sábado, 2 de janeiro de 2016

URIA SIMANGO - Um homem, uma causa (1/3)

29-03-2005

URIA SIMANGO - Um homem, uma causa (3/3)

João Craveirinha
CONCLUSÃO – Duas Fontes não paradigmáticas
Em relação ao livro de Barnabé Ncomo e sem pretender fazermos um juízo que possa ser mal interpretado deixaríamos no entanto reparos sobre duas das fontes apesar do merecido mérito de “relatos” da época, pecando no entanto, pela intenção óbvia subjacente: Tratam-se das referências à participação do intitulado grupo Português dos DEMOCRATAS de Moçambique, citado na página 209 do Livro Moçambique – Sete de Setembro – Memórias da Revolução, escrito em Dezembro de 1976, no Rio de Janeiro – Brasil, por Clotilde Mesquitela. A autora, esposa do deputado Gonçalo Mesquitela da A.N. (de Oliveira Salazar) é Mãe dos irmãos Mesquitelas, fundadores em 1974, de uma organização para-militar portuguesa, ultra nacionalista e colonial –, Dragões da Morte. Segundo seu Boletim Informativo nº 1 esta “organização clandestina” no preâmbulo, 1º, visava -…”pôr termo às conversações com a FRELIMO, nem que tenhamos que começar a fazer TERROSISMO URBANO, para fazer calar os inconscientes que dão vivas à FRELIMO.”…Este grupo “dizia” ter …”20. 500 homens armados de todas as raças e credos espalhados por todo o Moçambique”…in Moçambique 7 de Setembro, página 246, Mesquitela, Clotilde.
O referido livro, faz uma referência incorrecta (entre outras), mencionando na página 104, linha 5 e 6, imputando ao cronista desta coluna, actos nunca praticados pelo mesmo. Refere-se a eventos pouco antes da ocupação da RCM – Rádio Clube de Moçambique que passamos a citar: - …”Recebemos a indicação de que Stélio e Zito Craveirinha e Isaías Tembe, agitadores da Frelimo, andam a distribuir G-3 no «caniço». E, em consequência disso, já tinham dado entrada na morgue do Hospital Miguel Bombarda três corpos de negros. Ao obtermos a confirmação do Hospital, soubemos mais, através de um enfermeiro que, perfeitamente desorientado, nos disse: «Entraram três mortos, mas dois não passavam de brancos com a cabeça rapada e pintados de preto». Identificados um pouco depois, viemos a saber serem de dois universitários que se tinham infiltrado, para tentar provocações, na intenção de levantar a zona do «caniço» contra a população branca, e que os próprios pretos tinham liquidado!”…e mais adiante: …”As buzinas não paravam, o hino era cantado com a mesma fé e desejo de um Moçambique Livre e Português”… Na altura destes eventos o cronista desta coluna aguardava “julgamento” em Tanzânia na FRELIMO. E só teria havido uma G-3 nas mãos do Isaías (dos pesos e halteres). Nem a sabia manejá-la devidamente. Tinha “capturado” a um elemento anti – Frelimo madeirense de um grupo vindo da África do SUL (?!), que se havia introduzido na Mafalala – “ 1ª zona libertada” de LM. Mas isso é outro assunto. Era este cenário que Uria Simango iria encontrar em Lourenço Marques e ingenuamente acreditaria poder fazer “manobras de pressão” à FRELIMO numa partilha de Poder com elementos portugueses anti – Independência. À partida tudo se conjugaria para um fracasso político do COREMO a que aderira. Os portugueses coloniais não estavam interessados em o apoiar rumo a uma Independência mas utilizando-o a um estilo UDI – Independência unilateral à Ian Smith da Rodésia (na altura), mas vinculados a Portugal. Uria Simango ao se aperceber do beco sem saída em que se envolvera recua para Malauí(Malawi), onde o inguaze – Presidente Hasting Kamuzu  Banda sela seu destino entregando-o à Frelimo.
Outro “pequeno” reparo ao livro de Ncomo é o da incorrecção da importância havida no papel do dito grupo de DEMOCRATAS Portugueses (MDM), nas conversações com o MFA versus FRELIMO, conducentes à Independência. In página 288 nota 431em rodapé. O processo inicial directo de contactos com o MFA e a FRELIMO, foi efectuado pelo grupo dos antigos presos políticos da FRELIMO tendo por porta-voz o Poeta José Craveirinha. Não é somente por ser um Poeta de renome que se encontra no Panteão dos Heróis mas este detalhe terá pesado muito. O Marechal Costa Gomes e o MFA não tinham autoridade política sobre José Craveirinha e seus camaradas da FRELIMO, antigos companheiros de prisão.
À posterior surgiria o “Movimento dos Democratas de Moçambique”, mas de Portugueses, a que Mário da Graça Fernandes fez parte. Aliás, Mário da Graça Machungo (Mahlungo?). Um dia contamos o resto.
Ao que nos levou o livro – URIA SIMANGO – Um homem, uma causa. Em boa hora, graças ao empenho e pesquisa de Barnabé Ncomo. Só quem trabalha se expõe. Que estas linhas sejam um pequeno contributo e estímulo para mais trabalhos seus neste campo difícil e “perigoso” da investigação da História recente, numa busca incessante de aperfeiçoamento do rigor da verdade. Um muito obrigado pelo privilégio de termos relido este livro polémico, mas necessário aos estudiosos e ao cidadão Moçambicano “cego” e carente de suas Raízes e Identidade. (in Jornal O AUTARCA da Beira– FIM. 29.03.2005

28-03-2005

URIA SIMANGO - Um homem, uma causa (2/3)

Dialogando
Por: João Craveirinha
CRÍTICA LITERÁRIA ● CRÍTICA LITERÁRIA
EXÓRDIO(2)
Foi – nos possível “consultar”, o livro de Barnabé Ncomo, citado em epígrafe, 1ª edição, graças ao empréstimo do mecunha “malantro”, Fernando Gil do “saite” Macua. Livro – oferta, autografado pelo autor B. Ncomo, dedicado a F. Gil, português natural de Nampula (ilha).
Grosso modo e infelizmente, o livro, não tem um estilo definido de narrativa literária. De amiúde, envereda por um tipo de escrita Histórica mais credível e contraditoriamente noutros casos, sem enquadramento sintagmático, cita fontes duvidosas por partirem de opositores à Independência dos “Pretos” – espinha atravessada na garganta de muitos pró-coloniais, saudosistas do Império perdido. Presume-se que a intenção de B. Ncomo não seja essa. Talvez, a falta de distanciamento “étnico-cultural” e de perspectiva Histórica, lhe tenham impedido separar o milho do capim. Todavia, esse aspecto não lhe retira o mérito de pioneirismo, nesta senda pelo levantar do “véu”, de um determinado período da nossa História “apócrifa” ou maldita. As fontes devem se cruzar para avaliação e contextualidade.
APROFUNDAMENTO : Etno-História Moçambicana
A falta do ensino da etno – História nas Universidades Moçambicanas é uma falha gritante que pode criar confusão na actualidade em relação ao inter relacionamento e consanguinidade étnica no passado. O próprio Reverendo URIA SIMANGO tem avoengas (avós) Rongas iMpfumos vindas do SUL. A Mãe era uma iMpfumo por ser TIVANE – em linhagem directa NHONDZOMA do Rei inLharuti iMpfumo (inHLARUTI). “Regressado” da Suazilândia no século XVII / XVIII (1600 / 1700) da região de Psatine (inHlati inkulo), fixa-se com seus filhos – iMpfumo “iMpfumo”, Polana, Massinga e TIVANE (uá in’Tiwane). Após a morte do pai, guerras inter – clânicas provocariam uma diáspora entre os príncipes – irmãos. iMpfumo sai vencedor e fixa-se na Matola (dos iMpfumos maTsolo mais tarde). Uá iMpfumo, governaria toda a região da actual caMpfumo / cidade Maputo, limitando com a caTEMBE, moAMBA, maHOTA e maRRACUENE. Massinga migra com seu clã para Inhambane. Polana fixa-se exactamente onde está o Hotel com o seu nome, numa área da Escola Comercial, Ponta Vermelha – Sommerschield / campo de Golfe à Costa do Sol. TIVANE uáMpfumo migra para Gaza. Muitos grupos da região a partir de 1820 seriam integrados no exército inGuni (dos grandes), com a “invasão” de Sochangana – descendente dos Tembes. Entra por maPutso (o verdadeiro), vindo de Pongola (Zulolândia). Seus antepassados teriam saído em 1500, da Ponta Malongano – êMalanguene (caTembe), se fixando na cordilheira dos Libombos. Os TIVANES assim como muitos outros seriam absorvidos e integrados nos regimentos inGunis, do futuro Imperador de Gaza (Sochangana). São levados para Manica e Sofala, em particular entre Mussapa ao Buzi. Não é por acaso que os chefes ou tinDuna de maior confiança de Gungunhana eram os velhos muTAZABANO e SIMANGO já inDaos. Uma das suas tarefas, era a de controlar maGuiguana de maCôssine, antigo submetido – cozinheiro e criado de seu pai umuZila. Os primeiros “maChangana” foram os vaNdao submetidos a Sochangana (Soh – CHANGANA). Muitos anos depois (c. Abril 1889), Gungunhana, o neto, retira-se de Mossurize (e de Udengo onde está o túmulo do Pai). INVADE O SUL DO SAVE com cerca de 100 mil vaNdao, famílias, guerreiros do tempo do pai e gado, com apoio dos portugueses. Massacrariam pelo caminho os pacíficos agricultores e artistas vaLengue (chopes), rumo ao “khokholo” de Mandjacaze (Mand – lha; inKazi), derrotando Binguane Mondlane (Mond-lhane). A origem do nome inDao teria a ver segundo a tradição oral, com a chegada dos novos conquistadores inGunis fugidos de Tchaca Zulo, em 1818 / 20. Um deles, Zuan-guen-daba, ao chegar a uma povoação Shona em Manica, teria dito espetando uma lança no chão : …”iNDAO la mina”…é minha terra…outra tradição diz que iNxaba – inQaba, também fugido de Tchaca, recebido pelas mulheres de uma povoação Shona, de joelhos, batendo palmas, o teriam saudado: …”iNDAO-ú-ê Baba”…seja bem-vindo Pai…
As invasões inGunis na primeira vintena do século XIX, reforçariam o processo de mestiçagem inter étnica. Não nos esqueçamos que os Muchangas (muHLANGA), Mandjazes (Mandlaze), Djalalas(Dlalala), Djacamas (Dlakhama), inGonhamos (inGonyamo), Machavas, Guenhas, Ncomos, Mugabes e muitos outros, hoje assumindo-se como iNDAO / shona, terão a sua origem entre os inGunis ou Zulos a SUL. Um dos chefes de Tchaca Zulo era muHLANGA (Muchanga). Mais tarde se fixariam na região Shona, em Mussapa, nos princípios do século XIX. Em Harare encontram-se iMpfumos (hoje aculturados de shonas). A guerra da RENAMO contra a FRELIMO, finalizaria essa mestiçagem étnica, FORÇADA, em Moçambique. (Conclui na próxima Crónica).
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 28.03.2005

27-03-2005

A infância de Machel - 2 versões

{Infância}

Samora Machel nasceu em 1933 e foi criado na vila de Chilembene. Era um membro do grupo étnico Shangana. Seus pais eram camponeses pobres. Machel soube o que era passar fome quando seus pais foram forçados a plantar o algodão pelos portugueses. Nos anos 50 seus pais tiveram as suas terras arrancadas para serem dadas aos portugueses emigrantes. A fim de evitar a fome seus pais foram trabalhar nas minas sul africanas sob circunstâncias perigosas. Logo após, seu irmão morreu num acidente na mina.

Samora entrou numa escola católica mas quando não estava na sala de aulas ele tinha que trabalhar no campo. Ele estudou para se transformar num enfermeiro, uma das poucas profissões permitidas aos pretos moçambicanos naquele tempo. Iniciou suas primeiras actividades políticas num hospital onde protestou o facto de os enfermeiros pretos usufruírem salários inferiores aos dos brancos que faziam o mesmo trabalho. Disse mais tarde para um repórter o quanto os médicos moçambicanos eram maltratados dizendo, "o cão do homem rico recebe mais vacinas, medicamentos e cuidados médicos do que os trabalhadores que constroem a riqueza do homem rico".

Vem isto escrito em
No entanto, na seu livro "SAMORA - Uma biografia", Iain Christie, escreve:
"...Como este assunto parece ter tido uma influência significa­tiva no posterior desenvolvimento das suas ideias políticas, vale a pena citar, com algum detalhe, as reminiscências de Samora numa conversa, em 1974, com o académico canadiano John Saul. Ele começou por descrever a região onde nasceu como rica e fértil, onde as pessoas eram camponesas mas não eram po­bres, e continuou:
Alguns eram mesmo ricos. Algumas pessoas, considera­das muito importantes, possuíam tractores e charruas, cria­vam gado e produziam vários cereais [...]
Nós queríamos compreender os fenómenos do comércio, da compra e da venda, e o meu pai costumava explicar-nos essas coisas com histórias sobre a dominação. Não eram as pessoas que produziam as coisas que fixavam os preços. Não eram eles que escolhiam a quem queriam vender os produ­tos.
Todos os africanos na nossa região estavam enquadrados pela administração colonial. Era a administração colonial que recrutava os compradores. Todos os cereais produzidos por africanos eram comprados por comerciantes recrutados pê­los administradores. Os comerciantes queriam comprar masnão queriam ir directamente aos produtores. Queriam fazer os contactos através da administração.
      A administração fixava os preços naquilo a que chamava a feira — a Feira dos Cereais. Por outras palavras, a Feira dos Cereais era uma forma de explorar o trabalho do cam­ponês africano [...] A verdadeira essência das coisas está nes­ta produção e troca de produtos agrícolas, porque éramos obrigados a vender os nossos produtos aos comerciantes a preços fixados pela administração.
Por exemplo, nós produzíamos e vendíamos um quilo de feijão a três escudos e cinquenta centavos enquanto os agri­cultores europeus produziam e vendiam a cinco escudos o quilo. E no dia a seguir a termos vendido as nossas colhei­tas tínhamos que comprar esses mesmos produtos a seis escudos — o dobro do preço que nós tínhamos recebido.
Se, ocasionalmente, por um acordo especial, conseguía­mos vender directamente a um fornecedor ou comerciante (por exemplo a quatro escudos o quilo) éramos obrigados a receber o pagamento metade em dinheiro e a outra metade em produtos [...].
Ainda por cima não podíamos ser comerciantes. Os «in­dígenas» não podiam praticar nenhuma forma de comércio. Apenas podiam produzir para os comerciantes europeus.
As vacas dos africanos não eram registadas e não po­diam ter a marca dos seus donos. Isto permitia aos agricul­tores europeus roubar gado dos africanos. Por vezes gado pertencente aos «indígenas» misturava-se com o gado per­tencente aos europeus e, quando isso acontecia, os europeus marcavam-no imediatamente — o mesmo acontecia com car­neiros e cabras — e assim aqueles animais passavam auto­maticamente a pertencer a esses europeus.
Depois havia a imposição de determinadas culturas por parte da administração — o sistema do algodão. A cultura do algodão é de tal forma que impede qualquer outra acti­vidade. É um produto que requer muita atenção e, consequentemente, resultou em fome na nossa região. Muitas pessoas morreram de fome por causa do algodão.
Nós vivemos isto tudo e os nossos pais falavam-nos disto para nos fazerem entender que esta era a natureza da dominação externa. E isto significava falarem-nos sobre a penetração portuguesa e a resistência à sua brutalidade e crueldade.
Nesta região os homens são igualmente forçados a ir para a África do Sul. São vendidos às minas sul-africanas. E, enquanto um homem está na África do Sul, a esposa é levada para trabalhar durante seis meses na construção de estradas, nas construções dos comerciantes e nos campos dos agricultores europeus.
SAUL — A venda de trabalhadores para a África do Sul deve ter afectado a sua própria família.
SAMORA — Perdi muitos parentes na África do Sul. Alguns voltavam com tuberculose, sem membros, mutilados, cegos, completamente inválidos e sem indemnização. Outros morreram na África do Sul. Por exemplo o meu irmão mais velho. Quando ele morreu nas minas da África do Sul o meu pai recebeu uma nota da administração a dizer que devia lá ir para receber uma indemnização de 40 libras. Mas disse­ram que não podiam entregar a quantia toda de uma vez. Só podia levar 10 libras e o resto ficaria no cofre da adminis­tração onde ele deveria ir pedir pequenas quantias quando precisasse.
SAUL — Lembro-me de outra história de exploração, nesta zona, que aconteceu em 1950, a exploração da terra.
SAMORA — Esse foi o maior drama. As charruas e tractores daqueles que eram agricultores hoje estão sem uti­lidade. Todos aqueles que tinham boas casas, de alvenaria, foram expulsos para dar lugar aos colonos e obrigados a vi­ver numa única divisão. A nossa terra foi expropriada e en­tregue aos colonos. Hoje não há nenhum agricultor africano na minha região. Toda a terra foi entregue a colonos sem nenhuma compensação [...] Os africanos foram colocados em terras áridas que não produzem nada, enquanto as regiões entregues aos colonos são irrigadas pelo rio Limpopo (').
Em 1942, quando Samora tinha nove anos, surgiu a possi­bilidade de ele ir para a escola. O pai decidiu que se devia aproveitar essa oportunidade de forma que disse a Samora para pousar a enxada e preparar-se para os estudos.
Foi um período difícil para um jovem de uma sólida famí­lia protestante começar a ir à escola porque isto passava-se logo a seguir a os portugueses entregarem aquilo a que chamavam «educação indígena» à Igreja Católica. A família Machel era Metodista Livre, sem grande vontade de enviar o filho para uma escola católica, mas era isso ou nada...."
Assim se vê que Samora Machel descreve ser de uma  " região ... rica e fértil, onde as pessoas eram camponesas mas não eram po­bres..."
No entanto, no texto primeiramente disponibilizado, lê-se que " Seus pais eram camponeses pobres. Machel soube o que era passar fome quando seus pais foram forçados a plantar o algodão pelos portugueses. Nos anos 50 seus pais tiveram as suas terras arrancadas para serem dadas aos portugueses emigrantes. A fim de evitar a fome seus pais foram trabalhar nas minas sul africanas sob circunstâncias perigosas.
Em que ficamos?
Fernando Gil

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Dialogando
Por: João Craveirinha
AMICUS PLATO, SED MAGIS AMICA VERITAS
(Estimo Platão, mas estimo ainda mais a verdade)
Exórdio
Desde o lançamento do livro de Barnabé Lucas Ncomo em 2004 que o cronista desta coluna tem recebido inúmeras mensagens a pedirem um comentário. Insistência essa, por saberem da presença de João Craveirinha em alguns desses últimos momentos históricos de 1967 a 1976, com um intervalo de Junho 1972 a Julho 1974, em Zâmbia, Tanzânia e Quénia, referidos no livro.
É quebrado o silêncio. Mas, escrever sobre o livro é uma tarefa um pouco ingrata por conhecer de relance o Barnabé Ncomo que tem o mérito de ter colocado a “descoberto” um período conturbado da Luta de Libertação Moçambicana, ainda que numa embrulhada de elementos. No entanto, os meus temores se concretizaram –, do livro se ter transformado num panfleto contra a essência da própria Independência em si mesma, por todos aqueles que até hoje estão contra a legitimidade de ter sido conduzida pela FRELIMO (não a herdeira no Poder), mas a Frente de Libertação de Moçambique.
Conjecturar hoje que haveria outra via é extemporâneo.
O colonialismo Português era reticente a qualquer tipo de Independência e ainda hoje tem os seus herdeiros em Moçambique, em Portugal e na diáspora Portuguesa.
Evidentemente que um dia quando se escrever sobre a via político – militar do Comandante FILIPE MAGAIA, talvez aí, sim, o processo tivesse sido outro e mais regiões Moçambicanas teriam sido atingidas pela guerrilha.
Todos os processos políticos da História das Nações tem os seus lados obscuros e violentos. Lamentavelmente é assim. Caso o Reverendo Uria Timóteo Simango, tivesse obtido o Poder, a situação seria igual, com outra face somente. A moeda é sempre a mesma.
Mas sem dúvida, Uria Simango, foi um Nacionalista Africano que regou com o seu sangue de Mártir a Independência
Moçambicana e há que honrar esse legado sem o desvirtuar com os falsos defensores, de HOJE, da Liberdade do negro – africano. Nessa época, essas vozes pró Uria Simango de hoje, se o encontrassem na guerrilha anti-colonial (“o terrorista” Uria Simango), tê-lo-iam fuzilado depois de o torturar pois a convicção Nacionalista era muita em Uria Simango. Não cederia ao colonialismo Português. Uria Simango, protestante envangélico, provinha da escola do Nacionalismo Negro Rodesiano
(Zimbabué) e Sul-Africano do “BLACK MAJORITY RULE” (governo da maioria negra). Raízes profundas de Uria Simango no anti-apartheid da Rodésia e da África do Sul. Apartheid que os imigrantes Portugueses nesses Países e os de Moçambique, na sua maioria, pactuaram e apoiaram. O “moto” – slogan “ Juntos Venceremos” era o da santa aliança entre o Portugal colonial (Angola e Moçambique) e a Rodésia e África do Sul (bóer -africaner). As respectivas 3 bandeiras entrelaçadas (1957 / 1974), simbolicamente, e o projecto da Hidroeléctrica de “Cabora” Bassa, faziam parte dessa
aliança, para a Hegemonia Branca na África Austral. (Cahora).
Esses, hoje, são os que mais choram lágrimas de crocodilo com o livro de Barnabé Ncomo.
O cronista desta coluna, para escrever estas linhas, teve de ter o distanciamento necessário psicológico, não misturando os factos das suas vivências magoadas na própria FRELIMO, no cativeiro, na sua tortura psicológica e física, “ouvindo e sentindo solidariamente” também, a tortura em grupo dos outros. Em particular a do Rev. Uria Simango, próximo do cronista desta coluna, nesses momentos, em Nachingueia, 1975. Em 1976, o martírio continuaria em Mitelela ex- Nova Viseu.
(CONTINUA na próxima segunda-feira 28 e termina na terça-feira 29 Março)
O AUTARCA – 23.03.2005

11-03-2005

REACÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE MÁ FÉ

Por João CRAVEIRINHA
INTRODUÇÃO
A personagem ENEIAS, príncipe herói Troiano diria : …“Ab Uno Disce Omnes”… traduzido do Latim – “Por um, aprende a conhecê-los todos” – se referia à perfídia – má fé – dos Gregos na Guerra de Tróia. Este verso vem inserido na ENEIDA, II, 65, Poema épico incompleto (29/19 a.C), escrito por Virgílio ou de nome completo original, Publius Virgilius Maro – poeta Latino Romano (70 / 19 a.C).
DESENVOLVIMENTO
Muita gente revela uma tendência psicológica da AVESTRUZ, de esconder a cabeça no NIHILISMO – negação redutora (medo), de tudo que não lhes agrade, relativa à História, que eles próprios ignoram mas na ignorância não assumida se auto doutoram em matérias que desconhecem e de uma urgência de exorcismo histórico para terem o necessário distanciamento para perspectivarem e ultrapassarem complexos coloniais existentes.
Os Portugueses “Brancos” podem “meter a colher” (e mal), em tudo que é Africano e “Negro” e tendenciosamente, mas se um Africano com bases sólidas de conhecimento, fora dos textos oficiais, “fala” da História de Portugal, é “inimigo público número 1 a abater”… Vontade não faltará, silenciando as Vozes incómodas. Obviamente, a excepção confirmará a regra. Cada assunto tem o seu compartimento. Exorcizemos o tema da ESCRAVATURA e noutro compartimento falemos da actualidade mas sem esquecer que o presente é reflexo do passado. Nós todos não nascemos hoje. Houve um todo processo – curriculum – que veio de trás do passado recente –, avô do avô do avô, etc., que não pode ser eliminado para satisfazer vontades de um obscurantismo e às vezes racismo que só incomodará quem é isso mesmo, RACISTA, que se sentirá afectado assumindo um complexo superior de seus antepassados europeus, fora de contexto. No mínimo ridículo de uma mentalidade distorcida. A extracção de um dente cariado é dolorosa mas necessária. Assim é com a História…” A Alemanha Federal pós 2ª Guerra Mundial que nada tinha a ver com o nazismo e o Holocausto Judeu, pagou chorudas indemnizações a Israel que nem existia na altura como um Estado Independente.”…Interpretem correctamente. É uma citação a título do paradoxo de critérios. E não levantou contradições apesar de discutível. Este assunto de indemnizações a África, foi abordado pelo cronista desta coluna em tempo próprio, por ocasião da Conferência de Durban. O cronista deste espaço Moçambicano de análise e pensamento não é culpado da ignorância das pessoas que não tem acompanhado as suas crónicas desde 1997…” ÁFRICA DO SUL – À MARGEM DA CONFERÊNCIA MUNDIAL DE DURBAN – texto de João Craveirinha – Na cidade sul-africana de Durban está prevista a realização da primeira Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância de 31 de Agosto a 7 de Setembro de 2001. …”O problema seria a aplicação prática dessas eventuais indemnizações, como e a quem?”…Isto foi escrito em Moçambique em Julho de 2001. Para lerem mais, aguardem para breve, de 6 livros, o Romance, intitulado: JEZEBELA – O Charme Indiscreto dos Quarenta – Crónica de uma Mulher; o percurso de uma luso-africana universitária e moderna no dia a dia actual em Portugal, Moçambique e Brasil, com flashes ao passado Histórico.
CONCLUSÃO
Verifica-se em Moçambique, no quotidiano, “projecções” de imagens contraditórias, quer na Publicidade em todas as suas formas alienatórias, quer na própria arrogância de certos ditos licenciados “negros, mulatos, índios e brancos”, enfatuados na arrogância de um diploma e da auto-assinatura de artigos até em Jornais com o ridículo auto-epíteto de DR do “alto” da …”auto-suficiência da ignorância”…, como diria meu “cumpadre” brasileiro – José Ramos Tinhorão – autor do Livro – Os “Negros” em Portugal: Uma Presença Silenciosa. Livro único de recolha de documentação de séculos sobre o papel Histórico do dito Negro, escravos e descendentes, no desenvolvimento da sociedade Portuguesa na Europa, durante séculos. Na 1ª edição em 1988, autografada pelo autor (JRT) em 1994, deixaria escrito para a “posteridade” (a minha) …”Para o João Craveirinha que sabe destas coisas, o melhor abraço do compadre brasileiro – José Ramos Tinhorão – Lisboa, 29/06/1994 (sic). J. Ramos Tinhorão, é um dos mais conceituados especialistas de Musicologia, História e Antropologia Cultural. Bem, já agora, também o cronista JC tem algum “direito” de se “gabar” de algo, mas sem pedestal …ehehehe…hehehe… visto muitos “escreverem” replicando ou repenicando do alto da Prosopopeia do pedestal da altivez ou será desfaçatez? Eheheh…ehehe…hehehe. I love this game …de réplicas e tetra réplicas da treta e da nau catrineta…Ehhh…ehhehe. Enfim! Tristezas não pagam dívidas. Caso contrário, muita gente cinzenta era milionária. “Infelizmente” eu nunca seria milionário por ser de “COR”! “Um pobre coitado que não sabe nada! Só observa e comenta a esmo”. Mas atenção – sempre com dignidade, de cabeça levantada! Ehhh…ehheheheh ! (FIM)
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 11.03.2005

10-03-2005

MANU disparou primeiro tiro e não a FRELIMO (em Agosto de 1964)

Moçambique - o ínicio da guerra
…E não foi no Chai, mas em Nangololo

Ao contrário do que reza a história oficial da Frelimo,o primeiro tiro da guerra da independência de Moçambique não foi disparado,nem em 25 de Setembro de 1964, nem no Posto Administrativo de Chai, nem pela então frente de libertação.
Da leitura de relatos credíveis, feitos por investigadores independentes, conclui-se que a primeira acção militar contra o regime colonial português no nosso país Moçambique foi da iniciativa da MANU (União Nacional Africana de Moçambique) e deu-se em Agosto daquele ano contra a Missão Católica de Nangololo. Por outro lado, a 24 de Setembro de 1964 foi reportado um ataque a Cóbué, na província do Niassa, bem como outras operações ao longo da margem norte do lago com o mesmo nome que incluiram o disparo de vários tiros contra uma lancha da Marinha de Guerra portuguesa, no dia seguinte. A MANU, que juntamente com a Udenamo já havia rompido com a Frelimo em 1962, era uma organização composta essencialmente por macondes, com raízes em Cabo Delgado, etnia que possuía, no início dos anos sessenta, cerca de 250 mil membros a viver, ou nascidos e criados na Tanzania, Zanzibar e Quénia
Orientação tanzaniana
A semelhança do nome com o partido único do regime de Dar-es-Salaam, TANU (Tanzania African National Union), não é acidental, e tornou-se óbvio desde o início que se tratava de um movimento criado, inspirado, orientado e da preferência das autoridades tanzanianas, nomeadamente do então presidente Julius Nyerere, que sempre se mostrou adverso às consideradas «tendências radicais» da Udenamo, ligada e financiada pelo Ghana de Kwame Nkrumah, a grande figura orientadora das independências africanas naquela altura.

"Big brother"tanzaniano

Nas origens da MANU está a Sociedade dos Africanos de Moçambique, cujas reivindicações sociais e laborais provocariam o massacre de Mueda em 1960.
No ano seguinte, em Janeiro, aquela sociedade juntar-se-ia às delegações de Dar-es-Salaam, Mombassa e Zanzibar da Makonde African Assossiation (MAA), para constituir a MANU. A organização era devotada à causa da Independência de Moçambique, muito embora os seus primeiros presidente e vice-presidente, Matthew Mmole e Lawrence Malinga Millinga, fossem tanzanianos, e houvesse entre os seus membros quem advogasse a secessão de Cabo Delgado para unificação com o país governado por Nyerere. A nível de nacionalidades, entre os macondes, havia no entanto muita latitude, bastando referir que, por exemplo, tanto o secretário-geral da TANU, Rashid kawawa, como o ministro tanzaniano do Interior e dos Negócios Estrangeiros, Oscar Kamkomba, eram moçambicanos de origem.
Lutas intestinas
A permanência da MANU na Frelimo foi “sol de pouca dura”, tal como aconteceu, aliás, para os outros dois movimentos de cuja fusão teria resultado – na versão oficial – a frente, nomeadamente a Udenamo e a Unami, este último com origem nos mineiros do carvão de Tete. Para Mondlane, tratava-se de um grupo criado pelos tanzanianos sem enraizamento em Moçambique e daí que os seus dirigentes, aquando do I Congresso, tivessem obtido cargos sem expressão na Frelimo: Mmole foi designado tesoureiro, e Millinga secretário executivo do Comité de Bolsas. Os dois acabariam por ser expulsos da Frelimo em Maio de 1963, depois de terem exigido, em conjunto com Gwambe, um presidência dupla da MANU e Udenamo para a frente de libertação, e se mostrarem exasperados com as alegadas hesitações de Mondlane, a quem chegaram a apelidar de «Tshombé de Moçambique», para optar pela luta armada.
Tal impaciência, aliada às lutas intestinas que vinham dilacerando a Frelimo desde 1962, motivadas sobretudo pela desconfiança das bases numa liderança shangana e sulista tida como colaboracionista do regime colonial e dos EUA, levou os macondes leais à MANU a fazerem a primeira incursão armada em Moçambique, contra a Missão Católica de Nangololo, que se saldou pela morte de um padre holandês.
Outros intervenientes
Para além dessa operação, entretanto, não há registo de qualquer outra actividade militar posterior daquele movimento, na guerra da independência, onde a Frelimo teve sem dúvida o maior quinhão, seguida, de muito longe, pela Coremo (Comité Revolucionário de Moçambique).
Além das do Sul, a província onde a frente teve mais dificuldades em penetrar foi a província da Zambézia, onde só se verificou actividade militar da Frelimo em Julho de 1974, depois do golpe de Estado de 25 de Abril em Portugal. Nessa província há o registo de um ataque do Exército de Libertação Nacional do Monomotapa, o braço armado da Udenamo- -motapa, que se opunha tanto ao regime colonial como à Frelimo, a Chire.
Quanto à Coremo, considerada pelos relatórios da CIA como gozando de apoio popular, bem como de capacidade de o-ganização e recursos diminutos, iniciou a “sua” guerra em Tete, não conseguindo penetrar, apesar de várias tentativas, na Zambézia. Começou a desmembrar-se, militar e politicamente, em meados de 1968, quando um dos seus mais proeminentes quadros, Mazungo Bob, foi morto em combate perto da fronteira com a Zâmbia.
Diversos confrontos armados entre a Frelimo e a Coremo foram também registados, o primeiro dos quais ocorreu em 1968, com o movimento então liderado por Samora Machel a prender vários quadros da organização rival em 1970, e dois comandantes militares e o tesoureiro da Coremo a serem mortos em 1972 numa emboscada da Frelimo.
Maior número de baixas
A luta armada prolongar-se-ia pelo dobro do tempo inicialmente previsto por Mondlane (cinco anos), sendo que foi no nossos país onde o Exército português sofreu maior número de baixas, por comparação a Angola ou à Guiné-Bissau. De acordo com os números registados por Lisboa, 2.893 membros das suas forças armadas morreram em Moçambique entre Setembro de 1964 e Setembro de 1974. Do lado da Frelimo, entretanto, as contas são outras, e no segundo aniversário do início da guerra da independência, reivindicava a morte de mais de 3.000 soldados lusos. Em 1971, alegava ter liquidado, só nesse ano, 2.850, nove vezes mais do que o admitido pelo regime colonial. (Fonte principal deste dossier: “Mozambique: The tortuous road to democracy”, de João M. Cabrita)
Em 25 de Setembro de 1964 – Mondlane estava na Europa
Eduardo Mondlane, então presidente da Frelimo, encontrava-se numa digressão por vários países da Europa quando o seu movimento decidiu desencadear a guerrilha.
Por outro lado, o Governo tanzaniano proibiu uma conferência de Imprensa convocada pela frente para Dar-es-Salaam que se destinava a anunciar que a luta armada já fora desencadeada.
Após o seu regresso à capital da Tanzania, Mondlane revelaria que sete destacamentos da Frelimo haviam penetrado no Norte de Moçambique a 25 de Setembro, dos quais três foram capturados pelos portugueses, dois acabaram por dispersar, com diversas baixas, após troca de tiros com as tropas coloniais, enquanto os restantes dois se mantinham intactos.
Sobre a MANU, que se declarou farta de esperar pelo início da guerra da independência, haveria o líder frelimista de comentar indirectamente que qualquer acção militar daquele movimento seria «uma missão manipulada do exterior» para levar à separação de Cabo Delgado e Niassa de Moçambique, com integração na Tanzania.
O sentimento de frustração pela alegada apatia de Mondlane alastrava noutros sectores da Frelimo nas vésperas do desencadeamento oficial da guerra da Independência, sendo de realçar a expulsão, em Agosto de 1964, de seis quadros da frente, incluindo o então secretário da Defesa, Leo Milas, acusado de ser «um espião norte-americano». Como tinha sido nomeado pelo próprio presidente da Frelimo, a expulsão causou alguns embaraços a Mondlane que, posteriormente, revelou que o verdadeiro nome de Milas era Leo Clinton Aldrige, que nem sequer seria moçambicano, mas sim um americano do Texas.
O expulso viria a retaliar logo a seguir, em conferência de Imprensa, acusando o presidente da Frelimo de não fazer nada para promover a guerra em Moçambique. Denunciou ainda que Mondlane passava «menos de um terço do seu tempo de liderança em África».
IMPARCIAL - 24.09.2002 

09-03-2005

Os “Negros” em Portugal

- Uma Presença Silenciosa versus os “Brancos” em Moçambique: uma Presença Ruidosa… (2/2)
DIALOGANDO
por João Craveirinha
Apontamentos sobre a Escravatura em Moçambique – caTembe, Inhambane e “Quilimane”
INTRODUÇÃO

Em relação a Moçambique a Escravatura não foi bem aceite na região de caMpfumo e Maputsu (o verdadeiro dos Tembes). Uma das provas é o insucesso do projecto (1777) do pirata William Bolts de origem alemã nascido na Holanda empregado em firma inglesa em Lisboa (1755) e mais tarde (1776), ao serviço do Príncipe Wengel Anton von Kaunitz-Rietburg da Áustria – Viena. Reinava a Imperatriz Maria Teresa por morte de seu pai o Imperador Carlos VI dos Habsburgos em 1740. A Áustria apesar de possuir extenso domínio – Boémia, Hungria, Itália, Holanda e zonas do rio Danúbio era um Império desorganizado.
Na actual Baía de Maputo, nessa época, reinavam os Mpfumos na actual Matola e os Tembes com os quais os Europeus prestavam vassalagem e pediam autorização para se abastecerem de água, caça, etc. Escravatura estava fora de questão. Contraditoriamente, o projecto austríaco consistia em “criação” de negros e negras em KRAALS – currais na caTembe como “frangos em aviário”para venda a outros Europeus. A falta de colaboração fez William Bolts tentar se “abastecer” em Inhambane na região dos Gógóne vulgo bitongas e trazê-los para a região da caTembe. Mas em vão. De salientar as constantes revoltas e ataques dos rongas Tembes e Mpfumos contra os navios negreiros que entravam na Baía. Não era invulgar serem incendiados navios ingleses, holandeses, portugueses e outros quando não respeitassem as autoridades africanas locais e com o adequado “imposto” e “saguate” a ser cobrado.
DESENVOLVIMENTO
Vindo da África do Sul, em 1821, fugido de Tchaca Zulo, Sochangana conhecido por maNicusse (Nkossi - rei) e seu grupo invadem Moçambique pelo Maputsu, avançando até ao rio Zambeze / Tete / Manica (1835 / 1839), onde é “travado” pelo clã “mulato chinês / caneco” do Inhaúde pai do Bonga. Fixa-se no Búzi – Sofala e em 1840 dos 46 Prazos do vale do rio Zambeze, 28 a sul, pagavam “imposto” a Sochangana, avô do Gungunhana. Sochangana (de origem Tembe) de regresso a sul do rio Save ao saber que um chefe maRonga de uma povoação na Matola, “negociara” com os portugueses a venda de alguns súbditos, arrasa a povoação para que servisse de exemplo. Remédio santo. Nunca mais na região houve escravos à venda no século XIX.
O Historiador Luís Covane em 14 de Março de 2003 no Instituto Camões (Maputo) na re – apresentação do livro…“Moçambique: Feitiços, Cobras e Lagartos!”(http://www.macua.org/livros/feiticos.html), diria: - …”É muito interessante a citação extraída de uma publicação colonial referente à posição de Manicusse (Sochangana) em relação ao comércio dos escravos: Aquele que vende seu semelhante merece com justiça ser perseguido e caçado mais do que os leopardos e leões...”. Esta declaração do 1º Imperador de Gaza ajuda a esclarecer a natureza dos poderes africanos antes da conquista colonial (…) Ficamos a saber que nem todos os aristocratas africanos viam no comércio de escravos uma forma importante de acumulação de riqueza e de reforço do seu poder e prestígio. (…) Eram os europeus que instigavam as guerras intra e inter estados, reinos e chefaturas como forma de produção de escravos.”…
CONCLUSÃO
Segundo o Visconde da Arriaga, em Moçambique, no vale do Zambeze…”A escravatura tornou-se um delirio durante os primeiros quarenta annos d’este seculo(sec.XIX, 1800-1840), e quanto mais se desenvolvia a America, tanto mais se despovoava e empobrecia a Africa! Chegaram a navegar annualmente para o porto de Moçambique (ilha) e Quilimane á procura de pretos mais de quarenta navios de differentes nações! Em 1820, os habitantes de Quilimane, que pela sua riqueza se consideravam a povoação mais importante e aristocratica da provincia, proclamaram-se independentes desligando-se do governo da capital e unindo-se ao Rio de Janeiro”(…) Presidindo em Moçambique, como juiz de direito á venda em leilão de 52 pretos pertencentes á herança d’um Baneane, natural da India, causou-me horror e vergonha, quando procedendo-se em separado á d’uma preta, engommadeira, que trazia pela mão um filho de 8 annos, e outro ao colo a vi chorar lágrimas de sangue por este desprezo dos sentimentos da natureza”(...) Os cem prazos da corôa, que abrangem um territorio muito maior que a península iberica (…) estão quasi todos abandonados, por que os seus habitantes foram vendidos para a America, e os senhores depois d’esta vergonhosa venda e ricos, seguiram quasi todos o mesmo caminho, vindo alguns para a Europa”(…) O Praso Luabo, que foi dos jesuitas, e que durante muitos annos forneceu mantimentos de arroz, milho, mandioca, feijão e ervilha para os navios de escravos, que aportavam a Quilimane, está hoje despovoado, por que os colonos (negros) também foram vendidos”… (FIM) Nota: Ortografia no original publicado em 1881 – Lisboa.
O AUTARCA - 09.03.2005
Ver a 1ª parte em:

07-03-2005

Os “Negros” em Portugal

- Uma Presença Silenciosa versus os “Brancos” em Moçambique: uma Presença Ruidosa… (1/2)
INTRODUÇÃO
O tema de hoje, é motivado pelo “retorno” a Moçambique, dos tempos “áureos” do colonialismo português, anos 1950/60 e dos “decadentes” anos 1970. Esses tempos parecem ressurgirem, no País, tal é a falta de respeito no mínimo, pela Independência
que custou Sangue, Suor e Lágrimas à imensa maioria de “negros” (sobretudo) e dos “mestiços/mulatos e brancos” de ambos os lados, não nos esquecendo dos sino (chineses) e indo (indianos) Moçambicanos.
Até já se utiliza “Galinha à Cafreal” termo proibido ainda na era colonial pelo governo português, graças à intervenção do Jornalista/Poeta José Craveirinha, no jornal Notícias (anos 1960), por pejorativo e atentatória à dignidade do “negro” por se referir a ele como selvagem…isto é “Galinha à Selvagem”. Passaria para GALINHA À PIRI-PIRI.
DESENVOLVIMENTO
De facto, parece estar-se a reviver uns tempos “crispados” de antagonismos ruidosos e outros silenciosos em que a liberdade de expressão se confunde com “ismos” que se pensavam enterrados da História recente. Eis que de novo, “demónios ou xipócues”,
se tentam implantar quer em Moçambique, quer em Portugal, trocando as cores desses “ismos” até da Escravatura em África, legado colonial europeu a uma escala gigantesca, iniciada por Portugal e ANTÃOGONÇALVES, no Rio do Ouro (1441), na captura de 10 (ditos) negros africanos transformados em escravos e vendidos em Lisboa.
No 2º Vol. História Universal 1994, adaptação feita pelo emérito Historiador português, Prof. DoutorJorge Borges de Macedo (falecido), refere-se a Antão Gonçalves e seu grupo … “Esse ano de 1441 é mais um marco trágico nos laços entre Europeus e Africanos”… Os Árabes iniciaram e os Europeus massificaram a uma dimensão Mundial nunca vista na Humanidade e com os maiores requintes de desumanidade.
Lagos (Algarve) mais tarde, seria o centro principal desse Tráfico na Europa.
Todavia, surgem certas vozes querendo minimizar o HOLOCAUSTO NEGRO (20 a 60 milhões de seres humanos perdidos por África) cuja maioria na fase avançada nem
teriam sido vendidos por intermediários africanos, chefes, reis ou sobas, aos europeus. Eles próprios mais tarde cativos (os sobas). Sem desculpabilizar a conivência dita negro – africana há que ter em conta o fomento pelos “brancos” europeus, de guerras étnicas para a venda/compra/venda dos prisioneiros. SEM PROCURA NÃO HAVERIA OFERTA. Somente pelo Arquipélago de Cabo Verde – capital ilha de Santiago – Ribeira Grande, durante séculos – sec. XVI / XIX, teriam circulado cerca de 4 milhões de Wolofes, Mandingas, Felupes, Fulas, Papeis, Djalôs, Balantas, Biafadas (grumetes), Manjacos, para as Américas – Caraíbas, Brasil, Guianas e Antilhas e a Holandesa – “Curaçao”, cujo idioma actual o “creole PAPIAMENTU (PP)” é testemunho dessa época. O PP é originário do crioulo de Cabo Verde (badio). Esses escravos foram capturados pelos portugueses e vendidos para as Américas, aos Espanhóis, Ingleses,
Franceses, Holandeses, pela ROTA DA ESCRAVATURA, conhecida historicamente por “Atlantic Slave Trade do Black Cargo”. A desarborização para combustível, habitação e manutenção das caravelas causaria desertificação em Cabo Verde e é uma acusação silenciosa ao Tráfico de Escravos e à mestiçagem forçada oficializada.
CONCLUSÃO
A serem JUDEUS, os ditos negros, e muito mais claros de pele, olhos azuis ou verdes, o destaque seria outro e com Indemnizações e sem tentativas de minimizar essa tragédia a exemplo do recente Holocausto Judeu, apesar de ter havido também, alguns Judeus
coniventes” com os nazis alemães e fascistas italianos e franceses. A Alemanha Federal pós 2ª Guerra Mundial que nada tinha a ver com o nazismo e o Holocausto,
pagou chorudas indemnizações a Israel que nem existia na altura como um Estado Independente. Mas com coragem assumiu esse passado Histórico tenebroso.
África, sofreu uma “sangria” eterna e tentar atenuar a culpabilidade Histórica da Europa e Américas é tendencioso. Esse legado trágico ainda afecta as mentalidades de certos ditos brancos europeus na assumpção de uma superioridade em que se posicionam e em certos negros africanos nos complexos em se que auto-submetem pois foi-lhes negado um passado Histórico que não os remeta para uma dominação
colonial europeia “branca”. E nunca como agora em Portugal, a corrente de mentalidade colonial emergiu com tanta força, mantendo em Presença Silenciosa o
negro” com nacionalidade portuguesa, estimados em cerca de 1 milhão – 10% da população ou mais (dados não oficiais), continuando sem visibilidade. (Continua)
– Escravatura em Moçambique – caTembe (William Bolts), Inhambane, os Prazos do Zambeze e “Quilimani”.
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 08.03.2005

27-02-2005

Arquipélago das Quirimbas

Image65jConheça ou reveja o paraíso que são as Ilhas do Arquipélago da Quirimbas, em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, entre elas as do Ibo, Matemo e Quilalea:

16-02-2005

Assinado protocolo com Portugal para reabilitação arquivo histórico

A Cooperação Portuguesa e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) assinaram, hoje, na capital moçambicana, um protocolo de colaboração destinado à reabilitação do Arquivo Histórico de Moçambique (AHM), num projecto avaliado em mais de 600 mil euros.
A doação visa a adaptação de um edifício a oficinas de micrografia e restauro de três depósitos históricos do país, num projecto que será suportado por quatro instituições portuguesas, designadamente o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), Instituto do Livro e das Bibliotecas (IPLB), Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (IAN/TT) e do Instituto do Património Arquitectónico (IPPAR).
O acordo pretende apoiar à revitalização do maior depósito histórico de Moçambique e um dos maiores do continente africano, numa extensão de 26 quilómetros de estantaria de documentos em três edifícios da UEM.
A iniciativa irá "permitir à recuperação de parte do acervo bibliográfico português ali instalado desde o tempo da dominação colonial", sobretudo aspectos ligados a Moçambique, antiga província ultramarina, disse aos jornalistas o responsável pelo IPLB, Rui Pereira.
O reitor da UEM, Brazão Mazula, mostrou-se "entusiasmado" com o gesto da Cooperação Portuguesa, destacando a importância de "melhorar as condições em que se encontra todo o acervo bibliográfico, com vista a permitir uma melhor flexibilidade de utilização por parte dos investigadores da história moçambicana e não só".
O director do AHM, Joel Tembe, disse segunda-feira à Agência Lusa que o valor se destina à execução de um projecto de arquitectura, de especialidade, fiscalização e adaptação de um edifício a oficinas de micrografia.
No âmbito da reabilitação do AHM, a UEM decidiu desactivar o edifício sede por não oferecer condições para o restauro e englobá-lo num dos três estabelecimentos a serem reabilitados com fundos portugueses e que passarão a funcionar como centro de investigação científica, referiu Joel Tembe.
Agência Lusa - 16.02.2005

14-02-2005

Portugal apoia com 600 mil euros reabilitação de Arquivo Histórico de Moçambique

Portugal vai apoiar com mais de 600 mil euros a reabilitação do Arquivo Histórico de Moçambique (AHM), num projecto que visa a adaptação de um edifício a oficinas de micrografia e restauro de três depósitos históricos do país.
Um acordo de parceria entre a cooperação portuguesa - através dos institutos de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), do Livro e das Bibliotecas (IPLB), dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (IAN/TT) e do Património Arquitectónico (IPPAR) - e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) será quarta-feira assinado em Maputo.
O acordo tem em vista o apoio à revitalização do maior depósito histórico de Moçambique, numa extensão de 26 quilómetros de estantaria de documentos nos três edifícios contemplados.
O director do Arquivo Histórico de Moçambique, Joel Tembe, disse hoje à Agência Lusa que o valor destina-se a execução de um projecto de arquitectura, de especialidade, fiscalização e adaptação de um edifício a oficinas de micrografia.
No âmbito da reabilitação do AHM, a UEM decidiu desactivar o edifício sede por não oferecer condições para o restauro e englobá-lo num dos três estabelecimentos a serem reabilitados com fundos portugueses e que passarão a funcionar como centro de investigação científica, referiu Joel Tembe.
Aquele responsável disse ainda que a UEM pretende informatizar as bibliotecas e instalar um programa de computador, avaliado em 200 mil euros, que permitirá a digitalização de todo AHM, numa iniciativa que se enquadra num outro projecto que contará com o apoio do governo do Japão.
"Pretendemos combinar as tecnologias, o que se traduz na aquisição de novas técnicas de informação digital combinadas com a microfilmagem, que é uma mais valia por poder conservar os filmes, em média, durante 500 anos", sublinhou.
Durante a sua presença em Moçambique, o IPLB e o IPPAR irão oferecer equipamento informático à Casa Museu José Craveirinha, em Maputo.
Agência Lusa - 14.02.2005

04-02-2005

3 de Fevereiro

Mondlane02Cada indivíduo é uma totalidade concreta a que se chama personalidade. O conceito de personalidade implica o conceito de integração porque representa o conjunto de tudo o que existe na pessoa. O indivíduo pode ser mais ou menos semelhante aos outros indivíduos, mas ele nunca deixará de ser único.
Depois de amanha, em memória do guerrilheiro sem ódio, o Dr. Eduardo Mondlane, comemora-se o 3 de Fevereiro, dia dos heróis moçambicanos.
Nascido em 20 de Junho de 1920 em Manjacaze, província de Gaza, foi o último filho da terceira e última mulher do seu pai. Perdeu o pai ainda muito pequeno, foi cuidado pela mãe e iramos mais velhos. Ninguém da família frequentara a escola; ele e os iramos cuidavam das vacas, ovelhas e cabras. Porém a mãe, uma mulher decidida e destemida, empenhou-se para que ele recebesse educação. Em 1931, quando tinha onze anos, passou a frequentar  a escola primaria oficial de Manjacaze, depois de dois anos, passou para a escola de mis-são, que estava perto de casa. Os missionários calvinistas interessaram-se pelo jovem e conseguiram em 1936 que fosse a Lourenço Marques fazer exame de 4ª classe, que era o máximo a que um negro podia aspirar naquela altura. Teve oportunidade de frequentar uma escola agrícola onde fez o curso de agricultura de sequeiro. Depois de ensinar dois anos de agricultura de sequeiro na região de Manjacaze, conseguiu uma bolsa para estudar ensino médio no norte de Transval. Em 1948 com outra bolsa entra na Universidade de Witwatersrand em Johanes-burg. No ano seguinte o governo da África do Sul reti-rou-lhe a permissão de estudante estrangeiro e os portugueses prenderam-no  e  interrogaram-no  a cerca do seu esforço para organizar em Moçambique uma união de estudantes.
            As autoridades portuguesas chegaram a conclu-são de que se fosse estudar para uma universidade de Portugal, curaria o embrionário Espirito de Nacionalista Negro. A Phelps Stokes Fund de Nova Yorque concede uma bolsa para uma universidade de Lisboa; ao fim de um ano solicitou transladassem a bolsa para uma univer-sidade americana e em 1953 obteve B.A em Oberlin Co-lege de Ohio.
De Ohio passou a Evanstone, na Northwester University, onde estuda antropologia e sociologia com professores de categoria de J. Melville  Herskovits. Aí obteve a sua licenciatura e o seu doutoramento, meta nada desprezível quando, essa altura (1955), só havia dez moçambicanos no ensino secundário. Já Doutor, foi completar os seus estudos em Harvard  University, durante dois anos. Em 1957 entra no Social Research, departamento da ONU onde esteve até 1961.
Em 1962 existiam em Moçambique vários grupos de nacionalistas com muitos líderes e pouco dinheiro. Os três principais grupos nacionalistas eram, União Nacional Africana de Moçambique (MANU), a União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO), e a União Nacional Africana de Moçambique Independente (UNAMI). Mondlane viu a necessidade de unir os diferentes movimentos numa frente unida e num único movimento. Em 25 de Junho de 1962, funda a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), sobre a base de uma total fusão de todos os movimentos. No primeiro congresso decorrido entre 23 e 28 de Setembro  de  1962 é eleito presidente, cargo que exerceu até 1969, quando no dia 3 de Fevereiro ocorreu a tragédia.
As onze horas da manha chega a Dar-Es-Salaam de uma das suas infinitas viagens e decide, antes de tomar o pequeno almoço, ir descansar a uma casa da costa da mesma cidade que pertencia a uma amiga da sua mulher e onde sempre tinha pronto o seu quarto.
Avisa o quartel-general da Frelimo que lhe levem aí o correio. Chegar a casa, subir ao seu quarto e pôr-se a vontade, é coisa de um momento, de tronco nu volta a descer para receber o correio que acabava de chegar e com ele sobe ao seu quarto, onde lhe levam o café quente. No correio vem um pacote com formato de um livro com selos da Alemanha  Federal, catalogado numa cinta “pessoal e confidencial”. Começa a abri-lo...
A explosão faz tremer a casa inteira. Na habitação estava o corpo do Dr. Eduardo Mondlane horrivelmente mutilado. Um herói moçambicano que nunca usou ódio mas sim muita compreensão e sacrifício.
São exemplos a seguir por esta nossa geração, a unidade, o anti-tribalismo, regionalismo, racismo e foi o le-ma prosseguido pelo outro herói  Samora Moisés Machel.
Que o 3 de fevereiro de 2005, leve a Frelimo a força da mudança, a mudar atitudes retrogradas de alguns dirigentes gananciosos e ambiciosos.
O saudoso Samora Machel ensinou-nos, que por detrás do tribalismo, regionalismo, racismo, esconde sempre o rosto mesquinho da ambição. Ambição que, tantas vezes, leva ao crime e a traição.
Os grandes feitos estão reservados para os grandes homens.
Tenho dito.
(Abdul Magide Abdul Gafur)
Obs. Dados colhidos numa revista espanhola “Vida Nueva
O AUTARCA - 01.02.2005

03-02-2005

Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos

Jcraveirinha_instcamoes1_1Da esquerda para a direita: Adido Cultural e Embaixador de Portugal em Moçambique. Vice – Ministro da Cultura de Moçambique Luís Covane, Dona Edite da Minerva Central e o autor João CraveirinhaFeitic02_1Comentário por Luís COVANE na apresentação do Livro Moçambique; Feitiços, Cobras e Lagartos· O Dr. Luís COVANE é Historiador e vice – Ministro da Cultura de Moçambique na África Oriental do sul em 2003. Em 14 de Março de 2003 fez a (re) apresentação de um livro de João CRAVEIRINHA… no Instituto Camões, em Maputo por ocasião do 95º aniversário da 1ª Livraria portuguesa na África Austral. Contou com a presença do Embaixador e do Adido Cultural de Portugal na República de Moçambique. Apresentação do Livro por Luís Covane: …É para mim uma grande honra e privilégio proceder à apresentação deste livro, embora seja pela 2ª vez, uma vez que tive a oportunidade de assistir ao 1º lançamento onde uma personalidade das letras moçambicanas fez uma sábia e eloquente apresentação desta obra, intitulada: “Moçambique: Feitiços, Cobras e Lagartos! Crónicas Romanceadas.” Este lançamento, integra-se nas celebrações do 95º aniversário da Minerva Central, casa que ao longo de quase um século, acarinhou os estudantes, professores, estudiosos e amantes da leitura em Moçambique. Aproveito esta oportunidade para felicitar a Minerva Central pelo seu aniversário e formular votos para que continue a prestar a sua valiosa contribuição na luta pela elevação do nível sócio-cultural e cientifico dos moçambicanos através da disponibilização do livro. João Craveirinha é um investigador, escritor, amante da história e cultura moçambicanas que dispensa apresentação. A modesta biografia que nos é apresentada na obra, permite visualizar a grandeza do homem, do investigador e incansável trabalhador na busca do esclarecimento do passado, do presente e dos desafios da sociedade moçambicana. O livro de Craveirinha é muito especial. A sua leitura não é cansativa. Não é preciso ler todo o livro para compreender a história; cada texto é uma história completa e sem qualquer tipo de ligação com o anterior ou o seguinte. A história da sua produção justifica a sua natureza. Este livro é uma brilhante colectânea de textos. A obra é composta por vinte e quatro textos, sendo dez dos quais caracterizados por uma grande componente de história e etno-história e os restantes por aspectos sócio-culturais e económicos que marcaram e marcam a sociedade moçambicana. As partes que tratam da história ou etno-história confirmam que João é um profundo conhecedor dos arquivos, dos documentos e escritas sobre o passado longínquo e recente de Moçambique. A maneira como ele aborda algumas peças da história pré-colonial de Moçambique, principalmente sobre os processos ocorridos na 2ª metade do sec. XIX, lança sérios desafios aos historiadores e estudiosos moçambicanos. Para os que terão a oportunidade de ler este livro, chamo à atenção para as dificuldades de conferência ou verificação das fontes consultadas, resultante da opção que ele tomou de explicitar algumas e deixar a maioria na penumbra. A decisão de não revelar todas as fontes parece um convite para a pesquisa. É um convite para visitarmos os acervos documentais do Arquivo Histórico de Moçambique, do Instituto de Investigação Sócio-cultural (ARPAC) e outros. Confesso que a quantidade de dados é impressionante. Nomes, datas, locais e episódios emprestam às partes históricas da obra um rigor discursivo de qualidade invejável. A obra de Craveirinha ofereceu detalhes inéditos sobre o crescimento da cidade de Maputo. É impressionante o tratamento dos conflitos entre os portugueses e os reinos e as chefaturas vizinhas da Baía, bem como as guerras entre o Estado de Gaza e as formações políticas do sul e centro de Moçambique. A origem e o desenvolvimento dos bairros da Mafalala, Chamanculo e Munhuana nos são historiados de uma maneira igualmente bastante detalhada. Temos informações muito interessantes sobre os conflitos luso-britânicos pela posse de Lourenço Marques que culminaram com a arbitragem do Presidente Mac-Mahon em 24 de Julho de 1875 a favor dos portugueses. Quero manifestar a minha concordância com o autor quando cita o Prof. Dr. Tito Lívio “A história é uma reconstituição da realidade que contém mais que a realidade, o que não está nos documentos: a contribuição do espírito”. Acredito que muitos dos que tem trabalhado na arte da escrita da história reconhecem que no penoso processo cognitivo as divergências entre os historiadores não surgem na identificação e categorização dos factos históricos, mas exactamente na sua interpretação. É na construção do discurso histórico que os elementos subjectivos, como muito sabiamente reconhece o autor, ao citar o Prof. Lívio, onde surgem os posicionamentos, os objectivos e as motivações dos sujeitos do conhecimento. Isto significa que por mais profundo que seja o conhecimento ele nunca é igual ao objecto do conhecimento. O conhecimento é, sim, produto da interacção entre o sujeito e o objecto do conhecimento. Com Craveirinha encontramos fundamentação suficiente para dizermos que a história não é igual ao passado. Temos elementos para dizermos que o elemento subjectivo é incontornável na produção de textos históricos. Sentimos em cada parágrafo dos seus textos que o historiador é um ser social que vive intensamente o seu tempo e o seu meio social, que o influenciam sobremaneira. O historiador escreve para audiências bem definidas. O texto histórico visa influenciar e/ou moldar atitudes, comportamentos no presente e na previsão do futuro. Craveirinha está muito presente nesta obra como um homem e como agente activo na luta pela transformação da sociedade em que vive. Não me parece relevante discutir as convicções e opiniões do homem João Craveirinha aqui expressas. O importante é a sua contribuição que nos permite revisitar o passado recente e remoto da nossa sociedade. O desejo de moldar atitudes e comportamentos, principalmente de amor à pátria, justifica que governos e instituições canalizem recursos para a investigação e ensino da história. Programas de história são concebidos para que o cidadão, desde a sua tenra idade, se apetreche não só de conhecimentos dos factos do passado, mas essencialmente para desenvolver o espírito patriótico e de pertença a um povo com tradições e valores que o tornam diferente dos outros. A história tem um papel a desempenhar na afirmação de uma sociedade e de um povo. No nosso caso, a história oferece os alicerces da moçambicanidade. É muito interessante a citação extraída de uma publicação colonial referente à posição de Manicusse em relação ao comércio dos escravos: “Aquele que vende seu semelhante merece com justiça ser perseguido e caçado mais do que os leopardos e leões...”. Esta declaração do 1º Imperador de Gaza ajuda a esclarecer a natureza dos poderes africanos antes da conquista colonial e permite fazer uma avaliação diferenciada dos interesses e fontes do poder. Ficamos a saber que nem todos os aristocratas africanos viam no comércio de escravos uma forma importante de acumulação de riqueza e de reforço do seu poder e prestígio. Aprendemos igualmente que a justificação dos europeus para a prática do comércio de escravos não era por razões humanitárias. Os ideólogos europeus da última fase do capital mercantil em África sustentavam que a transformação do homem em mercadoria era para salvar os cativos das infinitas guerras sangrentas que caracterizavam a África Negra. Agora ficamos a saber que era mentira! Eram os europeus que instigavam as guerras intra e inter estados, reinos e chefaturas como forma de produção de escravos. É impressionante como o autor diagnostica o estado de saúde da capital do país e propõe alternativas para se sair da crise. O autor regista nesta obra seis espaços que poderiam ser eleitos para acolher a capital do país: Gurué, Morrumbala, Nampula, Nacala, Ilha de Moçambique e Lichinga. É uma opinião! Ele identifica as cidades que já foram capitais de Moçambique e discute, alguns exemplos de países cujas capitais não são cidades costeiras nem portuárias. Uma coisa que Craveirinha não esgota é porque é que muitas pessoas falam sempre mal da capital, mas que ninguém a quer abandonar. Nesta obra ele faz desfilar as mulatas Safirana de Chamanculo, Saira da Matola 700, Gabriela da Mafalala e a sogra para nos mostrar os perigos da degradação do tecido social em Maputo. Nesta viagem somos obrigados a fazer paragens múltiplas para pensarmos no dia a dia pouco dignificante de algumas vizinhas ou filhas de vizinhos e das jovens desconhecidas que vemos na rua. Os comportamentos condenáveis representados por estas personagens, encontram em João Craveirinha explicação no nosso complexo sócio-cultural. Os maus espíritos e a feitiçaria explicam quase tudo. O autor dispensa o recurso a causas de natureza económica e política na explicação da actual situação de Moçambique. O espaço que hoje se chama Moçambique foi delimitado numa situação colonial. Antes da imposição do domínio colonial coexistiam em “Moçambique” várias unidades políticas, umas centralizadas, outras de carácter linhageiro. É neste espaço outrora caracterizado por uma grande fragmentação política que hoje estamos a construir uma nação una e indivisível, que reconhece a diversidade étnica sócio-cultural e histórica. Isto quer dizer que as histórias locais do período pré-colonial devem ser investigadas, divulgadas e respeitadas, sem que no entanto esse exercício concorra ou contribua para minar a nossa unidade em permanente construção. Para terminar, gostaria de dizer que foi bastante gratificante ler a obra de Craveirinha. Este livro é mais um testemunho de que o homem, como ser social, é dialogante, tendo necessidade de interagir constantemente com os seus semelhantes. Crónicas Romanceadas é um instrumento de troca de ideias, opiniões, conhecimentos e convicções. A escrita é a forma que Craveirinha elegeu para o diálogo, sempre necessário, sobre o nosso passado, presente e perspectivas do futuro. Parabéns Craveirinha! Parabéns por este livro de 24 livros! Muito obrigado! - Maputo, 14 de Março de 2003 Para mais informações sobre a obra –, Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos ver nos seguintes saites: Moçambique: Feitiços, Cobras e Lagartos – João Craveirinha: - http://www.macua.org/livros/feiticos.html - www.me.co.mz – autores pag. 4 - http://maputo.co.mz/article/articleprint/375/1/54 - http://www.ccpm.pt/r31_p69.htm - www.TE.pt ou www.MEDIABOOKS.pt e ver...À conversa com…outras entrevistas Breve Bibliografia – - História da África Negra de Joseph KiZerbo e de John Fage - Os Negros em Portugal – Uma Presença Silenciosa … José Ramos Tinhorão - Os Pretos em Portugal colecção Pelo Império edição anos 1930 - Navios Negreiros : http://www.segal1945.hpg.ig.com.br/navio.htm - Chronological References: Cabo Verde / Cape Verdean American : Raymond Almeida : http://www.umassd.edu/specialprograms/caboverde/cvchrono.html (…”historians Sena Barcelos, Antonio Carreira, and Daniel Pereira, ethnographers Felix Monteiro and Luis Romano, official U.S. Customs records, the research of Richard Lobban, Deidre Meintel, Marilyn Halter, George Brooks, and other contemporary American scholars, interviews with Cape Verdean-American community scholars”…) - Companhia de Moçambique - http://companhiademocambique.blogspot.com/ - Mártires de Massangano – autor Capitão Pereira Galante – Imprensa Nacional 1945 – Lourenço Marques (edição proibida pelo governo colonial por se referir às humilhantes derrotas portuguesas contra o Bonga de Tete durante 35 anos) - Augusto de Castilho na Zambézia – autor Dr Victor Santos, colecção Pelo Império nº 125 – Lisboa 1952 - A República Militar da Maganja da Costa 1862-1898 – autor José Capela, edições Afrontamento. Porto 2ª edição. (1ª edição Maputo 1988) - Escravismo Colonial em Moçambique – autor José Capela, edições Afrontamento. Porto 1993 - Glórias e Martírios da Colonização Portuguesa – autor General Ferreira Martins, colecção Pelo Império nº 56 – Lisboa 1939 - Caldas Xavier – autor Manuel Múrias, colecção Pelo Império nº 90 – Lisboa 1943 - Neutel de Abreu – autor Manuel Ferreira, colecção Pelo Império nº 116 – Lisboa 1946

30-01-2005

COMBATE DE MARRACUENE GUAZA MUTHINE – 2 FEVEREIRO 1895

DIALOGANDO especial
Foto Legenda por João CRAVEIRINHA
Uma Imagem Vale Mais que Mil Palavras! (Provérbio Chinês)
COMBATE DE MARRACUENE
    GUAZA MUTHINE – 2 FEVEREIRO 1895
    Combmarracuene       
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Mpfumo_2
Pedrobaessa_1
Caldas_xavier
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Ao alto o Combate de Marracuene em Guaza Muthine, Moçambique, em 2 de Fevereiro de 1895 sem vencedor definido. Em baixo à esquerda, imagem de 16 de Abril  de 1899, nos Açores, do chefe da revolta anti - colonial  nesse Combate, o príncipe ronga nuãMatidjuana caZixaxa Mpfumo. Traído pelo Imperador de Gaza, Gungunhana, seria desterrado para os Açores, onde constitui família açoriana. No centro o caboverdiano Pedro Baessa, intérprete dos portugueses nesse Combate, chefiado pelo major Caldas Xavier, na foto ao lado. Mais tarde Baessa passaria por Tete e fixa-se em Nampula onde deixaria descendentes aos dias de hoje. (FIM)
02 Fevereiro 2005 joaocraveirinha@yahoo.com.br
COMBATE DE MARRACUENE
GUÁZA MUTHINE – 2 FEVEREIRO 1895
«…Fambane pambene va-landííí – nhimpííí»…
(tradução: para a frente gente da terra – guerra – ataque; voz de comando de nuãMatidjuana)
Uma Imagem Vale Mais que Mil Palavras. Assim reza um Provérbio Chinês. Era este o subtítulo que me veio à ideia quando montava uma Foto Legenda para a efeméride do Guáza Muthine, utilizando uma pintura colonial do Combate de Marracuene, Moçambique, em 2 de Fevereiro de 1895 sem vencedor definido.
Em baixo da pintura à esquerda, coloquei uma imagem de 16 de Abril de 1899, tirada nos Açores, do chefe dessa revolta anti – colonial, o príncipe ronga nuãMatidjuana caZixaxa Mpfumo. Seria entregue aos portugueses em Chissano, Gaza, pelo Imperador Gungunhana que o traiu. Nuã – Matidjuana desterrado para os Açores constitui família açoriana e ironicamente ficaria no cativeiro com o homem que o entregou quando exilado em seu território de Gaza anos antes. No centro dessa minha montagem coloco o caboverdiano Pedro Baessa (sénior), intérprete dos portugueses nesse Combate chefiado pelo major Caldas Xavier, na foto a seu lado. Mais tarde, P. Baessa, passaria por Tete e fixa-se em Nampula onde deixaria descendentes aos dias de hoje. Um seu filho, de mãe moçambicana, também Pedro Baessa (júnior), falecido em Fevereiro de 1985, chegaria a Presidente da CM Nampula em 1964.
Mas afinal o que se teria passado em Guáza Muthine? - No meu livro Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos, da página 147 à página 156, tentei descrever de uma forma quase de “ guião cinematográfico”, este combate em Guáza Muthine –, o célebre Quadrado colonial de Marracuene…”Muthine quer dizer lugar de, em língua xi-ronga, e Guáza significa trespassar”…com a lança. Esta efeméride é festejada por muita gente mesmo sem saber ao certo o que aconteceu…”Quem diria hoje que a festa de Guáza Muthine fora proibida de 1975 (na transição) a 1994 pelo poder político revolucionário instalado em Moçambique?”…Outra das confusões é querer conotar com Gungunhana esta revolta dos vaRonga devido aos registos coloniais não admitirem que para além do Império de Gaza outras chefaturas no centro e sul de Moçambique também não se submetiam aos portugueses…”Num discurso em 14 de Março de 1942 “Marcello” Caetano disse: - «Teoricamente possuíam os portugueses na costa oriental extenso domínio, por virtude da utilidade do litoral. Mas, tirando pequena parte da Zambézia e da Ilha de Moçambique, a soberania portuguesa era nominal e os potentados negros e mulatos escarneciam-na impunemente. De maneira que a ocupação efectiva, subjugar potentados, vencer rebeldias, instalar autoridades representativas da soberania portuguesa e assegurar aos colonos o livre trânsito, a segurança e a paz, foi uma nova aquisição das colónias africanas ao fim do século passado (XIX).»…idem in pag. 28, Capítulo II de Terra dos Mpfumos a Lço Marques, Cidade-Capital.
Os eventos seguintes ao Combate de Marracuene…”Meses mais tarde, nuãMatidjuana e Mahazul (chefe dos Magaias) reorganizam-se a norte de Marracuene em Magul, onde se dá novo confronto com o exército colonial, chefiado por Freire de Andrade. Os va-ronga saem derrotados em 7 de Setembro de 1895. Os portugueses espalham o terror na região incendiando as povoações obrigando os chefes locais a prestar-lhes vassalagem. Gungunhana não quis intervir mais uma vez em auxílio aos seus aliados rongas. Aguardava”…ibidem, Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos, pág. 154.
Guaza Muthine é caracterizado por ser um local sagrado de espíritos dos cerca dos 66 guerreiros vaRonga onde …”mortos no local foram enterrados e os feridos eliminados amontoados e cremados com petróleo, deixando um cheiro nauseabundo no ar”…idem.
Que este ano a 2 de Fevereiro de 2005, não seja de novo “o Ano da fúria de todos os espíritos da floresta de Marracuene” como nos anos anteriores, sobretudo em 2000 e 2001, com inúmeros acidentes de viação num total de dezenas de mortos e feridos conotados com esta efeméride devido ao excesso de bebidas alcoólicas e má condução…”Que os espíritos sagrados do Bosque da árvore do canhoeiro em Marracuene nos perdoem e nos protejam!!!”…(FIM)
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 31.01.2005

Colóquio Internacional sobre a Lusofonia em África

Conferência sobre Lusofonia em África :
Historia, democracia e integração africana de 28 a 30 de Abril de 2005, em Luanda
Com o objectivo de desenvolver as suas actividades de pesquisa nos países africanos de língua oficial portuguesa, o CODESRIA organiza de 28 a 30 de Abril de 2005 em Luanda, Angola, um colóquio internacional sobre o tema: Lusofonia em África: história, democracia e integração africana.
Os temas ligados à história, democracia e integração africana são recorrentes nas pesquisas em ciências sociais. No contexto dos países africanos que falam o português, estes temas têm uma ressonância particular.
A Lusofonia em África não é um conceito abstracto!
A sua essência resulta de uma variedade de especificidades, que muitas das vezes são questionadas. Este grupo de países que outrora manteve relações estreitas com a antiga potência colonial soube construir uma identidade que vai para além da simples utilização  comum da língua. Eles foram marcados no passado pela exploração e dominação coloniais. As sequelas do tráfico negreiro, a herança de um poder autoritário e de uma economia pouco desenvolvida, aliados a uma política de assimilação, que deu lugar a formas diversas de sociedades crioulas, são elementos constitutivos desta mesma "lusofonia". Esta entidade lusófona é também o resultado da expressão contemporânea dos povos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. 
As relações de dominação e de exploração que se reforçaram  durante a colonização  tiveram repercussões no tipo de Estado e nas relações que este estabeleceu com o conjunto da sociedade. A instabilidade política persistente em alguns desses países remonta a clivagens criadas pelo tipo de colonização a que estiveram sujeitos.   A guerra civil em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, bem como o sinuoso percurso  político de S. Tomé e Príncipe são certamente fruto da exacerbação de contradições do pós independência, mas estão igualmente ligados a factores históricos que remontam ao período pré-independência.
Esta herança colonial que deu lugar a regimes políticos autoritários no período colonial e pós-colonial justifica a exigência de instauração de bases democráticas  nesses países, tanto mais que um país como Cabo Verde, que seguiu a mesma trajectória colonial e um regime de partido único,  tem experimentado um desenvolvimento espectacular exemplar para o resto do continente. A vaga de transições democráticas que remonta aos finais da década de 80 conheceu dificuldades enormes que para se tornarem inteligíveis devem ser colocadas na perspectiva de uma análise do processo histórico de cada um desses países.
O colóquio será uma ocasião para revisitar estes e outros temas, colocando-os na perspectiva dos novos desafios que as mutações  económicas, sociais e políticas dos últimos vinte anos colocam. A liberalização política joga um papel importante nesta mudança profunda. Para lá de uma certa particularidade histórica, estamos no direito de nos colocar a questão da implicação dos PALOP nas dinâmicas políticas e ideológicas que marcam a África contemporânea. No seio deste grupo de países lusófonos, as diferenças locais podem ser decisivas. Neste movimento global, como é que se afirma esta particularidade lusófona? Como é que se distinguem e como é que se aproximam? Como medir e comparar a instabilidade política na Guiné-Bissau e a construção da democracia em Cabo Verde?
O colóquio proporcionará aos participantes uma ocasião para melhor compreender o alcance político destas transições democráticas e as especificidades que as caracterizam.
Discutir a lusofonia em África implica não só tomar em consideração os aspectos políticos, mas igualmente analisar os problemas económicos complexos que a ela estão ligados, tanto a nível nacional, como regional e mundial. Daí a importância a acordar às dinâmicas transfronteiriças que se verificaram e se verificam entre os países africanos Lusófonos e os países vizinhos, a fim de nelas surpreender as lógicas subjacentes à actuação dos actores individuais e colectivos.
Torna-se igualmente pertinente examinar as modalidades de afirmação da Lusofonia em relação com o reforço da integração regional. Será a cooperação entre os países lusófonos uma etapa indispensável à uma cooperação económica e financeira a nível internacional? A pertença a esta lusofonia dará lugar a uma nova comunidade política capaz de agir enquanto tal na esfera política internacional? De que maneira pode o mundo lusófono de Africa participar no elan colectivo dos países africanos face à globalização? 
Os investigadores em ciências sociais, lusófonos e não lusófonos, estão convidados a reflectir sobre as questões de análise que coloca esta categoria de países em África. Tendo em atenção tudo o que precede e o objectivo deste colóquio que é essencialmente o de identificar as relações entre a história, a democracia e a integração africana, o CODESRIA espera receber propostas sobre os seguintes subtemas:
1.      Herança histórica dos PALOP: desafios e perspectivas
2.      Mutações políticas e sociais nos PALOP e os desafios da democracia em África;
3.      A Lusofonia e a integração africana
Estes temas não são porém limitativos. Podem ser encaradas outras propostas sobre temas vizinhos. A apresentação de propostas de painel e/ou mesa redonda é vivamente encorajada. Todas as propostas devem dar entrada no Secretariado do CODESRIA o mais tardar até 15 de Janeiro de 2005. Os investigadores cujas propostas serão seleccionadas serão informados até 30 de Janeiro de 2005 e serão convidados a fazer chegar os seus documentos finais o mais tardar até 31 de Março de 2005. As correspondências relativas ao colóquio devem ser enviadas ao seguinte endereço:
Colóquio Internacional sobre a Lusofonia em África
(Council for the Development of Social Science Research in Africa  CODESRIA)
Conselho para o Desensenvolvimento das Investigações em Ciências Sociais
BP 3304, CP 18524
Avenue Cheikh Anta Diop X Canal IV
Dakar, Senegal
Tel : + 2218259822/8259823 Fax: + 221-8241289
E-mail: Lusophonafrica@codesria.sn
Site web: www.codesria.org

29-01-2005

Reaberto dossier de pensões ligado aos antigos funcionários da administração colonial

Amonteiro0 Governo Português decidiu reabrir o dossier ligado ao pagamento das pensões de reformas aos antigos funcionários da administração colonial portuguesa.
O ministro português dos negócios estrangeiros António Monteiro(na foto), fez saber que brevemente vai ser reactivada uma comissão técnica encarregue de resolver o diferendo.
António Monteiro afirmou no entanto que não existe por parte do seu país qualquer posição discriminatória em relação aos angolanos, defendendo que a análise do problema será global.
Recorde-se que o ministro português deslocou-se ontem ao Luena, província do Moxico, no prosseguimento da visita de três dias que efectuou ao país.
Na sua terra natal, o chefe da diplomacia lusa visitou o colégio "São Bento", instituição de ensino pública, a ser reabilitada com o apoio do governo português.
Acompanham António Monteiro o embaixador de Angola em Portugal, Assunção dos Anjos, o presidente do Instituto português de Apoio ao Desenvolvimento, Eclésia Soares e o director Europa do ministério angolano das Relações Exteriores, Joaquim Pombo.
AngoNotícias – 29.01.2005

Descobertas, Colonizações e Descolonizações

A quem interessar a História das Descobertas, Colonizações e Descolonizações, deverá conhecer a obra de J. Chrys Chrystello:
Cronicasaustrais_3 
CRÓNICAS AUSTRAIS
1974-1998
J.CHRYS CHRYSTELLO
Em Sydney, Austália
O Autor
J. Chrys Chrystello prestou serviço no exército colonial português sendo destacado para o CTIT (Comando Territorial Independente de Timor) onde chegou em Setembro 1973,regressando a Portugal dois anos mais tarde. Começou então a escrever o seu livro "TIMOR LESTE1973-75, O DOSSIER SECRETO" antes de rumar a Macau em 1976 posteriormente à Austrália onde se fixou enaturalizou.
Ao longo de mais de três décadas de jornalismo político, trabalhou em rádio, televisão imprensa escrita, tendo sido correspondente estrangeiro durante vários anos da agência noticiosa portuguesa ANOP/LUSA, da RDP/Rádio Comercial, TDM (Macau), J. N., Europeu, PÚBLICO, tendo sido publicado em inúmeros jornais revistas em todo o mundo, para além de ter escrito guiões de filmes e documentários australianos sobre Timor. Entre 1976 e 1994, data em que se reformou do jornalismo activo, esforçou-se por divulgar a saga do povo timorense que mundo (incluindo a Austrália Portugal) teimava em não querer ver.
Tendo-se interessado pela linguística ao ser confrontado com mais de 30 dialectos em Timor, descobriu na Austrália provas da chegada ali dos Portugueses (1521-1525) mais de 250 anos antes do capitãoCook, e da existência de tribos aborígenes falando Crioulo Português (herdado quatro séculos antes).
Membro Fundador do AUSIT (Australian Institute for Translators and Interpreters) Examinador da NAATI (National Authority for the Accreditation of Translators and Interpreters) desde os anos 80, epertencendo a vários órgãos internacionais congéneres, Chrys dedicou a última década à sociolinguística etradução, tendo apresentado trabalhos em dezenas de conferências internacionais (da Austrália Portugal, Espanha, Brasil, EUA e Canadá) onde os temas da língua cultura portuguesas estão sempre presentes, tendo concluído em 1999 seu Master of Arts (mestrado com Major in Applied Social and Communication Studies.)sendo concorrente anual à Translation Competition, do Brítish Centre for Literary Translation (British Comparatíve Literature Association), University of East Anglia, Inglaterra.2002 assiste agora à publicação do seu livro de Crónicas Austrais cobrindo sua fase australiana pura de1974 1998.
VEJAM EM
"Chronicles from Down Under, 1978-1998 published in 2002 at eBookPro:
e também disponível em http://oz.com.sapo.pt 

17-01-2005

Arqueólogos podem alterar história do descobrimento das ilhas

Noticias Lusofonas - 16-Jan-2005

As escavações arqueológicas em Salamansa, Cabo Verde, que poderão provar a presença humana no arquipélago antes da chegada dos portugueses, em 1460, serão retomadas em Março, garantiu hoje o presidente do Instituto de Promoção Cultural (IPC).

O concheiro, localizado em São Vicente, foi descoberto há seis anos por um grupo de arqueólogos portugueses, que identificaram vários artefactos domésticos rudimentares, cujas características apontavam para que tivessem sido fabricados há séculos, por africanos e não por europeus.

Alguns desses objectos (de cerâmica, ferro e cobre) foram enviados imediatamente para Lisboa, onde as análises feitas pelo Instituto de Engenharia Civil (IEC) de Portugal, através do processo de carbono-14, fizeram aumentar ainda mais o entusiasmo dos cientistas.

Em causa estava a possibilidade de Cabo Verde ter sido povoado ou pelo menos frequentado por povos oriundos da costa ocidental africana antes de ser descoberto pelos portugueses em 1460, o que obrigaria a reescrever a história do arquipélago, no que toca ao seu achamento.

Esta hipótese, encarada como "possível" por especialistas portugueses e cabo-verdianos chamados a pronunciar-se sobre a matéria, não teve confirmação, uma vez que não se fizeram os testes posteriores que determinariam,
inequivocamente, a idade do concheiro.

As autoridades cabo-verdianas voltaram a despertar para a importância arqueológica da estação quando, em Outubro de 2004, após uma visita ao sítio, localizado na ilha de São Vicente, o arqueólogo português Cláudio Torres voltou a chamar a atenção para o concheiro.

Outro especialista português que também defendeu a necessidade de escavações exaustivas no local é João Luís Cardoso, que se mostrou, desde o primeiro momento, entusiasmado com o achado, considerando que, no mínimo, terá existido ali, uma antiga aldeia piscatória.

Entretanto, e até que se faça luz sobre os objectos encontrados no concheiro, a posição do presidente do IPC de Cabo Verde é de prudência, por considerar que "nada está provado" e que quaisquer conclusões "só deverão ser tiradas após a conclusão da segunda fase das escavações".

Carlos Carvalho garantiu à Agência Lusa que essas escavações "terão início em Março, embora tudo dependa dos resultados dos contactos estabelecidos com o professor João Luís Cardoso", da Universidade Nova de Lisboa, que deverá chefiar os trabalhos arqueológicos.

Aquele responsável mostrou-se, por outro lado "um pouco preocupado" com o estado de conservação em que possa encontrar-se o concheiro, uma vez que, na sua opinião, "pouco ou nada foi feito para a sua conservação.

Carlos Carvalho garantiu que é intenção das autoridades cabo-verdianas "dar à estação o valor que vier a merecer", adiantando ser intenção do governo "transformar o local numa zona protegida se vier a ser necessário."

08-01-2005

11 de Janeiro de 1890 - Recordando o Ultimato Inglês

In "Diálogos Lusófonos", na net:
Luís Filipe Maia (Portugal) enviou um texto muito bom sobre o Ultimatum inglês em 11 de Janeiro de 1890 a Portugal que determinou mudanças na história do país na 1 ª metade do século XX e na divisão da África entre as potências da época.

Diz o Luís que nos envia umas notazinhas, sobre a política portuguesa decorrente entre a Conferência de Berlim em 1884 e o Ultimato Inglês de 1890, que servirá para ilustrar, muito do que temos vindos a discutir ao mesmo tempo servirá  para  se constatar, como se pode dirigir o sinal ou as razões da auto-estima nacional de acordo com os interesses dos detentores do poder ou das oposições.

Que cada um faça o seu juizo.

Opiniões?
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Os factos

A conferência internacional de Berlim em 15 de Novembro de 1884, na qual estiveram representados os Países, colonizadores em Africa e na qual aparentemente se pode considerarem terem sido tomadas decisões favoráveis a Portugal, por posições já ocupadas em Angola , ver-se-á  por factos que decorrerão mais tarde, que assim não sucedeu.

A conferência de Berlim contou com a presença das  grande potências da época, com interesses directos ou indirectos em Africa que preferiam encetar uma via de negociação, estabelecendo regras ao seu próprio expansionismo que evitasse vir a produzir  desentendimentos bélicos. Não queriam as potências europeias que as suas apetências pela partilha de Africa, pudesse vir a desencadear uma nova guerra.

A decisão extraída dessa conferência de configurar o direito de colonização com a ocupação efectiva desses territórios, anulando os direitos históricos tradicionais, que se traduziam na prioridade da descoberta, prejudicou claramente os interesses de Portugal, pequeno País mais interessado na visão histórica associada à descoberta do que ao facto concreto da ocupação.

Note-se que Portugal teria na altura pouco mais de 3,5 milhões de pessoas, naturalmente capital humano reduzido pois que o Império havia dispersado ao longo dos séculos, muita gente. Este conceito do direito á posse associado á ocupação que ali foi aprovado, não interessava em nada a Portugal que antes preferiria o velho conceito da posse histórica inerente á descoberta e depois logo se veria como seria a questão da ocupação. Marcar o chão antes de mais seria o importante.

Também não parece que a relacção com a Inglaterra fosse especialmente difícil nessa altura, dado que em Fvereiro desse mesmo ano se haviam negociado uns "terrenozitos" em Africa, em troca de facilidades de comércio e navegação no Zaire e no Zambeze.

As inúmeras dificuldades financeiras internas que se haviam reproduzido no governo  de D.Luis, imensas querelas, haviam inclusivamente levado a que um deputado Ferreira de Almeida houvesse em 1877 e de novo em 1888, proposto a venda das colónias , consciênte já por certo da dificuldade em assegurar as pretensões portuguesas, e buscando ali uma forma de pelos menos resolver o problema financeiro do País.

Consciênte destas realidade havia alguns, destaca-se Andrade Corvo, que foi Ministro da Marinha e do Ultramar em 1879, cuja preocupação era delimitar as fronteiras de Moçambique e Angola de acordo com as forças reais do País, pugnando por politicas de desenvolvimento do comércio e de captação de capitais e emigrantes estrangeiros, atendendo que os recursos naturais assim o exigiam. Além de bom governo, boa administração, precisamos de boas alianças, escrevia ele na altura, pugnando pelo reforço da aliança com a Inglaterra.

Andrade Corvo é considerado hoje um dos mais lúcidos ensaistas políticos do sec. XIX, infelizmente muito 
ignorado ainda hoje, como o foi no seu tempo, a sua lucidez não servia os interesses de ninguém, muito menos os da oposição republicana.
Por parte do poder instalado era importante estimular a auto-estima nacional, é isto que estamos a tratar, usando os velhos chavões do Império grandioso e megalómano, que o realismo lúcido de Andrade Corvo naturalmente refreava.

O sistema politico parlamentar configurava o rotativismo governamental entre o Partido Progressista e o Regenerador, mas desde 1878 que o Partido Republicano se encontrava representado na Camara dos Deputados e até 1895 elegeria deputados em quase todas as legislaturas. Sendo contudo afastados nesta data mercê de várias habilidades ao que chamaria hoje "engenharia eleitoral".

As expedições que se seguiram de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens e outras na ânsia de consolidar terreno nâo conseguem ocultar a realidade da incapacidade de ocupação efectiva, já difícil se se encarar apenas Angola (datam deste ano a deslocação dos primeiros colonos da Madeira para lá) e Moçambique, muito mais complexo se se englobar igualmente toda a parcela de terreno que fica entre os dois territórios.

Tudo parecia pacífico mas covenhamos que a pretensão portuguesa era excessiva, não só pelo gigantesco passo em relacção á dimensão da perna, como também pelo facto de estar em desacordo com a Conferência de Berlim que haviamos subscrito.

Alguns convénios bi-laterais assinados com a França e com a Alemanha, pareciam apontar o caminho do sucesso das nossa pretensões ao famoso território cor-de-rosa, assim chamado porque habitualmente vinha assim colorido nos Mapas.

Só que os nossos eternos aliados desta vez, não pactuaram connosco, já que tinha interesses não coincidentes com os nossos, nomeadamente um projecto de Sir Cecil Rhodes e que consistia  na construção de uma linha ferrea do Cabo, no extremo Sul da Africa do Sul á cidade do Cairo no Egipto.

A isso a Conferência de Berlim teria chamado ocupação territorial efectiva, que deveria consistir segundo Berlim em manter a ordem, proteger os estrangeiros e vigiar os indigenas.

Conscientes da sua força e da importância que tinham para nós os Ingleses forçam a nota da ameaça da rotura, sob a forma de ULTIMATO, em 11 de Janeiro de 1890, obrigando a desocupação militar imediata das zonas que pretendiam eles ocupar , sob pena do pessoal diplomatico abandonar Lisboa. Isto chama-se ameaça de declaração de guerra.

Se se procurar na História Inglesa, pelo reinado da Rainha Vitória, e nos governos de Gladstone, algo que nos  dê uma ideia do ponto de vista inglês sobre este incidente, nada se lê, nós não eramos suficientemente importantes para os preocuparmos, encontram-se sim alusões á sua verdadeira preocupação na altura, evitar o expansionismo alemão para essa zona   que a "posse" portuguesa não daria garantias de oposição efectiva.

O Rei D.Carlos, entretanto aclamado e o governo cederam á pretensão inglesa. Talvez a cedência tentasse remeter para a Arbitragem Internacional, resultantes do Acordo de Berlim, face a uma protesto nosso e confiantes que o apoio de outras potencias pudesem levar a Inglaterra a transigir, o que realmente não aconteceu.

Se se analisar esta questão apenas sob o ponto de vista dos ganhos e perdas, naturalmente que a consumação da rotura com a Inglaterra a acontecer, teria produzido maiores perdas, já que as pretensões inglesas englobavam também Lourenço Marques e a foz do Zambeze, que não conseguiram obter por força da tal arbitragem a que a queixa de Portugal levou.

As reprecursões internas porém foram catastróficas para a monarquia, considerando-se este facto com um dos factores determinantes da sua derrocada 20 anos mais tarde. A indignação popular contra  o governo, apelidados de traidores, vendidos á Inglaterra, gerou uma onda de mobilização geral e sem dúvida fonte geradora de inúmeras figuras que mais tarde haveriam de edificar  a revolta republicana.

Para mais sendo que já foi referido que o afastamento em 1895 do Partido Republicano da Camara de Deputados, fez ressurgir movimentações sociais de rua a partir de 1890, instigada por uma ELITE chamada de "geração do Ultimatum" (João Chagas,Afonso Costa,Brito Camacho, Antonio José de Almeida, etc)

Este facto fermentou o ideário republicano, conduzindo a outras questões como a podridão política, o envelhecimento da monarquia e as culpas do rei, no acontecimento, que beliscava profundamente o orgulho nacional e os sentimentos  anti-ingleses.

Claro que todas as outras potências a quem Portugal  solicitou guarida ás suas pretensões, se escusaram diplomaticamente a advogar as nossas posições politicas, afinal quem estaria disposto a subscrever um conflito com a Inglaterra por causa de nós ? Viriamos em 28 de Maio de 1891 completamente sós a negociar então com a Inglaterra um novo mapa colonial para Africa, mais severo ainda que o original resultante do Mapa cor de rosa, e que salvaguardando pequenas correcções corresponde á configuração de hoje.

Fontes

História de Portugal-José Hermano Saraiva
Historia de Portugal em datas coordenação de Antonio Simões Rodrigues
A crise da monarquia constitucional (1890-1906) por Sergio Campos Matos Ferreira, José Dias (1837-1907)
Lente de Direito (formado desde 1859).
Deputado desde 1860 (por Arganil).
Ministro da Fazenda, no governo de Ávila, entre 4 de Janeiro e 22 de Julho de 1868; da Fazenda e da Justiça, de 26 de Maio a 29 de Agosto de 1870, no governo da saldanhada .
Funda o Partido Constituinte, em Junho de 1871.
Par do reino, desde 1876.
Presidente do Ministério, de 17 de Janeiro de 1892 a 23 de Fevereiro de 1893, num governo dito de acalmação partidária .
Durante a chefia do governo, acumula sempre a pasta do Reino.
Acumula a Instrução Pública, até 3 de Março de 1892, data em que o ministério foi mais uma vez extinto.
De 27 de Maio de 1892 até 23 de Fevereiro de 1893, acumula a pasta da  Fazenda, de onde sai Oliveira Martins.
Eleito deputado independente em 25 de Novembro de 1900, sob o governo regenerador de Hintze.   

04-01-2005

O escamotear da história

Linha d'água:
Interrogo-me muitas vezes porque é que a História, em Moçambique e pelas mesmas pessoas, tem sido rescrita ou mudada de cariz sempre que se muda de timoneiro da nação, onde este é sempre preponderante em tudo o que aconteceu no passado. Vem isto a propósito do que li em dois artigos consecutivos no jornal ZAMBEZE e subscritos por Lina Magaia sobre as actividades do Centro Associativo dos Negros de Moçambique.
Em trinta anos de Independência de Moçambique, ouvi tanta coisa desencontrada sobre o Centro Associativo dos Negros de Moçambique que não seria descabido pedir aos protagonistas sobrevivos (e são ainda muitos, felizmente), e até como um “imperativo nacional”, que se encontrem, discutam e nos digam, olhos nos olhos, quem foi quem naquela importante fase da nossa História.
O meu falecido pai abordou, algumas vezes e socorrendo-se com fotos e documentos, sobre aquilo que a nossa escritora escreve a respeito daquela agremiação negrófila, não encontrando eu muitas concordâncias com o que me é dado a ler agora nos artigos acima referidos. Tive também a honra de ouvir de outros mais velhos e contemporâneos de meu pai sobre a mesma temática e, compilado tudo isso, parece-me que seria mesmo de considerar uma posição mais séria sobre como realmente as coisas se passaram, sob o risco de se estar a transmitir erros e anacronismos históricos a gerações vindouras. E tudo porque alguns, de tempos em tempos, se colocam em bicos de pés com versões dos factos que mais pretendem agradar a alguém com poder do que enriquecer a nossa História. E eu acredito que não agrada a ninguém dizer-se que foi protagonista disto ou daquilo quando de facto as coisas se passaram de outra maneira.
Confiro o que li e encontro que a fase provavelmente mais rica do Centro, justamente aquela que levou uma vasta camada de negros em Lourenço Marques a frequentar a escola e a ter acesso ao pensamento moderno, através de palestras de gente qualificada, foi inspirada por um jovem de 16 ou 17 anos, olvidando-se o seu próprio presidente, que seria até preso na sequência desse grande movimento nacionalista.
O que já não posso conferir, porém, são as informações dadas por quem, infelizmente perecido, me disse que acompanhou esse mesmo presidente nos contactos pessoais com Zeca Afonso (sim, esse grande cantor, político e filósofo português), Dr. Almeida SantosPancho Miranda GuedesDr. Sousa SobrinhoDr. Adrião Rodrigues, entre vários outros, para que fossem dar aulas no Centro. Assistiu também a carregamentos de livros que gente ilustre oferecia ao Centro, na sequência desses pedidos feitos por um presidente que não consta em nenhuma linha dos dois artigos de Lina.
Pior ainda quando se sabe que o Centro foi justamente fechado por essa actividade intensa do seu presidente, que seria preso pela PIDE, e nunca mais voltaria a ser aberto. Tem alguns custos pessoais dizer isto? Claro que custa, sobretudo quando se pretende evitar conotações políticas com figuras politicamente estigmatizadas num passado ainda fresco. Só que a História não se compadece com os interesses individuais das pessoas; ela é aquilo que foi e não aquilo que nos possa interessar no momento. Escamotear os factos não é só distorcer a História, como também representa uma posição intelectual repugnante.
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 04.01.2005
Por Luís Loforte

28-12-2004

Biografia de Simango terá nova edição

Uriasimango_capaA biografia do antigo vice-presidente da Frelimo( movimento e não partido), Uria Simango, deverá ter uma segunda edição. Em contacto com o IMPARCIAL, Barnabé Lucas Ncomo, autor do livro “Uria Simango: Um homem, Uma causa” fez saber que os 2500 exemplares da 1ª edição já se encontram esgotados em
Moçambique.
O livro em causa, retrata de forma minuciosa o percurso de Uria Simango, o Reverendo protestante que foi vice- presidente da Frelimo, nos anos de Mondlane.
Uria Simango, pai do edil da cidade da Beira, Deviz Simango e do deputado pela Renamo-União Eleitoral Lutero Simango, foi fuzilado extra-judicialmente pelo regime monolítico dirigido por Samora Machel.
No seu livro (um best seller) Barnabé Lucas Ncomo, faz crer que o fuzilamento de Simango terá ocorrido algures em M’telela na Província nortenha do Niassa. Acredita-se que na mesma ocasião terão sido mortas outras figuras tidas como “reaccionárias” pela lógica do regime Machelista.
Uria Simango, que pelos estatutos da Frelimo deveria substituir Eduardo Mondlane, assassinado em 1969, foi membro do “triunvirato” formado imediatamente a seguir à morte do primeiro presidente da Frelimo. Outros membros do trio eram Marcelino dos Santos e Samora Machel. Simango desiludiu-se com os seus colegas de liderança e retirou-se do movimento não, sem antes, tornar pública uma carta intitulada “ Triste Situação no Seio da Frelimo”. A referida carta denunciava as atrocidades cometidas contra alguns militantes de primeira hora pela liderança de Samora Machel assessorada pela denominada “Gang de Argel”. Paradoxalmente, segundo Ncomo, alguns membros séniores do partido Frelimo, só à posteriori tiveram conhecimento do fuzilamento de Simango. Aquando do lançamento da primeira edição do livro em referência os antigos camaradas de armas de Simango primaram pela ausência.
CM – IMPARCIAL – 28.12.2004

14-12-2004

CRÓNICA DOS DIAS DE ROMA

Da Autoria de Tomás Vieira Mário

É lançada na próxima quinta-feira, em cerimónia a decorrer no Hotel Rovuma, com inicio às 17 horas, a mais recente obra do jornalista e escritor moçambicano Tomás Vieira Mário, sob o título “Negociações de Paz de Moçambique - Crónica dos Dias de Roma”.
Como o próprio título sugere, o livro faz um relato retrospectivo do processo de paz moçambicano, de que as negociações efectuadas em Roma entre o Governo e a Renamo constituíram a etapa mais decisiva. Compreende mais de 200 páginas e é composto por sete capítulos, em correspondência aproximada ao número de rondas efectuadas e no decurso das quais as partes discutiram e concluíram os onze protocolos que consubstanciaram, na globalidade, os Acordos Gerais de Paz assinados a 4 de Outubro de l992 em Roma.
No acto do lançamento da importante obra, sob os auspícios do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais do ISRI, terá lugar uma reflexão animada pelo autor acerca do “Papel das Igrejas Cristãs Moçambicanas como catalisadoras da paz” no País. De acordo com Tomás Vieira Mário, pretendese com a referida reflexão, que corporiza um dos capítulos mais vastos do livro, “proporcionar uma oportunidade de prestar uma singela mas devida homenagem às igrejas cristãs moçambicanas representadas, designadamente, pela Conferência Episcopal e pelo Conselho Cristão de Moçambique, pelo seu empenho pela paz, desde os períodos anteriores às conversações de Roma até presentemente.”
WAMPHULA FAX - 14.12.2004

11-12-2004

HISTÓRIA - Debate na RTP entre Mário Soares e Álvaro Cunhal

Em vídeo, veja e ouça Mário Soares e Álvaro Cunhal num debate televisivo a 6 de Novembro de 1975 na RTP, na parte respeitante à descolonização.
Por exemplo, ficará a saber por Álvaro Cunhal, que o Governo Português, não foi tido nem achado na descolonização. Apenas algumas pessoas a fizeram na chamada Comissão de Descolonização...

07-12-2004

Ainda o 25 de Setembro de 1964 e o CHAI

Guilherme de Melo, jornalista, durante mais de duas décadas em Moçambique, publicou em 1985 “MOÇAMBIQUE – DEZ ANOS DEPOIS”, relato da viagem que ali fizera pouco tempo antes e de que só hoje obtive um exemplar.
     Guilherme de Melo foi um dos jornalistas que esteve no Chai pouco tempo depois do ataque.
     Estando mais que comprovado que a história contada e encomendada pela Frelimo não é a verdadeira, porque voltou Guilherme de Melo a escrever o que adiante ides ler e o que levou o cozinheiro do então administrador a inventar a “história” que conta e é ali reproduzida?
     Sabemos que ele retornou a Moçambique, especialmente para assistir às comemorações dos 20 anos do ataque ao Chai, a convite de Mário Ferro e Alves Gomes do “Notícias” de Maputo. Terá sido por isso?
     Aqui vai a transcrição:
EVOCAÇÃO DO CHAI
No troço da estrada que vai de Macomia a Mueda, em pleno coração do interior moçambicano — o planalto dos Macondes — há, ainda hoje, duas pontes em betão com os tabuleiros destruídos. Uma situa-se no troço entre Macomia e Chai; a outra para lá do Chai, sobre o rio Mapwede.
Foram ambas destruídas pelos guerrilheiros, durante a luta armada para a independência, com o propósito de cortar o avanço das tropas motorizadas portuguesas.
Cumpre referir que, no decorrer da guerra, a Frelimo evitou sempre a destruição de infra-estruturas de grande envergadura — como pontes, barragens, centrais — exac­tamente na mira do dia em que, mais tarde ou mais cedo, tudo lhe viesse parar às mãos.
Dez anos decorridos sobre a independência, as duas pontes continuam tal como ficaram depois de dinamita­das: o Governo moçambicano deixou-as propositadamente assim, à laia de um curioso museu de guerra um pouco disperso por todo o país. Ao lado dos dois tabuleiros semi-destruídos, existem agora duas outras pontes, por onde o trânsito se processa.
      Vinte anos depois do primeiro ataque a uma autori­dade colonial — concretamente, o posto administrativo do Chai— é possível reconstituir-se todo o background da razão de ser dessa guerra de dez anos que, ainda hoje, muitos dos brancos que viviam na antiga colónia, e dela saíram após o 25 de Abril, se recusam a querer entender. Estou no Maputo quando se comemora aquela data e peso, palavra por palavra, os depoimentos dos que então viveram directamente os acontecimentos que muitos desses mesmos brancos —e eu próprio— de todo ignoravam, envoltos no remanso doirado que era o dia-a-dia naex-Lourenço Marques.
O primeiro tiro
O lugar escolhido pela Frelimo para o ataque que marcou o desencadear da luta armada de libertação da ex-colónia foi, como se disse, o posto administrativo do Chai.
Tratava-se de uma pequena localidade do interior de Cabo Delgado, com pouco mais de meia dúzia de edifícios. Nomeadamente, uma secretaria, a casa do chefe do Posto, a casa do gerente da Companhia Algodoeira do Sagal, dois estabelecimentos comerciais, um pequeno hospital, a cadeia, as casernas dos soldados e as residências dos polícias brancos e dos cipaios negros.
No dia do ataque havia uma festa em casa do admi­nistrador do Posto, porque um dos seus três filhos fazia anos — recorda, vinte anos depois, Ahmad Sique Burahimo, ao tempo a servir, como cozinheiro, no Posto admi­nistrativo. E acrescenta: O administrador era muito mau para a população. Além de roubar cabritos, galinhas e outros bens que mandava que os cipaios recolhessem nas aldeias e trouxessem para o Posto, espancava brutalmente a população e tinha grande prazer em dar ele próprio palmatoadas.
     A dado momento da festa, segundo o relato do então cozinheiro, chegou ao Posto o régulo da povoação de Malane — actualmente Litandakua — comunicando ao admi­nistrador que tinha avistado nesse dia pegadas estranhas» numa picada da sua zona.
Imediatamente o administrador se meteu no jipe acom­panhado pelo régulo, dois polícias e um cão-polícia, seguin­do, mato adentro, para o local. Era já noite avançada quando regressaram e, em casa, a festa do aniversário terminava.
Acompanhado pêlos dois polícias e pelo cão, o admi­nistrador dirigiu-se directamente para a Secretaria da Administração — continua a contar. Mas, ainda com o mo­tor do carro a trabalhar, ouviu-se de repente uma des­carga de tiros. Ele saiu do carro a correr, em direcção à residência, onde tinham ficado a mulher e os filhos. Já à entrada da casa, o administrador foi atingido com dois tiros no peito e caiu, ensopado em sangue.
Ahmad Burahimo ainda se recorda de ter visto, quando o tiroteio cessou, dois polícias, a mulher do administrador e o gerente da Sagal a carregarem o ferido para o interior da residência. Esvaindo-se em sangue, ele permaneceu no Posto, agonizante, o resto da noite e só na manhã seguinte foi transportado para a então Porto Amélia — hoje cidade de Pemba— onde veio a falecer.
Entretanto, quando eu estava a sair da cozinha pelas escadas traseiras, para me esconder no quintal, mal come­cei a ouvir o tiroteio, um tiro apanhou-me na perna, perto do joelho, e caí, rebolando pelas escadas abaixo. Já no chão, rastejei uns vinte metros e escondi-me atrás da man­gueira do quintal. Foi daí que avistei um polícia a ser atin­gido por um tiro a meio da testa e cair morto. Um outro polícia, escondido entre o muro do quintal e uma casa, também recebeu um tiro e morreu logo, quando estava a erguer a cabeça para apontar a sua arma.
      Quando o breve combate terminou, os guerrilheiros abandonaram o terreno, deixando dois polícias mortos, o cão-polícia também abatido, o administrador do Posto moribundo e vários feridos, entre os cipaios e o pessoal auxiliar da Administração.
Comandava o pequeno grupo que acabava de iniciar a luta armada que dez anos depois levaria à independência, um homem de trinta e poucos anos chamado Alberto Joaquim Chipande. Ë, hoje, o ministro da Defesa Nacional da República Popular de Moçambique e dirigente da pro­víncia de Cabo Delgado. General do Exército.
A repressão
Depois disto, vieram para o Posto de Chai um novo administrador e um seu adjunto — continua Ahmad Bura-himo a contar. E diz, concretamente, os nomes de um e de outro. E só por uma questão de pudor e de vergonha, como português e branco, me escuso, aqui, a referi-los.
Dos dois, o adjunto era o pior. Era extremamente cruel. Logo após a sua chegada começou a matar gente. Com o pretexto de que estava a «limpar terroristas», como dizia, enforcava pessoas e deixava-as penduradas nas mangueiras. As vezes cortava as cabeças e deixava-as espetadas em esta­cas, para todos verem. Num só dia, em plena Secretaria da Administração, matou com as suas mãos cinco pessoas. Ele fazia coisas horríveis. Um dia vi-o espetar um prego na cabeça de um homem. Martelava e enterrava o prego todo na cabeça, depois mandava a pessoa ir para casa. Ë claro que essa pessoa nem dava cinco passos. Caía e morria logo.
      Ahmad Burahimo continuou a trabalhar ainda durante alguns anos no Posto. A verdade, porém, é que o ataque conduzido pela Frelimo lhe tinha já suscitado diversas dúvidas sobre a legitimidade do poder colonial — dúvidas essas que rapidamente se adensaram face às barbaridades cometidas pelo adjunto do novo Administrador que, de resto, o não poupava nas suas fúrias. Um dia começou aameaçar-me que também a minha vez chegaria. «Corto-te o pescoço, olá se corto! E que lindos petiscos tu vais fazer com a tua própria cabeça!»
Com o pretexto de que pretendia visitar uns familiares distantes, pediu licença para se ausentar por algum tempo e acabou por se desligar dos quadros do pessoal da Admi­nistração, ingressando pouco depois nas fileiras da Frelimo. Passou então a ser um importante «contacto» da Organização naquela zona de Cabo Delgado, tornando-se responsável pela distribuição de cartões de membro a novos aderentes e desenvolvendo missões de recrutamento de jovens para a luta armada. Com o objectivo de camu­flar tudo isto aos olhos, sempre desconfiados, não só das autoridades do Posto como dos agentes da PIDE, Ahmad Burahimo adquiriu um pequeno barco com o qual passou a pescar no lago do Chai.
A vila-museu
Vinte anos volvidos sobre tudo isto, o Governo moçam­bicano transformou o Chai no museu histórico da Revo­lução moçambicana.
Independentemente do monumento que vai ser erguido, defronte de um gigantesco mural alusivo ao arranque da luta armada, toda a povoação propriamente dita foi con­servada intacta, tal como era na altura do ataque de 25 de Setembro de 1964. Inclusive o mobiliário e demais recheio das casas da Administração mantêm-se, sem qual­quer alteração.
     Uma das casas foi, entretanto, transformada em museu das primeiras armas — entre as quais a que Chipande uti­lizou naquele dia e por ele próprio ali entregue, aquando do 20.° aniversário do acontecimento que marcaria o início do fim de uma era.
Vinte anos depois, o tempo foi descendo o seu véu de esquecimento. No país novo, há dez anos independente, apagam-se os ressentimentos, diluem-se as recordações dolorosas de uma repressão temperada em sangue, de uma guerra pontuada de horrores. Não há mais, no planalto Maconde, o estremecer das explosões. E os xericos vol­taram a trilar por todo o vale do Miteda, onde a Nó Górdiochamejou. Moçambicanos portugueses podem, enfim, olhar-se como irmãos.
Penso naquele grupo que, não há muitos anos ainda» se propunha levar a tribunal os responsáveis pela descolonização. E se um dia os moçambicanos reclamassem um outro Nuremberga, para julgar os crimes do colonialismo e levassem até ele, a depor, os muitos Burahirnos que ainda existem por todo o país?
Caro Guilherme de Melo:
- Se todos os Burahimos mentirem como este, que conheci pessoalmente e assim não contava a história, não sei o que restaria para o "seu" tribunal em Nuremberga?
……………………………………………………………………………………………………………………
Aproveito para copiar o que, em 23 de Setembro passado, escrevi no Moçambique na Web Jornal:
O Chefe do Posto à data do ataque  chamava-se Felgueiras e estava com a família lá. Na hora do ataque não estava no posto pois tinha ido ao Messalo com 2 polícias e vários cipais. Só ficou no posto um polícia branco e vários cipais. Também lá moravam funcionários do posto, o Pinheiro e o Brandão, mais a família Alves. O enfermeiro chamava-se Tivane. O Cozinheiro era o Amade.
O Felgueiras pediu ao Governador para sair e foi temporariamente substituí-lo o Dias  de Macomia. Talvez uma semana depois foi o Fonseca lá colocado que levou a mulher. Vindo de Portugal estava com eles o cunhado deste que foi quem, não uma semana, mas cerca de 3 semanas depois, foi morto quando passava junto ao Rio Messalo vindo do Monte Oliveiras. Vinham 3 pessoas no Jeep e ele ia no meio. As outras duas nada apanharam e ele levou um tiro entre os olhos, vindo a falecer já depois de evacuado.
Assim não foi o cunhado do Chefe do Posto da altura que foi morto, mas o cunhado do que o veio substituir.
                                                                                            Fernando Gil

23-11-2004

Consultores internacionais avaliam Cahora Bassa para negociações

Uma equipa de consultores internacionais vai avaliar a capacidade da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), no âmbito das negociações para a reversão do empreendimento para o Estado moçambicano, disse hoje à Lusa fonte ligada ao processo.

Um encontro técnico realizado na semana passada em Maputo, entre equipas dos governos moçambicano e português, para analisar a capacidade da barragem, ditou a contratação de uma empresa estrangeira ligada à área de energia, revelou à Lusa o director dos Recursos Minerais e Energia de Moçambique, Pascoal Bacela.

Bacela, que integra a equipa moçambicana encarregue de discutir a reversão da hidroeléctrica para Moçambique, assegurou "para breve" o termo do contratação da equipa de consultores internacionais "que irá fazer o estudo da capacidade de produção da empresa durante um período de quatro semanas".

A conclusão da peritagem pela empresa internacional, que já fez estudos similares em 20 países do mundo, vai permitir a discussão de vários outros pontos das negociações, nomeadamente a estrutura accionista e o valor da dívida, tendo em vista efectivar a pretensão de Moçambique, destacou Bacela.

"Esperamos que os consultores iniciem o seu trabalho o mais brevemente possível, pois isso irá ditar o prosseguimento da discussão de outros pontos da agenda para darmos por terminado o dossier Cahora Bassa", sublinhou Pascoal Bacela.

Actualmente, Portugal detém 82 por cento do capital da HCB, tendo os dois países acordado no início de 2004 no princípio da reversão para o Estado de Moçambique do empreendimento inaugurado em 1975.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 21.11.2004

16-11-2004

Quantos morreram em Mueda?

Para saber o que se passou em Mueda , no já longínquo 16 de Junho de 1960, visitehttp://www.macua.org/Quantos_Morreram_em_Mueda.htm   e depois ouça  aqui o que os protagonistas portugueses, que intervieram no chamado "MASSACRE DE MUEDA", dizem do que se passou, naquele já longinquo dia 16 de Junho de 1960, em contraponto ao que afirma Marcelino dos Santos. Gravação da TVI(Portugal) em 1994   http://www.macua.org/temp/mueda1960.html

14-11-2004

SARMENTO PIMENTEL ou uma geração perdida

Spimentel_capa_miniDo jornalista Norberto Lopes, coloquei agora na BIBLIOTECA DO MACUA o livro "SARMENTO PIMENTEL ou uma geração perdida", com uma primeira edição em 1976, herói de muitas guerras e lutador da liberdade.
Debruçando-se sobre o 25 de Abril, afirma:
"P. — Os militares fizeram o 25 de Abril. Honra, lhes seja. Não podemos deixar de lhes estar gratos por isso. Mas parece-lhe que es­tavam preparados para governar?
R. — Não estavam. Não tinham planos elabora­dos. Não tinham ideias assentes. Muitos tinham am­bições políticas que não esconderam mais tarde. É um desastre sempre que eles tomam conta do Poder. Foi assim no 28 de Maio. É assim em todas as oca­siões em que pretendem governar. "
Veja pois em
E não deixe de ler :

07-11-2004

3 livros "explosivos" na Biblioteca do Macua de Moçambique

Na Biblioteca do Macua poderá desde já encontrar mais três obras que muito dizem à História recente de Moçambique:
Uriasimango_capa1_2- URIA SIMANGO, UM HOMEM E UMA CAUSA, de Barnabé Lucas Ncomo, com algumas transcrições e fotos.
Escalada_capa1- MOÇAMBIQUE - A ESCALADA DO TERROR, uma reportagem do jornalista Inácio de Passos, vários anos residente em Tete e na Beira, integralmente colocado na biblioteca, abarcando essencialmente o período de transição e os princípios da governação da FRELIMO, com nomes e não pseudónimos.
Opcaoespada_capa_1- A OPÇÃO PELA ESPADA, de Pedro A. Marangoni, que relata a sua passagem por várias "guerras", incluindo a formação da Renamo, de que foi um dos primeiros instrutores. Entre outras inclui uma foto do autor com o Comandante André, que suponho ser a única disponível em toda a net.
Cada vez mais resulta que a HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE, não é a que a FRELIMO transmitiu e ainda, desonestamente, transmite, pese o papel que teve na conquista da sua independência.
Finalmente, que é feito dos HISTORIADORES DE MOÇAMBIQUE ( que não da FRELIMO)?

05-11-2004

Africa should make peace with colonialism

Boyd Webb | Pretoria, South Africa
03 November 2004 - Mail & Guardian

Africans should make peace with colonialism and move on, the Angolan ambassador to South Africa, Isaac Dos Anjos, said in Pretoria on Wednesday.

"After 500 years of colonialism, I now wear a suit and tie. That is enough. I don't want another 500 years of African colonialism to be taught how to lose the tie and wear clothes from the Democratic Republic of Congo [DRC] or anywhere else. I keep my tie and move on," said Dos Anjos, addressing the Africa Institute of South Africa on Angola and the Road to Reconciliation and National Reconstruction.
He said Africans have to learn not to blame the West for their problems but to learn from them and move forward.Emerging from 40 years of civil war and approaching its second democratic election in 2006, Dos Anjos said Angola is still a country of extremes with little infrastructure.
But, he said, the death of rebel Unita leader Jonas Savimbi in February 2002 had set a course that was the "desire of all of us". He said Savimbi's death resulted in the end of fighting and the start of the road to reconciliation.
He said the reunification of the Angolan family was the first step in rebuilding the country. This, he said, was backed by the integration of the various military organisations immediately after the ceasefire, and transparency in the management of public affairs. He said a favourable climate for the second general election in 2006 will be vital in the reconstruction of Angola.
"Only Angolans have the right to choose and to decide about their future, and that is one of the pillars that will strengthen the new democracy," he said.
Angola has, in collaboration with the United Nations's High Commissioner for Refugees, sought to locate former citizens around the world. But, Dos Anjos said, his government is thankful that other countries have taken them in and Angola does not mind if they stay.
He explained that there is much interaction between the country and its citizens wherever they are, and that Angola will benefit from the vital knowledge and expertise they have acquired. He said Africa should not fear its populations mixing with the world's cultures.
"We need interaction. We [Africans] try and blame our failures on politics but it's not, it's policy issues," he said. He explained that shortly after the Portuguese left, Angola had the leading maize-research station in Southern Africa, but it died after failing to develop and now South Africa has the lead.
"It's easy for South Africa today to think that they are the best in Africa, but it was because the advent of democracy did not stop the process and black economic empowerment did not stop the process -the country continued working. But in Angola, the war stopped everything and now the expertise has gone," he said.
Dos Anjos said the UN has approached Angola to advise on the peace process in the DRC and Burundi.
"The recent Angolan history allows us to say without fear that the state has a fundamental role to play in the establishment of effective peace and national reconciliation," he said, adding that the contributions of the civil society, religious groups and community organisations are not to be underestimated. -- Sapa

Jorge Jardim - Frelimo

Samora_1Jjardimopais_1Do livro DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA - O REGRESSO DAS CARAVELAS, de João Paulo Guerra, editado já em 1996, reproduzo:
………..
A visita de Costa Gomes a Moçambique, três meses antes do 25 de Abril, permitiu-lhe ver a cor branca para a independência no hori­zonte do território. Eram esses também os planos de Jorge Jardim até concluir negociações secretas com o presidente da Zâmbia, em Setembro de 1973. O general Kaúlza de Arriaga, que deixara no mês anterior o comando militar do território, conhecia o plano:
— O engenheiro Jorge Jardim — recorda o general —, bem ou mal, e eu até penso que bem, convenceu-se que com o governo de Marcelo Caetano já não era possível resolver o problema ultramarino em boa harmonia e no bom sentido, quer dizer, no sentido português. E então decidiu fazer uma independência unilateral. Para isso falou com os homens da Zâmbia e, através deles, entrou em contacto com a FRELIMO. Queria fazer uma independência unilateral para aquilo não cair no caos.
Pergunta — Jorge Jardim escreveu que chegou a contactar consigo para saber se aderia ao plano...
K. de A. — Não é bem assim. Eu vim-me embora no dia 7 de Agosto e, até aí, nunca o engenheiro Jorge Jardim me tinha falado em nada que não fosse a solução que nós estávamos ali a defender. Ele só me falou do tal Plano de Eusaka depois, em Setembro.
Pergunta — Para o aliciar?
K. de A. — A ideia não era de me aliciar mas de saber a minha opinião. E eu recusei, porque não era um plano português. Ele sozi­nho e mais dois ou três não eram capazes de governar um país daquele tamanho.
Almeida Santos, que antes do 25 de Abril liderava em Lourenço Marques os chamados «Democratas de Moçambique», desaconselha­ra Jorge Jardim de seguir o caminho de lan Smith na Rodésia. Mas quando o engenheiro alargou o Plano de Lusaka à FRELIMO, Al­meida Santos esteve de acordo:
— O engenheiro Jorge Jardim — conta Almeida Santos — que era um homem do regime e que lutou em Moçambique à frente de milícias próprias — aliás nunca percebi bem qual era a natureza legal daquele exército privativo que ele comandava —, apercebeu-se que a solução militar não era possível e negociou ele próprio um acordo de descolo-nização de Moçambique com a FRELIMO, com o apoio dos presi­dentes da Zâmbia e do Malawi. E como nós, embora adversários, éra­mos pessoalmente amigos, ele foi-me dando conta dos passos dessa negociação e eu pude verificar que ele tinha feito uma evolução enor­me no sentido da abertura a soluções políticas. Devo dizer-lhe que o acordo que ele negociou não era substancialmente diferente daquele que veio a ser negociado depois, apesar de ele ter uma mentalidade conservadora e de ser um dos arautos do anterior regime. Apenas o prazo transitório definido era de três anos e, nessa altura, o suporte militar para a negociação estava intacto. Mas o professor Marcelo Caetano declarou-lhe claramente que preferia uma derrota militar e não aceitou o acordo. E assim tivemos que ir para uma solução, a se­guir ao 25 de Abril, já com as condições deterioradas do ponto de vis­ta militar e até de opinião pública.
     Jorge Jardim antecipou ao 25 de Abril as negociações com a FRELIMO. Mas quando Lisboa, após ter mudado de regime, iniciou negociações formais e oficiais, a «tentação rodesiana» por parte da minoria branca saiu às ruas de Lourenço Marques e ocupou os micro­fones do Rádio Clube de Moçambique, em 7 de Setembro de 1974.
Nesse mesmo dia, em Lusaka, delegações do governo português e da FRELIMO negociavam o acesso de Moçambique à independência e a transferência do poder. Com a revolta dos colonos em linha, as negociações estiveram por um fio. Mas os negociadores readquiriram a confiança e as negociações foram por diante.
Em Lisboa, Spínola ainda era Presidente, Vasco Gonçalves já era primeiro-ministro. E foi de Lisboa, por telefone, que se esclareceram os negociadores de Lusaka quanto aos tumultos de Lourenço Mar­ques:
— O general Spínola — recorda Vasco Gonçalves —pediu-me que fosse eu tratar com eles, porque eles não tinham confiança nele. E fui eu que tratei do assunto com Samora Machel, telefonicamente.
Pergunta — E tratou com Samora Machel de que maneira?
V. G. — Procurei dar-lhe segurança de que nós estávamos empe­nhados em fazer a descolonização honestamente, que reconhecíamos a FRELIMO como legítimo representante do povo moçambicano.
O governo português acabou por acordar a transferência do po­der para um partido único na contracosta africana. E Moçambique, pela voz de Samora Machel, proclamou em 25 de Junho de 1975 a in­dependência e a República Popular:
«A nossa luta é uma luta que faz parte das lutas do mundo inteiro. E uma luta que faz parte das lutas dos povos oprimidos. Nossa luta foi sempre justa. É por isso que ela triunfou. A opressão não era somente para o povo moçambicano, mas também para o povo português.»
[Proclamação de Samora Machel, Lourenço Marques, 25 de Ju­nho de 1975]
…….
Porque será que os dirigentes da FRELIMO continuam a negar o seu acordo ao Plano de Jorge Jardim?

As confissões de Melo Antunes

Além da "natural" responsabilidade dos dirigentes do PCP e do PS da altura, no processo de descolonização, recordo as palavras de Melo Antunes antes de falecer (Julho de 1999):
“(…) Muitos responsáveis políticos portugueses têm dito que a descolonização foi a que era possível. Acho que não é assim. Considero que a descolonização foi uma tragédia. Foi uma tragédia a maneira como a descolonização acabou por se realizar. Tal como a colonização o foi. Os dois aspectos estão ligados.
Não assumo a responsabilidade do que hoje lá se vive. Isso tem a ver com os movimentos e os seus líderes. Assumo a responsabilidade das negociações para a descolonização não terem sido conduzidas de modo a evitar situações, que acabaram por “descambar" naquilo que hoje existe nos ex-territórios portugueses africanos, (…)
Relembro estas palavras de Melo Antunes, pois julgo que a autora do livro/entrevista se esqueceu delas...
Confirmarei quando o livro for colocado à venda.

As confissões de Melo Antunes

Meloantunescapa
Numa longa conversa com Manuela Cruzeiro, o ideólogo do 25 de Abril faz revelações sobre o PREC e a descolonização. E explica o seu papel em todo o processo revolucionário.
- Texto da Revista Visão ( nº 608)
Download melo_antunes_02.doc
- Texto enviado por um amigo, de publicação que não identificou:

04-11-2004

Mbuzini, Steve Biko ou as Desinformações de Sérgio Vieira

Mapavoo
Zambeze – 04 de Novembro de 2004
João M. Cabrita
A recente entrada de Moçambique para membro do Conselho de Administração da Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO)1 para além do prestígio que confere ao país, é um acontecimento que se reveste de grande importância para todos os moçambicanos. Sem dúvida, esta constitui uma excelente oportunidade para o governo de Moçambique tirar a limpo, de uma vez por todas, as dúvidas que ainda persistem quanto às circunstâncias do acidente de Mbuzini. Do governo se espera, portanto, que obtenha daquele organismo internacional um pronunciamento inequívoco quanto à idoneidade da comissão de inquérito às causas do acidente, e à legitimidade do relatório por ela elaborado.
Veja o resto deste texto em Download Mbuzini1Nov04.doc
Para melhor entendimento reproduzo também o texto abaixo, publicado no ZAMBEZE, em 19 de Junho de 2003 Download Zambeze01.doc
Nota: O mapa junto foi retirado do livro QUEM MATOU SAMORA MACHEL?, de Álvaro B. Marques

28-10-2004

Americanos, Mondlane, Salazar e MRPP

Salazardn
Texto do Prof. Adelino Maltez, no seu blogue “sobre o tempo que passa” intitulado, “Americanos, Mondlane, Salazar e MRPP”, onde é abordada uma temática já velhinha e nunca devidamente explorada e estudada, para o "bom" ou para o "mau": “o movimento dos milhões de dólares norte-americanos na guerra colonial”; agora ainda mais actual com a publicação de um livro do antigo sub-secretário de Estado adjunto para os Assuntos Africanos da administração Clinton, senhor Witney Schneidman. Um apontamento a ler e meditar.

27-10-2004

Crimes da FRELIMO antes e depois da independência

Varanda de Lisboa
Por Manuel Amaro Bernardo
(...) Uria Simango, Joana Simeão e Lázaro Kavandame são apenas alguns dos milhares de opositores mortos em condições degradantes pelo regime de Samora Machel (...)
Paula d' Oliveira, in "DN" de 4-10-2004
Esta leitora do "Diário de Notícias" salienta, em carta ao Director, que "não se compreende, aliás, o burburinho que o livro de Barnabé Lucas Ncomo tem vindo a originar". É intitulado "Uria Simango; Um Homem, Uma Causa" e foi apenas publicado em Moçambique. No entanto, teve direito a uma página daquele matutino lisboeta, que incluía uma entrevista com o autor. Seria de muito interesse que a Ed. Notícias, do mesmo grupo editorial do "DN", lançasse a sua edição, em Portugal, para os portugueses o poderem apreciar convenientemente ...
De facto o assunto já tinha sido noticiado noutros jornais portugueses, como eu refiro no meu trabalho, publicado em 2003 ("Combater em Moçambique; 1964-1975"). O primeiro a fazê-lo terá sido "O Diabo" de 1-3-1983, onde se afirma nomeadamente que "apesar da FRELIMO ter afirmado estarem vivos e internados num campo de reeducação, o seu fuzilamento é igualmente confirmado por um dos textos do Ministério da Segurança de Moçambique divulgados pela revista «Scope», não obstante a garantia dada por Samora Machel, ao rei dos belgas, de que as vidas dos políticos oposicionistas seriam poupadas, foram condenados à morte e executados".
Cerca de doze anos depois, o "Público" (Magazine), de 25-6-1995, publicava uma impressionante peça jornalística com várias páginas, onde, a certa altura, afirmava:
(...) Joana Simeão foi amarrada, regada com gazolina e queimada viva,
juntamente com Lázaro Kavandame, Raul Ribeiro, Arcanjo Kambeu, Júlio Nihia, Paulo Gumane, reverendo Uria Simango e o padre Mateus Gwengere, numa vala próxima da estrada M'telela (ex-Nova Viseu e campo de reeducação desde Novembro de 1975) - Lichinga (ex-Vila Cabral), no Niassa, em 25-6-1977, enquanto os soldados cantavam hinos revolucionários. (...)

Este matutino também esclarecia que, naquele campo de reeducação, se faziam espancamentos "públicos", em frente dos restantes detidos, e que dos 1.800 prisioneiros entrados desde Novembro de 1975, apenas terão saído cerca de 100. Como refiro no meu trabalho, aquelas notícias do "Público" nunca foram desmentidas pelas autoridades moçambicanas.
É curioso que Barnabé Ncomo, depois de 15 anos de investigação, ainda não tenha conseguido precisar a data da morte de Uria Simango e dos seus companheiros. De qualquer modo não contraria o que foi afirmado por aqueles jornais e afirma: "Fuzilado ou queimado vivo" e que a execução terá ocorrido entre 1977 e 1980, apontando mais para 1977 ou 1978.
Recorde-se que em 25 de Junho de 1977 (a avançada pelo "Público"), se comemorava o 2° aniversário da independência de Moçambique.
Os prisioneiros antes e depois da independência
A leitora do "DN", Paula d' Oliveira tem igualmente razão quando afirma que “em 1974 e nos anos seguintes, quem se interessasse pelo que realmente se passava no Moçambique de Machel, não tinha qualquer dificuldade em descobri-lo - todos os dias se ouvia falar de campos de reeducação, de assassinatos(…)”.
De facto, como refiro no meu trabalho, já em 1-2-1976, o semanário o “Tempo" denunciava existência na Cadeia da Machava (Lourenço Marques/Maputo), de 14 portugueses presos ainda sob a soberania portuguesa (entre 21-3 e 24-5-1975) e de 72 após a independência. Aliás, por todo o território existiriam portugueses detidos, desde Pemba, em Cabo Delgado (cinco), a Tete, assim como em Bilibiza (quatro) e na Cadeia Civil da Beira (22).
Em 1980, o General Galvão de Melo ("Continuar Portugal"), que se batera pelo repatriamento dos portugueses naquelas condições, na Assembleia da República (1.° trimestre de 1977) e noutras organizações internacionais, afirmava:
(...) No caso de Moçambique, as diligências praticadas levaram à libertação e posterior repatriamento para Portugal de elevado número de portugueses. Com efeito e de acordo com as informações mais recentes que possuímos, de mais de duzentos que ali estavam presos até 1976, encontram-se agora apenas 40 cidadãos nacionais, detidos em todo o território moçambicano, por delitos de direito comum. Temos além disso conhecimento da existência de não mais de quatro presos antes da independência, em cumprimento de pena. (...)
Se bem que, com aquele tipo de regime, seria muito difícil discernir entre os de natureza política e os de delito comum...
"Para que o mundo (e os portugueses) não esqueça"
Samora Machel acabaria por ser vítima do regime que montou em Moçambique depois da independência. Viria a ser morto num "acidente" de aviação, numa viagem de Lusaka para Maputo, em 19-10-1986. E apesar de Joaquim Chissano ter denunciado em 16-7-1987, o carácter criminoso da ocorrência, posteriormente permitiu a interrupção da investigação e a cedência às teses sul-africanas do acidente, apesar da posição contrária dos soviéticos.
A viúva Graça Machel, que casou com o prémio Nobel da Paz, Nelson Mandela, em 18-7-1998, tem mantido uma "luta inglória" para esclarecer definitivamente a morte de Samora. Ainda nos princípios de Julho de 1998 afirmava à Imprensa que "estava muito magoada com o Governo e o Estado moçambicano”, acrescentando também, que "as investigações apontavam para uma conspiração envolvendo pessoas da África do Sul, do Malawi e de Moçambique".
Além da "natural" responsabilidade dos dirigentes do PCP e do PS da altura, no processo de descolonização, recordo as palavras de Melo Antunes antes de falecer (Julho de 1999):
“(…) Muitos responsáveis políticos portugueses têm dito que a descolonização foi a que era possível. Acho que não é assim. Considero que a descolonização foi uma tragédia. Foi uma tragédia a maneira como a descolonização acabou por se realizar. Tal como a colonização o foi. Os dois aspectos estão ligados.
Não assumo a responsabilidade do que hoje lá se vive. Isso tem a ver com os movimentos e os seus líderes. Assumo a responsabilidade das negociações para a descolonização não terem sido conduzidas de modo a evitar situações, que acabaram por “descambar" naquilo que hoje existe nos ex-territórios portugueses africanos, (…)

De facto, corno afirmou Manuel Monge, a descolonização foi feita na defesa dos interesses políticos da União Soviética, dos seus aliados e dos seus movimentos no terreno. Foi contra os interesses permanentes de Portugal, dos portugueses residentes em território sob a nossa administração e contra os interesses da população.
O DIABO - 05.10.2004

Eduardo Mondlane, fundador da FRELIMO, foi financiado pela CIA

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José Pestana, da Agência Lusa Washington, 26 Out (Lusa)
Eduardo Mondlane, fundador e primeiro presidente do movimento nacionalista moçambicano FRELIMO, foi durante anos apoiado financeiramente pelos serviços de espionagem norte-americanos, CIA.
O livro "Engaging Africa: Washington and the Fall of Portugal's Colonial Empire" (Envolvimento em Africa: Washington e a Queda do Imperio Colonial de Portugal) é de autoria de Witney Schneidman, antigo vice-secretário de Estado adjunto para os Assuntos Africanos na administração Clinton.
A obra confirma também anteriores alegações de que o dirigente nacionalista angolano Holden Roberto, presidente da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) também foi financiado directamente pela CIA, durante vários anos.
O livro, de 280 páginas detalha minuciosamente e com base em documentos oficiais e dezenas de entrevistas com personalidades norte- americanas e portuguesas, as relações dos Estados Unidos com Portugal e com os movimentos independentistas das ex-colónias portuguesas, particularmente Angola e Moçambique, desde o início dos anos 60 até à independência de Angola (Novembro de 1975).
Schneidman refere que o primeiro encontro de Eduardo Mondlane com um membro da administração norte-americana foi estabelecido durante o governo do presidente John Kennedy, quando o dirigente nacionalista se reuniu, no início de 1963, com o irmão do presidente (Robert Kennedy), então Procurador-Geral dos Estados Unidos da América.
De acordo com a descrição do encontro, obtida através de memorandos e entrevistas com alguns dos participantes, o encontro começou mal, com Robert Kennedy a interromper Mondlane quando este começou a criticar a política norte-americana no Vietname, dizendo ao líder nacionalista que estava "mais interessado em ouvir os problemas de Moçambique".
Mondlane teria depois explicado a situação em Moçambique, afirmando que seria "trágico" se "a indiferença e ignorância" e a necessidade de "agradar" a Portugal impedissem os Estados Unidos de estar "na frente do combate pela liberdade".
"No final do encontro de uma hora, Mondlane e Kennedy tinham estabelecido uma relação forte, baseada numa visão comum sobre o futuro em África e Moçambique," lê-se no livro.
"Embora o Procurador-Geral não se tenha comprometido sobre o apoio oficial americano, disse a Mondlane que queria pessoalmente ajudá-lo e à sua família," acrescenta Schneidman, destacando que, no final do encontro, Kennedy entregou um cheque pessoal de 500 dólares a Mondlane.
Poucos dias depois deste encontro, Mondlane reuniu-se em Washington durante duas horas com Averrel Harriman, sub-secretário de Estado para questões políticas.
"Os dois saíram da sua conversa de duas horas com um respeito mútuo profundo", afirma o livro, que cita como fonte para os pormenores do encontro um dos seus intervenientes.
Porém, tanto o secretário de Estado Dean Rusk como o sub- secretário de Estado George Ball recusaram-se a reunir-se com Mondlane, reflectindo o início do que seria uma longa luta entre várias facções governamentais americanas sobre como lidar com os movimentos nacionalistas e, ao mesmo tempo, manter boas relações com Portugal.
Enquanto Ball afirmou que o encontro "não serviria para nada" e Dan Rusk manifestou reservas sobre a actuação de Mondlane, outros continuaram a pressionar para que fosse concedida ajuda ao nacionalista moçambicano descrito num documento por um outro funcionário como "muito determinado, directo e inteligente".
O livro relata que, em Abril de 1963, foi feita a primeira proposta de ajuda clandestina a Eduardo Mondlane. Um documento garante ao sub-secretário de Estado George Ball que "a Agência (a CIA) está absolutamente confiante que o podem fazer pela calada".
Uma carta entregue ao influente Procurador-Geral Robert Kennedy afirma, no entanto, que "o dinheiro não deve ser dado partindo do princípio que se pode controlar Mondlane".
"De facto seria uma idiotice tentar controlá-lo, porque essa tentativa iria prejudicar a sua utilidade para nós. A verdade é que nós não podemos controlá-lo; podemos apenas confiar nele. Apoiar Mondlane será um bom investimento para nós, porque o seu programa representa a melhor e única esperança para uma solução relativamente pacífica para o problema moçambicano," diz o documento.
Nessa Primavera, a CIA entregou um "subsídio" de 60.000 dólares a Mondlane, que foram canalizados através do Instituto Afro-Norte-Americano, em Nova Iorque.
Ao discutir, mais adiante, a política do governo do presidente Lyndon Johnson o livro refere que, quatro anos mais tarde, em 1967, "o apoio financeiro" a Mondlane continuava, "mas sem aumento dos desembolsos".
Por essa altura, as relações entre os Estados Unidos e Mondlane estavam já a deteriorar-se e o último contacto oficial entre o líder nacionalista moçambicano e entidades norte-americanas decorreu em Nairobi (Quénia), em Setembro de 1968, quando num encontro privado com "influentes" personalidades americanas, Mondlane teria mostrado a sua irritação pela "incapacidade" e "falta de vontade" do governo dos Estados Unidos em ser mais agressivo e eficaz nas suas pressões sobre Portugal".
O encontro deu-se numa altura em que a FRELIMO estava também a atravessar uma grave crise interna e, segundo intervenientes, Mondlane estava "tenso e preocupado" devido a isso.
O encontro de Nairobi "marcou o fim do contacto oficial dos Estados Unidos com os nacionalistas que estavam a lutar pela independência de Moçambique e também o fim de uma relação estreita".
Mondlane foi assassinado alguns meses depois, em Fevereiro de 1969, num acto que o livro culpa, sem dar pormenores, a polícia secreta portuguesa PIDE em associação "com dissidentes dentro da FRELIMO".
O livro confirma, por outro lado, que o dirigente nacionalista angolano Holden Roberto recebeu durante muitos anos financiamento por parte da CIA. Esse financiamento começou em 1961 quando Holden Roberto começou a receber 6.000 dólares anuais, o que "foi, posteriormente, aumentado para 10 mil dólares/ano".
Em Julho de 1974, quando a guerra civil em Angola se avizinhava, o financiamento foi aumentado para 25.000 dólares.
No início de 1975 foi aprovada uma doação de 300 mil dólares a Holden Roberto, mas o encontro de alto nível que aprovou essa doação recusou uma outra proposta para doar 100 mil dólares "para se abrir uma janela a Jonas Savimbi" que, ironicamente, viria mais tarde a ser o principal aliado dos Estados Unidos em Angola.
26-10-2004 (Fonte : Agência LUSA)

23-10-2004

URIA SIMANGO Um homem, uma causa

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Da obra de Barnabé Lucas Ncomo, com o título acima, aqui transcrevo, com a devida vénia, a Sétima Parte - Nas mãos dos algozes.
Chamo a vossa atenção de que poderão ouvir Uria Simango em
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2004/10/stronga_confiss.html

21-10-2004

Macau fala português para China lucrar com Brasil

Macau1
The New York Times - 21/10/2004
Antiga colônia portuguesa é utilizada como ponte para os negócios
James Brooke - Em Macau
Nesta península repleta de história, onde a cultura portuguesa se mistura ao ar salgado do Mar do Sul da China, um visitante do Brasil pode começar o seu dia tomando café da manhã, enquanto folheia um dos três jornais diários locais em português ou assiste às notícias em uma das duas estações de televisão em língua portuguesa.
Na rua, um motorista de táxi sinaliza que o veículo está livre e leva um passageiro até um platô onde há coqueiros, igrejas católicas barrocas, nomes de ruas em painéis de azulejo em português e chinês e panfletos bilíngües anunciando festivais de música. Para que o visitante que fala português se sinta mais em casa, a Rádio Macau transmite fado, bossa nova e notícias em português durante todo o dia.
Cinco anos atrás, quando Portugal devolveu à china este enclave de 26 quilômetros quadrados, a maioria das pessoas previu que a língua portuguesa desapareceria do local num piscar de olhos. Os portugueses pouco fizeram para promover a sua língua desde chegaram pela primeira vez a Macau, como mercadores, por volta de 1553.
Quando partiram, apenas cerca de 2% da população de Macau, de 450 mil habitantes, falavam a língua de Lisboa. Os 98% restantes se comunicavam em cantonês e outros idiomas.
Mas em uma surpreendente reviravolta, as inscrições para aulas particulares de português triplicaram, chegando a mil desde 2002. Isso levou as escolas públicas chinesas locais a oferecerem português neste outono, atraindo mais de 5.000 alunos.
"O número de falantes do português disparou no ano passado", garante Manuel F. Moreira de Almeida, um português que vive na cidade há muito tempo e que é dono da Livraria Portuguesa, localizada em uma estreita rua colonial. "Em poucos anos, haverá mais falantes de português por aqui do que durante o
período em que a cidade foi colônia de Portugal".
Se é a economia que determina a ascensão e a queda das línguas, o renascimento do português é ditado pela nova determinação de Pequim no sentido de que Macau sirva como uma plataforma para os crescentes interesses comerciais e estratégicos chineses no mundo latino.
Embora os jogos de azar sejam há muito tempo o principal negócio local, a pequena Macau encontrou um novo papel para si, como elo de ligação da China com os 220 milhões de falantes de português no mundo.
Embora Pequim vá sempre atrair os visitantes mais importantes, como no caso da viagem, em maio passado, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, Macau oferece programas de treinamento e convenções no ambiente culturalmente amigável do canto mediterrâneo da China, onde o português
está, pelo menos oficialmente, em pé de igualdade com o chinês.
"Macau pode ser uma ponte entre a China e os países de língua portuguesa", disse, em outubro passado, após uma reunião comercial de cúpula com sete ministros de países de língua portuguesa, o vice-ministro do Comércio, An Mi.
Ao fim das conversações, a China assinou um acordo para aumentar o volume comercial, os investimentos e a cooperação econômica com Portugal e seis ex-colônias portuguesas: Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e Timor Leste. São Tomé e Príncipe não compareceram devido às relações diplomáticas que mantêm com Taiwan.
Atualmente, a Universidade de Macau leciona Direito em língua portuguesa para angolanos e moçambicanos. Seminários de treinamento em turismo, enfermagem, tradução e administração empresarial atraem alunos de cinco países de língua portuguesa da África e de Timor Leste, um nicho asiático que tem antigos laços históricos com este posto comercial no delta do Rio Pérola.
"Macau poderia funcionar como intermediária, fornecendo serviços de boa qualidade em treinamento, tradução e consultoria", afirma Gaary M.C. Ngai, um pesquisador local. Vagarosa para estabelecer conexões com os países de língua portuguesa e espanhola, a China atualmente se move agressivamente.
Quase que da noite para o dia, ela se tornou o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos, comprando ferro, aço, soja e alumínio brasileiros. O comércio bilateral da China com o Brasil quadruplicou desde 1999, chegando a US$ 6,7 bilhões no ano passado. Em troca, a China está apoiando os esforços do Brasil para obter uma cadeira no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
"Sob o ponto de vista militar e industrial a China intimida, mas as suas regiões especiais possuem uma imagem diferente", disse Luiz Fernando Furlan, ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, referindo-se a Macau e a Hong Kong, segundo a Associated Press.
No norte do Brasil, está sendo construída uma usina siderúrgica no valor de US$ 1,5 bilhão em uma joint venture entre o grupo Shanghai Baosteel e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a maior produtora de minério de ferro do mundo. A CVRD também possui uma parceria com a produtora chinesa de alumínio Chalco para a construção de uma refinaria de bauxita de US$ 1 bilhão, também no norte do Brasil.
Os negócios da Argentina com a China dobraram desde 2000. O Chile está negociando um acordo de livre comércio com a China. E, à medida que se torna cada vez mais dependente do petróleo importado, a China cultiva relações com Angola, um dos maiores produtores da África Ocidental. Com a intensificação dos negócios e trocas oficiais, a China concordou recentemente em ampliar o seu crédito a Angola em US$ 2 bilhões.
Grande parte dessa cifra será destinada à reconstrução da ferrovia Leste-Oeste, uma obra do período colonial que foi destruída por 40 anos de guerra civil.
"Os países de língua portuguesa, ricos em recursos, e o mercado mundial de maior crescimento, a China, parecem formar um par perfeito", disse Na, o vice-ministro chinês do Comércio no ano passado.
Macau está preparando uma legião de tradutores bilíngües para esses novos mercados. Em um exemplo típico desses novos rumos, quando a Feira Internacional de Comércio e Investimento de Macau for aberta em 21 de outubro, ela contará com uma grande área denominada "Feira da China e dos Países de Língua Portuguesa".
Após se reunirem aqui no início de outubro, executivos da Portugal Telecom, a maior empresa portuguesa, estão fazendo planos para expandirem os seus negócios daqui para toda a China. Segundo um novo acordo de livre comércio Macau-China, a partir de 1º de janeiro de 2006 cerca de 93% dos produtos exportados daqui para a China deixarão de estar sujeitos a tarifas, e o mercado chinês foi aberto para 18 setores locais de serviços, incluindo o de telecomunicações.
Para Ricardo Pinto, editor do "Ponto Final", um dos jornais diários portugueses, a conexão também permite que a cidade conte com alguma diversificação econômica, deixando de depender apenas dos jogos. No passado Macau era conhecida como a Monte Carlo do Oriente. Atualmente, os jogos estão em ascensão, o que alimenta expectativas de que mais de 5 milhões de pessoas utilizem o aeroporto da cidade neste ano.
O seu 15º cassino, o Casa Real, abriu as portas recentemente e os rendimentos com os jogos em Macau aumentaram 50% em relação ao ano passado, segundo o "The Macau Post Daily", o primeiro jornal de língua inglesa da cidade, criado em agosto para tirar vantagem da nova onda de afluência.
Com o plano de investimento de bilhões de dólares em cassinos, Macau espera dobrar, por volta de 2010, o seu número anual de visitantes para 30 milhões, mais ou menos o mesmo de Las Vegas.
Com a renda per capita de Macau chegando a US$ 17 mil, um nível próximo ao de Portugal, há poucos incentivos econômicos para que os 110 mil detentores de passaporte português na cidade migrem para Portugal.
Aproveitando o boom dos cassinos, o governo de Macau espera arrecadar US$ 2 bilhões em impostos sobre jogos neste ano, 60% a mais do que no ano passado.
Longe de desprezar o passado colonial de Macau, as lideranças da cidade restauraram e iluminaram marcos coloniais como igrejas, fortes, hospitais, teatros, museus, um observatório e o palácio do governador.
Em um caso raro em se tratando de cidades asiáticas modernas, a preservação histórica de Macau foi tão extensa que a cidade espera ser reconhecida no ano que vem pela Unesco como patrimônio histórico mundial. "Eles passaram da preservação ao cultivo da herança", diz Harald Bruning, diretor do "The
Macau Post Daily".
As coberturas de telhas vermelhas de barro cozido, os pratos portugueses a base de bacalhau e a profusão de motonetas proporcionam ao visitante um ambiente marcadamente mediterrâneo. É exigido que todas as placas de ruas e nomes de companhias sejam escritos em português e em chinês, o que pode deixar o visitante que fale apenas inglês desnorteado.
Mas como diz Almeida, que vê uma nova geração de falantes da língua portuguesa freqüentando a sua livraria: "O português saiu de uma ressaca colonial para se transformar em oportunidade de negócios".
Tradução: Danilo Fonseca

18-10-2004

Uria SIMANGO, a INDEPENDÊNCIA E A TEORIA DA CONSPIRAÇÂO! (1/2)

TRIBUNA - Coluna de João CRAVEIRINHA
email: craveirinhajoao@mail. pt
Achega à s Eleições 2004
Os que esquecem o passado estão condenados a repetí-lo - escreveu George Santayana (1863-1952), filósofo espanhol/ norte-americano...
Nas vésperas da Independência, de 11 a 12 de Maio 1975, Samora Machel, Presidente da FRELIMO, recebia os Presidentes da Tanzânia, Julius K. Nyerere, e Keneth Kaunda, da Zâmbia, em Nachingweia (Nachingueia); Quartel-general da Frente de Libertação na Tanzânia. Desse encontro ficariam registados para a História os discursos dos quais transcrevemos alguns excertos proferidos pelo Presidente do Movimento de Libertação moçambicano, Samora Moisés Machel, no dia 12 de Maio de 1975:
...Antes de vocês falarem (camaradas Kaunda e Nyerere), gostava de vos mostrar um batalhão de
agentes (...), quadros que se transformaram em agentes do inimigo...
...Joana Simeão Presidente do GUMO (...) e protegida das forças imperialistas do mundo (...) Joana Simeão (...)amiga de Rebelo de Sousa e do Caetano, representava os macuas, mas não representava a mulher moçambicana...
... Adelino Guambe fundador da FRELIMO por ser Presidente da UDENAMO, um dos três movimentos que se fundiram para formar a FRELIMO. Queria ser Presidente da FRELIMO...
... Narciso Nbule fundou um Partido no Quénia para se opor à  FRELIMO. Desde 1963 que se opõe à FRELIMO. Preso na Zâmbia fez-se de maluco e conseguiu baixar ao Hospital dos malucos...
... Também estão aqui soldados da COREMO (Comité Revolucionário de Moçambique). Nem sequer sabiam onde era Moçambique, viviam em florestas em volta de “Lussaca” como bandos de ladrões (roubando carros, arrombando lojas, atacando os homens das farmas). Viviam nas florestas e foi o Governo da Zâmbia que os enviou para a FRELIMO aqui em Nachingweia.
As suas ideias são as de bandidos e assassinos...
... Paulo Gomane, Presidente da COREMO, agente do imperialismo para se opor à  FRELIMO...
... Uria Simango foi Vice-Presidente da FRELIMO (...). Como Vice-Presidente tentou várias vezes retirar o apoio que nos dava a Tanzânia (...).TEMOS CORAGEM PARA MUITO, MAS NÃO TEMOS CORAGEM DE MATAR O CRIMINOSO SIMANGO...
... Pedro Mondlane, agente da PIDE e de Spínola...
... Manuel Lumumba permitiu que a bomba passasse de Mbeya para Dar-es-Saalam para o assassínio de Mondlane...
No mês seguinte, a 25 de Junho de 1975, Moçambique tornava-se Independente da administração
colonial portuguesa depois de 10 anos de luta armada.
Logo de início há indícios de vir a constituir-se numa República Popular de inspiração comunista, mescla do modelo chinês de Mao Tsé Tung e soviético estilo Estaline. Modelo polí­tico adoptado que esmagaria qualquer possibilidade de liberdade de expressão ou de associação política independente e democrática.
Para os iluminados mentores dessa revolução impunha-se inventar (!?) uma nova ordem política,
social e económica. Toma corpo a teoria da conspiração contra a revolução socialista. A FRENTE de LIBERTAÇÃO transforma-se em Partido único não aceitando a alternativa democrática no Poder. O dogma do Culto da Personalidade assente numa ideologia de ditadura substitui o dogma das religiões entretanto perseguidas violentamente e vistas como... ópio do povo...
O regime instala-se com um aparelho repressivo cruel apoiado numa polí­cia política SNASP e de outros sectores da Contra Inteligência militar – secção de Fuzilamento do Ministério de Defesa dependendo do Departamento de Defesa e Segurança do Partido FRELIMO do qual o seu Secretário e chefe viria a ser, mais tarde, o coronel Sérgio Vieira que em conjunto com Óscar Monteiro dirigira entre Janeiro/Abril 1975 os interrogatórios e torturas em Nachingueia aos quadros que se transformaram em agentes do inimigo...
A corroborar esta teoria da conspiração surgem as ofensivas contra o regime moçambicano vindas
dos vizinhos da Rodésia e da África do Sul últimas trincheiras do Poder branco em África. Alguns sectores de Portugal juntam-se aos inimigos da FRELIMO. Desde a Transição à  Independência de 1974 que muitos colonos portugueses e alguns moçambicanos abandonam o futuro País indo para a África do Sul, Portugal e Brasil. Outros o fariam a partir de 1976.
Moçambique esvai-se com a fuga desses quadros da função pública, empresá¡rios, técnicos, sobretudo brancos que se sentiriam inseguros e assustados pela entrada triunfante dos guerrilheiros da FRELIMO vindos do mato impondo novos hábitos de vida. Outros por puro racismo vão para a África do Sul após o fracasso da caça ao preto...ao turra (terrorista) ” do 7 de Setembro de 1974 e da consequente reacão popular descontrolada com o seu apogeu a 21 de Outubro.
A partir de 1976/1978 inicia-se uma sangrenta guerra civil em Moçambique que duraria cerca de 16
anos. O conflito seria apoiado do exterior pelos bastiões do apartheid rodesiano, sul-africano e de sectores portugueses e norte-americanos... (continua).
Anexo: Rebelo de Sousa, governador-geral e pai do (ex)-cronista de TV, Marcelo R. S. Caetano também Marcelo e substituto de Salazar. Pedro Mondlane primo/irmão de Eduardo Mondlane. GUMO Partido de Máximo Dias.
[NB. João Craveirinha, o cronista desta coluna, encontrava-se no grupo desses condenados de Nachingueia aqui referenciados e mais tarde transferidos via Lago Niassa para Mitelela ex - campo militar colonial de Nova Viseu].
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 19.10.2004

14-10-2004

A confissão de Uria Simango

Veja e ouça aqui a voz de Uria Simango desvrevendo, em Nashingueia, como Eduardo Mondlane foi assassinado. Recordo que Uria Simango já se encontrava na altura prisioneiro.
Excerto retirado do CD-ROM comemorativo dos 25 anos de Independência
25 de Junho -Moçambique
Vitória de um povo
Narrador - Leite de Vasconcelos
Edição Creatix-Promédia

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