçambicanos tratam de reconstruir a sua História recente, a destes últimos 50 anos, desde que alguns indivíduos começaram a pensar numa luta de libertação nacional, contra a colonização portuguesa.
A base fundamental do trabalho de Ncomo é a correlação de forças que se verificou durante a primeira dúzia de anos da existência da Frelimo, dominada pelas figuras de Eduardo Mondlane, de Uria Simango e de Marcelino dos Santos, este último ainda vivo, se bem que relegado agora para um papel de referência histórica.
A análise do xadrez político moçambicano nas décadas de 60 e 70 interessa sobretudo a todos aqueles que sempre gostaram de acompanhar o processo de emancipação das antigas colónias e para os quais não são de forma alguma desconhecidos os nomes de Amílcar Cabral, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade e Aquino de Bragança.
Uria Timóteo Simango acabou por ser morto com a conivência de alguns dos seus antigos companheiros de jornada, acusado de reaccionário e de traidor à causa que todos unira, mas o biógrafo procura agora reabilitá-lo, no sentido de se rectificar a História oficial que em Moçambique foi contada durante este último quarto de século.
O reverendo era um homem da província de Sofala, no centro do país, tal como Afonso Dhlakhama, o actual chefe da Renamo, de modo que entrou facilmente em conflito com a elite sulista, designadamente da província de Gaza, que em 1969 ou em 1975, para já não dizer mais tarde, se assenhoreara da Frelimo, transformando-a num movimento que não tinha igual implantação em todo o território nacional.
Ou, dito de outra maneira, a clique meridional é que o teria isolado e votado ao ostracismo, nas lutas internas que tantas vezes ocorrem nos movimentos políticos e que chegam a ter consequências trágicas. São os meandros sujos da política, que nem sempre é feita com dignidade; e que nesta altura está uma vez mais bastante viva em Moçambique, quando se aproximam as presidenciais e as legislativas de Dezembro.

26-09-2004

Alberto Chipande conta como foi o ataque ao Chai

No link abaixo poderá ouvir Alberto Chipande a descrever o ataque ao Chai, em 25 de Setembro de 1964

24-09-2004

ESPECIAL – 25 de Setembro 1964

DIALOGANDO
por João CRAVEIRINHA
joaocraveirinha@yahoo.com.br
A Propósito de Chai ou Onda de Ressentimento Colonial?
Much Ado About Nothing – Tanto Tumulto por Nada (peça de William Shakespeare, Poeta e dramaturgo inglês – 1564/1616)
Ultimamente em Moçambique e em certos meios portugueses em Portugal (obviamente) e no mundo, tem surgido o questionar da veracidade do início da luta armada de Libertação Nacional em 25
Setembro 1964 como que a retirar toda a legitimidade Histórica da efeméride. A questão nos moldes em que tem sido abordada torna-se perigosa em termos de identidade nacional sobretudo para as
gerações das crianças moçambicanas futuros adultos da Nação.
Todos sabem que os americanos apoiaram o colonialismo português dentro da perspectiva do combate ao dito “terrorismo” africano. Por tal se torna insuspeita qualquer análise militar americana quando esta confirma o ataque a CHAI. As Forças Armadas americanas através da sua espionagem militar estavam informadas pelo próprio exército português do que se passava no terreno…” Atentamente a D.I.A – Defense Intelligence Agency – a contra inteligência militar norte – americana (e o G.R.U – contra inteligência militar soviética dos russos) …acompanhavam os movimentos de libertação africanos devido à movimentação de armamento de guerra para Tanzânia e Zâmbia. São as ligações perigosas dos tempos da guerra-fria (quente)!”…in DOSSIER (5) TOUPEIRAS NA FRELIMO; A PIDE, A CIA, O MI 6, O KGB – crónica publicada em 2003/2004, de autoria de João Craveirinha.
No texto de hoje temos uma fonte insuspeita de um analista militar – o Major Lance S. Young da USAF (Força Aérea norte - americana) no seu estudo “Mozambique's Sixteen-Year Bloody Civil War - CSC 1991”-, Os Dezasseis Anos da Sangrenta Guerra Civil de Moçambique (em inglês americano): …”On 25 September 1964, FRELIMO solders, with logistical assistance from the surrounding population, attacked the administrative post at Chai in Cabo Delgado Province. This raid marked the beginning of the armed struggle against the colonial regime. FRELIMO militants were able to evade pursuit and surveillance by employing classic guerrilla tactics: ambushing patrols, sabotaging communication”… (5:84)”… - AUTHOR Major Lance S. Young, USAF - CSC 1991, (link)…
…http://www.globalsecurity.org/military/library/report/1991/YLS.htm
Tradução livre: (Em 25 Setembro 1964, soldados da FRELIMO, com assistência logística da população vizinha, atacaram o posto administrativo de Chai na Província de Cabo Delgado. O ataque marcou o início da luta armada contra o regime colonial. Os militantes da FRELIMO foram capazes de levar a cabo acções de reconhecimento, perseguição, evasão, empregando tácticas de guerrilha clássica: emboscando patrulhas, sabotando comunicações)
… Mais adiante: …” and making hit-and-run attacks against colonial outposts before rapidly fading into accessible backwater areas”... (e efectuando ataques de bate-foge contra os postos avançados coloniais e rapidamente desaparecendo por entre as terras acessíveis em água) … Mais adiante o “military report” enfatiza que: -
…”At the war's outset, FRELIMO had little hope for a military victory; its hope lay in a war of attrition to compel a negotiated independence from Lisbon. The goal of FRELIMO was to make the war so costly that eventually Portugal would withdrawl, a goal made difficult by loans from the United States and West Germany and arms from NATO to Portugal.(4: 187)”…
Tradução: (No princípio da guerra, A FRELIMO tinha pouca esperança numa vitória militar; a sua esperança residia numa guerra de desgaste compelindo Lisboa a negociações para a independência.
O objectivo da FRELIMO era o de tornar a guerra tão dispendiosa forçando eventualmente Portugal a retirar-se, um objectivo difícil de atingir devido aos empréstimos [financeiros] dos Estados Unidos e da
Alemanha [Federal] e em armas através da OTAN a Portugal). O relatório realça o facto de apesar de não ter havido derrota militar, os custos muito elevados financeiros e em vidas, custaria a guerra a
Lisboa. …” But the expense in blood and treasure, notmilitary defeat, cost Lisbon the war; its army was never destroyed on the battlefield, although some of its officers were converted to FRELIMO's revolutionary social goals for Portugal.(4:187&188)”…e termina afirmando que o exército [português] nunca foi derrotado no terreno, no entanto, alguns de seus oficiais convertem os objectivos da revolução social da FRELIMO para Portugal”...(fim de tradução).
Num “saite” foi encontrado este texto proveniente de um ex – soldado colonial indígena de Portugal, utilizando o pseudónimo de Salimo… (refere-se a artigo na Internet que questiona a versão oficial do 25 Setembro 1964 em CHAI e do relatório do ARPAC) … Excertos sem correcção do português …”Alô malta. Este artigo é oportuníssimo. A mim não me surpreende nada, absolutamente nada. Aliás, não surpreende a ninguém, sobretudo a quem esteve a prestar serviço militar nas zonas de guerra ou guerrilha, como lhe queiram chamar.
Por acaso estive na zona de Macomia, Salima, Muaguide, etc., etc., junto à Serra Mapé, quando fui militar. Fui operacional e sei do que falo, fazia em média 3 operações por mês e várias picagens
(detectação de minas) por mês. (Por pura coincidência, no próximo dia 04 vai haver, em Évora, [Portugal] um encontro dos militares que estiveram em Muaguide). A Frelimo, militarmente, não era grande coisa, não fossem as minas (....) A Frelimo, militarmente, tendo em conta os apoios dos Russos e Chineses (incluindo homens e mulheres no território) e a boa qualidade deequipamento militar que possuía, além de conhecerem muitíssimo melhor o "terreno que pisavam" e da habituação do clima, tinha por obrigação de ter feito
muito mais do que fez. A meu ver, respeitando opinião contrária, a Frelimo como força militar era umZERO. Não havia militar que se aproveitasse, a começar pelos generais da Frelimo e a acabar nos
guerrilheiros. Se em 1964no tal ataque que a Frelimo diz ter morto "meio-mundo" e que afinal, segundo o relato de quem lá esteve, mesmo que com a idade de 8 anos, não morreu ninguém e que só houve uma rajada e a fuga, … Salimo” (?!)… (Tanto disparate! SEM
COMENTÁRIOS! FIM).
VERTICAL-24.09.2004

23-09-2004

Será que a verdade do 25 de Setembro de 1964 será reconhecida em 2004?

Independentemente do valor simbólico da data – 25 de Setembro de 1964 – será que Alberto Chipande repetirá neste ano de 2004 o que escreveu no seu relatório:
O polícia veio e estacionou à porta da casa do chefe de posto, sentado numa cadeira. Era branco. Eu aproximei-me do polícia para o atacar. O meu tiro era o sinal para os outros camaradas atacarem. O ataque teve lugar às 21 horas. Quando ouviu os tiros, o chefe de posto abriu a porta e saiu — foi morto por um tiro. Para além dele seis outros portugueses foram mortos no primeiro ataque. A explicação dada pelas autoridades portuguesas foi «morte por acidente». Retirámos. No dia seguinte fomos perseguidos por algumas tropas — mas nesse momento já estávamos longe e não nos encontraram (').
(1) Mondlane, Eduardo, The struggle for Mozambique, p.15"
Ou será que repetirá o que em 2003 afirmou à BBC inglesa:
Alberto Chipande, hoje general na reserva, foi o autor do disparo que marcou o início da luta pela independência.

CHIPANDE: ... o primeiro grupo que entrou em Cabo Delgado, 1964, para iniciar a luta na província de Cabo Delgado.

Ao mesmo tempo, foi o meu grupo que tinha essa missão de ir atacar Porto Amélia, mas como as condições não foram favoráveis, calhou que no dia 25 de Setembro eu fizesse o combate em Chai. Eu fui o comandante. Precisamente pelas 20 horas do dia 25 de Setembro de 1964.

BBC: General, quantos elementos faziam parte do seu grupo?

CHIPANDE: Nesse dia, quando atacámos, nós éramos um grupo de 12 pessoas que atacámos o Posto de Chai.

BBC: Estão todos vivos?

CHIPANDE: Alguns estão vivos e alguns já faleceram durante o tempo da luta armada e outros após a independência.

BBC: Depois de terem atacado o Posto de Chai, como é que foi a retirada? O que é que aconteceu depois?

CHIPANDE: Quando eu disparei o primeiro tiro que atingiu ao sentinela que estava ali atrás, que guarnecia a casa do chefe do posto, os meus colegas, um dos meus colegas abriu fogo directamente para o chefe de posto que caiu logo em frente. E começámos então o ataque. Depois do ataque, que durou aproximadamente uns minutos, eu dei o sinal de recuo e todos recuámos. Não perdemos nenhum do nosso lado, nem ferido, e ao mesmo tempo não perdemos nenhum material.
Ou será que seguirá o que a comissão da ARPAC “descobriu”:
Ensina-nos a História da Frelimo que no desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional, na noite do dia 25 de Setembro de 1964, foram mortas, pelo menos, duas pessoas, nomeadamente o Chefe do Posto Administrativo Colonial de Chai e o sentinela que guarnecia a residência do Chefe do Posto.
Alberto Joaquim Chipande, o autor do primeiro tiro dado no Chai naquela noite, tem vindo a afirmar e a reafirmar o que os livros da Frelimo ensinam sobre as consequências do primeiro tiro rumo à libertação.
Porém, hoje, quarenta anos depois, tudo indica que essa história do primeiro tiro não está lá muito bem contada, ou, pelo menos, não parece haver consenso sobre as consequências desse primeiro tiro, a julgar pela recente pesquisa levada a cabo pelo ARPAC (Arquivo de Património Cultural), instituição do Estado subordinada ao Ministério da Cultura.
De acordo com essa pesquisa, baseada em 35 entrevistas a pessoas “idosas e nativas de Chai” durante o ataque dos guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique “nenhuma pessoa foi morta”.
“Uma semana depois do ataque, houve sim, uma morte. Tratou-se do cunhado do Chefe do Posto que, quando regressava do rio Messalo à busca de água de viatura, caiu numa emboscada” , refere o documento do ARPAC citado pela última edição do jornal “Horizonte”publicado na cidade de Pemba.
Em relação a esta morte posso acrescentar e esclarecer:
O Chefe do Posto à data do ataque chamava-se Felgueiras e estava com a família lá. Na hora do ataque não estava no posto pois tinha ido ao Messalo com 2 polícias e varios cipais. Só ficou no posto um polícia branco e vários cipais. Também lá moravam funcionários do posto, o Pinheiro e o Brandão, mais a família Alves. O enfermeiro chamava-se Tivane. O Cozinheiro era o Amade.
O Felgueiras pediu ao Governador para sair e foi temporariamente substituí-lo o Dias de Macomia. Talvez uma semana depois foi o Fonseca lá colocado que levou a mulher. Vindo de Portugal estava com eles o cunhado deste que foi quem, não uma semana, mas cerca de 3 semanas depois, foi morto quando passava junto ao Rio Messalo vindo do Monte Oliveiras. Vinham 3 pessoas no Jeep e ele ia no meio. As outras duas nada apanharam e ele levou um tiro entre os olhos, vindo a falecer já depois de evacuado.
Assim não foi o cunhado do Chefe do Posto da altura que foi morto, mas o cunhado do que o veio substituir.
Fernando Gil
Nota: Visite http://www.macua.org/chai25092003.htm

16-09-2004

Aproxima-se o 25 de Setembro

Para recordar o que em 2003 foi escrito sobre este assunto, convido-vos a visitar
na sequência da notícia publicada em

15-09-2004

Parece que finalmente em Moçambique alguém reconhece ninguém ter morrido no ataque ao CHAI

Chai2p
Chai1p
ZAMBEZE - 09.09.2004
Salomão Moyana
Ensina-nos a História da Frelimo que no desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional, na noite do dia 25 de Setembro de 1964, foram mortas, pelo menos, duas pessoas, nomeadamente o Chefe do Posto Administrativo Colonial de Chai e o sentinela que guarnecia a residência do Chefe do Posto.
Alberto Joaquim Chipande, o autor do primeiro tiro dado no Chai naquela noite, tem vindo a afirmar e a reafirmar o que os livros da Frelimo ensinam sobre as consequências do primeiro tiro rumo à libertação.
Porém, hoje, quarenta anos depois, tudo indica que essa história do primeiro tiro não está lá muito bem contada, ou, pelo menos, não parece haver consenso sobre as consequências desse primeiro tiro, a julgar pela recente pesquisa levada a cabo pelo ARPAC (Arquivo de Património Cultural), instituição do Estado subordinada ao Ministério da Cultura.
De acordo com essa pesquisa, baseada em 35 entrevistas a pessoas “idosas e nativas de Chai” durante o ataque dos guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique “nenhuma pessoa foi morta”.
“Uma semana depois do ataque, houve sim, uma morte. Tratou-se do cunhado do Chefe do Posto que, quando regressava do rio Messalo à busca de água de viatura, caiu numa emboscada” , refere o documento do ARPAC citado pela última edição do jornal “Horizonte”publicado na cidade de Pemba.
Quando esse relatório do ARPAC foi apresentado num seminário em Pemba, no passado dia 31 de Agosto, a reacção de alguns antigos combatentes foi de previsível fúria: “É uma grave ofensa histórica afirmar que no ataque de Chai ninguém morreu no dia 25 de Setembro de 1964. Esse relatório é medíocre e superficial pintado com aparentes cores políticas contemporâneas tendentes a deturpar a verdadeira história do povo moçambicano”.
Dentre as 35 pessoas entrevistadas pelo ARPAC figura o então cozinheiro do Chefe do Posto de Chai, identificado pelo único nome de Amade, o qual afirmou, igualmente, que o seu patrão não morreu naquele ataque.
Independentemente das lacunas que possa ter, a pesquisa do ARPAC tem o mérito de indagar uma “verdade absoluta”, um tabú da nossa História. Ao trazer à ribalta novos dados que questionam a história oficial, o ARPAC está a iniciar uma longa e penosa jornada ao passado recente, acto esse capaz de levar os moçambicanos mais corajosos a fazer outras e mais profundas indagações sobre muitas inverdades históricas tidas como “verdades absolutas”.
É oportuno que as revelações do ARPAC vieram num período em que se procura reflectir sobre os últimos quarenta anos da nossa História, oportunidade que os cientistas sociais moçambicanos deveriam aproveitar para vasculhar os arquivos coloniais a fim de constatar se no dia 25 de Sdetembro de 1964 teria morrido no Chai o respectivo chefe do Posto. Pensamos que se trata de uma verdade fácil de constatar, uma vez que os portugueses registavam os óbitos dos seus funcionários públicos.
O que não podemos aceitar é passarmos a vida a ensinar factos duvidosos aos nossos filhos para, quarenta anos depois, dizermos que “parece que as coisas não são bem assim”.
Isso é uma pesada responsabilidade académica mas também política de quem, deliberadamente, conta uma “História conveniente” só para aumentar a sua alegada heroicidade.
Factos são factos e não devem ser ficcionados. Factos devem ser recolhidos e contados como factos. Uma coisa é factos, outra coisa é a sua interpretação. Não se deve dizer que alguém morreu quando está vivo. Nem se deve dizer que está vivo quem morreu.
Contar a verdade dos factos não diminui a heroicidade nem mérito de quem fez a luta de libertação nacional. Antes pelo contrário, a verdade engrandece o mérito e a heroicidade dos combatentes.
Por outro lado, devemos saber reagir a novos dados históricos. Não devemos ter, sempre, uma atitude corporativa e clubista de que quem conta uma versão diferente é porque “visa deturpar a história do povo moçambicano”, como se tal História fosse um conjunto de dogmas imutáveis. A História, seja ela do povo moçambicano ou do povo chinês, é uma construção social permanente e nunca uma coisa acabada e fechada, propriedade de um clube dos bem entendidos. A História é propriedade do povo e é o povo que está a dizer que no Chai não morreu ninguém no dia 25 de Setembro de 1964, o que põe em causa a versão “conveniente” que foi difundida ao longo dos últimos quarenta anos.
Qual é o papel e a função daqueles doutores em História que estão no Ministério dos Antigos Combatentes? Arranjar argumentos “científicos”para validar convicções individuais de cada dirigente que conta a “sua história de libertação nacional”? Ou questionar, analisar criticamente e sistematizar os dados históricos factuais sobre o processo de libertação nacional?
Já o livro sobre Uria Simango, baseado em entrevistas de alguns combatentes ainda vivos, constitui uma dura bofetada na cara dos nossos historiadores da libertação nacional, os quais antes deste livro nunca disseram que Uria Simango não foi aquilo que se dizia que tinha sido.
Acreditamos que os novos dados sobre o Chai venham a catalizar um necessário debate público com vista a encontrarmos a verdade sobre a nossa História. Isso é tão necessário quanto urgente para que da longa desinformação passemos à informação correcta aos cidadãos a fim de os capacitar a participar conscientemente no processo público de tomada de decisões.
Esse é o objectivo supremo do sistema democrático!
Nota: Fotos tiradas pelo responsável deste blog, durante um "banja" algum tempo depois do ataque.

08-09-2004

DESCOBRIMENTO E COLONIZAÇÃO *

VERTICAL - 08.09.2004
A opinião de: Armando Chingore
Segundo ensinamentos dos colonizadores portugueses nas escolas primárias, nós, moçambicanos, fomos descobertos por Vasco da Gama nos finais do século XV. O aspecto que cada um de nós tem e terá de considerar nesta afirmação é a palavra "descobertos", empregada pela maior parte dos historiadores europeus e euro-americanos, que merece várias discussões entre os historiadores do Terceiro Mundo, particularmente, africanos. Eles não a utilizam em relação a si próprios, em relação a sua história, por se tratar de elementos humanos.
Qual seria, por exemplo, a reação do alemão se nós reescrevêssemos que ele foi descoberto pelo italiano ou pelo turco, ou que o holandês foi descoberto pelo espanhol? A palavra "descoberto" é utilizada pelos mesmos historiadores nas ciências naturais em relação a coisas e não a pessoas, o mais correcto. Diz-se descobrir uma fórmula, descobrir um continente; quando se trata de seres humanos, de um povo e de uma civilização, a palavra apropriada seria "encontrar".
Quando se anda na rua, com ou sem destino certo, não se descobre uma pessoa, embora ela nunca tenha sido vista anteriormente. Ela encontra-se ou conhece-se. Utilizam a palavra "descoberta" intencionalmente querendo negar a história e com ela a civilização e inteligência a estes povos ditos "descobertos"! Nós, os moçambicanos, do mesmo modo que os angolanos, os guineus, cabo-verdianos, são-tomenses, todos os povos de África e do Terceiro Mundo, não fomos descobertos, e se não fomos, foi porque somos parte da inteligência, porque temos história e, consequentemente, formamos civilizações. Foi esta atitude dos colonizadores que, negando a existência de história e civilização dos povos oprimidos, tentaram e tentam no oposto apresentando-nos como desprovidos de "inteliegência", história e civilização.
Tentaram e tentam monopolizar todos esses elementos e factores comuns a todos os seres humanos, implantando a divisa de o ser "branco" é sinónimo de ter história, ser inteligente, ter cultura e civilização, com o fim de nos subjugarem. No nosso país, historiadores, políticos, intelectuais, comentadores e singulares formulam as suas opiniões. Historicamente é o que toda a gente sabe. A ocupação colonial não foi pacífica. É um facto. Também a descolonização não está a ser pacífica, muito menos fácil. As consequências deste "complot" organizado são várias e muito mais graves do que cada um de nós pensou até hoje. Uma das consequências imediatas tem a ver, a cima de tudo, com a ameaça que rodeia a existência da nossa identidade africana.
Falar de identidade africana em Moçambique, em Angola, em Guiné, em Cabo Verde, em São Tomé ou qualquer outra parte do continente africano, não é mais do que falar da sua língua, não se pretendendo unicamente frisar o conjunto de sons, mas também a sua cultura, as suas instituições políticas e sociais, a sua religião, magia e tudo o que esteve e está ligado à maneira de viver dos nossos antepassados.
A maneira de garantir a sua existência poderemos encontrá-la na nossa história, desde que os nossos povos tiveram que se opôr e lutar contra a infiltração religiosa, militar, económica e cultural dos colonialistas. Esta resistência encontra-se personificada hoje em dia, na luta do povo africano, em volta de governos revolucionários e da União Africana com que sonham os grandes líderes e os melhores filhos de África, tais como: Patríce Lumumba, Kwame Nkrumah, Eduardo Mondlane, Amilcar Cabral, Samora Machel, Julius Nyerere, Seretze Kama, Sédar Senghor, Gamal Nasser, Kenneth Kaunda, Nelson Mandela, etc.. Outra consequência é terem conseguido influenciar um grupo de africanos a seu favor. Por isso, muitos africanos pensam que sem os nacionalistas a África vai desaparecer e com ela os africanos. Na verdade, não é a África e os africanos mas sim os colonialistas e a sua cultura. Porque com a civilização europeia, muitos africanos passaram a ter os pés em África e a cabeça na Europa e America. Estudantes que se vão formar e nunca regressam, alegadamente, por falta de condições, magros salários, etc.. Esquecendo-se que quando os colonialistas chegaram, pela primeira vez, a Sofala, foram bem recebidos pelo povo e pela autoridade local que lhes permitiu a fixação numa feitoria. Sem falar de Inhambane que ficou conhecida como "Terra de Boa Gente". O que contrasta com que muitos defendam que a religião dos europeus é a única defensora e detentora da moralidade em África. Servindo-se do método psicológico da igreja aterrorizava e aterroriza o povo inculto com o inferno, o demónio, e outros "papões" por elas inventados, para afastá-los das suas crenças, tradições culturais e outras manifestações. Hoje, assistimos igrejas que proibem os seus crentes a recorrerem à medicina tradicional, em caso de doença, considerando-a como práticas do diabo ou demónio. Outras ainda, proíbem aos seus crentes em receber assistência médica, transfusão de sangue, etc.. Este é o poder moral que herdamos dos colonialistas.
A civilização de Mwenemutapa atingiu o período mais elevado do seu desenvolovimento entre os séculos XIV e XV, mesma altura em que os portugues chegaram a Moçambique.
Economicamente o reino vivia, predominamente, de agricultura, até hoje, que os nossos jovens não querem abraçar influenciados pelas perícias da globalização. Variados cereais, frutas, vegetais e criação de gado, aves domésticas e uma pequena indústria caseira. Paralela a esta, existia a indústria e comércio mais desenvolvidos, a extracção mineira, o trabalalho do metal, tais como: o cobre, o ouro, a prata e bronze, detinados ao fabrico de instrumentos utilizados na lavoura, uso caseiro e ourivesaria. Também existia uma indústria de cordoaria e fabrico de tecidos de algodão, curtimento de peles.
A caça era e continua a ser uma outra fonte de riqueza, fornecimento de carne, obtenção de pele e marfim. O marfim, o cobre e outros metais preciosos destinavam-se em grande parte à exportação. Os moçambicanos já tinham contacto com outros povos e culturas. Os colonialistas destruíram tudo o que os africanos construíram, em particular, moçambicanos ao longo da sua existência. Desde as relações comerciais estabelecidas pelos árabes, de igual para igual, que as grandes potências teimam em não aceitar. Na área das construções, as murralhas do Zimbábwè mostram o alto nível tecnológico que os colonialistas encontraram. A presença europeia fechou o frutífero comércio com o oriente e verificou-se, então, a consequente decadência económica. Fomos obrigados a enterrar algumas minas de ouro, ao nos apercebermos da cobiça desenfreada que o ouro despertava nos europeus, o que significou um retrocesso no desenvolvimento do país, do continente e da região austral, em particular. Com a proclamação da Independência Nacional e a fuga precipitada dos colonialistas, provámos mais uma vez que ainda mantemos os conhecimentos suficientes de desenvolver o nosso país sem necessidade de intervenção externa.
A imoralidade que assola o nosso país e o continente não se deve ao curto espaço que as igrejas ficaram inactivas em Moçambique. A imoralidade existe na população, há séculos foi destruída por aqueles que distribuem armas às crianças, transformando-nas em crianças soldados, sentido-se superiores perante seus pais, tios, avós, até matá-los quando lhes apetece.
Mesmo as igrejas não escaparam a esta destruição. As independências políticas dos países do Terceiro Mundo e africanos em particular, são um passo para a reconquista da sua identidade. A perpetuação é o único factor que, baseando-se na luta e na libertação do jugo colonial, tem de ser visto mais em função do futuro. Neste caso, dependerá da consciencialização das massas, da unidade na luta e do esforço de cada um de nós em querer, torná-la imortal. Não será somente dependente de um governo só, de um partido, mas, acima de tudo, da participação de cada um de nós, para esta causa primordial e comum. A igreja contribui muito para a perpetuação da pobreza, em países do Terceiro Mundo, em particular, ao difundir "Bem aventurados aos pobres porque deles é o reino dos Céus". Enquanto os europeus acumulavam riquezas e continuam a melhorar condições de suas vidas, o africano é ensinado que está neste planeta de passagem, que não se preocupe com a vida material, o importante é alcançar o reino de Deus, onde os ricos não entram! Será que toda a Europa vai para o inferno? Porque o número de pobres é muito menor em relação aos ricos que não podem entrar no céu. Aliás, já o primeiro Presidente do Kenya, Jomo Kenyatta, que nunca foi simpatizante do comunismo dizia: "Quando os brancos chegaram à África, nós tinhamos a terra e eles traziam a Bíblia, hoje nós temos a Bíblia e eles ficaram com a terra". A África nunca foi pobre, mas sim foi empobrecida e vai continuar por muito tempo, pois a democratização e a globalização não estão prontas a vestir como muito de nós pensamos, trazem consigo muita coisa oculta!
* Título da responsabilidade do "vt"

7 Setembro 1974 – como tudo começou

CORREIO DA MANHÃ (Maputo) - 08.09.2004
TRIBUNA
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: craveirinhajoao@mail. pt
… 1- Quem são os Dragões da Morte de Moçambique? Somos uma organização clandestina de todas as raças e credos, naturais de Moçambique (…) e temos o fim de pôr termo às guerrilhas (…) e pôr termo às conversações com a FRELIMO, nem que tenhamos que começar a fazer TERRORISMO URBANO, para fazer calar os inconscientes que dão vivas à FRELIMO…(in Boletim Informativo nº1 dos Dragões da Morte de 13 Agosto 1974, Lourenço Marques).
Introdução:
O bem sucedido golpe militar do 25 de Abril de 1974, em Portugal, surpreenderia tudo e todos em
Moçambique quer a portugueses quer a moçambicanos ainda não conscientes dos ventos de mudança em África. Muita gente daria uma reviravolta de 360º pretensamente se assumindo como frelimista. Desse período, Abril a Setembro, em Moçambique ainda ocupado pela administração portuguesa, surgiriam em frenesim várias facções de grupos políticos perfilando-se para uma (utópica) PARTILHA do PODER com a FRELIMO, único interlocutor privilegiado no Diálogo com PORTUGAL pós 25 de Abril 1974. Antigos fundadores da FRELIMO e dissidentes, como o reverendo Uria Simango, Paulo Gomane e outros regressam a Moçambique instalando-se na Beira e Lourenço Marques.
Em meados de Maio para Julho 1974 o Dr. Almeida Santos chega de Lisboa em nome do Governo português. Nessa altura teria prevenido o seu amigo António Vaz (antigo director da PIDE /DGS até 1972) para sair de Moçambique o mais depressa possível visto a iminência de eventual prisão. O amigo comum, o Engº Morgado, daria o recado a António Vaz na Companhia de Cimentos onde era director, possibilitando assim a sua fuga via África do Sul depois de contacto com a polícia boer sul-africana. Em 1968/69 o
inspector goês Casimiro Monteiro (da PIDE) teria preparado a morte do Dr. Eduardo Mondlane.
Por essa altura Antº Vaz era director da PIDE/DGS, na “Vila Algarve”, em Lourenço Marques.
A Rebelião branca
Segundo ainda relatos, ao fim da tarde de sexta-feira, 6 de Setembro 1974, na baixa da cidade de Lourenço Marques, avenida da República hoje 25 de Setembro, circularia uma carrinha levantando bem alto a bandeira da FRELIMO em contra – partida arrastando toda esfarrapada a bandeira portuguesa pelo alcatrão da estrada. Transeuntes brancos ao assistirem esta cena revoltam-se perseguindo a carrinha destruindo esta e seus ocupantes rasgando em tiras a bandeira da FRELIMO erguendo triunfalmente num pau a bandeira portuguesa. De pronto a palavra de ordem circula como um rastilho e a comunidade europeia concentra-se na baixa buzinando os automóveis em caravana cantando o Hino de Portugal e espalhando-se por toda a Lourenço Marques. Contra a corrente, três carros com estudantes universitários brancos, sobretudo, surgem do nada na baixa, em provocação, exibindo cartazes com a foto de Samora Machel. Acusados de traidores, de imediato seriam perseguidos pela turba exaltada refugiando – se no jornal Notícias e Tribuna na rua Joaquim Lapa. As viaturas dos estudantes seriam destruídas e apedrejados os vidros e portas das instalações do edifício dos jornais onde se refugiaram e arremessadas granadas de
mão para a entrada. Como um rastilho a onda de “fervor” patriótico português anti – independência
e anti pretos terroristas da Frelimo cresce por toda a cidade branca. Entre outros, os alvos são
a Associação Académica, o RCM – Rádio Clube hoje RM. A caravana de automóveis em protesto dirige-se à Ponta Vermelha no Governo-geral onde quase uma centena de viaturas encontra-se bloqueada por jipes da Polícia de Choque da PSP chefiada pelo coronel Cunha Tavares. Reina enorme agitação na cidade e subúrbios. Ninguém consegue dormir. Sábado à tarde, 7 de Setembro, a bandeira da Frelimo hasteada na RCM é retirada e substituída pela bandeira portuguesa. A Rádio é tomada pelos revoltosos brancos. Aos microfones da RCM, Gomes dos Santos do grupo colonial FICO apela à adesão dos “BONS CHEFES
NEGROS”. Os DRAGÕES da MORTE dos irmãos Mesquitelas da Matola (filhos do deputado português Dr. Gonçalo Mesquitela) organizam a resistência armada anti – FRELIMO.
MAFALALA
Durante o período das conversações em Zâmbia, multiplicavam-se os comícios no Estádio Salazar (Machava). Sábado, 7 de Setembro em “Lussaca” a FRELIMO e PORTUGAL chegam a um Acordo para uma Transição de Moçambique à Independência a 25 de Junho de 1975. O bairro da Mafalala surge toda decorada com bandeiras da FRELIMO. Os boatos circulam de que há guerrilheiros da FRELIMO no bairro. Crê-se que os Dragões da Morte organizam os ataques aos subúrbios. Na MAFALALA a residência de Nuno Caliano da Silva é transformada em Quartel-General ou “Base Galo (amanheceu) ”. A família Caliano dirige todo o processo de acolhimento de “refugiados” vindos da cidade branca da elite da Polana. A maioria,
brancos da esquerda gorda, chega aterrorizada à casa dos Calianos. Teresa, a esposa de Nuno Caliano, seria uma verdadeira e incansável Mãe Coragem.
Perseguido, o poeta José Craveirinha, responsável de uma célula clandestina da FRELIMO, refugia-se em casa da cunhada no interior da Mafalala com sua esposa Maria. Seu filho mais velho, Stélio Newton (a terminar o serviço militar português), apresenta-se ao seu destacamento de Engenharia militar como voluntário enviado para defender o Aeroporto de Mavalane. Suspeita-se da chegada de mercenários madeirenses vindos da África do Sul em apoio aos Dragões da Morte.
O filho mais novo do poeta, Zeca Craveirinha, é um dos vigilantes (desarmados) da Mafalala. O efeito psicológico prevalece e as cantinas da Mafalala poupadas. Reina alguma harmonia multiracial graças à organização cívica do bairro. Todavia alguns Dragões da Morte (ex-Comandos e GEP’s etc.), patrulhariam em particular a Mafalala “procurando turras ou terroristas” da FRELIMO entrando pela rua da Guiné. Isaías Tembe, o único com uma G3 (que não sabia manejá-la), é ferido e capturado pelos Dragões da Morte na Mafalala.
Em Lourenço Marques colonos portugueses e naturais (brancos) mais extremistas entram aos tiros pelos subúrbios atingindo muito cidadão negro e mestiço desprevenido. Centenas de feridos e mortos.
… “Galo… Galo Amanheceu”… – A partir de 10 de Setembro a situação altera-se com a palavra de ordem pró-FRELIMO lançada pelo ex-comando colonial, o mestiço Aurélio Lebon, a partir dos microfones da Rádio Clube de Moçambique recuperada. Mais tarde a população negra retalia em fúria colhendo vítimas brancas inocentes (e não só).

05-09-2004

MOÇAMBIQUE - 7 DE SETEMBRO DE 1974

mocli03mocli02amocli01Moçambique/07 Set: A Base do Galo que resistiu na Mafalala
Luís Andrade de Sá (Texto) e Amândio Vilanculo (Fotos), da Agência Lusa
Maputo, 05 Set (Lusa) - Trinta anos depois, a Base do Galo nada diz aos
jovens que levantam halteres numa casa da Mafalala, o bairro onde nasceu
Eusébio e viveram o poeta José Craveirinha e a atleta moçambicana Maria de
Lurdes Mutola.
Nessa casa modesta, na zona que divide a "cidade do caniço" da "cidade do
cimento", simpatizantes da FRELIMO montaram o quartel-general da resistência
ao Movimento Moçambique Livre, a revolta branca contra a independência
lançada a 07 de Setembro de 1974, quando foi acordada a descolonização de
Moçambique.
"Numa primeira reunião juntámos 60 jovens, depois passámos para 100 e
decidimos que a partir daí a base ficava ali como centro de coordenação de
todos os bairros, passando a haver reuniões de quatro em quatro horas para
que nada descambasse", recorda Aurélio Lebon, então um jovem acabado de
cumprir o serviço militar nos +comandos+ portugueses.
No dia 08 de Setembro, o discurso da Rádio Moçambique Livre, ocupada pelos
revoltosos brancos, endurece e nos arredores de Lourenço Marques dão-se os
primeiros confrontos de que resulta um número elevado de vítimas.
"No Infulene (arredores da Matola), os fuzileiros dispararam
indiscriminadamente e a partir daí avançámos para as barricadas nos
subúrbios, controlando a saída dos moradores e a entrada de estranhos",
relata Pedro Bule, administrador de uma seguradora, na época responsável
pela segurança naquele bairro.
A resistência ao 07 de Setembro foi montada à margem da FRELIMO, cuja
direcção negociava a independência com Portugal em Lusaka, por nacionalistas
moçambicanos da capital da colónia.
"Até então, ninguém tinha ideia do que era a fortíssima inserção da FRELIMO
na população nem do desejo, da ganância, mesmo, das pessoas pela
independência", acrescenta Bule.
No dia 09 de Setembro, a Base do Galo determina uma "greve geral silenciosa"
que, diz Aurélio Lebon, foi cumprida pela maioria da população negra e a
revolta branca começa a perder força, procurando então os comandos militares
portugueses uma solução para pôr termo aos confrontos nos subúrbios e à
ocupação do Rádio Clube de Moçambique.
Lebon afirma ter sido contactado pelo comando militar e integra uma
delegação da Base do Galo, que inclui Amaral Matos, Alberto Chissano e
Orlando Machel que, no quartel-general português prepara a recuperação da
estação, aproveitando a sua experiência como antigo +comando+.
"Fui para o Rádio Clube sem segurança, acompanhado pelos comandantes da
Polícia Militar e da PSP, um ajudante de campo e um condutor e consigo
entrar no edifício. Os revoltosos estavam interessados na minha presença
como alguém ligado à FRELIMO para travar a população que marchava sobre a
cidade", lembra.
Aos microfones, Aurélio Lebon lança a senha "Galo.
Galo. Amanheceu", que indicava que a estação fora reocupada, e acrescenta
vivas à FRELIMO, a Samora Machel, a Portugal e a António Spínola.
"O problema é que eles quando ouviram os vivas à FRELIMO já nem escutaram o
resto e começaram a gritar que tinham sido traídos, pelo que eu e o
comandante da PSP tivemos que sair rapidamente, saltando um muro e apanhando
boleia de um casal em direcção ao comando", diz o antigo presidente da
Federação Moçambicana de Atletismo.
Aurélio Lebon voltará novamente à estação, desta vez fardado - "haviam tido
o cuidado de disfarçar um negro com uma farda e com os galões de alferes do
Exército português", escreve o jornalista Ricardo Saavedra, apoiante da
revolta, no seu livro "Aqui Moçambique Livre".
Nessa altura, já a estação estava cercada por duas companhias de
pára-quedistas e militares de engenharia, e Lebon, já conhecido como
"camarada Galo", volta a ler a senha, "para acalmar a população, travar a
violência e informar", e ali fica durante horas até ser rendido por
locutores do serviço que entretanto regressaram à estação.
Durante as horas que permanece no Rádio Clube, a Base do Galo é alvo de um
ataque, a que resiste, e a senha e contra-senha são mudadas.
"Quando lá cheguei, ainda fardado, um dos nossos apontou-me uma arma e eu
disse: "Galo. Amanheceu", que eram os códigos que conhecia. Tive um grande
trabalho para o convencer que eu era o camarada Galo", ri-se Lebon.
Sem ele saber, o novo código tinha sido mudado, aproveitando um grande êxito
que na época enchia os cinemas de Lourenço Marques: "Laranja?", perguntava
quem montava a barricada, esperando que a resposta fosse "Mecânica!".
Lusa/fim
05-09-2004 13:44:00 GMT .
Moçambique/07 Set: Quatro Dias que incendiaram Lourenço Marques
Luís Andrade de Sá (Texto) e Amândio Vilanculo (Fotos), da Agência Lusa
Maputo, 05 Set (Lusa) - Há 30 anos, Lourenço Marques, actual Maputo, foi
palco de graves motins raciais que causaram centenas de vítimas e destruição
avaliada em três milhões de contos, numa derradeira tentativa dos colonos
portugueses para evitar a independência do país.
A faísca que ateou a revolta branca de 07 de Setembro de 1974 é geralmente
atribuída ao arrastar pelo chão de um bandeira portuguesa no centro da
cidade que deu origem a 92 horas de confrontos.
Segundo alguns dos que viveram os acontecimentos, a provocação foi apenas um
pretexto para uma acção que estava a ser preparada por grupos de radicais
brancos nas vésperas da assinatura dos acordos de Lusaka entre Portugal e a
FRELIMO que, no mesmo dia 07 de Setembro de 1974, fixaram a data de
independência do país para 25 de Setembro de 1975.
"O 07 de Setembro foi uma tentativa organizada e não espontânea, tanto mais
que no dia 02 de Setembro os principais líderes da revolta reuniram-se no
Hotel Avenida para planear a operação", defende José Luís Cabaço, militante
da FRELIMO desde 1967 e que dias depois dos acontecimentos foi nomeado para
o governo provisório que antecedeu a independência.
Desde o dia 05 de Setembro que a capital da colónia estava parada, em
manifestações de apoio às posições que a FRELIMO iria defender em Lusaka
junto da delegação portuguesa, que integrava Mário Soares, então ministro
dos Negócios Estrangeiros.
No estádio da Machava, milhares de pessoas acompanhavam, com os meios
limitados da época, o desenrolar das negociações num comício permanente
organizado por sectores ligados à FRELIMO e apoiado por organizações de
esquerda da comunidade branca como a Associação Académica de Moçambique e os
Democratas Moçambicanos.
No dia 06 de Setembro, Jorge Jardim, o poderoso empresário da Beira que as
autoridades portuguesas procuravam desde Junho, é impedido de entrar na
Suazilândia e as notícias que chegam de Lusaka confirmam o entendimento das
duas partes para uma independência conduzida pela FRELIMO.
Na sequência da provocação à bandeira nacional, uma multidão de portugueses
apedreja as instalações dos jornais Notícias e Tribuna, vandaliza o edifício
do Rádio Clube de Moçambique e as sedes das organizações que tinham apoiado
o comício da Machava.
"Havia cordões de polícia à volta e uma multidão que insultava qualquer
pessoa que saísse do jornal", recorda José Capão, empresário livreiro, na
altura jornalista da secção internacional do Notícias.
O Movimento Moçambique Livre, como passa a ser designado, assalta a
Penitenciária, libertando todos os presos, incluindo os agentes da PIDE ali
detidos, toma conta dos Correios e do Aeroporto Gago Coutinho mas é no Rádio
Clube que se estabelece a direcção da revolta, protegida por uma enorme
multidão.
"Aqui Rádio Livre de Moçambique, fala-vos um grupo de portugueses de
Moçambique que acaba de tomar conta das instalações do Rádio Clube apelando
ao sentido de união de todo o povo moçambicano para que em bloco único faça
prevalecer a sua vontade e decida com a sua presença e voz o seu destino",
assinala o primeiro comunicado, lido às 18:40 do dia 07 de Setembro pelo
"locutor Manuel", Gomes dos Santos, presidente da FICO, uma associação
política radical da comunidade portuguesa.
Com ele estão Hugo Velez Grilo, antigo dirigente do PCP, e o comandante
Daniel Roxo, que criou, em 1971, uma força de "comandos" negros para acções
contra a FRELIMO e, segundo a onda de boatos que invade a cidade, há
milhares de homens de um grupo conhecido como Dragões da Morte prontos para
apoiar a revolta.
"Era tudo mentira, havia alguns jovens que tinham feito a tropa nos
+comandos+ mas não havia essa força especial de que falavam", defende José
Luís Cabaço. Aos microfones da Rádio Livre de Moçambique, apoiada na rua por
milhares de portugueses, apela-se à colaboração de antigos combatentes e
garante-se que Jorge Jardim está com a insurreição mas o empresário não se
envolve.
"As condições em que o Movimento Moçambique Livre tinha sido desencadeado
davam toda a vantagem ao inimigo", escreverá Jorge Jardim no livro
"Moçambique Terra Queimada".
Da Associação de Portugueses de Joanesburgo chega a promessa dos seus
membros atravessarem "a fronteira para ir em socorro", o que nunca
acontecerá.
Acusados de "minoria de reaccionários" pelo Governo de Lisboa, os radicais
brancos dão por finda a sua acção no dia 10 e cerca de 8.000 portugueses
fogem para a África do Sul.
Na revolta morreram centenas de pessoas - "cerca de 100 brancos e 300
negros", segundo Cabaço, ou 1.500, de acordo com o jornalista Ricardo de
Saavedra, que aderiu ao Movimento - e foram destruídas casas, lojas e
fábricas por toda a cidade.
A resposta da população da "cidade do caniço" aos acontecimentos da "cidade
do cimento" não chega a produzir- se - "grupos de negros em que participam
milhares de pessoas são dissolvidos quando se dirigiam à cidade procurando
vingança", informa o jornal Notícias, já a situação está controlada por
forças mistas do Exército português e da FRELIMO.
"O 07 de Setembro estragou tudo, instalou a desconfiança e tornou a FRELIMO
mais agressiva", defende o ex-jornalista Amaral Gomes que dá como exemplo do
que "devia ter sido a regra" o facto da polícia portuguesa só ter abandonado
o novo país em 1977, depois de dois anos de formação aos agentes nacionais.
Lusa/fim
05-09-2004 13:43:00 GMT
Moçambique/07 Set: Acordo de independência assinado há 30 anos
Maputo, 05 Set (Lusa) - Há 30 anos, Portugal e a FRELIMO assinaram em
Lusaka, capital da Zâmbia, o acordo que conduziu à independência de
Moçambique e que provocou uma das mais graves revoltas de brancos nas
antigas colónias portuguesas em África.
Entre os dias 05 e 07 de Setembro de 1974, representantes das duas partes
estiveram reunidos em Lusaka, na terceira ronda que preparou o processo de
descolonização de Moçambique, concluindo um acordo que fixou a independência
para 25 de Setembro de 1975, uma data associada ao início da luta armada
pela FRELIMO, em 1962.
Enquanto decorriam as negociações, um comício permanente em Lourenço Marques
(actual Maputo) convocado por simpatizantes da FRELIMO e organizações de
portugueses favoráveis à independência, apoiava as posições do movimento
liderado por Samora Machel, que se tornaria no primeiro Presidente do país,
mas a maioria da comunidade branca da capital da colónia saiu à rua para
contestar o acordo.
Durante vários dias, os revoltosos ocuparam a estação do Rádio Clube de
Moçambique, o aeroporto e os correios, atacaram jornais e associações
favoráveis à independência, destruíram um paiol militar e libertaram dezenas
de agentes da ex-PIDE/DGS, detidos na cidade após o 25 de Abril.
A rebelião e a reacção da população negra causaram um número indeterminado
de mortos, que diversas fontes estimam entre os 400 e os 1.500, sobretudo,
em Lourenço Marques, a única cidade a aderir em força aos protestos dos
colonos.
Apanhadas de surpresa pelos acontecimentos, as delegações de Portugal e da
FRELIMO mantiveram-se fiéis ao acordo, considerando-o irreversível,
contribuindo para o fim da revolta branca em Lourenço Marques.
Em Lusaka, as duas partes acordaram na constituição de um alto comissariado,
de um governo de transição e de uma comissão militar mista, preparatórios da
independência de Moçambique.
Portugal nomeou Vítor Crespo, militar do Movimento das Forças Armadas (MFA),
para alto-comissário, e Joaquim Chissano, actual Presidente de Moçambique,
foi indicado pela FRELIMO para presidir ao governo provisório, constituído
por nove ministros e um número não fixado de secretários e
secretários-adjuntos.
Segundo o acordo, à FRELIMO cabia indicar seis ministros do novo governo e
os restantes seriam nomeados pelo alto-comissário português.
As duas partes acordaram igualmente na criação de uma comissão militar
mista, constituída por um número idêntico de militares portugueses e da
FRELIMO, com o objectivo de assegurar o cumprimento do cessar-fogo, iniciado
às 00:00 do dia 08 de Setembro.
Em Lusaka, a FRELIMO comprometeu-se com uma política "de não discriminação
racial", segundo a qual "a qualidade de moçambicano não é definida pela cor
da pele mas pela identificação voluntária com as aspirações da Nação
moçambicana".
Preparando a criação de um futuro banco central, Portugal assumiu a
transferência do Departamento de Moçambique do Banco Nacional Ultramarino
para a nova instituição, num processo fiscalizado por uma comissão conjunta.
Por Portugal participaram nas negociações os ministros sem pasta, Melo
Antunes, dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, e da Coordenação
Interterritorial, Almeida Santos, e os militares Vítor Crespo, Almeida e
Costa, Nuno Lousada e Casanova Ferreira.
A FRELIMO, cuja direcção se encontrava na capital tanzaniana, Dar-Es-Salam,
enviou uma numerosa delegação a Lusaka, que incluía o seu presidente, Samora
Machel, e Joaquim Chissano, Alberto Chipande, Jacinto Veloso, Óscar
Monteiro, Mariano Matsinhe, Bonifácio Gouveia, Armando Guebuza e Sebastião
Mabote, entre outros.
Devido aos acontecimentos em Lourenço Marques, o texto do acordo de Lusaka
só foi divulgado dias depois em Moçambique, aos microfones do Rádio Clube,
depois de ali ter sido anunciado "Galo. Galo. Amanheceu", a senha que
indicava a sua recuperação ao movimento radical branco.
LAS.
Lusa/fim
05-09-2004 13:44:00 GMT .
Moçambique/07 Set: A tarde no Rádio Clube "que lixou uma vida"
Luís Andrade de Sá (Texto) e Amândio Vilanculo (Fotos), da Agência Lusa
Maputo, 05 Set (Lusa) - O balanço não é o melhor para quem passou "apenas
umas horas" na Rádio Moçambique Livre, ocupada por um grupo de portugueses
de Lourenço Marques em protesto contra a assinatura do acordo de Lusaka
entre Portugal e a FRELIMO.
"Estive lá uma tarde, subi à varanda e lixei uma vida. Fiquei com a cabeça a
prémio e perdi a casa, os carros, o barco, a +boutique+, as contas
bancárias", recorda Rui Quadros sobre o dia 09 de Setembro de 1974.
Nesse dia, entrou "pela única vez e por poucas horas" no Rádio Clube de
Moçambique, ocupado dois dias antes e rebaptizado Rádio Moçambique Livre, a
partir do qual um grupo de colonos brancos incitou a população a
manifestar-se contra o acordo de independência fixado para 25 de Setembro de
1975.
"Tive que fugir para a África do Sul, disseram uma série de mentiras a meu
respeito e entrei na onda dos que se foram embora", logo nos dias seguintes
aos acontecimentos, diz o caçador e ex-campeão de tiro de Moçambique, onde
regressou em 2000.
O nome de Rui Quadros surge nas notícias da época entre os que participaram
na tomada do Rádio Clube de Moçambique, na altura uma das mais potentes
estações do sul de África, e que durante cerca de 96 horas tentaram inverter
o rumo da História.
Durante a ocupação destacou-se a voz do "locutor Manuel", o nome de guerra
de Gomes dos Santos, presidente de uma associação política de portugueses
com o sugestivo nome FICO.
Foi dele que partiram os apelos à adesão ao Movimento Moçambique Livre de
populares e personalidades, alguns com êxito, como nos casos de Uria
Simango, fundador da FRELIMO e expulso do partido em 1970, e de Joana
Simeão, que se deslocaram ao edifício e proclamaram o apoio à contestação.
"Foi lá toda a gente, menos a FRELIMO", diz Rui Quadros, desvalorizando a
ausência de Jorge Jardim, que não se envolveu apesar do seu apoio ter sido
dado como garantido pela Rádio Moçambique Livre.
"Ele tinha outro projecto", resume, sobre a posição do empresário da Beira,
na altura fora de Moçambique fugido às autoridades portuguesas.
Ao lado de Gomes da Silva estavam Gonçalo Mesquitela, conhecido dirigente em
Moçambique da Acção Nacional Popular, o partido único do regime de Marcelo
Caetano derrubado em 25 de Abril de 1974, e o médico Vellez Grilo, que foi
secretário nacional do Partido Comunista Português nos anos 30 e que,
depois, rumou à colónia do Índico onde foi chefe de repartição da Câmara
Municipal de Lourenço Marques.
A direcção da revolta era ainda constituída por elementos ligados a grupos
de ex-combatentes, à Organização Provincial de Voluntários e a associações
políticas da comunidade portuguesa que se opunham a uma independência
"entregue à FRELIMO".
A segurança das instalações, que estava rodeada por milhares de pessoas, na
maioria brancas, em apoio à acção do Movimento Moçambique Livre, cabia a
Daniel Roxo, que, durante a guerra, tinha organizado comandos especiais de
soldados negros para combater a FRELIMO e que morreu no início dos anos 80
durante uma incursão militar sul- africana a Angola.
Durante os quatro dias que dura a ocupação, a Rádio Moçambique Livre emitiu
os mais lancinantes apelos à mobilização "dos portugueses de Moçambique" e à
generalização da revolta, a que as outras cidades da colónia não aderem,
intercalados com música de todo o tipo, incluindo as canções revolucionárias
Grândola, Vila Morena, Avante Camarada e hinos da FRELIMO.
No dia 10 de Setembro, um jovem com 25 anos, acabado de ser desmobilizado
dos +comandos+, entra no edifício da Rádio e aos microfones proclama: "Galo.
Galo.
Amanheceu", a senha destinada aos habitantes negros dos bairros periféricos,
prontos a marchar sobre Lourenço Marques, que indicava que a estação tinha
voltado à normalidade e terminara a revolta branca.
"Durante anos, tentou dar-se um cunho organizativo ao 07 de Setembro que não
o teve. Nenhum dos dirigentes mais representativos do antigo regime esteve
ligado a esses acontecimentos", defende Amaral Gomes, ex-jornalista, sobre a
forma atabalhoada como a revolta cresceu e acabou.
No dia 14 de Setembro, o novo alto-comissário, Vítor Crespo, anunciava que a
situação estava "sob controlo".
Lusa/fim
Nota: As fotos da época foram colocadas pelo responsável do blog e não são as da Agência Lusa, que não foram recebidas.

03-09-2004

Crónicas do Reino de MuêneMutapa

joao01Escrito por João Craveirinha

Quinta, 02 de Setembro de 2004
Por: João Craveirinha
ENFº BALTAZAR da COSTA “CHAGONGA”
Herói Esquecido e co-fundador da FRELIMO
Caríssimos - Donnas e Muênês
Esta é uma nova Coluna periódica no jornal ZAMBÉZIA On – Line. Tem o nome simbólico do Império de Muenemutapa (Senhor das Minas de Ouro) que abrangia o actual Zimbabué, Tete, Manica, Sofala e parte da Zambézia (vale do rio Zambeze)......
Crónicas do Reino de MuênêMutapa
escrito por João Craveirinha

Sexta, 03 de Setembro de 2004
Dossier para colecção (2)
Em Ghana – Accra, nasceu a ideia da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) …Mondlane veio depois
- Kwame Nkhrumah Versus Julius Nyerere -
Caríssimos – Donnas e Muênês

Em declarações atribuídas ao fundador da UNAMI – o Enfermeiro Baltazar da Costa “Chagonga”......

http://www.zambezia.co.mz/index.php?option=content&task=view&id=63

Nota: Para acompanhar no Zambézia On Line
http://www.zambezia.co.mz/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1

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