sábado, 2 de janeiro de 2016

A Construção da Nação em África


A Construção da Nação em África
Pedro Borges Graça
2005
ISBN 9724024857
339 pags. 

Envio em 24 horas
Preco S/IVA: € 19.05  PVP: € 20.00     4010$00
CONTEÚDO
A construção da nação em África resulta da interacção entre a herança africana e o legado colonial, entre os valores africanos e os valores europeus ou ocidentais, entre a tradição e a modernidade. E dessa interacção está a resultar a formação de um terceiro elemento, que não é o somatório dos outros dois mas sim algo de novo que comporta ambivalência cultural e cuja identidade se define mais facilmente pela alteridade no contexto internacional. Esta realidade pode ser observada no caso moçambicano, tanto nas massas como nas elites, tanto no trabalhador que emigra para a África do Sul como no diplomata que se confronta com os seus congéneres africanos anglófonos ou francófonos ou, até mesmo, apesar da afinidade linguística, no estudante moçambicano em Portugal face aos seus colegas guineenses ou angolanos. Mas, para todos os efeitos, a língua portuguesa é o cimento da construção da nação em África na área lusófona. www.almedina.netPrefácio Os temas da Nação e do Nacionalismo foram dos mais dominantes durante todo o período da descolonização, assumidos em planos diferentes pelas soberanias coloniais europeias e pêlos movimentos de libertação. As primeiras tinham apoio num conceito histórico da própria identidade, referência teórica num pensamento dividido entre a matriz sobretudo cultural de Renan e a matriz sobretudo étnica de Ficht, e apoio político nas formulações de Willson sobre a relação entre o Estado e a comunidade nacional; os segundos, usavam igual semântica para uma formulação ideológica cujo conteúdo mobilizador era o da submissão alienante a uma potência responsável pela igual condição dos habitantes do território. A França, para abandonar o Império em resultado da equação de forças, foi além do limite das capacidades na Argélia porque, como disse Mitterand, esta tinha sido, era, e seria a França. Quando Portugal, na vigência da Constituição de 1933, afirmava a unidade nacional de todo o território, apoiava-se na suposta unidade da diáspora do povoamento, e nas fidelidades das restantes etnias às quais uma corrente doutrinária, com assento universitário, não reconhecia nem a nacionalidade nem a cidadania. A nação, de acordo com o conceito que finalmente foi consagrado pela orientação de Willson, no fim da guerra de 1914-1918, era entendida como uma comunidade na identificação sociológica, e avaliada como a expressão mais sólida da solidariedade que orienta a decisão de suportar em comum as adversidades, os desafios, os projectos, mantendo-se assim na sucessão das gerações, e ambicionando a suficiência de meios, recursos e determinação para gerir politicamente, com independência, os seus destinos. Na conclusão de Lord Acton, de regra foi o Estado que deu origem à Nação, e não a Nação que antecedeu o Estado, reservando assim uma intervenção determinante para a variável do poder político e da relação duradoira entre a dependência da população de uma sede do poder, e o seu envolvimento longo num projecto estratégico de governo. Isto com a necessária reserva de reconhecer que a condição comum de submissão a um poder alienígena também determinou a decisão de um poder rebelde lutar pela libertação, independentemente de a população ter atingido a definição de solidariedade abrangente do modelo nacional. Por outro lado, é de considerar também que a realidade nacional não obriga a que a decisão para a escolha do modelo de governo recuse soluções de soberanias cooperativas, de serviço, federativas, ou unitárias. A questão transversal é a de salvaguardar a nação, sempre que este patamar da evolução foi atingido. Esta importância da nação, frequentemente acrescida de um projecto nacionalista que tenderá para reprimir internamente discórdias ou dissidências, e para animar expansionismos agressores de outras comunidades com apelo a uma ideologia de justificação, originou um trânsito semântico das palavras para as ideologias de libertação dos territórios coloniais. Tais movimentos declaravam-se nacionalistas, e chegavam ao poder acrescentando frequentemente a convicção democrática, umas vezes assumindo formalmente o modelo das democracias ocidentais, outras vezes o modelo das democracias populares. Este percurso de imagem cobriu a formação de Estados que governam um aglomerado de etnias longe de corresponder a uma comunidade nacional, e que são Estados autoritários também longe de qualquer modelo democrático, muito claramente longe dos ocidentais. O primeiro desvio consolidou-se com a aceitação do critério da própria ONU relativo às fronteiras geográficas, condicionando as independências pela definição arbitrária que as potências colonizadoras tinham estabelecido, e que os estatutos da OUA declararam definitivas. No que toca ao segundo desvio, talvez a primeira referência esteja no facto de que nenhuma das metrópoles colonizadoras, ainda que sendo democracias estabilizadas como eram a Inglaterra e a França, organizou qualquer regime de carácter democrático nas respectivas colónias. Quer o seu representante se chamasse vice-rei, governador, ou alto-comissário, era sempre de um poder indiviso que se tratava. Este modelo era o mais próximo das tradições locais, e os movimentos de libertação, sobretudo os que adoptaram a luta armada, foi a apropriação desse poder que tiveram como objectivo estratégico, um alvo apoiado na experiência da cadeia de comando do período dos combates. Ainda em casos como os de Leopold Senghor e Houphouet-Boigny, no Senegal e na Costa do Marfim, o poder foi vitalício não obstante a formulação constitucional e o passado de experiência de participação no poder governativo da França. Senghor teve a sabedoria de se retirar já na quarta idade, mas Boigny não evitou a triste degradação do exercício. O facto, dolorosamente sublinhado pela evolução da África do Sul até ao milagre do aparecimento de Mandela, é que a luta pela aquisição, manutenção, e exercício do poder, ancorado numa sede de apoio penosamente defendida, traduz o modelo dominante, com a referência à Nação e ao nacionalismo remetida para a definição ideológica formulada com ambígua tradução, e como projecto a realizar, não como referência a uma realidade existente. Enquanto manifestações de violência extrema vão pontuando o trajecto de numerosos regimes, é promissor que a literatura vá revelando ensaístas, contistas, romancistas, poetas, que proclamam a urgência da liberdade, apelando ao modelo democrático, de que a soberania colonial não deixou exemplo, como indutor pacífico da convergência do cosmopolitismo herdado para o modelo de comunidade talvez nacional. Um passo que inicia uma longa e acidentada caminhada, mas uma esperança que anima o trabalho de Pedro Graça, confiante no poder da palavra. Adriano MoreiraÍndice Capítulo I - Introdução Capítulo II - A Perspectiva Africanista Capítulo III - A Construção da Nação em África Capítulo IV - Estruturação da Cultura Moçambicana Capítulo V - Conclusão (Para a Compreensão da Construção da Nação em Moçambique)

15-06-2005

Moçambique: Presidente Guebuza empenhado para elucidar morte de Samora

Monumento_samora01Maputo, Moçambique, 14/06 - O chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, garantiu que o dossier sobre a morte do primeiro Presidente de Moçambique independente, Samora Machel, falecido num acidente de aviãção em Outubro de 1986 na África do Sul, "nunca esteve e não está esquecido".
Em entrevista à "Rádio Moçambique", emissora oficial, por ocasião dos 30 anos da independência do país a celebrar-se a 25 de Junho, Guebuza disse que o governo continuará a pressionar até alcançar as respostas sobre a morte de Samora Machel, mas esclareceu que elas não dependem apenas do Executivo, mas também do resultado das investigações.
"O dossier existe. Nunca Moçambique, a nível do governo, o pôs de lado. As respostas é que ainda não estão lá. Vamos continuar a pressionar para que possamos encontrar tais respostas que não dependem totalmente de nós mas sim do resultado das investigações ainda em curso", afirmou.
Guebuza considerou que o alcance da verdade está a ser comprometido pelo facto de se desconhecer como apareceu o sistema de navegação "VOR" que transmitiu sinais, forçando o avião que transportava Samora Machel e sua delegação a desviar da sua rota normal e a se despenhar em Mbuzini (África do Sul).
Um outro empecilho para o esclarecimento do caso é a atitude do então regime sul-africano do "apartheid" que considerou encerradas as investigações para sonegar da verdade, precisou.
"Nós não podemos parar por aí. Temos que continuar a investigar para podermos conseguir levantar as questões relevantes do assunto. Estamos a trabalhar para que isto aconteça. Este dossier nunca foi esquecido. É impossível que seja esquecido", ressaltou Guebuza.
Esta foi a primeira reacção do Presidente moçambicano sobre a morte de Samora Machel desde que assumiu o cargo em Fevereiro último.
Samora Machel morreu em Mbuzini a 19 de Outubro de 1986 com 34 membros da sua comitiva na sequência do despenhamento do avião presidencial quando vinha da Zâmbia, para onde se deslocara em missão de paz para a África Austral.
O local onde Samora Machel morreu foi transformado em monumento em sua memória após o derrube do regime do apartheid na África do Sul.
AngolaPress

Metical assinala mais um aniversário( 45º aniversário do massacre de Mueda)

Assinalam-se hoje, 16 de Junho, no país, dois acontecimentos importantes, nomeadamente o 25º aniversário da criação do metical, a moeda nacional, e a passagem de 45º ano após o massacre de Mueda*, em Cabo Delgado que, segundo a história oficial, terão morrido cerca de 600 moçambicanos crivados de balas das tropas coloniais portuguesas, quando de forma pacífica exigiam a Independência Nacional.
Sobre o massacre de Mueda, à medida que o tempo passa e com os investigadores a pesquisar mais os dados, se começa a por em causa o número oficial de vítimas. Um dado que parece assente é que a tropa colonial disparou contra manifestantes civis em Mueda naquela longínqua data (16 de Junho de 1960). Quanto às mortes, acredita-se que não terá chegado a duas dezenas.
Moeda nacional
À meia-noite de domingo, dia 15 de Junho de 1980, através da emissão nacional da Rádio Moçambique o então presidente da República Popular de Moçambique, Samora Machel, em discurso à Nação, decretou formalmente o fim de circulação da moeda em Escudos e a introdução do Metical como moeda de circulação nacional. Tal medida foi formalizada nas Leis 2 e 3/80. A designação da moeda - o Metical - deriva do nome de uma moeda de troca utilizada nas transacções entre as populações em algumas regiões de Moçambique centenas de anos antes (aparentemente uma pitada de ouro aluvial enfiada na parte oca de uma pena de ave). No entanto, a passagem de mais um aniversário do Metical ocorre numa altura em que aquela moeda nacional está em queda cambial face às moedas mais fortes, como o
dólar norte-americano(o câmbio da moeda nacional em relação ao dólar está acima de 24 mil meticais).
IMPARCIAL – 16.06.2005
*Passando hoje mais um aniversário do denominado “massacre de Mueda” e devido aos erros crassos, e porque não propositados, contados na História Oficial da Frelimo, não só quanto à motivação da reunião, como ao modo como decorreu a “banja” e suas consequências, peço que vejam e ouçam o que está em:
* Claro que, independentemente do número, são sempre de lamentar quaisquer mortes violentas.
* Aos mais descrentes, peço que consultem o Arquivo Histórico de Moçambique.
Fernando Gil

14-06-2005

África, 30 anos depois

Livro Visão: África, 30 anos depois

Visao_africa
A Visão produziu um livro em comemoração dos 30 anos de independências, procurando entre outras coisas evidenciar as mudanças. Serão 240 páginas a publicar no próximo dia 16 de Junho.

Custará 14.90 euros e acompanha a revista. Nesta semana nas bancas, portanto.
Quando é que os portugueses chegaram a estes países? O que lá encontraram? Quais foram os principais momentos da sua História? Quem são as principais personagens? Quais são as principais riquezas de cada um deles? O que lá se produz? Quantas pessoas lá vivem? África, 30 anos depois faz o retrato dos países nos dias de hoje, reúne todos os dados estatísticos, apresenta os novos mapas e uma valiosíssima colecção de fotografias. Para além das reportagens, as crónicas de Cáceres Monteiro; Joaquim Letria; Edite Soeiro; José Silva Pinto; J. Plácido Júnior; Luís Almeida Martins; Pedro Vieira; Rodrigues da Silva. E ainda, os balanços de Adriano Moreira, Pezarat Correia e Vítor Crespo.

13-06-2005

Jaime Gama representa Portugal no 30º aniversário de independência

Sampaio_gamaO presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, vai representar o presidente Jorge Sampaio nas cerimónias do 30º aniversário da independência de Moçambique, disse fonte da embaixada portuguesa em Maputo.
O governo de Moçambique convidou Jorge Sampaio a participar nos 30 anos de independência do país, que se assinalam a 25 de Junho, mas, por indisponibilidade de agenda, o Chefe de Estado delegou em Jaime Gama a representação de Portugal nas actividades.
A independência de Moçambique pôs termo a 12 anos de guerra, entre 1962 e 1974, que opôs o Estado português à FRELIMO, e foi acordada em 1974 na capital zambiana, Lusaka, por delegados das duas partes. Samora Machel, o primeiro presidente do país, proclamou a independência de Moçambique às 00:00 horas do dia 25 de Junho de 1975, no estádio da Machava, arredores de Maputo, dando continuidade ao desmantelamento do império colonial português iniciado com o 25 de Abril de 1974 e que conduziu à criação de cinco novos países africanos.
O programa de festejos que assinalam os 30 anos de Moçambique independente inclui a realização de uma "marcha de unidade nacional e contra a pobreza absoluta", iniciada em Maio, que atravessa o país na sua extensão, entre os rios Rovuma e Maputo, num percurso de cerca de três mil quilómetros. 

NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 13.06.2005

10-06-2005

Feio, porco e Mao

Nova biografia coloca líder chinês ao lado de Hitler e Estaline como um dos maiores sanguinários.O "Grande Timoneiro" matou 70 milhões, criou o seu mito e durante 25 anos não tomou banho
Marina C. Ramos( mramos@oindependente.pt)
Assassino, mulherengo, mentiroso e manipulador são alguns dos mimos com que Mao Tse-Tung é brindado na biografia que a escritora britânica de ascendência chinesa Jung Chang – mundialmente conhecida pelo "best seller" "Cisnes Selvagens" – acabou de publicar no Reino Unido. "Mao: The Unknown Story" desmonta os principais mitos surgidos em torno do autoritário e cruel líder comunista ao mostrá-lo como um político impedioso e maníaco, sem escrúpulos nem piedade, capaz de tudo para alcançar (e manter) o poder.
Publicado no início da década de 90, após as manifestações de Tiananmen, "Cisnes Selvagens" descreve os horrores vividos por três gerações de chinesas e tornou-se um fenómeno mundial, espécie de introdução ao que ali se passara durante o século passado.
Os dez milhões de exemplares permitiram a Jung Chang passar os últimos anos a vasculhar arquivos em 38 países durante a longa pesquisa, que incluiu entrevistas com dezenas de personalidades. Henry Kissinger, Dalai Lama, Lech Walesa, George Bush e Imelda Marcos são citados na extensa bibliografia que encerra as 800 páginas, onde se conclui que "Mao foi responsável por 70 milhões de mortos em tempo de paz". Número que o transforma, segundo a autora, no maior assassino da História contemporânea, devido ao clima de medo, suspeição e terror que criou: "A diferença em relação a Hitler e Estaline é que Mao gostava que as torturas e execuções fossem públicas, enquanto eles preferiam o sigilo."
Com o apoio do marido, o historiador britânico Jon Halliday, a escritora descobriu lendas e mentiras que Mao impôs como verdades. Embora o governo chinês tenha ordenado aos poucos sobreviventes do restrito círculo do "Grande Timoneiro" que pensassem bem no que diziam, o aviso de pouco valeu, já que muitos desobedeceram, desejosos de denunciar o que durante décadas calaram.
Assim se desmonta a absoluta fraude que foi a Longa Marcha. Jung Chang explica como Mao passou os nove mil quilómetros no conforto da liteira que ele próprio desenhou, carregado por outros, enquanto descontraidamente fumava e lia. Conclui também que Mão conseguiu ser odiado por todos, se enganou nas tácticas e estratégias adoptadas e só sobreviveu porque o presidente Chiang Kai-Shek permitiu que os vermelhos avançassem. Porque – sustentam com base em documentos e testemunhos – Estaline mantinha refém o filho do presidente, que depois fugiria para Taiwan, motivo pelo qual este assinara um pacto secreto.
Mao também não terá sido arrastado para a Guerra da Coreia pelo comunista Kim Il-Sung e pela invasão norte-americana. Pelo contrário, terá desejado o conflito, mesmo conhecendo as gigantescas perdas que implicava, disposto a trocar a vida de milhares de soldados pela ajuda de Estaline – que não conseguiu – para montar uma indústria de armamento. Tal como não se incomodou com a invasão japonesa durante a II Guerra Mundial, já que, secretamente, acordara com o responsável soviético a divisão da China em que seria o dirigente-fantoche de um Estado bastante mais pequeno que a actual república popular.
Estas são algumas revelações contidas numa biografia onde nem todos os factos apresentados são novos. Um dos seus secretários já afirmou que Mao não se incomodava com o número de mortos desde que atingisse o que queria, tal como são conhecidos os lucrativos negócios de droga que geriu com afinco e dedicação. O líder comunista tornou-se plantador de ópio no início dos anos 40, actividade que lhe valia 60 milhões de dólares anuais, valor que os autores estimam ser hoje equivalente a 640 milhões. Desistiu de tão rendível esquema só porque a ganância entre os membros do partido levou ao excesso de produção e baixou drasticamente os preços.
Monstro de Pequim.
A sua monstruosidade foi igualmente bem documentada na biografia publicada pelo médico pessoal, Li Zhisui, em 1994. O facto de não tomar banho – e não lavar os dentes – durante quase um quarto de século não impediu Mao de ser um mulherengo compulsivo, admirador confesso de menores. Em 1953, foi mesmo criada uma trupe especial de jovens cuja única finalidade era satisfazer sexualmente o camarada. Quem nadava todos os dias e exigia ser lavado com toalhas aquecidas descartava-se delas com a mesma velocidade com que ordenava execuções: ao longo de décadas desenvolveu o hábito sádico de assistir a torturas e mortes violentas, admirando com gozo especial as imagens das sevícias exercidas sobre outros membros do partido. E nem pelos filhos demonstrou qualquer afeição. Durante a Longa Marcha, ordenou que um deles, recém-nascido, fosse abandonado à sua sorte. Ao ser chantageado por Estaline, que ameaçava raptar outro, não hesitou: "Pode ficar com ele."
Amante da boa vida, adorava ler, fumar e comer. Mas, como detestava peixe congelado e apreciava uma determinada espécie, obrigava alguns súbditos – sempre que o seu apetite assim o exigia – a cavalgarem mil quilómetros até Pequim com o alimento na garupa. Sempre viveu como um imperador, com 50 residências oficiais espalhadas pelo extenso território, todas construídas para resistirem a um bombardeamento, mesmo que nuclear.
Não era grande orador e o que o movia não era a ideologia ou o idealismo, afirma-se em "Mao:The Unknown Story". Antes o absoluto ódio que sentia pelos que dizia servir enquanto presidente da República Popular. Durante o Grande Salto em Frente, no final dos anos 50, vendeu comida à União Soviética em troca de armas, enquanto 38 milhões morriam naquela que ainda é conhecida como "a maior fome da História chinesa". Indiferente ao sofrimento alheio, com os trabalhadores a cumprirem jornadas de 20 horas, sugeriu que comessem folhas, decidido a dar uma imagem de opulência quando o país se afundava. "Mao foi o único milionário criado pela China de Mao", escreve Jung Chang, explicando que os direitos obtidos com a venda do célebre "Livro Vermelho" encheram os bolsos do líder, que incentivava a leitura mas proibia e censurava a maioria dos escritores.
A anormal ânsia de poder era a única razão que norteava as decisões de quem sonhava transformar o país numa superpotência. Descrito como um "oportunista egomaníaco", estava disposto "a matar metade da população chinesa" para alcançar o tão desejado poderio militar. Acusações que a dupla de autores prova com documentos e testemunhos citados ao longo das 800 páginas, escritas sem qualquer intuito de vingança.
Pelo menos assim jurou Jung Chang durante as entrevistas de promoção. Quis escrever uma biografia justa e objectiva porque, ao contrário do que possa pensar-se, já não é assombrada pelo passado. "Penso que este livro agitará o mundo e ajudará a moldar o que pensamos da China", disse ao "Guardian".
A HISTÓRIA CONHECIDA
Rui Gamito
Durante anos atirou-se para o chão sempre que ouvia aproximar-se um automóvel a baixa velocidade. Pensava que seria repatriada a qualquer momento. Que a enviariam de novo para a China e para o terrível campo de trabalho, no sopé dos Himalaias, onde aprendera a ser camponesa.
Jung Chang diz que o medo paralisante desapareceu ao escrever "Cisnes Selvagens", ajuste de contas com o passado, relato dos tempos em que meninas eram gueixas ao serviço de senhores que lhes mandavam enfaixar os pés, descrição do sofrimento infligido aos membros do Partido Comunista Chinês por Mao Tse-Tung durante a Revolução Cultural, narrada pela voz de três gerações.
Livro de cabeceira de Margaret Thatcher, "Cisnes Selvagens" depressa se tornou "best seller", traduzido para 33 línguas mas proibido na China. Editado em português pela Quetzal, a biografia conta como uma guarda vermelha de 14 anos acreditou no líder ao ponto de destruir flores sem se questionar porquê, enquanto gritava "slogans" e perseguia professores – ainda hoje recusa cortar o longo cabelo por recordar como em adolescente era obrigada a escanhoar o couro cabeludo.
Convicções então inabaláveis que começaram a desvanecer-se ao assistir à denúncia e brutal detenção dos pais – a mãe foi obrigada a caminhar em cima de cacos de vidro e a passear pelas ruas com um cartaz ao pescoço onde se declarava traidora; o pai enlouqueceu no remoto campo de trabalho para onde foi enviado ao não assinar um cartaz de propaganda, gritando: "Não venderei a alma."
Antes de ser uma das primeiras chinesas a estudar no estrangeiro, Jung Chang foi electricista, metalúrgica, e conheceu a dureza da lavoura. Ao chegar a Londres, pensou que aterrara noutro planeta. Em Heathrow entrou confiante na casa de banho dos homens, já que as calças eram a única vestimenta que conhecia.
Aos 53 anos, está a traduzir para chinês "Mao: The Unknown Story", consciente de que a publicação jamais será autorizada por Pequim. Mesmo que em causa não esteja uma vingança pessoal, não descansa enquanto o retrato de Mao continuar pendurado na Praça de Tiananmen.
9 de Junho de 2005 - O INDEPENDENTE

Adelino Serras Pires divulga relatório da lavra de Mário Ferro(2)

Destaco aqui a actividade de Lucinda Serras Pires Feijão e da Maria José Serras Pires Cardeano, mãe de Serras Pires Cardeano, actualmente na Tanzania.
Ambas são irmãs de Adelino Serras Pires.
A primeira foi redactora da voz da Quizumba e ambas trabalharam no jornal de língua portuguesa que foi encerrado pelas autoridades zimbabweanas.
A família fugiu, depois, para a África do Sul. Daqui, houve ramificações, mas a maior parte dos seus membros foi para Portugal.
Durante a minha estadia em Portugal contactei pessoalmente com Maria José Serras Pires Cardeano, com a Henriqueta Serras Pires, com Adelino Serras Pires Júnior e com Serras Pires Cardeano. Estes dois contactos o contacto foi momentos antes deles se dirigirem à Madrid, Espanha, onde tomariam depois o avião para Tanzania.
A Maria José Pires Cardeano falou-me que já tem o desenho da “nova bandeira” de Moçambique. Ela mantém estreitas relações com Evo Fernandes e lamenta a morte do Cristina, dizendo que este foi “assassinado” pelos irmãos Bomba, “infiltrados pelo SNASP” nos bandos armados.
Por que razão os dois primos estão na Tanzania?
O norte de Moçambique ainda não foi directamente atingido por acções de desestabilização dos bandos armados.
Será que a missão dos dois é de agitar os moçambicanos residentes na Tanzania para os recrutarem?
4. Quem é o Evo Fernandes?
O Evo Fernandes é natural da Beira. Advogado, formou-se na faculdade da Universidade de Lisboa.
No exército colonial Português, pertencia aos Serviços da Justiça ,ficou Comando-Chefe em Nampula, na altura de Kaulza de Arriaga (...)
Após cumprir o serviço militar, aparece como um elemento da confiança do Jorge Jardim. É nomeado subdirector do “Notícias da Beira”.
Após o 25 de Abril de 1974, com a demissão do então director deste jornal, foi nomeado pelo Jorge Jardim para aquele cargo em 8 de Junho desse ano. Esteve apenas um dia nessas funções, já que a três de Junho a Administração Jorge Jardim foi expulsa do jornal pelos trabalhadores.
Continua ligado ao Jardim, mas aparece em 1979 como um funcionário superior da Livraria Bertrand, ligado ao Bullosa.
Ainda se mantém em Moçambique algum tempo, após a proclamação da independência nacional. Chegou a ser professor do liceu, na cadeira de História.
Colegas seus do tempo da Universidade disseram que Evo Fernandes era agente da PIDE infiltrado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Nos últimos tempos, tem visitado com regularidade a cidade de Lisboa.
5.Quem é o Jorge Correia?
(...) é um filho de antigo vendedor de carros do Entreposto, na cidade da Beira.
Quando tinha uns cinco ou seis anos, ele e o pai correram o risco de morrer afogados na praia defronte ao Grande Hotel, na Beira.
O Jorge Correia fez a instrução primária e parte da secundária na Beira. Foi para a “metrópole” prosseguir os seus estudos, tendo chegado a frequentar o segundo ano de Electromecânica.
Após a proclamação da nossa independência, aparece na Beira, casado, intitulando-se “engenheiro electromecânico“.
Obtém um contrato, com um vencimento de 50 contos mensais e respectiva transfêrencia para trabalhar na MOBEIRA.
Possui um apartamento no prédio Emporium e um automovel “Citroen DS 20”.
A esposa é funcionaria do consulado geral de Portugal na Beira .
Por incompetência, é desligado da MOBEIRA.
Vem para Maputo e consegue colocação na FASOL /SABOREL .
O seu passaporte, no espaço destinado a profissão, havia sido falsificado pela esposa que esteve implicada no desaparecimento de passaportes portugueses no consulado da Beira.
Regressa a Portugal em 1979 e reaparece em Moçambique como representante da Livraria Bertrand, propondo “negócios chorudoa de milhões de dólares” ao nosso Governo.
Quando aparece, pela primeira vez na Beira , após a proclamação da independência, afirma-se como militante do Partido Comunista Português, um convicto homem de esquerda.
6.Contacto com Sandy Alexander Sloop
Sandy Aexander Sloop convidou–me para o almoço.
Pretendia recolher informações sobre o que ele chamou de “cisões” na direcção do Partido Frelimo. Em particular, queria uma informação sobre uma eventual dissidência de sua excelência o Tenente- General Armando Guebuza, após a última remodelação governamental.
Fiquei com a sensação de que para além dessas informações ele pretendia estabelecer uma ligação directa com alguém em Maputo, que lhes permitisse um contacto telefónico ou de telex a partir de Lisboa para saber “coisas“ sobre o que se passa em Moçambique.
O almoço teve lugar após a conferência da imprensa e tinha passado no encontro.
Disse-me que o Jorge Correia havia anunciado o desencadeamento da operação ”Cacimbo Ardente” em 10 províncias do nosso País com um efectivo de 16 mil homens.
Falou do aperto do cerco às capitais provinciais para respectivo isolamento, e do aumento de ataques contra alvos estratégicos, em particular linhas de transporte de energia eléctrica.
Referiu aos constantes avisos aos cidadãos estrangeiros, trabalhando em Moçambique considerando os bandidos armados como inimigos.
Nesta altura, a conferência de imprensa foi interrompida pelos agentes da polícia portuguesa .
E enquanto estes agentes iam buscar um mandato oficial a conversa prosseguiu entre o Jorge Correia e os jornalistas. O Augusto de Carvalho pôs em questão a credibilidade das informações ali prestadas pelo Jorge Correia, argumentandoque naquelas semanas antes o Jorge Correia havia anunciado que “Samora Machel e o seu Governo” haviam ”fugido” do Maputo e instalado ”capital provisória” em Nampula.
O Cardoso Ribeiro quis saber como é que sendo o Jorge Correia de nacionalidade portuguesa, este estava ligado a uma “organização” que se diz moçambicana. A resposta foi:
-“ A Frelimo não me quer dar o passaporte moçambicano”.
O Sandy Alexander Sloop falou-me ainda da sua entrada ilegal em Moçambique, no ano passado através da África do Sul.
Ele e o seu colega foram transportados por um avião da Africa do Sul para a zona central do nosso País. O avião aterra numa pista da região da Gorongosa .
Trabalharam com o tal Dhlakama, que promoveu uma reunião com as suas “estruturas centrais”, para as filmagens.
Com o mesmo fim, organizou uma “operação de sabotagem” à linha férrea Inhaminga-Beira.
No trajecto à pé entre a Gorongosa e a linha férrea, foram informados via rádio de que haviam passado dois comboios naquela linha e que um terceiro iria passar em breve.
Segundo o Sloop, o grupo era de umas 140 pessoas.
Para apressar a marcha até à linha, pois a ideia de Dhlakama já não era a de simular um acto de sabotagem, mas um ataque real ao comboio, o grupo foi dividido em dois subgrupos de 70 pessoas cada uma.
O grupo dos bandidos que se dirigiu à linha férrea era chefiado pelo próprio Dhlakama e dele faziam parte ”cinco generais” ditos “responsáveis militares das províncias de Gaza, Inhambane, Sofala, Tete e Manica” e por “secretários da agricultura e da educação”.
Este grupo foi surpreendido –segundo o Sloop– por um comboio fortemente guarnecido que recebeu reforços, transportados por um outro comboio.
Houve um combate de três horas entre as nossas forças e os bandidos armados. Estes esgotaram as suas munições e tiveram que se pôr em fuga.
O Sloop disse-me que os cinco “generais” ficaram feridos e que o próprio Dhlakama ficou com a camisa furada por uma bala e que havia sido atingido num dos crregadores com um tiro.
Sloop disse-me que ficou admirado de as nossas forças não terem perseguido o grupo que estava sem munições.(Concl.)
Continuação de

SEITAS RELIGIOSAS COMUNISMO E MAÇONARIA EM ÁFRICA

Seitas_religiosas_capa
Adulcino_silva
Foi hoje lançado pelo autor, Adulcino Silva, jornalista e natural de Angola, junto ao Monumento dos Combatentes, o livro SEITAS RELIGIOSAS, COMUNISMO E MAÇONARIA EM ÁFRICA.
Um livro diferente que revela as verdades sobre os culpados do desastre africano. Quem financiava, utilizava e quais os objectivos das organizações religiosas em África?.
Quem corrompeu quem? Quem traiu? Quem forçou a "descolonização"? O que foram as "guerras por procuração"? Quais as investigações e as conclusões da PIDE sobre a luta de Portugal em África. Paulo VI e Portugal. A droga usada como arma de guerra.
Aqui encontrará as respostas e pormenores diversos que o surpreenderão.
NOTA: Edição do Autor - Contacto: Tel.: 351.917411432

O Lápis Azul de Alda Espírito Santo

Alda_e1Este é, seguramente, o artigo que escrevo com a alguma relutância, pois preferia não ter que fazê-lo. Não se trata de falta de convicção ou insegurança nas ideias que vou exprimir, mas sim porque o assunto é sensível, delicado, melindroso, pois envolve duas pessoas (pesos-pesados, dinossauros) umbilicalmente associadas à fundação daquilo que é hoje conhecido como o nacionalismo sãotomense.
Acresce que a minha matriz de valores, uma complexa combinação de contribuições africanas, crioulas e europeias (a ordenação é meramente alfabética), obriga-me a ter cuidados acrescidos quando teço considerações sobre pessoas mais velhas, independentemente do estatuto social, económico, político, ou qualquer outro, que estas possam ter na sociedade. Deixo, propositadamente, de lado os tradicionalmente intrincados laços de parentesco para facilitar a minha empreitada. 
Essa mesma matriz, por outro lado, obriga-me, também, a pronunciar-me, sempre, sobre situações que configuram, na minha opinião, violação do direito de liberdade de expressão de qualquer cidadão, seja ele quem for e onde estiver.
Para quem, como eu, já levou com a sua dose de doutrinação e de evangelização sobre a nossa heróica “Luta de Libertação Nacional”, o nome de Tomaz Medeiros é certamente um daqueles que goza de estatuto de incontornável. Porém, tanto quanto consigo recordar, pouco ou nada se sabe sobre o pensamento político desse ilustre filho da terra. Menos ainda se sabe sobre as razões que levaram-no a afastar-se, tão prematuramente, do MLSTP, optando por filiar-se no MPLA, tendo mesmo (segundo o próprio) participado na luta armada de libertação de Angola. O que explica esse abandono da causa Sãotomense e a opção por Angola?
De há uns cinco anos a esta parte, tenho-me cruzado, amiúde, com (Dr.) Tomaz Medeiros em sessões públicas de diversa natureza sobre STP, ou África em geral, que têm lugar em Lisboa. Confesso que nunca chegámos a trocar demoradamente impressões sobre STP. Das suas intervenções na RDP-África ou em debates e conferências, sobressai sempre um profundo conhecimento dos meandros dos primórdios e do desenvolvimento das organizações nacionalistas dos PALOP’s. Sente-se nele um profundo desencanto e amargura em relação aos resultados até agora alcançados por STP nestes 30 anos de independência.   
É, portanto, alguém que tem muito para dizer sobre a História recente de STP, porque foi parte activa em muitos dos acontecimentos que figuram nesse registo. Viveu-os na primeira pessoa. Dada a sua idade já algo avançada, urge, portanto, que esse conhecimento não se perca, mas sim que fique devidamente registado e disponível para as gerações vindouras. Não estou a dizer que a versão dos factos segundo Tomaz Medeiros seja a mais correcta ou a (mais) verdadeira. Digo apenas que nós, os sãotomenses, não podemos abrir mão dessa versão, não podemos prescindir do importante espólio que  são, certamente, as experiências e vivências políticas (e não só) de Tomaz Medeiros.
Devem estar já em pulgas para saber a razão de ser de todo este intróito. Ora bem, num debate sobre a actual situação política em STP, organizado por um grupo de compatriotas no passado dia 22 de Maio do corrente ano, nas instalações da Junta de Freguesia de S.Domingos de Benfica (Lisboa), Tomaz Medeiros exibiu aos presentes cópia de uma carta, datada de Jun/2004, que lhe foi endereçada por Alda Espírito Santo, na sua qualidade de presidente da UNEAS (União de Escritores e Artista Sãotomenses) e de amiga pessoal de Tomaz Medeiros.
Nessa carta Alda Espírito Santo explica as razões que, no seu entender, levaram-na (e a UNEAS) a não recomendar a publicação pelo Instituto Camões de dois romances da autoria de Tomaz Medeiros. Reconheço que o gesto de escrever a carta é nobre e cumpre os requisitos (mínimos) da boa educação, que a situação exige e que se  espera de alguém da craveira de Alda Espírito Santo.
Se bem entendi, as razões do veto da UNEAS prendem-se, muito sinteticamente, com a necessidade de se preservar a verdade oficial sobre a Luta de Libertação Nacional desenvolvida pelo MLSTP e a sua esclarecida liderança. Outros argumentos utilizados por Alda Espírito Santo consistem no julgamento despropositado e extemporâneo sobre o caminho político percorrido por Tomaz Medeiros, depois do seu afastamento (voluntário?) do MLSTP.
Não estou (ou até estou) aqui para julgar a decisão da UNEAS e de Alda Espírito Santos, mas sim para manifestar a minha discordância dessa decisão e para dizer que dela transparece uma situação inaceitável de censura e evidentes tiques de autoritarismo. São atitudes não aceitáveis em democracia (na sua versão burguesa) e que não se espera encontrar em pessoas que participaram na luta contra o colonialismo e contra o fascismo português.
A PIDE tinha um “lápis azul” para censurar verdades ou ideias incómodas para o regime fascista português! Será que em STP a UNEAS e Alda Espírito Santo também fazem uso do lápis azul?
Não conheço o conteúdo dos romances que Tomaz Medeiros pretende publicar, mas julgo que ele tem o direito de o fazer e, de preferência e se possível, em STP, sua terra natal. Mais, ele deve isso aos sãotomenses.
Se os romances em questão contêm passagens que podem, de algum modo, ser interpretadas como tentativa de reproduzir factos da história de STP nos quais muitos “históricos” do MLSTP (vivos ou não) tiveram prestações pouco meritórias, competirá aos visados (ou aos seus descendentes) demonstrarem que Tomaz Medeiros está a ser tendencioso, não está a contar toda a verdade. Censura prévia é que não me parece razoável.
Perguntam, e com razão, o que faz um puto, metido a reaccionário, numa briga de Revolucionários com provas dadas? Não sei. Sei apenas que gostaria que todos os sãotomenses pudessem, de alguma forma, contribuir para que o testemunho de Tomaz Medeiros não se perdesse na máquina trituradora dos auto-proclamados guardiões do nacionalismo sãotomense à moda do MLSTP.
Não sou portador de qualquer mandato de Tomáz Medeiros para falar em seu nome, nem creio que ele precise disso. Trata-se apenas de manifestação pessoal, expontânea e pública de solidariedade. Se acham que a causa é nobre e puderem, façam o mesmo.
Saudações tremendamente reaccionárias e... desMLSTPeizantes!
Alcídio Montóia Pereira (alcidiopereira@yahoo.com)
Carnaxide, 25 de Maio de 2005
Nota:
Parece que não é só em Moçambique que existem várias "histórias". Foto de Alda Espírito Santo.
Fernando Gil

08-06-2005

AS “RESPONSABILIDADES MORAIS” DO ESTADO PORTUGUÊS

Retirado do meu baú:
Por Fernando Inácio Gil*
«Fontes portuguesas, con­tactadas em Bissau, destaca­ram também a responsabili­dade moral que cabe a Por­tugal na assistência aos anti­gos integrantes do seu Exército. Aliás, muitos deles re­cebem as respectivas pensões de invalidez, sendo esta ac­ção de assistência prevista no quadro da cooperação enca­rada como mais uma forma de contribuir para a sua re­cuperação social», lemos há dias no «Jornal Novo».
Concordamos plenamente que Portugal assim proceda, embora não por «responsa­bilidade moral», mas sim por imperativo de consciên­cia.
Só lastimamos que tal não aconteça com todos os mutilados de guerra, não só por­tugueses, como de todos os ex-Estados ultramarinos, to­dos guardiões da mesma bandeira, pois bastantes há a quem nada é dado. Aliás, para tal pagamento supomos não ser até necessário qual­quer acordo de cooperação, mas apenas a remessa aos beneficiários da respectiva pensão, questão facilmente ultrapassável como uma no­va lei da nacionalidade.
Assim mais parece uma forma de envio de divisas que o pagamento de uma mais que justa retribuição a quem por Portugal estava dando a vida e a quem Por­tugal nem sequer a naciona­lidade manteve.
E isto para não falarmos dos que, após as indepen­dências, têm sido vil e trai­çoeiramente assassinados pe­los regimes aos quais aqueles territórios foram entregues.
  Mas, se a «responsabilidade moral» leva Portugal a pagar uma pensão, o que é uma forma de indemniza­ção, a, embora não por decisão própria, cidadãos estran­geiros, porque será que tal «responsabilidade moral» não é também extensiva aos seus próprios cidadãos, mul­to em especial no que se refe­re aos bens perdidos no ex-Ultramar?
Tanto mais que até à data das respectivas independên­cias, ninguém poderá duvi­dar de que a Indemnização por expropriação, nacionali­zação ou qualquer outra for­ma de privação duradoura de posse ou fruição de bens sitos no ex-Ultramar, bem como os respectivos títulos de direitos, é da única res­ponsabilidade do Estado Português.
E, posteriormente à data das respectivas independên­cias, se o Estado da localiza­ção dos bens, conforme prescreve o art.° 40.° da lei 80/77 da nossa Assembleia da República não indemni­za, ninguém igualmente po­derá negar a «responsabili­dade moral» do Estado Por­tuguês em reparar tal «se­quela» duma guerra que al­guns fizeram perder.
É que, independentemente do aspecto moral, à sobrevi­vência do indivíduo, igual falta poderá fazer o braço de um Guinéu como a «enxa­da» ao Português vindo do ex-Ultramar.
Enxada essa que tanto po­derá ser um simples certifica­do de habilitações, um alva­rá, máquinas, um camião, quiçá a própria casa onde a si e aos seus se abrigue.
Ora a indemnização, con­dicionada a uma aplicação reprodutiva, irá não só resol­ver o problema dos próprios como, a nível mais lato e em grande medida, a gravíssima falta de postos de trabalho.
  É por isso que não enten­demos a que, por exemplo, não pague o Governo Portu­guês aos beneficiários do Ca­minho de Ferro de Benguela as pensões que têm direito ou aos restantes agentes da empresa não propicie um posto de trabalho.
É que, muito além de simples «responsabilidade moral», julgamos imperati­vo que o Estado Português garanta, nem que seja por adiantamento e a crédito com os novos Estados de ex­pressão portuguesa, o paga­mento, não a cidadãos es­trangeiros, mas aos seus próprios cidadãos, das pen­sões, qualquer seja a entida­de processadora a que têm direito.
E que pensar dos gover­nantes que temos quando, por «responsabilidade mo­ral» pagam pensões a cidadãos estrangeiros e exigem o estorno de 70% da pensão ou subsidio a quantos, viti­mas da «exemplar descolonização» e por carência com­provada, se encontram insta­lados por conta do Estado, não escapando sequer os aboletados nas barracas do Va­le do Jamor?
Além do mais não se po­derá indefinidamente conti­nuar a cooperar, nem que se­ja por «responsabilidade moral», quando os novos Estados de expressão portu­guesa garantias algumas dão a pessoas ou bens portugue­ses.
Veja-se o que Samora Machel afirmou há dias na FACIM, em Lourenço Mar­ques, quando da visita ao pavilhão português, nacio­nalizando quase de imediato mais seis empresas, evidente­mente que sem direito a qualquer Indemnização.
Hoje uma, amanhã outra, dia virá em que o mesmo acontecerá a Cabora Bassa.
E aí é que serão elas, pois são de uma assentada mais de 30 milhões de contos que Portugal, com ou sem «res­ponsabilidade moral», não poderá deixar de pagar à África do Sul, a Alemanha Federal, à Itália e à Inglater­ra, entre outros.
Será também por «respon­sabilidade moral» que o Es­tado Português irá pagar a cidadãos estrangeiros indem­nizações antes sequer de le­gislar sobre as que são devi­das aos seus cidadãos por bens sitos no ex-Ultramar?
Aproximam-se as eleições.
E vemos o PSD a falar de indemnizações dos bens sitos no ex-Ultramar. Isto recor­da-nos o CDS quando no seu Manifesto Eleitoral/ Alter­nativa 76 escreve que «tudo tentará — através de uma política externa e dos meca­nismos ao seu alcance na or­dem interna — para resolver os problemas específicos que atingem os desalojados, en­tre os quais avulta o direito de serem indemnizados pelos bens que perderam».
Resta-nos agora que Ma­ria de Lourdes Pintassilgo na penitência (não por si certa­mente, mas pelos governan­tes que a precederam), que fará ao ir a pé a Fátima, ele­ve uma prece por todos quantos, desalojados ou es­poliados, continuam aguar­dando alguém que lhes va­lha, já que no seu Plano de Governo apenas se lembrou dos possuidores de títulos FIDES e FIA.
Valha-nos pois, também a nós, Nossa Senhora de Fáti­ma!
*Membro directivo da As­sociação Projecto I
Jornal Novo – 03.09.1979

A Factura de Cabora Bassa

Caborabassa01_2Estando marcado para o próximo dia 14 o reínício das negociações com Moçambique para a transferência de controle da Barragem de Cahora-Bassa, transcrevo um artigo, do meu baú, que sobre o assunto escrevi em 1979:
A Factura de Cabora Bassa
*por Fernando Inácio Gil
Em artigo publicado no passado dia 9 do corrente, após escrever “Somos vítimas, mas vítimas maiores serão os nossos filhos”, acrescentava:
“Não os obriguemos a pagar a factura que outros ficaram a dever, nem que tenhamos que ser nós a pagá-la.
Mas muito mais honrados se sentirão se tivermos a coragem de a fazer pagar por quem na realidade a ficou a dever.”
Será pois que, quando o Ministro Álvaro Barreto, na televisão, aludiu a uma carta de Vasco Gonçalves ao Presidente da Frelimo, tencionaria começar a endossar responsabilidades a quem efectivamente as tem?
Se assim foi, “haja Deus” que já não é sem tempo!
E, em tão boa hora o fez, que logo um semanário, além de publicar a carta perdão de Vasco Gonçalves, igualmente deu à estampa uma anterior subscrita por Samora Machel, prenhe de insultos a todos os nossos maiores.
São, na verdade, dois documentos históricos que bem atestam, a prevalecer uma maioria de esquerda no nosso país, qual seria o seu destino final.
Só que a tal maioria de esquerda não é mais que um slogan, embora a tenhamos ainda de suportar – moral e materialmente – até que novas eleições exprimam a vontade do povo português.
Dizia Vasco Gonçalves, na sua missiva de 9 de Maio de 1975, a Samora Machel que “só posso (re)afirmar-lhe(sem margem para qualquer hesitação), e como resultado de profundo empenhamento pessoal, do Governo e do povo português no processo em curso, que se pretende claro (o itálico é nosso) e gerador de novas e decisivas solidariedades”, concluindo que “Portugal considera definitivamente encerrado aquilo que se tem designado por “contencioso económico e financeiro”(de que se tem ocupado a comissão B das negociações), reforçando-se, assim, o já afirmado pelo MNE major Melo Antunes, como enviado do Governo, no recente encontro de Haia, havido com o Vice-Presidente da Frelimo.”
Não indo por agora comentar a carta de Samora Machel dirigida ao primeiro-ministro do Governo Provisório da República Portuguesa, em 18 de Abril de 1975, à qual aquela serviu de resposta, não resistimos a sua parte final:
“11.1      É nesta perspectiva ( de 500 anos de dominação colonial) e só nela, que pode ser avaliado o “contencioso económico e financeiro”, e determinada exactamente a parte exigível a Portugal e a parte que Portugal pode exigir a Moçambique em consequência dos benefícios que Moçambique recebeu de cinco séculos de pilhagem colonial e de dez anos de guerra de agressão.
11.2       No caso de o balanço ser favorável a Portugal, Moçambique engaja-se a pagar integral e imediatamente a totalidade da sua dívida.
11.3      Entretanto, a Frelimo declara a sua vontade de que se interrompam as negociações em curso e se anulem os documentos já publicados, a fim de se reiniciar  oportunamente a discussão global da nova perspectiva.”
E andam tantos políticos e governantes a dizer que a democracia é a política da verdade!
Então, só quatro anos depois, e porque alguém o forçou, é que o povo português vem a saber que uma então existente Comissão Nacional de Descolonização se não opôs a que um Governo Provisório da República Portuguesa, liderado por um qualquer Vasco Gonçalves, todos sem o mínimo de representatividade, decidisse que “Portugal considera definitivamente encerrado aquilo que se tem designado por “contencioso económico e financeiro” com Moçambique.
Irra, que é demais!
E afirma Vasco Gonçalves que tudo isto se conseguiu com o empenhamento do povo português no processo que se pretende claro...
Mas já que a ponta do véu se começa a levantar, muito gostaria o povo português de saber qual o montante e, se possível, a discriminação de mais esta dádiva feita em seu nome, felizmente que com o seu “empenhamento”.
Mais, que fossem explicadas ao povo português as reais consequências daí advindas.
E, igualmente, se o Estado Português está disposto a indemnizar todos quantos foram lesados por acto, já para não falar no montante que a si mesmo, isto é, a todos nós  pertence.
E, pelo que correu em tempo em certos círculos, qual o valor e o destino dos auxílios estrangeiros que expressamente cobriam tal ou outras cedências?
Ou será que tais auxílios não passaram de falsas promessas?
Por tudo isto, sr. Ministro Álvaro Barreto, não esteja tão optimista quanto a Cabora-Bassa!
Melhor talvez seja ir preparando o Povo Português para ir pagando mais estes 30 milhões de contos de responsabilidade externa portuguesa.
Repare, sr. Ministro, que Portugal aceitou no Acordo de Lusaca que a Frelimo só indemnizasse o nosso país daquilo que entendesse ser em benefício do povo de Moçambique.
Qualquer arbitragem está fora de causa, apenas o que os senhores da Frelimo decidirem.
Aliás tudo é lógico da parte de Moçambique já que Vasco Gonçalves e o Governo português de então aceitaram continuar a negociar com a Frelimo:
         - É que se as negociações continuaram foi aceite integralmente a perspectiva da Frelimo que condicionava o seu prosseguimento à aceitação dos tais “cinco séculos de dominação colonial e dez anos de guerra de agressão”...
É pois mais que hora de se começar com o “julgamento dos responsáveis”.
Vamos a cartas na mesa que, quem tiver a consciência tranquila, nada terá a temer.
Bastas razões terá pois o dr. Mário Soares para afirmar que ainda é cedo para se discutir a descolonização.
Razões tinha pois o dr. Jorge Sampaio para nada dizer acerca dos resultados das negociações que ia tendo com Sérgio Vieira.
Razões têm pois todos os implicados no processo para se calarem e não deixarem ninguém falar.
Só vergonha é que não têm!
Mas sobejas razões temos nós, o povo português, de não mais sustentar quem o traiu e não soube defender os seus reais interesses – morais e materiais.
Será que, se Vasco Gonçalves fosse um verdadeiro português, se quedaria, aliás em tom subserviente, no seu magnânimo perdão?
Mousinho, Neutel, Capêlo, Gago Coutinho e tantos outros não lhe dizem nada, sr. Brigadeiro Vasco Gonçalves?
Tenhamos, pois nós, os verdadeiros portugueses, vergonha do juízo dos nossos filhos.
Membro Directivo da Associação Projecto I
Jornal Novo – 17.04.79
NOTA FINAL: Neste ano de 2005 todos os encargos estão pagos. Toda a manutenção foi feita para que, ao acabar a guerra civil, a mesma podesse de imediato fornecer energia. Os postes foram reerguidos e as linhas de transporte instaladas.
E assim aconteceu.
Julgo ser urgente e uma obrigação do Governo informar o povo português de quanto custaram os encargos com o pagamento das responsabilidades externas e sua manutenção durante todos estes anos.
Talvez tivesse saído mais barato para o povo português a sua nacionalização pela Frelimo em 1974.

ONTEM, HOUVE DEPOSIÇÃO DE FLORES EM SUA MEMÓRIA NA PRAÇA DOS HERÓIS

Mateus Sansão Muthemba - herói nacional esquecido
Governo, Associação dos Antigos Combatentes e FRELIMO não estiveram na cerimónia de deposição de flores em memória daquele guerrilheiro assassinado em 1968, nos escritórios da Frente de Libertação de Moçambique, na Tanzânia
Laurindos Macuácua
Governo e outros segmentos da sociedade moçambicana gazetem à cerimónia de deposição de flores, acontecida ontem, em memória de Mateus Sansão Muthemba.
Segundo a história oficiosa, Muthemba, combatente da luta armada de libertação nacional, cedo se identificou com a causa da nação e como visse cidadãos aborígenes serem maltratados pelo colonialismo português, não tardou a se juntar a outros filhos de Moçambique, na diáspora, para expulsarem o invasor - Governo colonial português.
Foi depois da sua morte, acontecida antes da independência de Moçambique, que aquele, assim como outros moçambicanos que seguiram pelo mesmo trilho, foi elevado à categoria de herói nacional e, por ora, os seus restos mortais jazem na cripta situada no bairro da Urbanização, arredores da cidade capital.
Alcançado o almejado, expulsar o colonialismo português, parece que a nova elite se esqueceu dos principais actores que se bateram para que tal fosse efectivado.
Um dos factos que tal revela é a ausência total de todo o elenco governativo e da Associação dos Antigos Combatentes na cerimónia de deposição de flores.
Presenciaram a referida cerimónia os seus familiares e amigos próximos que, ao todo, não chegavam a uma dúzia. Não houve nenhum vestígio dos que agora pronunciam, de viva voz, o combate contra o espírito do deixa-andar e o facto indignou, sobremaneira, a família do malogrado.
Ademais, o facto de se não ter feito ao local alguém ligado à Associação dos Antigos Combatentes foi de todo preocupante para a família do malogrado, porque, segundo esta, "enviámos um documento que dava nota de que haveria deposição de flores em memória do malogrado e contávamos com a presença de todos os interessados".
Tentativas nossas de chegar à fala com Guideon Ndove, presidente da associação retromencionada, redundaram em fracasso, mas alguém da instituição, sob anonimato, disse não terem recebido nenhum documento que dava conta da cerimónia ora acontecida.
Pelo que, "nunca iríamos faltar a uma iniciativa tão relevante, porque o malogrado representa muito para o País, em geral, e para nós, em especial".
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 07.06.2005

07-06-2005

SALAZAR E A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA - UMA REVELAÇÃO INÉDITA

Cmariop1(DOIS E-MAILS QUE FAZEM HISTÓRIA
José Augusto Fortes de Sá Viana Rebelo
e
Carlos Mário Alexandrino da Silva)(na foto)

DOCUMENTO Nº 01

To: Carlos Mário Alexandrino da Silva (E-mail)
Sent: Monday, September 17, 2001 12:00 PM
Subject: Salazar.doc

Meu Caro Professor e Amigo,

Como decerto sabe, se a herança de meu Pai foi parca em fidúcia e em bens materiais, não o foi em bens morais e em testemunhos de uma época em que viveu e em que trabalhou para Portugal.

A maior parte desses testemunhos me foi transmitida verbalmente, a seu tempo, e muitos deles eventualmente se esfumarão na minha memória. Outros, porém, deixou escritos e talvez um dia os mande publicar.

Entretanto um deles, por inédito, por se referir a uma independência de Angola e por ter sido por si testemunhado, merece que o transcreva e envie. Dele poderá fazer o uso que por bem entender. Gostaria, no entanto que o comentasse para mim.

Com um abraço amigo,

José Augusto Rebelo

Testemunho escrito por Fernando de Sá Viana Rebelo em 1979. Este texto insere-se num conjunto agrupado sob o título "Gente que conheci" e está intitulado "Salazar":
Veja em

03-06-2005

Adelino Serras Pires divulga relatório da lavra de Mário Ferro (1)

DOSSIER ADELINO SERRAS PIRES
Na nossa edição nº 39, do dia 28 de Abril de 2005 , concretamente no espaço “Hoje escrevo eu”, publicámos uma carta aberta de Fernando Nota, dirigida a Mário Ferro. Na referida missiva Nota pretendia aclarar-se junto de Ferro sobre a sua eventual ligação com a extinta secreta moçambicana, a SNASP, com que este foi conectado no livro “Ventos de Destruição”, obra essa que expõe passagens arrepiantes de sevícias de que Adelino Serras Pires, o filho e mais um indivíduo, foram sujeitos, partindo de um rapto na Tanzania até desaguar, vendados, na “Gulag” da Cadeia da Machava. Enquanto ficávamos a aguardar pela resposta de Mário Ferro eis que a vítima emerge com um documento “facsimile”:
Adelino Serras Pires divulga relatório da lavra de Mário Ferro (1)
Maputo, 24 de Junho de 1984
Sua Excelência
Presidente do Partido Frelimo
Presidente da República Popular de Moçambique
Marechal Samora Machel
Maputo
Actividade dos Bandos Armados em Portugal
1. Recrutamento de ex-comandos
Ex-comandos do Exército Português, naturais ou que viveram vários anos em Moçambique e se encontram radicados em Portugal, estão a ser recrutados para acções de sabotagem no interior do nosso País, com especial incidência em Maputo, a capital.
Um dos responsáveis é um indivíduo de nome Correia Mendes, natural da Ilha de Moçambique, ex-comando formado em Montepuez, integrando a 6ª ou 7ª Companhias de Comando.
Este Correia Mendes contactou, por exemplo, com um indivíduo de nome Nuno Branco, ex-comando da 1ª e 2ª Companhias de Comando, e que, no seu regresso a Portugal, após a proclamação da independência nacional, serviu no Batalhão de Comandos sob as ordens do coronel Jaime Neves.
A família do Nuno Branco era proprietária do Hotel Vera Cruz em Quelimane.
Actualmente, Nuno Branco reside na zona de Santo António dos Cavaleiros, em Lisboa, onde gere um restaurante.
Segundo as informações que me prestou Nuno Branco fora contactado pelo Correia Mendes para:
a) Acções de sabotagem contra
-Refinaria do Maputo
-Tanques de combustível do Maputo
-Instalações portuária do Maputo
b) (...)
Ao contactar Nuno Branco, Correia Mendes aliciou-o com o pagamento de 500 contos portugueses a seguir.
Nuno Branco disse-me que recusou a proposta do Correia Mendes, porque tem outros projectos e pelas razões seguintes:
1. Não pretende complicações com o Governo Moçambicano.
2. Recebeu uma proposta do Estoril-Sol para vir trabalhar em Moçambique.
3. Recebeu uma proposta para durante o período da FACIM/84, trabalhar no restaurante que irá ser explorado por um tal Armindo Ahmed, até há pouco tempo sócio da Pastelaria e Salão de chá Cortiço, na esquina das avenidas 24 de Julho e Vladimir Lénine, em Maputo.
4. Se fosse possível gostaria de voltar a explorar o Hotel Vera Cruz em Quelimane. Nuno Branco disse que houve ex-comandos, contactados pelo Correia Mendes que aceitaram a proposta, mas que desconheciam os respectivos nomes. Os ex-Comandos Portugueses têm uma associação em Portugal.
2. Actividade propagandística dos Bandos Armados
O dito porta-voz da chamada Renamo, Jorge Correia, tem distribuído regularmente comunicados à imprensa não só portuguesa como a que está acreditada em Portugal. Particular acolhimento é dado a esses comunicados pela imprensa da direita e extrema-direita portuguesa, por agências noticiosas e pelos correspondentes de jornais e agências noticiosas de vários países, acreditados em Portugal.
Um dos elementos em evidência é um correspondente da United Press International (UPI), de nome Sandy Alexander Sloop, cidadão norteamericano, que esteve muitos anos radicado no Brasil, antes de ser colocado há uns seis anos em Portugal.
Trata-se de um indivíduo com estreitas ligações com Jorge Correia e que, no ano passado, entrou ilegalmente no nosso país, acompanhado por um câmara-man de nacionalidade francesa, para a recolha de imagens dos Bandos Armados na região central do nosso País. Ele esteve, segundo me disse, na região da Gorongosa e junto à linha férrea Inhaminga-Beira.
O opinião de várias pessoas com quem contactei é de que Sandy Alexander Sloop é agente da CIA.
Aliás, foi por seu intermédio que tive conhecimento da conferência de Imprensa que os Bandos Armados pretendia dar (e vieram a dar) na última terça-feira, dia 19 de Junho, no Hotel Diplomático, em Lisboa. Foi a partir desta informação, transmitida ao Sr. Embaixador Baptista Cosme, em devido tempo, que foi possível registar-se uma tímida intervenção do Governo português, com a interrupção da conferência de Imprensa por agentes da Polícia Portuguesa.
Entre os comunicados distribuídos pelos Bandos Armados em Lisboa, destaco aquela em que o senhor Jorge Correia informa da “fuga precipitada de Samora machel e do seu Governo para Nampula”, onde foi fixada “a capital provisória”, devido a situação de “instabilidade e insegurança criada pelas forças da Renamo em Maputo”.
De salientar que a Radiotelevisão Portuguesa (RTP), o órgão de Informação de maior audição em Portugal, pouca ou quase nenhuma atenção dispensa aos comunicados e nem sequer fez referência nos seus noticiários e no telejornal a dita conferência de Imprensa.
Em contrapartida, no dia em que os bandidos armados deram a conferência de Imprensa, conseguimos cinco minutos da antena no Telejornal da RTP.
Depois de uma reunião com o Sr. Embaixador Baptista Cosme, durante a qual se abordou quais as respostas que poderiam ser dadas face às perguntas que eventualmente poderiam ser feitas, estive na RTP, onde fui entrevistado pelo jornalista Mário Crespo.
O tema foi o que este jornalista chamou de “Reformas Governamentais”, ao que contrapus com reorganização e reestruturação do aparelho do Estado, na sequência das decisões do 4º Congresso, como resposta para a liquidação do banditismo armado e da fome no nosso País.
3. Presumíveis acções na Tanzania
Encontram-se actualmente na Tanzânia os indivíduos de nome Adelino Serras Pires Júnior, mais conhecido por Tim-Tim, e Serras Pires Cardeano.
Ambos estão ligados a uma empresa de turismo cinegético, propriedade de um cidadão italiano. Esta empresa tem sede em Arusha e actividades em vários pontos da Tanzania.
Esses indivíduos, segundo soube, iriam trabalhar em coutadas no sul da Tanzania, portanto, junto à nossa fronteira norte.
Ambos pertencem aos Bandos Armados.
Continua na próxima edição
SEMANÁRIO PÚNGUÈ – 02.06.2005
Veja:

27-05-2005

O PLANO CAETANISTA PARA A DECLARAÇÃO UNILATERAL DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA

Ecmnésia Histórica

O PLANO CAETANISTA PARA A DECLARAÇÃO UNILATERAL DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE. E O" GRANDE TRAIDOR"... l976 - JULHO...
REVELAÇÕES HISTÓRICAS NUM ENCONTRO, EM CURITIBA, BRASIL, COM O PROBO EX-VICE PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE LUANDA, O ANGOLANO DO MPLA/REVOLTA ATIVA ABÍLIO AUGUSTO FERREIRA DE LEMOS. PROCLAMAÇÃO UNILATERAL DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE - UM PLANO DE MARCELO CAETANO QUE FRACASSOU PORQUE TERÁ SIDO TRAÍDO POR UM DOS SEUS MAIS "CONFIÁVEIS" CONFIDENTES...

Corria o segundo semestre de 1976. Tínhamos desembarcado no Rio de Janeiro,
vindos de Lisboa, no dia 4 de Julho, já adentrado na casa dos 50 e tendo, pela terceira vez na nossa vida, de procurar, sem ajudas, nem capital nos bolsos ou contas bancárias, um novo rumo para a nossa vida. Depois de várias desilusões e falsas ilusões, somente uma mão generosa nos foi estendida, a de José Manuel Pereira da Costa, distinto jornalista e leal amigo, ex-subdiretor do Diário de Luanda que então estava chefiando a redação de um semanário da comunidade portuguesa na cidade de São Paulo e viria a acabar seus dias, anos mais tarde, na capital portuguesa, vitimado por um ataque cardíaco, como diretor do jornal O DIA. Era ele um jornalista de grande mérito que realizara no Estado da Índia, um extraordinário trabalho de reportagem, nos nebulosos dias que precederam e acompanharam a vergonhosa queda daquela antiga possessão portuguesa situada na península hindustânica.
Ao chegarmos ao Rio, não nos ocorrera que ainda poderia estar viva a nossa
grande amiga Condessa Pereira Carneiro, Diretora-Presidente do importante
JORNAL DO BRASIL, de quem fôramos colaborador e se correspondia assiduamente connôsco, isso porque se tratava de uma anciã que já ultrapassara os oitenta anos de idade e por outro lado, apesar de termos sido colaborador da revista MANCHETE, a convite de Luci Bloch, devendo-se-nos o texto e as legendas do suplemento especial, a cores, PORTUGAL HOJE - ANGOLA 68, para cuja feitura
integráramos uma equipa de reportagem de que faziam parte também o pernambucano Luís Câmara Cascudo, então responsável pelas edições
internacionais, e Gil Pinheiro, repórter fotográfico, nossa maneira de ser, avessa a protecionismos e nepotismos, não nos moveu a buscar emprego nesta última organização jornalística, ao contrário do que fizera o diretor de um diário de Lourenço Marques (hoje, Maputo) que nela conseguiu colocação. Não foram tempos fáceis para nós, esses que estamos evocando... Pelo contrário.
Mas, as duras realidades que enfrentámos em nossos primeiros meses na Diáspora, foram-nos proveitosas, constituíram lições utilitárias que nos habituaram a uma nova "maneira de estar no mundo" (como escreveria... Adriano Moreira).
Pereira da Costa, ao saber da nossa presença em São Paulo (onde tencionávamos
demorar apenas alguns dias a fim de continuarmos viagem para Caracas, Venezuela, onde tínhamos, a convite de um compatriota ali residente - que nem
conheciamos senão por via epistolar - , lugar como professor num colégio português, para filhos de imigrantes, denominado Colégio Santa Isabel que
ignoramos se ainda existe por lá) mesmo sem lhe termos solicitado ajuda,
apressou-se a procurar uma solução par o nosso caso. Em São Paulo, um
ex-deputado federal brasileiro que tivera seu mandato cassado pela chamada
ditadura militar, não pelo que ele dizia ser o motivo mas sim devido ao seu
comporatemento social reprovável em Luanda, numa das várias visitas que, a
convite do MNE português ali fizera, prometia a angolanos empregos e mordomias que não se concretizavam porque estava apenas namorando as simpatias e votos da numerosa colônia portuguesa, namorando votos para um seu parente próximo. Pessoal angolano não faltava então na capital do Estado de São Paulo (até existia um esboço de associação de angolanos na Diáspora)
Habitualmente reuniam, com regularidade, num jantar de confraternização que
tinha lugar no restaurante GUARACIABA, na avenida visconde do Rio Branco,
pertencente a um ex-major do QSAM, afilhado do ex-GG Rebocho Vaz, que fora
acusado de peculato no exército e conseguira, em Luanda, evadir-se do cárcere
onde estivera detido, passando a fronteira setentrional angolana e virando (como o digno e honrado tenente-coronel Gilberto Santos e Castro, nosso amigo e conterrâneo angolano, ex-governador do distrito do Kuanza Norte) mercenário no ELNA de Holden Roberto, só o deixando quando aquele foi traiçoeiramente
desintegrado com a aperente conivência do exército português, a mando do
inescrupuloso filo-comunista Almirante Vermelho, de triste memória, Alto
Comissário em Angola, acolitado pelo avermelhado capitão Pez...Co, que era
( a par de mais alguns "capitães dos cravos vermelhos") um " pangaré" de
Agostinho Neto e seus "muchachos", antes da partida dos contingentes lusos.
Isto só ocorreu depois de desembarcados, de cargueiros com pavilhão não cubano da marinha mercante, sob disfarces civis, em faixas desertas dos litorais de Kabinda e do Kuanza Sul, os contingentes cubanos de mercenários a soldo de Moscou, a fim de assegurarem ao MPLA, com o escandaloso respaldo da JSN e do governo de Lisboa que violou os ACORDOS DO ALVOR, o domínio militar da situação, mediante a destruição dos revoltosos mplaístas de Daniel Chipenda (que, na verdade, derrotara Agostinho Neto na eleição para presidente do MPLA, em Lusaka, mas, devido a uma manobra suja do Lúcio Lara e do Agostinho Neto, não lograra tomar posse do lugar), sediados numa moradia à rua El-Rei D.Diniz, em Luanda, e da delegação da FNLA, na Avenida Brasil, a cargo do vaidoso (e fútil e inútil) hoje "ministro" da CS do JES - Hendrik Val Neto, mulato escuro, então "caninamente" fiel ao presidente da FNLA Holden Roberto ou... José Gilmore, ou Roberto Holden, conforme preferirem, personagem este, sem dúvida, muito chegado ao American Committee on Africa presidido pela sra. Eleanora Roosevelt, viúva do falecido presidente Franklin Delano Roosevelt, cuja ... ONG financiava as actividades (e não só estas...) daquele agrupamento político angolano e, indiscutivelmente, à CIA, segundo apostavam seus detractores.
Esse ex-major, que alugara alguns tractores de sua propriedade aos Instituto
do Algodão de Angola anos antes, confidenciou-nos descaradmente, em São
Paulo, no seu restaurante, que pudera abrir aquele negócio porque, à partida
de Kinshasa, HR lhe mostrara um baú que continha pacotes de notas de 50 e 100
dólares, dizendo-lhe que pegasse o que necessitasse e partisse para o Brasil;
se mais tarde a situação viesse a melhorar, ele o chmaria de novo para orientar as actividades militares das suas tropas, então desmanteladas e dispersas.
Como dissemos, generosamente Pereira da Costa quis ajudar-nos em São Paulo,
arranjando-nos, na capital paranaense, emprego num jornal de bairros de que
era proprietário um simpático - como viríamos a verificar - deputado estadual; para esse efeito encaminhou-nos a Curitiba onde fomos carinhosamente recebido e instalado num bom hotel, gratuitamente, pelo amigo Júlio, do Barracuda de Luanda, que o estava gerenciando. Recusou-se a cobrar-nos pela hospedagem qualquer quantia, nos dois dias que ali passámos.
Fôra ele co-proprietário do referido restaurante na ponta da restinga de Luanda, a que impropriamente chamavam de "ilha" (ao que parece, hoje o inesquecível Júlio está estabelecido em Cascais) ; proporcionou-nos uma surpresa, um almoço a três com o brilhante e honestíssimo compatriota euro-africano, distinto angolano e velho amigo (apesar de pertencer ao MPLA-Revolta Activa, dos irmãos Mário e Joaquim Pinto de Andrade (gente, como ele, decente, preparada e que não fôra "pé de musseque"...). Esse almoço seria para nós memorável porque nele, Abílio Ferreira de Lemos (categorizado funcionário do Banco de Angola em Luanda, analista econômico responsável pela feitura dos primorosos e badalados relatórios anuais - e não só - daquele banco central angolano, emissor de moeda, nosso Par na Assembléia Legislativa do Estado de Angola e vice-presidente, a convite do governador-geral, engº agrônomo Fernando Santos e Castro, da Câmara Municipal de Luanda, de que era então presidente, último do "ancien regime", o ex-comandante de Falange da Mocidade Portuguesa e nosso colega de curso superior no ICSP/UTL, Dr José Manuel Marques Palmeirim, atualmente alto funcionário da administraçãoportuguesa, afilhado do ex-Ministro do Interior e ex-Director do Centro de Instrução da Milícia da Mocidade Portuguesa no Batalhão de Caçadores Nº 5,
general Arnaldo Schultz,) iria desenvolver-nos uma revelação que apenas, em
parte, havia aflorado aos nossos ouvidos porque o nosso amigo e distinto advogado Dr Joaquim Mendes, nosso Par na Assembléia Legislativa, de que era também 1º vice-presidente, com freqüência no exercício da presidência (a qual, por inerência, na efectividade, cabia ao governador-geral), nosso companheiro, outrossim, como presidente da mesa da assembléia geral, nos corpos sociais da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Luandenses- Cruz Verde, de que éramos presidente da direção, já no-lo havia segredado mas não com o detalhe que Abílio Augusto Ferreira de Lemos, amigo e companheiro de infância de Santos e Castro, também angolano (que connosco e outros, inclusive os irmãos Ferreira de Lemos, Sampaio Nunes, Emílio Leite Velho, Ângelo Vidigal Dias - que viria a ser assassinado em condições muito misteriosas, quando estava detido, nos anos 50, pelo " embrião "da PIDE em Luanda, os irmãos Azancout de Meneses e outros, fundara a Casa dos Estudantes de Angola e a Casa dos Estudantes do Império em Lisboa, da qual foi o primeiro vice-presidente, com Alberto Marques Mano Lemos de Mesquita como presidente, na década de 40) que participara de um "segredo de estado" emanado de Marcelo Caetano, seu idealizador, e somente do conhecimento de meia dúzia dos seus colaboradores mais directos em quem depositava a maior confiança (mas dos quais, um se revelaria clone de JUDAS).
Tratava-se de um plano para proclamação unilateral da independência de Angola, de cujo acto solene nós, que o ignorávamos ao tempo, também participaríamos, como parlamentar angolano, num acto histórico que se realizaria na histórica Fortaleza de MASSANGANO...
Infelizmente, meses depois do nosso encontro na capital do Paraná, o solteirão Abílio Augusto Ferreira de Lemos faleceu subitamente, de ataque cardíaco, no seu posto de trabalho, desempenhando funções de analista econômico numa renomada empresa de Curitiba, para a qual entrara por mérito próprio. Finaram-se no Brasil dois angolanos de rara têmpera: Abílio Augusto Ferreira de Lemos e Artur Lemos Pereira, outro distinto euro-africano que,universitário ao tempo, também foi um dos fundadores da CEA e da CEI, mais tarde combativo e incansável Vereador da Câmara Municipal de Luanda, onde ficaram a dever-se-lhe notáveis realizações culturais (e que o diga o ELOS CLUBE DO BRASIL) e turísticas de grande vulto, acabararm seus dias esquecidos e voluntariamente exilados na nossa Diáspora: o Artur, sempre bem disposto e prazenteiro, em Campinas, Estado de São Paulo, onde vivia sózinho, gerenciando um estabelecimento hoteleiro e uma confeitaria contígua ao mesmo, vitimado também por morte súbita.
Voltaremos ao assunto, para escalpelizar o que aconteceria na Fortaleza de
MASSANGANO, às margens do grande rio Kuanza, se, conforme soubemos em
Pretória em Agosto ou Setembro de 74 e mais tarde nos foi confirmado por um
amigo "böer" bem informado, uma personalidade portuguesa de elevada patente
militar, cujo foro íntimo era inequivocamente criptocomunista, e o fôra sempre, subrepticiamente, ao longo de toda a sua carreira, até ao "estrelato", íntimo de Marcelo Caetano, que depositava nessa figura a mais alta confiança, não se tivesse esgueirado, às pressas, acompanhado da esposa, em férias, rumo a Moscou, onde, segundo informações, que nos foram reveladas por uma proeminente figura, já abordada acima, da Intelligence sul-africana, o distinto fito-geneticista e ferrenho partidário do regime "boer" sul-africano, Doutor Harold Müller, o qual há bem poucos anos trabalhava na Bahia, para onde viera proveniente da Costa Rica, onde trabalhara, em melhoramentos de plantas, para uma multinacional francesa, se teria
apresentado ao Burô Político do Comité Central do Partido Comunista da URSS,
patrão do MPLA, da FRELIMO, do PAIGC e do PCP e PC do B, para denunciar o
plano marcelista e sugerir sua colaboração activa visando, a partir de um
problema ridículo - o do ingresso de oficiais milicianos "combatentes" no quadro permanente em condições que os já profissionais oriundos da Academia Militar classificavam de prejudiciais aos seus interesses - antecipar, com oportunismo mobilizador, um movimento dos fardados. Seria esse o único leitmotiv para derrubar o regime que impropriamente todos os oponentes carimbavam como ditatorial e fascista: o salazarismo do humilde ex-clérigo de Santa Comba Dão... António de Oliveira Salazar, o ex-padre ditador, que desde 1970 repousava numa campa de cemitério, após 71 anos de trabalhosa existência, em que defendera obsessivamente, sem respaldo brasileiro na maior parte da sua "cruzada" lusófona, a fomação de uma grande comunidade luso-afro-brasileira, mas constituindo um grande espaço político-cultural-econômico-militar estratégico e com domínio do Atlântico Sul, ideía essa que agora está sendo, pelo menos no plano cultural e da
cooperação econômica, reerguida, sem que eles o confessem para que não se
fale de identidade com o "velho ditador", como bandeira política sobretudo
pelas duas mais relevantes figuras do mundo político lusófono.
Fanfarronicamente tratam o assunto como "coisa nova", que não o é, pois, além
do falecido ditador da Calçada da Ajuda, também o lúcido, genial e impoluto
Leopold Sedar Senghor (corruptela da palavra SENHOR, porque ele,o presidente
senegalense que chegou a ministro num dos governos de Charles de Gaulle, era
de ascendência portuguesa, da Guiné-Bissau... embora aparentemente fosse um
melanoderme puro, um negro) defendia essa idéia com entusiasmo esperançoso e
serena argumentação. Voltaremos a este assunto em breve, para contar o resto
desta história inédita que tem jazido esquecida no fundo do baú lusófono...
Carlos Mário Alexandrino da Silva

Marcello admitiu Angola independente

Leia no Diário de Notícias de hoje sobre a descolonização que Marcelo Caetano estava preparando em 1974:

BANCO DE MOÇAMBIQUE FAZ 30 ANOS

Nota: Estes textos foram recebidos de Sérgio Vieira sob o título "Pequena homenagem ao XXX aniversário do BM
Caros Amigos,
Neste período em que o Banco de Moçambique (BM) comemora o seu XXX aniversário, aqui fica uma pequena reflexão em respeito a homens laboriosos e corajosos como o Governador Alberto Cassimo, os falecidos Administradores Carlos Aragão e Abel David e a centenas de trabalhadores e dirigentes que sacrificaram e continuam a sacrificar a sua juventude para que a instituição BM disponha  na fase presente de uma coluna vertebral moçambicana, que a sustenta.
Esta base, permite a instituição BM guindar-se à estatura de uma instituição exemplar, onde o sucesso sempre assenta na disciplina, na sobriedade, na austeridade, na competência e na eficiencia no desempenho da missão.
Os emails abaixo homenageam os trabalhadores e dirigentes laboriosos, dedicados e honestos de ontem e de hoje do BM -  a estes, sem excepção, manifesto a minha  admiração e respeito, rendo a minha homenagem.
Inclino-me perante a memória e perante o trabalho abnegado dos que, com qualidade e competência, aceitaram o difícil desafio de edificar e dos que continuam a edificar a instituição Banco de Moçambique com exemplaridade reconhecida no mundo inteiro.
O Banco de Moçambique permanecerá grande sempre que, como disse o Presidente Armando Guebuza por ocasião do XXX Aniversário do BM:
- “fôr exemplo na luta contra a corrupção e o burocratismo”
- ”colocar-se na dianteira , no cultivo do espírito de honestidade, trabalho, competência e transparência .... na interação necessária com outras instituições... ” –
in Economia e Negócios, Jornal Notícias de 20 de Maio de 2005’
Parabéns BM e aos seus trabalhadores dedicados.
Saudações
Prakash Ratilal
Veja o restante dos textos enviados em

29-04-2005

Carta aberta a Mário Ferro

Fernando Nota
O jornalista Mário Ferro é visado no livro “Ventos de Destruição” como a pessoa que atraiçoou Adelino Serras Pires, a ponto deste ter sido detido e torturado quase até a morte pela ex-SNASP, acrónimo da então polícia secreta moçambicana. A maneira como o episódio é contado suscitou-me algumas questões. Terá mesmo Ferro (aquele que eu vira dando palestra no Hotel Embaixador por ocasião do aniversário do DM) pertencido a ex-SNASP? Terá ele tido algumas ligações com aquela secreta?
Não tenho ligações pessoais com Mário Ferro, embora deva ressaltar que o conheço pela referência que foi no jornalismo moçambicano independente. Repito. Até à leitura daquela obra que Pires escreveu com Fiona Capstick conheci-o apenas como jornalista. Mas a referência que o livro faz a Ferro como tendo sido “um aprendiz do SNASP que tendo visitado Portugal em Junho de 1984 hospedara-se na casa de Maria José, a irmã de Pires” suscitou-me preocupação a ponto levar-me a escrever estas linhas. Como é que um proeminente jornalista poderia ter sido SISE, aliás, SNASP?
O livro entra em detalhes a respeito de Ferro, mormente um relatório secreto datado de 24 de Julho de 1984, rezando que ele (o Ferro) “bufou” a Samora Machel, ex-presidente de Moçambique, mas para “justificar a visita perante os seus amos espiões, com zelo de um recém-convertido ansioso por ser aceite no SNASP. A cópia do referido relatório, dizem os autores, aponta um certo número de pessoas perigosas para Moçambique, entre as quais a família de Pires.
Segundo o livro, o suposto relatório de Ferro peca por mentiras e imprecisões, que afirma, por exemplo, que a operação de caça na Tanzânia pertencia a um italiano. Diz que as concessões de caça da empresa Hunter Africa se iriam situar perto da fronteira entre Moçambique e Tanzânia, enquanto as mesmas se encontravam a mais de 1600 quilómetros dessa fronteira. Para além disso, acusava-os, a Pires e filho (Tim-Tim)de pertencerem a bandos armados (RENAMO), o que era ridículo.
Conta Pires que Ferro encontrou com Tim-Tim e Caju “por acaso”, quando estes iam a caminho de Madrid e da Tanzânia, para se juntarem a mim na nossa nova operação de caça. Como éramos ex-moçambicanos, pareceu natural que ficasse satisfeito por encontrar pessoas de Moçambique que ele conhecia havia anos. Ferro ficou até tarde depois do jantar em casa da Maria José e de repente perguntou se a família o podia receber para a noite. A minha ex-esposa ofereceu-lhe com satisfação o quarto do nosso filho, que já partira para Tanzânia. Como é natural, Ferro ouviu tudo a respeito dos planos em nome da Hunters Africa, que iríamos pôr em prática nesse país.
Não tínhamos nada a esconder.
O que adensa a minha curiosidade como leitor é a referência que se faz de Ferro: “É um tanto fértil de imaginação em particular vindo de um ex-comando do exército Português que foi empregado de Jorge Jardim ,o homem de Salazar em Moçambique, e aceitava alegremente o salário mensal das suas mãos .Até o facto de o meu filho ter obtido uma licença de piloto nos EUA é exibido como prova de subversão no conto de fadas inventado por este aprendiz da SNASP”. O relatório também declara que a nossa família tinha fugido de Moçambique.
Ferro excede-se a si mesmo quando menciona a minha amizade com “o antigo presidente da França”, Valéry Giscard D’Estaing”, numa linguagem que sugere algo de sinistro. Para concluir este exercício de sabotagem, que quase nos matou a todos, Ferro encerra o relatório com a sugestão de que a nossa presença nas concessões de caça da Tanzânia se destinava a “agitar os moçambicanos que vivem na Tanzânia a fim de os recrutar”.
A intenção dos autores a citar Ferro como a pessoa que os “vendeu” à SNASP tinha por objectivo esclarecer as zonas de penumbra que ditaram um rapto de que ele, o filho e uma terceira pessoa foram sujeitos pela “secreta moçambicana” da Tanzânia para as masmorras de Moçambique de olhos vendados. Os mesmos não poupam“um certo Alves Gomes”, outro dos que ficaram para atrás em 1975 e que teve a ousadia de “me receberquando regressei à Beira em 1995, depois de uma ausência de 20 e tal anos muito difíceis”.
O mesmo Gomes é citado como sendo “um dos boys da Frelimo e os seus relatórios vieram à superfície nos jornais The Observer e The Guardian em todo o mundo”.
Verdade, na palestra que Ferro proferiu na Beira falou da estreiteza da sua relação com Samora Machel. Pena por aquela altura da palestra na Beira não tenha tido o privilégio de ler a obra, senão iria abordá-lo pessoalmente sobre o assunto (O livro diz que foi empregado de Jorge Jardim (?)e aceitava alegremente o salário das suas mãos. Nada melhor senão o Mário Ferro para explicar-me. Até porque o livro é de 2001 (?) e o exemplar que tenho em mão é da sua segunda edição.
Ficaria-lhe grato.
SEMANÁRIO PUNGUÉ – 28.04.2005

22-04-2005

OS MILITARES E O APOIO SÓCIO-ECONÓMICO ÀS POPULAÇÕES

Neste estudo vamos abordar o papel dos militares nas actuações sócio-económicas em proveito das populações, no território de Moçambique, no período de 1964-1974.
Mas para ouvirmos falar sobre a actuação dos militares num confronto terminado já há mais de duas décadas, é necessária a manutenção em simultâneo da preservação da memória, a percepção da conjuntura e a intuição dos valores de então.
Ver em

18-04-2005

Apologia nas escolas ao "papel positivo" da colonização suscita reações contrárias

LEMONDE | 13.04.05 | 19h35 • Actualizado 15.04.05 | 11h17
Dois historiadores franceses e associações de defesa dos direitos humanos protestam contra a lei de 23 de Fevereiro de 2005 em prol dos repatriados, que pede nomeadamente que os programas escolares "reconheçam em especial o papel positivo da presença francesa no ultramar".
Signatários de uma petição lançada em Março e que recolheu um milhar de assinaturas, historiadores como Claude Liauzu, Gérard Noiriel e Gilbert Meyriel pedem a abrogação de uma lei que "impõe uma história oficial, contrária à neutralidade escolar e ao respeito da liberdade de pensamento que estão no meio da laicidade". Gérard Noiriel afirmou, quarta-feira 13 de abril diante da imprensa, que não podia aceitar que "os poderes públicos ditem aos professores o conteúdo do seu curso".
A lei de 23 de Fevereiro versa sobre o reconhecimento da nação ao "trabalho" dos repatriados do ultramar e aos seus "sofrimentos" , e institui uma fundação sobre a memória da guerra da Argélia. Mas um dos seus artigos passou relativamente despercebido, afirma Michel Tubiana, presidente da Liga dos direitos do homem (LDH). Este artigo afirma: "os programas escolares reconhecem em especial o papel positivo da presença ultramarina francesa, nomeadamente na África do Norte, e atribuem à história e aos sacrifícios dos combatentes do exército francês procedentes destes territórios o lugar eminente ao qual têm direito." É este escrito que suscita reações contrárias. "não cabe ao legislador decidir que a presença da França deve ser apresentada como positiva" nos manuais escolares, considera o jurista Thierry Le Bars, professor da universidade de Caen.
Especialista da história da imigração, Gérard Noiriel preocupa-se igualmente de ver "emergir hoje dois grupos de cidadãos que tentam incorporar a memória em seu benefício" e considera que este texto pode apenas reforçar a tentação de se utilizar o passado para garantir o presente.
Afirmando que a sua cólera seria a mesma "se exigissem que se dissesse que a colonização foi uma monstruosidade", Gilbert Meyniel receia com esta lei "os exageros dos dois lados", enquanto que na Argélia, por exemplo, um esforço é feito para dar aos manuais escolares uma visão menos unilateral da guerra da Argélia.
O MRAP (Movimento contra o Racismo e para a Amizade entre os Povos) se indigna com esta "glorificação do colonialismo, que equivale a um reconhecimento da tortura". "E se fixando somente no papel positivo da colonização, a lei impõe uma mentira oficial sobre massacres que vão às vezes até o genocídio, sobre a escravidão, sobre o racismo herdado deste passado", afirma a associação.

17-04-2005

Machado de Assis e a escravidão

Literatura cidadã 
Depois dos estudos que John Gledson, Roberto Schwarz, Raymundo Faoro, Massaud Moisés e Josué Montello, entre outros, produziram sobre Machado de Assis e sua obra, seria de esperar que mais ninguém escrevesse um livro capaz de oferecer novas descobertas a respeito do chamado bruxo do Cosme Velho.

HISTÓRIA

                        Machado de Assis e a escravidão
                                                                               Adelto Gonçalves
         Depois dos estudos que John Gledson, Roberto Schwarz, Raymundo Faoro, Massaud Moisés e Josué Montello, entre outros, produziram sobre Machado de Assis e sua obra, seria de esperar que mais ninguém escrevesse um livro capaz de oferecer novas descobertas a respeito do chamado bruxo do Cosme Velho. Mas eis que surge uma obra que vem jorrar luz especialmente sobre uma época em que o Brasil imperial oferecia ao mundo o curioso espetáculo de um país no qual todos condenavam a escravidão, mas quase ninguém queria dar um passo para viver sem ela. Essa obra é Machado de Assis, historiador, de Sidney Chalhoub, professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que acaba de ser lançada pela Companhia das Letras, de São Paulo.
            Conhecido historiador da escravatura e da vida operária entre 1850 e 1910 em Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte (1990), Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial (1996) e Trabalho, lar e botequim:o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque (2001), Chalhoub fez o que, até agora, ninguém havia feito: investigou com cuidado a vida do funcionário público Joaquim Maria Machado de Assis, lendo tudo o que pôde encontrar sobre o seu trabalho na segunda seção da Diretoria da Agricultura do Ministério da Agricultura durante o período em que chefiou tal repartição – de meados de 1870 até o final da década de 1880.
Vasculhando a documentação do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, o historiador logo descobriu que os principais assuntos da seção eram política de terras e escravidão. A rigor, a seção estava encarregada de acompanhar a aplicação da lei de 28 de setembro de 1871, depois conhecida como Lei do Ventre Livre. Os meandros dessa luta política e social – seus vaivéns motivados pela hipocrisia e, especialmente, pelos interesses econômicos dos mandões do tempo – refletem-se diretamente na obra do maior romancista da literatura brasileira.
            Chalhoub procurou mostrar, entre outras coisas, que o processo histórico que resultou da lei de 1871 – assim como suas conseqüências –  esteve no centro da concepção de romances como Helena, Iaiá Garcia, Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. Tal processo, segundo o autor, é também o núcleo de sentido no conto “Mariana”.
Ao escrever esse conto, porém, diz o historiador, Machado não podia supor que estaria, logo depois, profundamente envolvido na aplicação cotidiana da lei de 28 de setembro. Para o pesquisador, o romancista formou-se (e transformou-se) ao longo da década de 1870 em diálogo constante com a experiência de funcionário público e cidadão. Eis aqui a tese principal de Chalhoub: a experiência histórica de 1871 ajudou a delinear uma nova personagem literária – Machado de Assis. Segundo essa tese, é possível, de fato, investigar as relações entre a experiência do funcionário e a famosa virada narrativa do romancista, ocorrida entre 1878 e 1880, ou entre Iaiá Garcia e Memórias póstumas de Brás Cubas.
            Escrito em estilo que busca repetir o humor fino e cortante de seu alvo, o livro de Chalhoub traça um perfil da hipócrita elite brasileira que se estabeleceu apoiada sobre o braço do escravo, reproduzindo alguns hilariantes discursos ou diálogos travados no Parlamento a uma época em que o Brasil dava ao mundo o triste espetáculo de representar o último baluarte da escravidão.
Discutia-se quem estava contra a lei. E, na realildade, quem estava contra a sua própria lei era a sociedade senhorial brasileira, pois se a lei de novembro de 1831, a chamada lei “para inglês ver”, tivesse sido mesmo cumprida em suas disposições relativas à liberdade dos africanos introduzidos no país desde então, restariam pouquíssimas pessoas ainda legalmente escravizadas em 1871. Explica-se: os escravos existentes no Império provinham basicamente do contrabando e da escravização ilegal de pessoas livres. Seria muito simples: bastaria aplicar o código penal vigente para acabar com aquela hipocrisia toda sobre direitos de propriedade.
            Mas não foi assim, como se sabe. Os grandes proprietários como urubus agarrados à carniça lutaram até o último momento para impedir a assinatura pela princesa Isabel da Lei Áurea de 13 de maio de 1888 e, insatisfeitos, ainda incentivaram o marechal Deodoro a dar o golpe militar que, no ano seguinte, instauraria a República.
            Antes de entregar o butim, porém, senhores de escravos uniram-se, muitas vezes, a autoridades locais para fraudar processos que visavam a dar liberdade a cativos. Chalhoub reproduz um parecer do funcionário Machado de Assis a respeito de uma tramóia ocorrida no município de Codó, no Maranhão, entre senhores de escravos e autoridades, que resume várias das trapaças levadas ao conhecimento do Ministério da Agricultura.
No parecer, Machado refere-se a proprietários que manipulavam regras do fundo do governo para obter a alforria de escravos ditos “inválidos”, pois, obviamente, esperavam arrancar do governo indenização superior ao valor que conseguiriam por tais cativos ao negociá-los no mercado, além de livrar-se da obrigação de sustentar tais pessoas.
            O autor levantou que Machado de Assis, atrás do pseudônimo Manassés, em crônica publicada a 15 de junho de 1877, tratou do mesmo tema, comentando inicialmente a história de um benfeitor anônimo da Santa Casa de Misericórdia. O sujeito doara nada menos do que vinte contos de réis à instituição e mantivera-se incógnito, quando o normal seria anunciá-lo nas gazetilhas.
A propósito do assunto, o cronista lembra de outro caso em que outro sujeito libertara uma escrava e amargara a impossibilidade de anunciar ao mundo a sua “caridade”. É que se tratava de uma escrava muito idosa, a necessitar de amparo na velhice. Ou seja: por trás da pretensa “caridade”, havia proprietários que estavam a se valer do fundo do Estado para ganhar dinheiro dando em troca liberdade a escravos idosos e inválidos, depois de lhes espremer como bagaço, livrando-se da responsabilidade de sustentá-los no inverno da vida.
            Em seu livro, Chalhoub procura mostrar que, na década de 1870, o outrora jovem liberal Machado de Assis compartilhava a desilusão de alguns velhos companheiros de lutas políticas, depois de ver que o gabinete comandado por Cansansão de Sinimbu não fora fiel ao programa liberal de 1868, rasgando-o, como, freqüentemente, fazem muitos  partidos quando chegam ao poder.
Diz o autor que o funcionário continuaria a cumprir, anos a fio, fosse qual fosse o gabinete da vez, a obrigação – exercida com evidente convicção ideológica e, acrescentamos, solidariedade racial, não carregasse ele na cor uma parte de sua origem – “de defender as prerrogativas do poder público contra a sempiterna sanha senhorial”. Para o historiador, o literato Machado de Assis transformaria a experiência histórica da década de 1870 na força criadora que fecundaria livros inesquecíveis como Memórias póstumas de Brás Cubas e outros posteriores.
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MACHADO DE ASSIS, HISTORIADOR, de Sidney Chalhoub. São Paulo, Companhia das Letras, 2003, 345 págs.  E-mail: editora@companhiadasletras.com.br
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Adelto Gonçalves, doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo, é autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail:marilizadelto@uol.com.br
Suplemento Cultural, de A Tarde, de Salvador - 16.04.2005

16-04-2005

Retórica sobre a escravatura

CARLOS PACHECO*

Pedir perdão aos africanos é acto de arrependimento que louvo e aprecio. É necessário serem os próprios detentores do poder em Moçambique, Angola e noutros Estados — muitos deles tetranetos dos antigos negreiros — a fazê-lo.

O mito fundamental é aquele que se constrói à medida que os modismos e jargões da época penetram na nossa prosa histórica e literária. Keith Thomas, Historiador Inglês, Folha de São Paulo, 4 de Abril de 1999.

É hábito nos tempos que correm pedir ou exigir desculpas pelos crimes do passado. Diria ser um ornamento ideológico tão do agrado de pessoas que exercem altos cargos políticos e religiosos. Apraz-lhes o gesto e a ênfase de trazer à memória factos históricos que exercitam como
elementos de comunicação com o grande público. Não porque gostem de análises e de definições rigorosas, mas porque sentem uma necessidade funcional ou táctica de manipular a História em proveito dos seus países, partidos ou Igrejas.

Bill Clinton é um exemplo. Enquanto Presidente dos EUA socorreu-se deste expediente num giro pela África subsariana em Março de 1998. Pediu desculpas aos africanos pelo comércio transatlântico de escravos e prometeu maior responsabilidade do seu pais por relações de parceria
mais justas com o continente. Esta loa de moralidade soou bem aos dirigentes africanos. A maior parte encabeçava (e ainda encabeça)regimes de corrupção e violência. O que ouviram fê-los profetizar mais dinheiro, mais prerrogativas e mais apoios para se manterem nos cargos
supremos do Estado.

Clinton conhecia o carácter dos seus interlocutores e a natureza obscena dos seus governos. Isso, no entanto, não lhe interessava. A aposta eram os negócios e, para tal desígnio, o pedido de desculpas funcionou como disfarce encantador: adulou o orgulho patriótico dos africanos e, ao mesmo tempo, reforçou o poder das suas corruptocracias. A América já então no limiar de uma nova política de
penetração comercial, procurava levar à prática a doutrina do "crescimento e oportunidades em África", sendo aprioridade o incremento da exploração de matérias-primas estratégicas e o petróleo o seu pilar central.

Outro exemplo é o ex-Presidente de Moçambique e da Frelimo Joaquim Chissano, ele próprio um ex-colonizado que sofreu na pele as injustiças e as humilhações da colonização. Recentemente, ao usar da palavra em Braga num acto solene, reclamou das antigas potências coloniais, incluindo Portugal, uma atitude de desagravo para com os milhões de africanos sacrificados à lógica do "negócio ignóbil" da
escravatura. E sublinhou que a África e as suas populações ainda hoje, não obstante as emancipações nacionais, permanecem reduzidas à condição de objectos, em virtude de as ajudas externas não serem verdadeiras. Ou melhor: estarem desvirtuadas pelo paternalismo e pela dependência.

Como se pode ver, o mito recorrente da escravatura é utilizado nestas duas intervenções com propósitos distintos, embora os objectivos sejam igualmente farisaicos. Falta a Chissano autoridade para falar dos
cativeiros do seu povo. O mais doloroso e prolongado foi, sem dúvida, a escravatura e o seu comércio a longa distância, na bacia do Atlântico. Contudo, não se pense terem sido somente os grupos económicos europeus e negociantes particulares a tirar partido deste sistema de exploração; ou ainda, em menor escala, os comandantes de
navios, os governadores e outros delegados e agentes do governo colonial; bem como os seus protectores na Secretaria de Negócios da Marinha e Ultramar, em Lisboa.

Os ajustes, conluios e associações misteriosas na "costa dos escravos"(desde Luanda ao Daomé, passando pelo Cabo da Boa Esperança e subindo até Zanzibar) teve outras dimensões e envolveu outros protagonistas.
Implicou (nos espaços coloniais submetidos à soberania lusitana) armadores e comerciantes abastados da classe nativa do litoral(negros, brancos e mulatos) que faziam gala de si próprios com as graduações militares honorificas que recebiam do monarca. Inúmeras vezes esses negreiros indígenas vingaram-se de empregados públicos,
seus patrícios, por estes se recusarem a ser cúmplices ou a fechar os olhos à sua imoralidade e avidez de ganhos ilícitos. Mancomunados com governadores e outros europeus da mesma facção, a Coroa pouquíssimas vezes puniu as suas infâmias e ladroagens.

Chissano preferiu omitir este facto fundamental. A verdade é que os "filhos do país",urbanizados, nascidos na faixa marítima ou na "hinterlândia", foram negreiros que ostentaram desde o século XV pergaminhos próprios de uma elite local poderosa e influente na administração do Estado colonial. Desgraçado do governador que não lesse pela sua cartilha e os ameaçasse com medidas repressivas:
faziam-lhe a vida negra e ameaçavam amotinar-se. Pelo seu estatuto social e riqueza, essa "elite intermediária", enquanto tal, também colonizou os segmentos sociais menos favorecidos. Até os sobas aproveitaram o sistema escravista de trocas para vender os seus súbditos. Os hábitos e as vantagens no negócio enquistaram-se de tal
forma que, quando tudo acabou, o matianvua (chefe tshoke da Lunda) se mostrou perplexo e indignado.

Todos participaram, portanto — europeus e africanos —, desse tráfico. Não contesto que, por via da transacção de escravos, e sobretudo com o comércio proibido a partir de 1836, se abateram sobre as possessões ultramarinas as piores perversões. Servidores públicos e habitantes em
geral procuraram ora locupletar-se com o que se lhes oferecia de mais fácil e rendoso a curto prazo, ora entesourar o que não lhes pertencia, deixando de lado riquezas duradouras como a agricultura. Nem a quebra do monopólio no comércio de marfim salvou a economia desses territórios.

A política colonial de Portugal com a restauração liberal em 1834 tornou-se caótica e imprevidente e o que veio a seguir, dos anos 50 para diante, foi o marasmo total. As mentes dos naturais embruteceram por falta de escolas. Os intelectuais africanos, impacientes com as injustiças que cresciam nas suas sociedades, passaram a lutar pela
redenção do homem africano. O nativismo irrompeu, então, pujante no último quartel e os seus paladinos foram, nem mais nem menos, os filhos dos negreiros de outrora.

O nacionalismo moderno, corporizado na Frelimo e noutros movimentos, pareceu auspiciar, com a independência, a destruição de todos os cativeiros e ultrajes da colonização. Mas semelhante ilusão logo se desvaneceu. Os novos apóstolos da libertação nacional cedo se converteram em apóstolos da desgraça e da corrupção: usurparam privilégios, distribuíram os bens nacionais por uns poucos, fomentaram a pobreza e reduziram o Estado a uma nova oligarquia subserviente aos interesses estrangeiros. Ao governarem até hoje para um partido, sujeitaram os seus países a regimes de inquisição política, chacinaram os opositores e criaram novos "universos concentracionários".

Pedir perdão aos africanos é, com certeza, um acto de arrependimento que louvo e aprecio. Não conforme a exigência de Chissano e de alguns historiadores em Portugal e no Brasil. É necessário serem os próprios detentores do poder em Moçambique, Angola e noutros Estados—muitos deles tetranetos dos antigos negreiros — a fazê-lo, e mais ninguém, porque são eles, depois de tudo, que trazem os seus povos ainda encarcerados, votados à morte, à penúria, à servidão e à neocolonização.

*HISTORIADOR ANGOLANO
PÚBLICO - 16.04.2005

11-04-2005

A verdadeira dívida é com a educação

Aqui transcrevo este artigo, especialmente pela informação contida no seu primeiro parágrafo.
Fernando Gil
Italo Nogueira, da RITS, 24/3/2005
Manifestantes fazem protesto em frente ao Palácio do Planalto
Luiz Alves/Welber Sousa
Há quem considere que a dívida externa do Brasil foi iniciada com o empréstimo de ₤ 1 milhão, a ser pago a Portugal pelo reconhecimento da independência da antiga colônia. Durante os 183 anos posteriores o déficit se acumulou e hoje o equivalente a 4,25% do que é produzido no país - calculado pelo Produto Interno Bruto (PIB) - é reservado para solucionar o problema da dívida. Para a equipe econômica, o superávit primário mantém a imagem externa do país, tornando-o um lugar confiável para o investimento externo. Para os críticos, esta é uma dívida injusta que possui juros impagáveis e só tende a aumentar, impedindo a aplicação destes recursos no desenvolvimento do país. Alinhada a esta última visão, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) lançou a Campanha pela Conversão da Dívida Externa em Recursos para a Educação.
"O investimento em Educação compensa, parcialmente, uma injustiça histórica, cometida ao longo de décadas em que o povo brasileiro não teve qualquer direito de opinar sobre a necessidade de se contraírem esses empréstimos nem sobre o destino que esse dinheiro deveria ter" argumenta Juçara Dutra Vieira, presidente da CNTE, em editorial divulgado na campanha no site da entidade [ver endereço em Links Relacionados]. Por se tratar de uma iniciativa voltada para o financiamento da Educação, ela tem como alvo principal a equipe econômica do governo. "O Ministério da Educação (MEC) é a favor, e o ministro [da Educação] Tarso Genro confirmou que é uma proposta tecnicamente viável", afirma Juçara.
O movimento foi lançado durante o 29º Congresso Nacional dos Trabalhadores em Educação, quando as discussões giraram em torno do tema financiamento da educação, tendo como norte a campanha pela conversão da dívida. A idéia ganhará força com o início da mobilização para a VI Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública, a ser realizada em Brasília de 25 a 29 de abril. Será realizada junto à Semana de Ação Global, que terá como tema "Educação e Pobreza".
Além do debate sobre o financiamento do ensino público, a Semana será marcada pelas ações em favor da campanha. A CNTE vai intensificar a busca por adesão ao abaixo-assinado pela conversão da dívida para a educação. A principal ação será no dia 27, em que haverá uma paralisação nacional da categoria e uma marcha em Brasília (DF) em favor da causa, e o objetivo é conseguir uma audiência com o presidente Lula para tratar do assunto.
Negociações bilaterais sobre a dívida externa para investimento na área social não é novidade. Recentemente, a Espanha fez acordos com a Argentina e o Equador em que a dívida com o país europeu poderia ser cancelada, contanto que os recursos fossem direcionados para programas sociais. De acordo com Juçara Vieira, a campanha do CNTE é mais efetiva pois foca a educação como meta.
Só dinheiro não resolve, mas ajuda
O MEC finaliza atualmente o projeto do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). A CNTE pretende que cerca de 80% dos recursos do fundo sejam investidos na melhoria da situação profissional dos professores, o que compreende gastos em atualização, aperfeiçoamento e remuneração para a categoria. A entidade trabalha com o conceito custo/aluno/qualidade e acredita que este investimento vá melhorar o ensino público no país.
Atualmente, a Constituição Federal vincula 18% dos tributos federais (que não significa toda a receita do governo) para investimentos na educação. O gasto por aluno gira em torno de R$ 600 por ano. De acordo com a presidente da CNTE, o ideal seria R$ 1 mil para alunos do ensino básico e R$ 2 mil para os de ensino médio.
No entanto, Juçara Vieira considera que o problema da Educação não é só a falta de verbas. A falta de colaboração e integração entre os governos estaduais e municipais faz com que a educação básica seja prejudicada. Esta falta de articulação entre níveis de governo ocorre muitas vezes por embates partidários, eleitorais, e são os alunos que saem prejudicados. "É necessário pensar um sistema único de Educação, em que as informações do município sejam de domínio do estado e vice-versa, e a metodologia seja discutida em conjunto".

06-04-2005

"38 anos depois – MOÇAMBIQUE REENCONTRADO POR UM COMBATENTE"

Autor: Manuel Pedro Dias
Editora: Edição do autor – Odivelas, Portugal – 2005.
ISBN: 9729060371 (Depósito Legal n.º 22386/05)
Assunto: História do regresso de antigos combatentes aos locais de acção militar.
Outros dados: O livro tem 128 páginas e 276 fotografias a cores e 5 mapas.
Comentários:
Manuel Pedro Dias é um dos dinâmicos organizadores do Batalhão de Caçadores n.º 1891, que cumpriu o serviço militar em Moçambique, entre 1966 e 1968.
Em 2004, em conjunto com antigos companheiros da vida militar, organizaram uma visita a Moçambique, com destaque para os locais onde fizeram a sua vida militar.
Desta visita aos cenários de guerra, passados quase duas décadas e meia, recordaram e viveram dias de confraternização com antigos amigos e adversários e foi desta deslocação que nasceu a ideia de produzir um livro com todas estas informações.
Assim, o livro reflecte a comparação entre o que os antigos militares conheceram e o que de facto encontraram, inserindo fotografias do início da sua campanha militar e os mesmos locais visitados 25 anos depois. Foi deste modo que resultou um livro que transborda memórias e recordações, conseguindo o autor até comparar situações bem concretas dado o espólio fotográfico que reuniu no seu baú de memórias.
Moçambique, o norte da acção militar e até as grandes cidades, são revisitadas e comparadas com os finais da década de sessenta.
Um testemunho a não perder, dada a qualidade do material que o autor em boa hora conseguiu reunir e dar à estampa em edição própria. 
COMO ADQUIRIR O LIVRO:
Contactar o autor, Manuel Pedro Dias - telemóvel 914631055
ou pelo e-mail - manuelpedro.dias@iol.pt
Carlos Serra

05-04-2005

A história revisionista omite factos e personagens reais...

"GUEBUZA: A Paixão pela terra"
Autor:
Renato Matusse
Editora:
Edição ‘Macmillan Moçambique L.da’ – Maputo, Moçambique – 2004.
ISBN:
0797826653 (WIP 864)
Assunto:
Biografia de Armando Guebuza.
Outros dados:
O livro tem 256 páginas e 100 fotografias, 80 a p&b e 20 a cores.
Comentários:
A leitura deste livro, obra de um pretensioso e nada modesto "professor doutor com tese de doutoramento" que até gasta algumas das páginas iniciais a explicar porque é PHD !!! (Páginas XIX e seguintes...), é algo de confrangedor e à boa maneira das escolas do desaparecido leste socialista, faz da história uma ciência revisionista, em que a verdade dos factos é a verdade da ideologia que perfilha.
Renato Matusse tentou branquear a história recente de Moçambique neste pretensa biografia de Armando Guebuza, para tal, a verdade dos factos foi completamente escamoteada e tudo o que era incómodo (Factos, nomes, acontecimentos etc), foi pura e simplesmente omitido!
Vejamos.
Sobre a história da luta de libertação nacional e as negociações de Paz e o Acordo de Roma que conduziu ao pluripartidarismo.
No primeiro caso, foram omitidos todos os nomes dos chamados ‘dissidentes’ (Miguel Murrupa, Joana Simeão, Domingos Arouca, Uria Simango, Lázaro Kavandame, etc.), que se crusaram inevitavelmente com o ‘biografado’ além de não terem existido diversos acontecimentos negros na história da FRELIMO, como a luta pelo poder entre o grupo de Simango e a ala marxista de Machel e Marcelino, a morte de Filipe Magaia e a ascenção de Samora no Departamento de Defesa, bem como a luta em torno da Escola de Quadros em Dar-es- Salam, entre muitos outros episódios...
No segundo caso, Armando Guebuza surge nesta ‘obra biográfica’ como um autêntico herói do diálogo e da Paz! A ele se deve êxito das conversações de Roma, que conduziram o país à paz e às primeiras eleições pluripartidárias! Ok, mas afinal, essas conversações foram realizadas com quem? O leitor que não souber ou que tiver dúvidas fica sem saber com quem foram feitas essas negociações e quem foram os seus protagonistas, para além do herói Guebuza obviamente!
De facto, o autor cometeu a proeza de nunca referir que Armando Guebuza representava uma das partes da guerra civil, a FRELIMO, e que do outro lado havia a RENAMO que por seu lado tinha uma delegação chefiada por Raúl Domingos...
Nem uma única vez os nomes de Raúl Domingos (o outro negociador a quem se deve a mão estendida e a deposição das armas da guerrilha), Afonso Dhlakama, Vicente Ululu Joaquim Vaz, ou até a sigla do próprio movimento com quem foi estabelecida a paz são editados nesta pretensa obra, do tipo biográfico e histórico.
Armando Guebuza foi "o negociador chefe para a paz em Moçambique", escreve o autor, mas afinal negociou com quem? Nunca se refere com quem afinal foi negociada a paz...
Jacinto Veloso foi à África do Sul negociar a paz em 1984, e nunca se diz com quem... Negociou com os sul-afrianos e com uma delegação da RENAMO, composta entre outros por Evo Fernandes e Joaquim Vaz, pois para tristeza do autor até foram publicadas fotografias do fato na imprensa internacional!
Se afinal Armando Guebuza negociou com ninguém a paz em Roma, esteve lá porque "haveria a garantia de que a FRELIMO não iria negociar a capitulação nem a partilha do poder..." É assim que o autor, suprime factos importantes da realidade (a outra parte nas negociações), e logo a seguir cita o seu herói como sendo uma garantia de que não haveria rendição ao adversário... Mas, afinal esse adversário que nunca se cita é existente e amedronta ou a garantia de que não haveria capitulação do governo da FRELIMO não passou de um sonho mau?
De facto, a falta de rigor e qualidade deste ópusculo ideológico, tipo livrinho de propaganda, é tanta que fiará na história recente de Moçambique, como tendo sido escrito por alguém, que apesar de puxar pelos seus galões de ‘professor doutor’, não passa de um bajulador e o pior do que os brasileiros chamam de ‘puxa saco’, ou em português vernáculo ‘graxa’.
Duas notas finais. No prefácio do livro, assinado por Joaquim Chissano, é referido que Armando Guebuza é "o meu ‘compagnon de route’ " !!! Mas, alguém tinha dúvidas que os dois homens sempre foram cúmplices? Era preciso dizer publicamente nesta pretensa biografia?
A última nota para o texto inserido na contra-capa, assinado por Nelson Mandela. Diz o ex-presidente sul-africano que Armando Guebuza "era um homem de talento excepcional" e que há muito houvia referência sobre a sua popularidade... Se Mandela se desse ao trabalho de, à semelhança do que fez na África do Sul com a ‘Comissão da Verdade e Reconciliação’, ouvir os moçambicanos, ficaria de certo a saber quem foi o autor e protagonista das expulsões dos portugueses "20/24" com os passaportes carimbados como traidores e as rusgas nas cidades em busca de tudo o que era contrário à FRELIMO para produzir o ‘Homem novo’ frelimista através do internamento nos Campos de Concentração das províncias nortenhas, onde pereceram milhares de pessoas sem que até hoje os familiares conheçam sequer o destino das suas ossadas!
Obviamente que esta acção e responsabilidade de Guebuza é também completamente omitida. Afinal, toda a verdade histórica é omitida.
Ingloriamente, porque muitos moçambicanos já tiveram a coragem de por em letra de imprensa os seus testemunhos, que têm dado a conhecer a verdadeira face deste heróis solitários de coisa nenhuma, porque segundo Renato Matusse só os próprios existiram...
Este é um livro que deve ser lido e guardado para ficar a conhecer o caracter dos seus autor e ‘biografado’. A não perder e ler rapidamente para acreditar.
CSerra - 'Chilinguine'

03-04-2005

LISTAGEM DOS MORTOS EM COMBATE NO ULTRAMAR

COMBATENTES MORTOS NO EX-ULTRAMAR: Para conferir por nomes e ou apelidos

Para quem pretender conhecer e conferir um determinado nome de um combatente que tenha morrido em combate no ex-Ultramar (Angola, Guiné, Índia, Moçambique e Timor), poderá consultar este serviço disponibilizado pelo site daLIGA DOS COMBATENTES:

Portas vai recuperar cemitérios do Ultramar(2)

Num Portugal que se expandiu e bastante guerreou ao longo da sua história há um pensar sobre os que morreram nessas guerras longínquas que, assim grosso modo, oscila entre dois polos.
Um deles, dito mais conservador, valoriza a identidade comum, indiferencia um interno, baliza um projecto nacional unânime (por vezes chamado patriótico), e saúda objectivos e realizações desse passado. A este às vezes chamou-lhe gesta ou epopeia, e nisso costuma aplicar-lhe várias maísculas, estas como se fortalezas de sentimentos. Exalta, claro, os caídos nesses passos, consagrando heroísmos, os célebres e os anónimos, vistos como agentes de um desígnio. Nisso se respeitam e se recordam os nossos mortos. Símbolos do que somos, heranças para os que se seguem nesta História que se quer perene pois orgulhosa.
Um outro, dito mais progressista, lembra uma identidade comum sobre um diferenciado interno, de poderes e de classes feito, baliza os projectos nacionais (quase nunca chamados patrióticos) como se plurais frutos dos conflitos entre diferentes grupos, e assim contextualizados critica objectivos e realizações desse passado. A este às vezes chama-lhe expansão ou descobertas, e nisso costuma aplicar-lhe várias aspas, estas como se vassouras de sentimentos. Exalta, claro, os caídos nesses passos, consagrando heroísmos, mas mais atento aos anónimos, até vistos como vítimas de poderes mobilizadores.Nisso se respeitam e recordam os nossos mortos. Símbolos do que fomos, heranças para os que se seguem na História que se quer perene pois reflexiva.
Será demasiado simples chamar a isto a persistência das religiões dos ancestrais. É mais, qualquer que seja o poiso de onde se fala, olhar e usar o(s) (ante)passado(s) para imaginar o presente e construir o futuro. Mais ou menos criativamente, consoante o paladar.

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