sábado, 2 de janeiro de 2016

Simango: de reaccionário a herói

HISTÓRIA DA LUTA ARMADA PODE TER NOVA VERSÃO- ESCREVE O “IMPARCIAL”

O diário “Imparcial” escreve na edição de hoje que o lançamento recente da biografia do antigo vice-presidente da Frelimo, Uria Simango, parece não estar a sossegar os seus antigos companheiros de armas e diz estar na posse de informações dando conta de que antes das eleições de Dezembro, deverá ser lançada uma versão exaustiva da história da Luta Armada.
De acordo com este jornal, um grupo de historiadores de renome como Allen Issacman, Arlindo Chilundo e Antonio Sopa, estão a levar a cabo na Universidade Eduardo Mondlane (UEM) um trabalho que o secretário para a Mobilização e Propaganda do partido no poder, Edson Macuacua, diz ser de digitalização da história da Luta Armada de Moçambique.
IMPARCIAL, 03/09/04

27-08-2004

"Uria Simango, Um Homem, Uma Causa

Retirado de um outro local da Internet (27.08.2004):
Deixo aqui uns pequenos excertos de um livro maningue interessante que acabei de ler, e que fala da vida de Uria Simango. O livro, para quem ainda não conhece ou ainda não leu, chama-se "Uria Simango – Um Homem, Uma Causa", da autoria de Barnabé Lucas Ncomo, e é a história daquele que supostamente terá sido um "traidor" da revolução moçambicana.
Aconselho a todos vocês a lerem o livro, porque repito, está maningue nice. Não só porque conta a História de Moçambique de outro modo, e não como nós a conhecemos, fazendo com que os actuais heróis moçambicanos, saiam desde livro um pouco (para não dizer muito) beliscados. Como também porque, tratando-se de um livro redigido por um moçambicano, é curioso verificar que este autor não comunga da ideia da maioria, quando diz que a culpa do estado actual do país é da colonização. Como ele diz, é preciso reconhecer que Portugal ia deixar no solo moçambicano o mínimo para um arranque visando o progresso, que era preciso saber aproveitar. Apesar de ninguém pôr em causa que Portugal espoliou desenfreadamente Moçambique de norte a sul.
Aqui ele vai de encontro ao que eu digo sempre... os tugas fizeram muita merda, mas já chega de culpar a colonização pah! Já passaram 30 anos... quando é que esse tipo de papo acaba?!?
Para terminar, só dizer que os sublinhados, as aspas, os itálicos etc. São todos meus. Fiquem bem!
"Simango acreditava que Moçambique tinha as mínimas bases de arranque para se apresentar ao mundo como um exemplo ímpar a seguir. Portugal não só havia colonizado e espoliado desenfreadamente de uma ponta a outra, as riquezas do país. Também, em abono da verdade, era preciso reconhecer que igualmente ia deixar no solo moçambicano o mínimo para um arranque visando o progresso, que era preciso saber aproveitar.
(...) É que cada estágio do paupérrimo desenvolvimento e progressivo subdesenvolvimento de África, para além da lendária culpa do sistema colonial, tinha também em si como razão a miopia política dos próprios homens que herdaram a histórica missão de conduzir os destinos dos povos do continente na era pós-colonização. E essa miopia consubstanciava-se na intolerância; na prepotência; na falta de pudor e, sobretudo, na falta de vergonha e realismo político.(Barnabé Lucas Ncomo/autor do livro)
Simango achava que as modalidades de ascensão do país à independência diziam respeito a todos os moçambicanos. Para tal, todas as forças políticas existentes no país tinham uma palavra a dizer, pois "o facto de um movimento lutar durante vários anos para a independência dum determinado país, não implica que todos os filhos desse país sejam a favor desse movimento, em termos ideológicos e na matéria de governação. É natural existirem outras opiniões nesse país; mesmo que sejam minorias, merecem o seu devido respeito"- dizia Simango.
Pelo contrário, a FRELIMO não aceitaria qualquer outra força política no país. Invocaria uma legitimidade exclusiva na representação do povo moçambicano, decorrente da luta armada de libertação nacional, e "contada não por votos, mas pelos seus mortos em combate."(Castigo Lucas Ncomo)
"Se o governo português vier a decidir o futuro de Moçambique só com a FRELIMO, qual será a nossa reacção? A nossa reacção deve ser uma manifestação do pensamento do povo moçambicano. O povo sentir-se-à magoado se o governo português fizer isso. Se o governo português fizer isso, terá feito um erro. Lamento informar que isso fará com que nasça uma situação tal que por enquanto eu não posso profetizar, mas não há dúvida alguma de que vai nascer uma situação que não é muito boa. Será um grande erro e o governo português assumirá uma grande responsabilidade pelas consequências... Quais são não posso dizer. Mas é natural que nasça uma situação não agradável."
(Conferência de Imprensa de Uria Simango na Beira – 24 de Agosto de
1974)
"Simango perdeu o controle da situação na FRELIMO não só em consequência da estratégia traçada pelos seus adversários, mas sobretudo porque foi traído e vendido pelos seus próprios irmãos oriundos da sua província e da sua tribo –os Ndaus. Contrariamente ao que o regime propalou a respeito da sua intelectualidade, comparando-a à de Eduardo Mondlane, Simango era um intelectual que se impôs na FRELIMO, desde a primeira hora, por mérito próprio e não pela beleza dos seus olhos. Era um homem eloquente que quando falava para uma multidão as pessoas deliravam. Era um adversário sério para Mondlane e toda a gente sabia disso. Todos os que conheceram Simango e Mondlane conheceram também a diferença entre estes dois homens.
Mondlane, apesar de ser académico, em termos de eloquência e retórica não chegava a um palmo de Simango. Se Simango estivesse vivo, a FRELIMO hoje depararia com problemas, porque nas campanhas eleitorais no sul de Moçambique, por exemplo, Simango falaria às populações na língua deles. O reverendo era um bom poliglota. Falava bem o tsonga, swahili, nyanja, português, inglês, ximakonde, sena e ndau. Mondlane, Samora e Chissano, por exemplo, não falavam nenhuma língua do Centro ou do Norte."
(Z. Maurício)
"Havia tribalismo na FRELIMO. Isso não se pode negar. Eu sou do Sul do país, mas tenho que admitir que havia tribalismo e quem o galvanizou foram algumas pessoas do sul que chegaram mais tarde, entre 1963 e 1965. Viviam muito preocupados com Simango e agitavam Mondlane dizendo-lhe que o Reverendo pretendia usurpar o Poder; que era preciso ter cuidado com ele etc. Souberam jogar, dividindo as pessoas e usando até alguns do centro e norte do país que pouco entendiam de afinidades e lealdades. Algumas dessas pessoas, ignorantes que eram, foram sendo usadas como marionetas sem se aperceberem que os outros pretendiam dividir para reinar."(José Massinga)
"Até o delito mais comum, de carácter pessoal, era transformado em crime de lesa pátria por via de mentira e artimanha, e recebido do grupo a pena capital por via de julgamentos apelidados de justiça
popular. A denominada justiça popular da FRELIMO, consistia, na realidade, em incitar a população ou uma multidão de combatentes através de discursos prenhes de acusações não provadas. Não se dava nenhuma possibilidade de defesa ao visado e, de seguida, perguntava-se ao chamado povo o que fazer com a pessoa. Em coro, os mais violentos títeres entre o povo, rasgavam as gargantas com "mata-se o gajo"; "vamos semeá-lo". E, para poupar munições, atirava-se a vítima aos lobos onde não faltavam paus e catanas para executar a sentença. Era um recurso muito corrente, utilizado pela facção sulista da FRELIMO para eliminarem os seus compatriotas nortenhos indesejáveis."(A. Mutusso)
Conclusão do autor do livro:
"Simango morreu vítima de uma causa: a causa da liberdade e da igualdade nos direitos e nos deveres entre os homens do seu país.
Todavia, seria vítima de uma outra causa inconfessa: a causa da tribo, da região e da ambição desmedida de alguns (...) tudo indica que Simango terá sido dos poucos na FRELIMO que sabia que a moral é apenas uma: - Não há duas morais, uma do indivíduo e outra da política ou do Estado.
(...) Tal como muitos, Simango não viveria para ver o tipo de independência que almejara. Mas a profecia por ele proferida em Agosto de 1974, segundo a qual se Portugal não honrasse os seus compromissos, e entregasse o poder político a uma só força em detrimento de uma processo democrático multipartidário, Moçambique mergulharia numa triste situação, vingou. Vingou no corpo e na alma dos moçambicanos, por via de um conflito sangrento de 16 anos que todos sentiram na carne.

24-08-2004

METELELA - URIA SIMANGO E OUTROS

Textos todos publicados em Maputo em Dezembro 2003

Semanário DEMOS
CONFIDENCIAL
(ÀS TERÇAS FEIRAS)
Coluna de João CRAVEIRINHA
DOSSIER (7)
NA FRENTE DE LIBERTAÇÃO
A CLARIFICAÇÃO TOTAL
O Hospital da Frente de Libertação encontrava-se localizado no sul de Tanzânia, em Mutuara (Mtwara), na direcção de Cabo Delgado, região nortenha de Moçambique para além do rio Rovuma. Nesse Hospital em situação anterior à sua expulsão (1968), o médico Hélder Martins, “ in extremis”, seria salvo por Manuel dos Santos (de Tete), de uma iminente agressão de uns guerrilheiros (muito irritados) de Cabo Delgado que se encontravam a receber tratamento de ferimentos em combate, por não aceitarem alta hospitalar e as ordens de regresso ao interior dadas pelo médico e responsável da Saúde da Frente, Hélder Martins. Estaria (entre outros) criado o cenário propício para as expulsões à posteriori depois dos distúrbios, de Maio de 1968, no escritório da Frente em Dar-es-Salaam e da revolta dos estudantes no Instituto Moçambicano em “Kurassini”. No entanto, muito após o assassinato de Eduardo Mondlane (1969), seria rectificada a situação com a autorização do regresso pela parte tanzaniana.
Provisoriamente uma “troika” substituiria Mondlane: - Samora Machel, Marcelino dos Santos e Uria Simango que se antecipara evocando os estatutos e distribuíra cartões de visita com o título de “acting President” – Presidente em exercício até às eleições do Congresso. Os acontecimentos precipitam-se. Uria Simango sente-se inconfortável ladeado pelos seus pares e tenta “ dar a volta” em vão. Encontra-se “espartilhado” sem margem de manobra. Seus apoiantes declarados são detidos ou o abandonam mudando de campo. Os detidos enviados a Cabo Delgado são executados depois de torturados na Base Central. Entre eles o tesoureiro da Frente de Libertação – Silvério Nungo; - A 18 de Julho de 1969 seria torturado (ainda mais), durante toda noite até ao amanhecer. Devido às coronhadas de espingarda recebidas na cabeça estas provocariam fracturas expostas, com partes abertas do crânio, por onde escorreria líquido da matéria encefálica, conduzindo-o, a uma morte lenta e muito dolorosa, debaixo de soluços roucos infra – humanos, de dor. Seria morto depois de uma agonia de cerca de 8 dias até a essa fatídica noite.
Em finais de 1969, o reverendo Uria Simango, distribui um Manifesto de 13 páginas intitulado “Gloomy Situation in Frelimo” – Situação Tenebrosa na Frelimo, onde acusa os seus camaradas e a viúva de Eduardo Mondlane, Janet. É a gota de água que transborda o copo. Em Novembro de 1969, Uria Simango é oficialmente expulso da Frente de Libertação. Após ouvir o reverendo U. Simango, o preocupado Presidente Nyerere, não intervém. A situação torna-se insustentável em Dar-es-Salaam para Uria Simango. Refugia-se no Cairo – Egipto onde (re) adere a uma nova Udenamo e posteriormente à COREMO – Comité Revolucionário de Moçambique, fundada em 1965 em “Lussaca” – Zâmbia. A Coremo, presidida por Paulo Gomane, combatia o exército português em Tete com o apoio da Zâmbia, China Popular e de elementos sedeados nos Estados Unidos. Era um movimento oficialmente pró-maoísta mas contraditoriamente de ligações norte-americanas. Colaborava com o PAC da África do Sul, a UNITA de Angola, ZANU da Rodésia e SWANU da Namíbia. (Uria Simango surgiria em Moçambique depois de Junho de 1974).
Em finais de 1969, Samora Machel, admirador confesso do maoísmo, passa a presidir abertamente à Frelimo e o veterano Marcelino dos Santos, relegado para segundo plano, é o vice-Presidente.
Tem início uma nova era na Frente de Libertação de Moçambique. (Contrinua)■■■
Dia 26 Dezembro 2003 – 472 palavras ou sexta feira 19 de Dezembro
TRIBUNA
(SAI ÀS SEXTAS FEIRAS)
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: joaocraveirinha@yahoo.com.br
ARQUIVOS IMPLACÁVEIS(10)
CAMPO DE REEDUCAÇÃO DE MITELELA OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO?
(VAE VICTIS – AI DOS VENCIDOS!)
3ª Parte (Fim da 1ª Fase)
Em 1975 – Novembro (?!), João Craveirinha e mais elementos são transferidos (detidos) de Nachingueia (Tanzânia) para Niassa oriental, via Lago. São enviados para o campo de concentração da FRENTE em Mitelela, no antigo quartel português de Nova Viseu, deixado pelos militares lusos, todo minado ao redor e com garrafas partidas enterradas nas instalações. Entre os detidos e transferidos encontravam-se muitos nomes conhecidos do nacionalismo africano como Adelino Guambe fundador da FRELIMO, o reverendo Uria Simango, sua esposa Celina, Paulo Gomane, Narciso Inbule, antigos comandantes de élite entre eles, Pascoal Almeida Nhapulo, Pedro Simango (2), Januário Napulula e Chéés-padres muçulmanos (sheiks), curandeiros, etc. Entre os presos, ainda, Lázaro Kavandame, Verónica, o ex-representante da Frente no Cairo, Judas Honwana, o médico Dr. João Unhai(Unyai), o engenheiro Marqueza, o Prof. Dr. Kambeu de Direito Internacional, a Dra. Joana Simeão da FRECOMO (anteriormente do GUMO do Dr. Máximo Dias), o primo de 1º grau do Prof. Dr. Eduardo Mondlane – Pedro Mondlane, e muitos outros. O campo de Mitelela de máxima segurança encontrava-se numa região lamacenta muito isolada e de fauna bravia – leões, leopardos, elefantes, cobras. Os felinos e as cobras eram “visitas” normais. No campo encontravam-se também, antigos agentes moçambicanos da Pide como Leonel Soleimane Motty, o 1º em Moçambique (1972), a ter uma empresa privada de segurança com uma rede bem montada nas principais empresas e 3 “chóferes” privados à disposição e respectivas viaturas novas. Leonel Motty, natural de Quelimane, provinha da Polícia Judiciária onde se formara em Lisboa e tinha acesso aos arquivos da PIDE na Casa Algarve em Lourenço Marques. Acumulava com a tarefa de Inspector do Trabalho e de empresário de ligações com as representações da Volkswagen e da BMW. Teve tempo e dinheiro para fugir para a África do Sul, mas ingenuamente, ofereceu-se para trabalhar para a FRELIMO em 1974. Muito mais tarde, prisioneiro com tuberculose e maus-tratos, sucumbiria em Niassa nos anos 1980 (?!). Talvez, L. Motty, pensasse nos chefes da Gestapo alemã de Hitler que se ofereceram para trabalhar para os russos em Moscovo na iminência da queda do 3º Reich em 1945. É o caso do director Müeller da mesma polícia secreta nazi. Não só seria poupado como integraria os serviços secretos soviéticos, na formação. Os russos aproveitaram a sua experiência. Existe uma cultura comum nas polícias secretas a serviço de qualquer poder político. São instrumentos e a experiência conta. Da rede piramidal total, montada por Motty em Moçambique, quem poderá saber se eventualmente muitos desses elementos que nunca seriam detectados, teriam integrado os grupos dinamita…dores, digo, dinamizadores de tão triste memória da Frelimo? Quiçá alguns poderiam ter subido na hierarquia da própria estrutura política de bairro da Frelimo aos dias de hoje. A muito longo prazo – o acesso a serem empresários de sucesso, mostrando a verdadeira face, renegando a Frelimo que lhes deu o ”escadote” para subirem e quem sabe à custa de acusar os outros de serem reaccionários, na era de Samora Machel, enviando-os aos fatídicos campos de “reeducação”? Era preciso mostrar serviço para serem de confiança política. Poderá estar aí o embrião da conspiração e do oportunismo actualmente patente no nosso país!
A terminar esta 1ª fase dos ARQUIVOS IMPLACÁVEIS coloca-se uma questão de fundo: Sempre houve infiltrações (ou tentativas) descobertas na Frelimo e em qualquer Movimento de Libertação e em toda a História da Humanidade sempre houve e haverá espionagem no campo do inimigo. Mas a questão de fundo é maior. Saber se a nível da cúpula, na Frelimo, terá havido uma Grande Toupeira ou várias?
A PIDE, em Lourenço Marques, na Costa do Sol, queimou todos os nomes, dados, e documentação dos seus arquivos, no campo de futebol do Benfica de LM, hoje CDCS. A Torre do Tombo não tem esses dados. Há só indícios. Havia um grande infiltrado ou mais a nível da cúpula? Mas quem? E que percurso? Chegaram a ministros e a membros do Comité Central? Estiveram entre os 10 mais poderosos de Moçambique na era de Machel? Se existiram, agora onde andarão esses super agentes da PIDE? Serão empresários ou deputados ou ministros? Presumo que para sempre será um mistério!
E sobre, João Craveirinha, PRESO POLÍTICO (voluntário), na FRENTE de LIBERTAÇÃO, em Nachingueia(Nachingwea) e Niassa…Um dia, será contada e publicada a história depois da sua morte! ●

23-08-2004

Será ‘Simango, uma obra, uma Causa’ a Biblia alternativa?

Por Manuel de Araújo
Domingo, 22 de Agosto de 2004
ZAMBÉZIA ON LINE
Desde os primordios da evolução humana, uma regra universal tem conseguido, com poucas excepções, impor-se e resume-se no facto de que ’ a História é escrita pelos Vencedores’! O resto não passa de 'estorietas' como o afirma Sérgio Vieira no seu artigo de 18 de Julho no Semanário Domingo!
Da Grécia Antiga, a Roma, passando pela I e II Guerras mundiais, sem menosprezar a epopeia de libertação de África, esta regra parece manter-se! Muitas vezes essa 'estoria' é transmitida de gerações em gerações alimentando sonhos e mitos que se mantém ao nível informal. Moçambique não tem sido excepção a esta regra. Durante anos os mitos sobre Ngungunhana, Maguiguane, Mataca e outros foram mantidos no informal e eram transmitidos de geração em geração através de contos, lendas e outras vias informais até que a Independência nacional os transformasse de lendas a História Oficial.
Nkomo, parece que consegue subverter esta lógica quase que universal ao transferir a 'estoria' oficiosa do informal para o formal. O livro de Nkomo, independentemente de constituir verdade absoluta, pois essa apenas existe na cabeça de individuos megalomanos consegue coleccionar numa obra a perspectiva, os... ... (VEJA O RESTO EM
http://www.zambezia.co.mz/index.php?option=content&task=view&id=9&Itemid=

09-08-2004

INDEPENDÊNCIA TEM DIREITOS AUTORAIS?

Eugenio_CostaEugénio Costa Almeida*
Pode-se dizer que as independências dos países oceano-afro-lusófonos estão íntima e unicamente ligados a uma personalidade ou a uma organização e que estes são os pais omnipresentes e omnipotentes das mesmas. Penso que não.
Apesar da enorme legitimidade que lhes é conferida pela História não podemos, sob forma de negar esse valor a terceiros, dizer que Xanana e a Fretilin, foram os únicos pais da independência timorense; como também os não devemos afirmar que Moçambique só existe devido à Frelimo e a Mondlane, nem Angola, ao esquecer o papel de outros que não Neto e o MPLA, nem tão-pouco para a Guiné-Bissau, ao afirmar que a independência se deve unicamente a Amílcar Cabral e ao PAIGC; ou ainda a São Tomé e Príncipe ao afirmar que foi o MLSTP quem conquistou a pátria santomense. Definitivamente não a Cabo Verde.
Talvez por isso, não será de surpreender que a polémica esteja definitivamente instalada entre os primos lusófonos das duas pátrias africanas do Atlântico Norte.
De um lado os cabo-verdianos a defenderem a retirada do "C" no PAIGC guineense, do outro os guineenses, com a autoridade que lhes confere a História, a quererem manter a sigla como está e questionarem os cabo-verdianos da legitimidade para a contestação( l).
Aliados a isto temos as declarações do líder do MpD ao afirmar que Amílcar Cabral não terá sido o pai da independência cabo-verdiana(2).
De facto e de acordo com o sítio cabo-verdiano Semana Online(3), Agostinho Lopes, líder do Mpd, o maior partido da oposição, de Cabo Verde, afirmou, nos EUA que era tempo de acabar com a paternidade individualizada da independência de Cabo Verde.
De facto e de acordo com o sítio cabo-verdiano Semana Online(3), Agostinho Lopes, líder do Mpd, o maior partido da oposição, de Cabo Verde, afirmou- nos EUA que era tempo de acabar com a paternidade individualizada da independência de Cabo Verde.
Segundo aquele líder(?) cabo-verdiano, numa entrevista ao programa radiofónico Porton de Nós Ilha, da comunidade cabo-verdiana em Bróckton, MA, o reconhecido pai da independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde teria sido mais um entre os inúmeros cabo-verdianos que lutaram pela Pátria crioula.
Ainda de acordo com Lopes, Cabo Verde nasceu de uma da vontade de uma única personalidade; o povo cabo-verdiano. Para ele, Amílcar Cabral, que o historiador Basil Davison(4) terá considerado como o maior líder africano, a par de Agostinho Neto e de Nelson Mandela D num eventual ranking imaginário D teria sido um mero impulsionador na sequência de um caminho de encontrou e desbravou.
Como será evidente a comunidade crioula nos EUA, que continua a pautar pela paternidade cabralina, não ficou nada satisfeita.
Provavelmente, também os guineenses não se sentirão descansados. E já agora, nem nós, os outros africanos, para quem Amílcar Cabral, continua a ser o grande líder que mostrou que a sã convivência entre povos era possível, apesar das diferenças políticas G consta que, quando em no final da década de 50, inícios de 60, teria vindo a Portugal propor a autonomia africana, Salazar não permitiu que a PIDE o detivesse D, nos sentimos tranquilos quando líderes partidários, com a natural apetência para o poder fazem afirmações deste quilate.
Por este andar e com afirmações destas, creio que o PAICV e o seu líder poderão reformular o mobiliário do Palácio governamental, porque tão cedo não devem sair de lá.
Mas, se as afirmações pecaram pela inoportunidade, face à polémica do "C", também não deixa de ser verdade que é tempo dos Movimentos emancipalistas e de libertação colocarem as siglas onde deveriam estar: num qualquer Museu de História Nacional, em local nobre e resguardado de polémicas.
É tempo dos países que passaram por lutas de Libertação procurarem substituir as siglas dos Movimentos por siglas de Partidos Políticos. As guerras e as crises internas já acabaram. Há que enterrá-las definitivamente.
Tempos houve que o MPLA, adicionou, em 1977, a sigla PT(5), o MLSTP a do PSD, e penso que até a própria Frelimo chegou a fazê-lo. Apolítica histórica aconselhou-os desprezá-las. Vejam Portugal. Fora quando as conveniências políticas internas o aconselham, alguém se lembra de chamar ao PSD, PPD, apesar do nome oficial ser PPD-PSD?. Não; são os social-democratas, nada mais.
Porque não fazermos o mesmo nos nossos países. Inicialmente, poderíamos e deveríamos clamar para a legitimidade histórica, como já ocorreu, por exemplo MLSTP/ PSD. Depois seriam reconhecidos por aquilo que são. Partidos políticos virados para o engrandecimento e desenvolvimento dos nossos países. Nada mais. A História não deve ser enterrada. Antes, preservada.
*Doutorando em Ciências Sociais
(1) http://www.ditaduradoconsenso.blogspot.com/
(2) http://www.pululu.blogspot.com/
(3) http://www.asemana.cv
(4) DAVISON, Basil, Os Africanos.
Uma Introdução à sua História Cul-
tural, Lisboa, Edições 70, 1981 .
(5) http://www.hrdc.unam.na/an_history.htm
Semanário África – 02.08.2004

04-08-2004

Uria Simango - Um homem, uma causa

Semanário Domingo - Maputo, 18 de Julho de 2004
Carta a muitos amigos - por Sérgio Vieira
Sobre história e historietas

Quando escrevo esta carta ainda não se encontra nas livrarias um livro de Barnabé Lucas Ncomo, intitulado Uria Simango um homem, uma causa, puplicado pela Edições Novafrica. Uma enorme publicidade, em termos nacionais, lembrando a de Mel Gibson vom a Paixão, ou Michel Moore com Fahrenheit 9/11, acompanha o lançamento, não faltando neste caso pimenta das supostas ameaças a morte. Um amigo emprestou-me.
Analisar um texto de História em duas páginas, não me parece justo, mas trata-se de uma historieta em 466 páginas, que não procura a veracidade como objectivo. Nào se comentam paixões ou motivações sobrenaturais, que o autor afirma haverem-no inspirado. Faço-o, porém, para não cair na armadilha do quem cala consente.
O que posso notar nesta obra?
Primeiro, que a Internacional Comunista, criada nos anos vinte do século passado e dissolvida no início dos anos quarenta, comandou o processo moçambicano a partir do final dos anos cinquenta! Inexistente no mundo real, mas perene para a tese do autor.
Segundo, que um grupo conspirativo tsonga e de aliados, mestiços, indianos e brancos, enfeudados no KOMITERN, assenhorreou-se da FRELIMO desde os inícios e para efectivar os seus desígnios obscuros assassinava e massacrava tudo que de gente honesta e boa existia na FRELIMO e que essa mafia dirigiu o processo de libertação da Pátria. Que nas zonas libertadas da FRELIMO se implantaram escolas, que haja instaurado um sistema moderno de ensino, com excelentes manuais de matemática, física e outras disciplinas concebidos pela FRELIMO, que se haja aí erradicado a varíola, feita a assistência materna infantil, que se fomentara a auto sustentabilidade de alimentos, que a Frente formou mais gente no ensino superior em dez anos de luta, do que o colonialismo em quinhentos, que soldados inimigos capturados a partir do primeiro assalto em 1965 beneficiaram da política de clemência e a Cruz Vermelha os recebeu, nada disso existe para o autor e assim melhor esteia a sua tese.
Terceiro, para fazerem triunfar a causa tsonga comunista, a China maoista e a URSS de Brejnev, mão na mão, teleguiaram a FRELIMO, associados a Nyerere, Kaunda, George Magombe e aos Kennedy.
Quarto, que os moçambicanos tão engalfinhados em matanças intestinas não levaram a cabo uma guerra vitoriosa contra os colonialistas. A exaustão das Forças Armadas coloniais, o facto de em Moçambique, onde a guerra menos durou, haver inflingido o maior número de baixas ao inimigo, tudo isto não demove o autor da tese. Ele ignora que a derrota de Nó Górdio, a maior ofensiva colonial de sempre, ocorre após a deserção de Nkavandame, Murrupa, Simango e a sua ligação com os colonialistas. Não imagima sequer uma relação causa efeito nisto.
Quinto, Moscovo, Pequim, o PCP, Costa Gomes, o MFA, a CIA, Kissinger, Mac Namara, os Rockfeller, o Barão Rotschild, o Príncipe Bernardo da Holanda, o Clube Bilderberger arquitectaram, com Caetano, um 25 de Abril, que nunca existiu como derrube do Estado Novo, para entregarem as colónias à FRELIMO, ao MPLA e ao PAIGC.
Sexto, que Mondlane não passava de um tribalista que, graças à antropologia, armadilhava os ingénuos da zona centro do país. Sedento de poder, não recuava perante o crime. A bomba que o matou, a PIDE, Rosa Casaco, Casimiro Monteiro, Orlando Cristina e outros, jamais existiram. No consulado português no Malawi nunca se entregou a bomba ao Padre Pollet; este nunca a remeteu a Samuel Dhlakama na fronteira tanzaniana, com o pedido de fazer chegar a encomenda a Simango e Nungu em Dar-es-Salam. Nungu, no escritório, não mandou Rosária levar o pacote a Mondlane, que estava a entrar no seu carro. Nkavandame, em Mtwara, antes da morte de Mondlane, não a celebrou.
Sétimo, a direcção, ao decidir que o II Congresso não se realizasse em Cabo Delgado, onde as tropas portuguesas aguardavam que acontecesse, pergunte-se ao General Sousa Meneses, ao insistir que ele se realizasse em território nacional, ao garantir a participação activa dos combatentes, os que se encontravam empenhados na tarefa principal, apenas levou a cabo o propósito sinistro dos tsongas e seus aliados e seus aliados.
Oitavo, que os ditos reaccionários eivados do maior pacifismo, não conspiraram com os FICO, Spínola, Smith, antigos PIDE e Jorge Jardim. Não tentaram criar grupos armados, nem levar a Rodésia e o “apartheid” a invadirem Moçambique. Jamais existiram os moçambicanos assassinados no 7 de Setembro e 21 de Outubro, os patriotas Nkavandame, Caliate, Magno nunca conduziram as tropas coloniais para massacres de compatriotas.
Nono, Jardim, Cristina, o major Óscar Cardoso nunca estiveram em ligação com os ditos reaccionários, muito embora lhes providenciassem dinheiro, aviões, ligações, os aguardassem na Rodésia e äfrica do Sul para os levar a encontros com os sectores da securocracia racista.
Décimo, as melhores fontes de história encontram-se nos boatos, maledicências e frustraçoes de desertores, bêbados e gente marginal aos eventos reais.
Como estamos perante uma historieta e mal contada, nada mais comento. Abraço os que respeitam a História e a investigam com seriedade.
                                                                                              
Semanário Zambeze - Maputo 22 Julho 04
Sob os Vapores de Baco
Artur Nkaíma
Tal como Sérgio Vieira, também tive o privilégio de ler o livro de Barnabé Lucas Ncomo – Uria Simango, um homem, uma causa.  Surpreso fiquei com o à-vontade de Sérgio Vieira em baralhar a opinião pública, misturando alhos com bogalhos, numa tentativa de lançar no descrédito um trabalho sério de investigação conduzido ao longo de muitos e difíceis anos.  (ver “Carta a Muitos Amigos” - Domingo - 18 de Julho de 2004).  A intenção de Sérgio Vieira foi mais do que evidente: desviar a atenção do público sobre a vida e obra de Uria Timóteo Simango.  O método utilizado não é, aliás, inédito – os moçambicanos há muito que se habituaram a esse tipo de malabarismos desde os tempos em que lhe quizeram  impor o “pensamento comum”.
Não ficar calado nem sempre significa deixar de consentir. O facto de Sérgio Vieira, no meio de tanto rancor, não ter sequer uma palavra, um simples desmentido relativamente às graves acusações que o autor de Uria Simango – um homem, uma causa, lhe dirigiu a propósito do seu envolvimento directo em todo o processo que culminou na execução sumária do vice- presidente eleito da Frelimo, é disso prova.
Em vez de rejeitar a acusação sem rebuços, Sérgio Vieira recorreu aos habituais epítetos, mas com uma novidade: agora, os que pensam por si próprios e recusam a “verdade oficial” passam também a ser considerados de “bêbados”, não necessitando, para isso, de passar pela triste figura de Sérgio Vieira num restaurante muito chique da Julius Nyerere no decurso dum repasto bem regado com os “xaropes” das marcas mais sonantes, e, como que a acamar a fausta merenda com que acabara de se locupletar, os digestivos da praxe.
As testemunhas são várias, e o próprio visado deixou as pegadas no livro de reclamações que autoritariamente, e com uma voz já a arrastar sob os vapores de Baco, solicitou ao gerente do estabelecimento em causa pelo simples facto do empregado de mesa ter servido azeite italiano, e não do português; “o de oliveira”, como soi dizer-se.
Saudades do outro Oliveira, o tal que também era ditador?

A propósito de “Uria Simango”

vertical nº 623 de 29.07.2004
(Maputo) A propósito do recente lançamento do livro “Uria Simango: Um homem, uma causa”, as reacções que têm vindo a surgir, já pouco antes do seu lançamento, terão que ser, à medida, calculadas pelo próprio autor, pois, segundo ele mesmo, nunca se assumiu como um historiador no verdadeiro sentido do termo.
Barnabé Lucas Ncomo defende que, apesar de ter algumas ferramentas necessárias para um historiador, a sua obra, como qualquer outra obra histórica, contém uma verdade relativa. É que, segundo Barnabé Ncomo, quando se escreve no momento em que se vive, tendo como base os próprios protagonistas, a história torna-se uma fabulação controlada. Indagou-se: “o que seria da memória histórica em si, se essas pequenas verdades repousam sobre fabulações controladas?”.
Motivado pela pré-concepção da ocorrência de um erro hsitórico, Ncomo concluiu que o que importa, neste momento, após a almejada publicação da obra, é que as pessoas se mudem de todas as verdades relativas de modo a que cada um vislumbre nessas pequenas verdades aquela que mais se aproxima à realidade de vida.
O autor da obra sobre Uria Simango pretende, através dela, contribuir para que aqueles a quem couber a missão de reescrever a história do nosso País, tenha dados capazes para conduzir a verdadeira história. O autor deixou ficar uma nota: “É natural que algumas pessoas considerem tratar-se de 400 páginas de lixo se tivermos em conta que estamos num conflito de memória colectiva. Contudo, antes de atirá-lo aos caixotes de lixo, da obra recomendo que seja explorado o que é reciclável”.
Falando por ocasião da cerimónia de lançamento oficial, que contou com a participação de destacados membros da Renamo, entre figuras proeminentes da sociedade civil, Barnabé Ncomo disse acreditar que muitas das perguntas que a muitos tem apoquetado ao longo dos últimos anos podem encontrar pequenas respostas no seu livro.
Na ocasião, o autor afirmou que “não é um livro de história, mas talvez um livro de história da historia. É apenas uma contratese de um Uria Simango reaccionário e traidor. Procura demonstrar a dimensão de um homem não só no contexto da luta de libertação nacional, como o seu protagonismo no mesmo contexto. Provar que Simango não só nunca foi um perigo para a independência do País, como também provar que os seus detratores terão falhado no processo da construção de bases sobre as quais se assentaria a construção da moçambicanidade”.
O autor advertiu que, a história da libertação de Moçambique “supera a imaginação de todos”, justificando-se pelo facto dele próprio ter ficado “estupefacto” com as conclusões a que chegou. E, além do mais, segundo ele, para se compreender o que se passou, “é preciso ir para além do que os olhos viram e do que os ouvidos ouviram”.
Citando um conceituado pensador italiano, Barnabé Ncomo, bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM), actualmente a fazer licenciatura em Administração Pública na mesma universidade, frisou: “O fenómeno conhecer não se resume apenas na constatação do facto. É saber explicá-lo e a explicação de qualquer coisa faz- se apelando as suas causas. Ou seja, o conhecimento tem de ser procurado no conhecimento da produção ou na reprodução do processo causal”.
“Certamente que alguns dirão que este homem não é neutro e que este livro não tem nada de científico. Aceitarei todas as críticas. Mas, a neutralidade de um processo de construção de uma memória colectiva estaria em função de que? Da inexistência da dor no pesquisador? Ou estaria em função da cegueira auto-assumida? Nem mesmo a distância que separa do facto acontecido do seu relato pelo pesquisador pode garantir justiça na memória histórica se a história se basear apenas em manuais oficiais escritos num contexto de conflito da memória colectiva”, rematou Barnabé Lucas Ncomo, numa das suas alocuções.
(A. Nenane e A. Oliveira)

27-06-2004

MANIPULAÇÕES POLÍTICAS DIFICULTAM DIVULGAÇÃO DA HISTÓRIA

Da luta de Libertação Nacional
MANIPULAÇÕES POLÍTICAS DIFICULTAM DIVULGAÇÃO DA HISTÓRIA
•Dizem antigos combatentes por ocasião de 25 de Junho
•E governo queixa-se de falta de meios financeiros
Discursos pouco abonatórios de certos políticos sobre a história da Luta de Libertação Nacional são considerados como estando a comprometer a sua divulgação de forma isenta e transparente, em benefício das novas e futuras gerações.
Cidadãos entrevistados por ocasião do 29º aniversário da Independência Nacional, que hoje se assinala, responsabilizaram a Frelimo e a Renamo pelo alegado desentendimento nas interpretações de todas as datas moçambicanas.
Da forma como as datas são interpretadas pelos nossos políticos não nos permite que ensinemos aos nossos filhos acerca da sua importância. Disse um académico.
Por seu turno, Pedro Fernandes, um quadro sénior do Ministério Ministério da Educação é da opinião que os partidos deveriam continuar a trabalhar no sentido de consolidar a paz. Para Fernandes, Moçambique soube conquistar a sua independência política, reafirmando um país soberano.
Entretanto, Robero Saíde, director provincial dos Assuntos dos Antigos Combatentes, afirma não haver condições financeiras para garantir a divulgação efectiva da história.
Em Nampula, várias actividades culturais e recreativas tiveram lugar durante a semana em todos os bairros desta cidade sob a coordenação da Direcção Provincial dos Assuntos dos Antigos Combatentes.
WAMPHULA FAX - 25.06.2004

12-06-2004

CAMPO DE REEDUCAÇÃO DE MITELELA OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO?

DEMOS - Dezembro 2003
CONFIDENCIAL
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: joaocraveirinha@yahoo.com.br
DOSSIER 10
CAMPO DE REEDUCAÇÃO DE MITELELA OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO?
(VAE VICTIS – AI DOS VENCIDOS!)
3ª Parte (Fim da 1ª Fase)
Em 1975 – Novembro (?!), João Craveirinha e mais elementos são transferidos (detidos) de Nachingueia (Tanzânia) para Niassa oriental, via Lago. São enviados para o campo de concentração da FRENTE em Mitelela, no antigo quartel português de Nova Viseu, deixado pelos militares lusos, todo minado ao redor e com garrafas partidas enterradas nas instalações. Entre os detidos e transferidos encontravam-se muitos nomes conhecidos do nacionalismo africano como Adelino Guambe fundador da FRELIMO, o reverendo Uria Simango, sua esposa Celina, Paulo Gomane, Narciso Inbule, antigos comandantes de élite entre eles, Pascoal Almeida Nhapulo, Pedro Simango (2), Januário Napulula e Chéés-padres muçulmanos (sheiks), curandeiros, etc. Entre os presos, ainda, Lázaro Kavandame, Verónica, o ex-representante da Frente no Cairo, Judas Honwana, o médico Dr. João Unhai(Unyai), o engenheiro Marqueza, o Prof. Dr. Kambeu de Direito Internacional, a Dra. Joana Simeão da FRECOMO (anteriormente do GUMO do Dr. Máximo Dias), o primo de 1º grau do Prof. Dr. Eduardo Mondlane – Pedro Mondlane, e muitos outros. O campo de Mitelela de máxima segurança encontrava-se numa região lamacenta muito isolada e de fauna bravia – leões, leopardos, elefantes, cobras. Os felinos e as cobras eram “visitas” normais. No campo encontravam-se também, antigos agentes moçambicanos da Pide como Leonel Soleimane Motty, o 1º em Moçambique (1972), a ter uma empresa privada de segurança com uma rede bem montada nas principais empresas e 3 “chóferes” privados à disposição e respectivas viaturas novas. Leonel Motty, natural de Quelimane, provinha da Polícia Judiciária onde se formara em Lisboa e tinha acesso aos arquivos da PIDE na Casa Algarve em Lourenço Marques. Acumulava com a tarefa de Inspector do Trabalho e de empresário de ligações com as representações da Volkswagen e da BMW. Teve tempo e dinheiro para fugir para a África do Sul, mas ingenuamente, ofereceu-se para trabalhar para a FRELIMO em 1974. Muito mais tarde, prisioneiro com tuberculose e maus-tratos, sucumbiria em Niassa nos anos 1980 (?!). Talvez, L. Motty, pensasse nos chefes da Gestapo alemã de Hitler que se ofereceram para trabalhar para os russos em Moscovo na iminência da queda do 3º Reich em 1945. É o caso do director Müeller da mesma polícia secreta nazi. Não só seria poupado como integraria os serviços secretos soviéticos, na formação. Os russos aproveitaram a sua experiência. Existe uma cultura comum nas polícias secretas a serviço de qualquer poder político. São instrumentos e a experiência conta. Da rede piramidal total, montada por Motty em Moçambique, quem poderá saber se eventualmente muitos desses elementos que nunca seriam detectados, teriam integrado os grupos dinamita…dores, digo, dinamizadores de tão triste memória da Frelimo? Quiçá alguns poderiam ter subido na hierarquia da própria estrutura política de bairro da Frelimo aos dias de hoje. A muito longo prazo – o acesso a serem empresários de sucesso, mostrando a verdadeira face, renegando a Frelimo que lhes deu o ”escadote” para subirem e quem sabe à custa de acusar os outros de serem reaccionários, na era de Samora Machel, enviando-os aos fatídicos campos de “reeducação”? Era preciso mostrar serviço para serem de confiança política. Poderá estar aí o embrião da conspiração e do oportunismo actualmente patente no nosso país!
A terminar esta 1ª fase dos DOSSIERS CONFIDENCIAIS coloca-se uma questão de fundo: Sempre houve infiltrações (ou tentativas) descobertas na Frelimo e em qualquer Movimento de Libertação e em toda a História da Humanidade sempre houve e haverá espionagem no campo do inimigo. Mas a questão de fundo é maior. Saber se a nível da cúpula, na Frelimo, terá havido uma Grande Toupeira ou várias?
A PIDE, em Lourenço Marques, na Costa do Sol, queimou todos os nomes, dados, e documentação dos seus arquivos, no campo de futebol do Benfica de LM, hoje CDCS. A Torre do Tombo não tem esses dados. Há só indícios. Havia um grande infiltrado ou mais a nível da cúpula? Mas quem? E que percurso? Chegaram a ministros e a membros do Comité Central? Estiveram entre os 10 mais poderosos de Moçambique na era de Machel? Se existiram, agora aonde andarão esses super agentes da PIDE? Serão empresários ou deputados ou ministros? Presumo que para sempre será um mistério!
E sobre, João Craveirinha, PRESO POLÍTICO (voluntário), na FRENTE de LIBERTAÇÃO, em Nachingueia(Nachingwea) e Niassa…Um dia, será contada e publicada a história depois da sua morte! ●

NA FRENTE DE LIBERTAÇÃO - A CLARIFICAÇÃO TOTAL

TRIBUNA Dia 5 Dezembro 2003
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: craveirinhajoao@mail. pt

ARQUIVOS IMPLACÁVEIS(7)
NA FRENTE DE LIBERTAÇÃO - A CLARIFICAÇÃO TOTAL
O Hospital da Frente de Libertação encontrava-se localizado no sul de Tanzânia, em Mutuara (Mtwara), na direcção de Cabo Delgado, região nortenha de Moçambique para além do rio Rovuma. Nesse Hospital em situação anterior à sua expulsão (1968), o médico Hélder Martins, “ in extremis”, seria salvo por Manuel dos Santos (de Tete), de uma iminente agressão de uns guerrilheiros (muito irritados) de Cabo Delgado que se encontravam a receber tratamento de ferimentos em combate, por não aceitarem alta hospitalar e as ordens de regresso ao interior dadas pelo médico e responsável da Saúde da Frente, Hélder Martins. Estaria (entre outros) criado o cenário propício para as expulsões à posteriori depois dos distúrbios, de Maio de 1968, no escritório da Frente em Dar-es-Salaam e da revolta dos estudantes no Instituto Moçambicano em “Kurassini”. No entanto, muito após o assassinato de Eduardo Mondlane (1969), seria rectificada a situação com a autorização do regresso pela parte tanzaniana.
Provisoriamente uma “troika” substituiria Mondlane: - Samora Machel, Marcelino dos Santos e Uria Simango que se antecipara evocando os estatutos e distribuíra cartões de visita com o título de “acting President” – Presidente em exercício até às eleições do Congresso. Os acontecimentos precipitam-se. Uria Simango sente-se inconfortável ladeado pelos seus pares e tenta “ dar a volta” em vão. Encontra-se “espartilhado” sem margem de manobra. Seus apoiantes declarados são detidos ou o abandonam mudando de campo. Os detidos enviados a Cabo Delgado são executados depois de torturados na Base Central. Entre eles o tesoureiro da Frente de Libertação – Silvério Nungo; - A 18 de Julho de 1969 seria torturado (ainda mais), durante toda noite até ao amanhecer. Devido às coronhadas de espingarda recebidas na cabeça estas provocariam fracturas expostas, com partes abertas do crânio, por onde escorreria líquido da matéria encefálica, conduzindo-o, a uma morte lenta e muito dolorosa, debaixo de soluços roucos infra – humanos, de dor. Seria morto depois de uma agonia de cerca de 8 dias até a essa fatídica noite.
Em finais de 1969, o reverendo Uria Simango, distribui um Manifesto de 13 páginas intitulado “Gloomy Situation in Frelimo” – Situação Tenebrosa na Frelimo, onde acusa os seus camaradas e a viúva de Eduardo Mondlane, Janet. É a gota de água que transborda o copo. Em Novembro de 1969, Uria Simango é oficialmente expulso da Frente de Libertação. Após ouvir o reverendo U. Simango, o preocupado Presidente Nyerere, não intervém. A situação torna-se insustentável em Dar-es-Salaam para Uria Simango. Refugia-se no Cairo – Egipto onde (re) adere a uma nova Udenamo e posteriormente à COREMO – Comité Revolucionário de Moçambique, fundada em 1965 em “Lussaca” – Zâmbia. A Coremo, presidida por Paulo Gomane, combatia o exército português em Tete com o apoio da Zâmbia, China Popular e de elementos sedeados nos Estados Unidos. Era um movimento oficialmente pró-maoísta mas contraditoriamente de ligações norte-americanas. Colaborava com o PAC da África do Sul, a UNITA de Angola, ZANU da Rodésia e SWANU da Namíbia. (Uria Simango surgiria em Moçambique depois de Junho de 1974).
Em finais de 1969, Samora Machel, admirador confesso do maoísmo, passa a presidir abertamente à Frelimo e o veterano Marcelino dos Santos, relegado para segundo plano, é o vice-Presidente.
Tem início uma nova era na Frente de Libertação de Moçambique.■■■

ENFº BALTAZAR CHAGONGA

TRIBUNA
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: craveirinhajoao@mail. pt

ARQUIVOS IMPLACÁVEIS (1)
ENFº BALTAZAR CHAGONGA, HERÓI ESQUECIDO e CO-FUNDADOR da FRELIMO
Nesta nova Coluna periódica no CORREIO da MANHÃ a partir da “minha TRIBUNA”, inicio uma série de comentários sobre a consulta feita a arquivos e de testemunhos pessoais relacionados com a luta anti-colonial dos moçambicanos contra o colonialismo português…Iniciamo-la com um dos fundadores da Frente comum de Libertação de Moçambique…Trata-se do Enfermeiro “Baltazar Chagonga” nascido na cidade de Tete em 6 de Janeiro de 1905 e falecido em Maputo em 25 de Setembro de 1988. Outro Herói do nosso tempo…
Foi preso político da PIDE em Lourenço Marques depois de raptado em Malaui em Março de 1965 para Milange na Zambézia… Em Junho de 1974 era enfermeiro no Posto de Socorros nº 2 da Soberana Ordem de Colombo no bairro da Munhuana. Este Posto como muitos outros de solidariedade social no campo da saúde pública, seriam extintos ou nacionalizados pela Frelimo ao tomar o poder. Chagonga em 1961 foi um dos líderes das manifestações anti-coloniais em Tete contra as brutalidades e torturas praticadas pelos administradores coloniais portugueses sobre as populações, em particular a do Administrador do Concelho de Moatize, Edgar Nazi Pereira, cronista na Rádio Clube de Moçambique. Várias décadas mais tarde deixaria escrito o livro “Mitos, Feitiços e Gente de Moçambique”, editado em 1998 pela Caminho de Portugal associada da Ndjira de Maputo. Na altura o seu nome escrevia-se Nazi com Z. Depois do 25 de Abril de 1974 mudou para Nasi…”Mudam-se os tempos mudam-se as vontades – O Tempora – O Mores”…Lá dizia o velho advogado romano, Marco Túlio Cícero, muitos anos antes de Cristo.
Voltando a “Chagonga” este seria preso em 1961 em Moatize – Tete e libertado por ordem do Governador-geral. Funda na clandestinidade em Tete a UNAMI – União Nacional Africana de Moçambique Independente… Continua a ser perseguido pelo administrador Nazi Pereira. Foge para a então Niassalândia onde é protegido pelo médico e líder político – Inguazi, Dr. Kamuzu Banda, futuro Presidente do Malaui da ex- Niassalândia…Ainda em 1961 é enviado por Banda a Dar-es-Salaam …Note-se Malaui (Malawi), Zâmbia e Tanzânia ainda não estavam Independentes… Os líderes nacionalistas de Tanzânia – Julius Kambarage Nyerere e Rashid Kauaua(Kawawa), da TANU, instalam-no no Princess Hotel. Na cidade de Dar-es-Salaam instalar-se-iam outros movimentos políticos de Moçambique : - a UDENAMO de Adelino Guambe e de Machuza (Mahluza), fundada na Rodésia (gente do centro – sul de Moçambique) e a MANU de predominância maconde de Mola e Vanomba de ligações a Tanzânia e a Mombaça – Quénia. Dos três, a UNAMI era o único movimento político fundado em Moçambique e na clandestinidade. Em 1962 Chagonga e outros nacionalistas moçambicanos assistem à Conferência da PAFMECA em Adis- Abeba, na Etiópia do Imperador Hailé Selassie. Orientou a Conferência o então secretário-geral Mbyu Kuinangue. Após a reunião Baltazar Chagonga e outros nacionalistas regressam a Dar-es-Salaam…A PAFMECA era a Pan – African Freedom Movement for East and Central Africa …é mais ou menos isso – Movimento Pan – Africano de Libertação da África Central e Oriental...mais tarde da África Austral…No início era composto por Tanganhica(Tanganyika), Quénia, Uganda, Rodésia do Norte(Zâmbia) e Niassalândia( Nyasaland – Malawi)…De Moçambique além da UNAMI de Chagonga tínhamos a UDENAMO – União Democrática NAcional de Moçambique e a MANU – posteriormente Mozambique African National Union antes MAkonde National Union…decalque da TANU de Tanganhica anterior à Independência de 09.12.1961. No ano seguinte, em 25 de Junho de 1962 é criada a FRE.LI.MO em Dar-es-Salaam. O Uganda Independente em 09.10.1962…Zanzibar a 10.12.1963. Fusão de Tanganhica com Zanzibar em 27.04.1964 passando a Tanzânia. Malaui Independente em 06.07.1964 e a Zâmbia a 24.10.1964…
O Enfermeiro independista, José Baltazar da Costa, conhecido por Chagonga – outro Herói esquecido pela história moçambicana, assistiria como observador convidado a 3 dessas Independências africanas – a do Tanganhica; do Malaui e da Zâmbia que seriam muito importantes para o futuro de Moçambique… □□□

11-06-2004

Assassínio de Eduardo Mondlane

pidedgscapa1... Em Moçambique, António Vaz, responsável da Delegação, confirma que a PIDE/DGS «possuía uma muito razoável rede de informadores no seio da FRELIMO...»}63. Novos exemplos o demonstram. Em 1969, numa informação classificada de «totalmente segura» faz-se um inventário das armas existentes no armazém da FRELIMO, em Mitomani164. Em 1974, um informador dá conta da chegada a Dar-es-Salam de «armas mais potentes que o foguetão de 122 mm»165. A polícia desconfia que seja o míssil Strella, o que será confirmado166. Ainda um último exemplo: as circunstâncias que conduziram ao assassínio de Eduardo Mondlane.
Sabe-se hoje quem fabricou e enviou a bomba que vitimaria o presidente da FRELIMO. Terá sido Casimiro Monteiro, segundo acusação de Rosa Casaco167, secundado por Oscar Cardoso168. Mas ficamos sem saber quem informou a PIDE de que Mondlane encomendara uma «tradução francesa das Obras Escolhidas do célebre marxista russo George V. Plekhanov»169 e onde a encomendara. Sabe-se, apenas, que dificilmente se encontraria aquele autor e aquela versão linguística numa livraria portuguesa.
O inspector-adjunto da PIDE-DGS, Oscar Cardoso, tão parco noutro tipo de informações, tem neste caso o cuidado de afirmar que Casimiro Monteiro «teve a colaboração do chefe de segurança do Mondlane, o Joaquim Chissano, actual Presidente da República de Moçambique»170®. Tratar-se-á de uma provocação. Contudo, persiste a interrogação:
- Quem, dentre os elementos próximos do presidente e da direcção da FRELIMO, informou a PIDE?
O mais provável é que tenha sido Silvério Nungu, que adiante identificaremos. Nungu foi preso quando tentava fugir para Moçambique e teria morrido em resultado de uma greve da fome. A hipótese foi avançada pelo jornalista inglês David Martin, correspondente em Dar-es-Salam do jornal The Observer171. Uma coisa é certa. Tinha de ser alguém perto do presidente da FRELIMO. Mas voltaremos a falar de tudo isto no capítulo consagrado às operações, quando abordarmos mais em pormenor o assassínio de Eduardo Mondlane...
1.2. Assassínio de Eduardo Mondlane
Tentemos, agora, fazer luz sobre o assassínio de Eduardo Mondlane, presidente da FRELIMO.
1.2.1. O crime
Na manhã do dia 3 de Fevereiro de 1969, em Dar-es-Salam, Eduardo Mondlane, presidente da FRELIMO, morre, quando abria uma encomenda armadilhada contendo «a tradução francesa das Obras Escolhidas do célebre marxista russo George V. Plekhanov»23. A explosão ter-lhe-ia decepado as mãos e separado o tronco em duas partes24.
1.2.2. Cortinas defumo
Polícias e membros do regime lançam cortinas de fumo, tendentes a desviar a atenção dos verdadeiros criminosos:
O inspector Gomes Lopes, chefe da Subdelegação da PIDE/DGS na cidade da Beira, declara a um jornalista norte-americano: «Ou os russos planearam o assassinato ou se tratou duma engenhosa armadilha montada pêlos chineses»25.
O engenheiro Jorge Jardim, por seu lado, afirma que Hastings Banda, do Malawi, atribuíra a morte de Mondlane a «manobras dos agentes da China»26.
Finalmente, o professor Silva Cunha, membro dos Governos de Salazar e de Caetano, declara que ao regime interessava mais Mondlane do que Machel à frente da FRELIMO. A mesma versão seria avançada por António Vaz, chefe da delegação da PIDE em Moçambique, para quem Mondlane era o «menos mau»2'1.
1.2.3. A verdade sobre o crime
Segundo Geoffrey Sawaya, chefe dos serviços secretos da Tanzânia, no livro bomba teria sido usado material explosivo fornecido por uma empresa japonesa à Casa Praff, sita no n° 5 da rua Joaquim Lapa, em Lourenço Marques. E a PIDE teria sido ajudada no seio da FRELIMO, por Lázaro Nkavandame e por Silvedo Nungu. Nungu fora secretário administrativo do Comité Central, eleito no 1° Congresso da FRELIMO, sendo igualmente assinalada a sua presença na Direcção do Departamento de Informação e Propaganda, ao lado de Pascoal Mucumbi28. Ao que parece, morreu na prisão em resultado duma greve da fome29.
O jornal The Observer, de 7 de Fevereiro de 1972, atribui à PIDE/DGS as responsabilidades pelo crime. E declara que a polícia tanzaniana tinha como suspeitos e colaboradores da polícia portuguesa Lázaro Nkavandame e Silvério Nungu, detido quando tentava fugir para Moçambique30.
O jornal The Sunday Times, num artigo publicado em 20 de Janeiro de 1975, refere, pela primeira vez, o envolvimento de Casimiro Monteiro no crime31.
A espionagem italiana do Servizio Informatione Difesa (SDI) atribuiu o crime a uma rede envolvendo a PIDE e a AGINTERPRESS, o engenheiro Jorge Jardim, Uria Simango e Robert Leroy, espião em Dar-es-Salam. O autor material teria sido Casimiro Monteiro32.
Segundo testemunho do chefe de redacção do Notícias da Beira, o engenheiro Jorge Jardim compareceu na redacção no dia do atentado (facto, ao que parece, inédito) e aguardou várias horas pela chegada duma «.importante notícia», precisamente a notícia do atentado que vitimou Eduardo Mondlane33.
O inspector Rosa Casaco, em entrevista ao Expresso, assegura:
«Quem montou a carta foi o Casimiro Monteiro, parece que a mando do António Fernandes
O próprio filho de Casimiro Monteiro, em testemunho prestado à RTP, afirma ter sido o pai quem esteve por detrás da não desvendada morte do então presidente da FRELIMO35.
Oscar Cardoso, antigo responsável da PIDE/DGS, declarou em entrevista publicada:
«A carta armadilhada, que provocou a morte de Eduardo Mondlane, foi preparada por Casimiro Monteiro, que era de facto um grande especialista em explosivos. Mas o Casimiro Monteiro não agiu sozinho, teve a colaboração do chefe de segurança de Mondlane, o Joaquim Chissano, actual Presidente da República de Moçambique»^
Descontada a previsível provocação de quem foi instrutor da RENAMO, fica mais uma confirmação do papel de Casimiro Monteiro no crime. De resto, também o antigo operacional da CIO rodesiana, Henrick Ellert, atribui o assassínio a Casimiro Monteiro37. E o falecido marechal Costa Gomes garantiu que «quem matou o Mondlanefoi a PIDE»^.
Assim, todos os dados carreados parecem suficientes para concluir da responsabilidade da PIDE/DGS no assassínio de Eduardo Mondlane. Afigura-se, também, indubitável ter sido Casimiro Monteiro o autor material do crime. Já os instigadores são mais difíceis de discernir, embora pareça claro ter havido intervenção do chefe da delegação António Vaz e do engenheiro Jorge Jardim.
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Deputado brasileiro culpa herança portuguesa

FranciscoTurraNa «Voz do Brasil»
Deputado brasileiro culpa herança portuguesa
2004-06-08 05:09:23
São Paulo - Francisco Turra, deputado da Câmara Federal de Brasília, eleito pelo Partido Progressista (PP) do Estado do Rio Grande do Sul, culpou a «herança lusitana pelas distorções na administração pública, que prioriza interesses políticos e coloca pessoas despreparadas em cargos de confiança». As declarações, proferidas no programa radiofónico «Voz do Brasil» no passado dia 1 de Junho, causarem indignação no seio da comunidade portuguesa e luso-descendente em todo o Brasil.
O advogado Paulo Porto Fernandes, radicado na capital paulista, dirigiu uma carta ao parlamentar lamentando o ocorrido. «Gostaria de lamentar que o senhor possa ter uma visão tão restrita e vestida de preconceito ao fazer tal afirmação. A comunidade portuguesa e os seus descendentes, que herdaram a dignidade, a honra e o respeito de seus ancestrais portugueses (onde me incluo, pois sou filho de português e actuo na comunidade prestando assessoria aos carentes), sente-se profundamente ofendida mediante tal afirmação. Está na hora de, nós brasileiros, fazermos uma 'mea culpa' e assumirmos de uma vez por todas nossos erros ao invés de culpar os outros, afinal de contas já se passaram séculos e a desculpa continua a mesma», escreve o jurista.
O Jornal Digital tentou contactar Francisco Turra em Brasília sem sucesso. A informação foi de que o deputado encontrava-se em trabalho numa das Comissões que integra.
EM
(c) PNN - agencianoticias.com


«Lamentável distorção» diz Francisco Turra
Deputado brasileiro esclarece polémica sobre «herança lusitana» 

2004-06-10 09:16:53
Brasília - O deputado federal Francisco Turra eleito pelo Partido Progressista (PP) do Estado do Rio Grande do Sul, em contacto com a delegação do Jornal Digital no Brasil, disse que o locutor do programa radiofónico «Voz do Brasil», no último dia 1 de Junho, distorceu as suas palavras contidas num discurso proferido no dia 31 de Maio na Câmara dos Deputados.
«Inicialmente declaro meu incondicional apreço ao povo lusitano, especialmente àqueles que adoptaram este nosso Brasil como sua terra. Nossa cultura nacional é repleta de aspectos originários dos colonizadores portugueses e isto é motivo de orgulho, pois somos herdeiros, isto sim, de uma das mais grandiosas e inovadoras civilizações que se tem registro no mundo. Portugal foi pioneiro em muitas frentes: o primeiro Estado Nacional da era moderna; o principal desbravador dos mares e descobridor de novas terras; e inovador na organização de uma administração pública de maior grau de complexidade», afirmou o parlamentar.
«Foi apenas sobre este último aspecto citado que fiz referência em meu discurso. Afirmei que na formação de sua monarquia, nos séculos XIV e XV, a então modesta extensão territorial portuguesa fez com que a definição de títulos de nobreza estivesse vinculada à ocupação de cargos públicos hereditários, e não pela concessão de terras, como predominou posteriormente na França, Inglaterra e Espanha, que se mantiveram por mais tempo enraizadas no modelo medieval. É claro, na sua posição pioneira, os portugueses não tinham um exemplo a seguir, sendo obrigados a desenvolver suas próprias experiências ante a uma administração pública, cuja complexidade crescia na mesma rapidez da expansão do Império. Evidentemente, o risco de erro dos pioneiros é sempre maior. Na verdade, uma das melhores qualidades da humanidade talvez seja exactamente a de aprender com os próprios equívocos», esclareceu.
«Minha crítica foi centrada no fato de que o Brasil está há menos de duas décadas de completar dois séculos como país independente e ainda não modernizou os conceitos mais básicos de administração pública. Minha crítica naquela oportunidade foi dirigida a nossa ética de gestão, o que nada tem a ver com Portugal, uma Nação que actualmente está caminhando rapidamente para padrões de bem-estar sócio-económico equivalentes aos mais ricos países europeus. O que me causa indignação é que o modelo brasileiro de administração estatal ainda insiste em fechar os olhos para as suas próprias verdades. A meu ver, as questões a serem resolvidas são de cunho ético. E isto, evidentemente, nada tem a ver com o grandioso legado da civilização portuguesa. Culpar a cultura portuguesa pelos nossos próprios equívocos seria imperdoável e, tenha certeza, tal procedimento jamais faria parte de minha conduta política», acrescentou Francisco Turra.
O deputado conclui a sua missiva pedindo desculpa por este lamentável mal-entendido e coloca-se à disposição de todos os componentes da comunidade lusa no Brasil para os esclarecimentos que forem necessários.
E. M.

(c) PNN - agencianoticias.com


09-06-2004


DEMOS(Maputo)
19 de Maio de 2004
Para as gerações mais jovens, educadas num ambiente em que com devoção se cantava: "Simango,reaccionário..." a obra de Barnabé Lucas Ncomo é verdadeiramente o resgate de uma figura histórica deste país. Com efeito, "Uria Simango: Um homem, uma causa" é, uma obra: que estava a faltar ao imaginário político moçambicano. Aliás, quando colocado face desta imagem tão sinuosa quanto emblemática, uma das questões que se erguem é de saber se estamos perante um herói ou perante um mercenário.
Relegado para a condição de reaccionário, Simango, hoje resgatado por Barnabé Lucas Ncomo, começou a despertar interesse enquanto tal através de um questionamento suscitado pela interrupção do som de
uma emissão televisiva alusiva aos vinte anos da morte de Eduardo Mondlane. Ia Janeth Mondlane a dizer que, antes da sua morte, todo o povo moçambicano saberia quem matou Mondlane descartando a teoria
que liga o pastor Simango ao assassinato do primeiro presidente da Frelimo, quando houve corte do som por um período suficientemente longo e não seguido de alguma explicação como sempre acontecia.
Muito mais recentemente Mahluza, o homem que se apresentou como quem sugeriu o nome FRELIMO para o movimento de libertação, afirmaria de boca cheia uma espécie de heroísmo para a mesma figura.
A obra de Ncomo apresenta-se como algo de particularmente impressionante na medida em que em quase quinhentas páginas, o autor nos conduz no meio de um ambiente obscuro e proibido à busca do um Simango reinterpretado e, através de um percurso histórico resgata a figura histórica.
Sem se preocupar pelo rigor científico, vai a busca da verdade e não teme deixar questões em aberto, como foi o caso da data e circunstâncias da sua morte.
Por outro lado, mesmo sem sucumbir ante a dificuldade de discernir um pensamento simanguiano vai mostrar o caminho tortuoso e difícil da formação e desenvolvimento da Frente. Mais do falar em consensos,
ele mete em evidência as várias tendências que era necessário fazer convergir.
Nas linhas que se seguem Demos transcreve alguns excertos da obra.
MORTO EM DATA E LOCAL INCERTO
Difícil estabelecer com exactidão as datas. O certo é que em dia impreciso do período que vai de Maio de 1977 a Junho de 1980, durante o mandato do então governador da província do Niassa, Aurélio Benete Manave, M'telela acolhe no seu solo o que resta de um homem que muito fez para a libertação de Moçambique. O Rev. Uria Timóteo Simango era barbaramente assassinado na companhia de outros
moçambicanos tidos como reaccionários pelo regime totalitário da Frelimo.
O acto, executado dentro do secretismo que caracterizava as hostes do poder político em Moçambique, só viria a tornar-se público cinco anos mais tarde com a fuga para a Africa do Sul de um destacado
membro do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular) e pela voz da Resistência Nacional Moçambique.
DISCIPLINA PARTIDÁRIA
A primeira tentativa de se conciliar ideias a volta do assunto nas hostes do. poder a politico em Maputo ocorre em1980 quando o Comité Politico Permanente da Frelimo ensaia a intenção de informar o país
e o mundo sobre o destino de Simango. De certa forma ao que tudo indica, essa tentativa criou algumas desinteligências no seio do próprio partido no poder, pois um considerável número de membros da
cúpula daquele partido não terá aceite pactuar com a farsa de que se pretendia forjar.
Desde então, a Frelimo tem-se esforçado por apresentar o caso como encerrado, visto que o plano denominado Código Namuli, conforme mais adiante se verá, não seria levado avante.
O que se sabe sobre a morte de Uria Simango e seus companheiros gira em torna informações colhidas junto de pessoas que de M'telela escaparam com vida mantendo-se o silêncio dos mandantes e dos
executores directos do acto. Tudo leva a crer que houve um pacto entre a classe dirigente, consubstanciado a disciplina partidária.
Segundo assevera o então governador Manave:
"Uma das características da Frelimo é a disciplina e o sigilo partidários. Ninguém está autorizado a tocar na questão Simango senão os que têm autoridade. Eu, como indivíduo singular, não tenho essa autoridade. Houve um juramento de sigilo à volta da questão e apenas a quebra oficial desse juramento poderá libertar os pactuantes para falarem do assunto. Duvido que algum dia isso aconteça. A maioria dos pactuantes está viva e acho que mesmo com a garantia de se manter seus nomes no anonimato, dificilmente podem
dizer algo sobre a figura de Uria Simango.
Conheci Simango e com ele convivi durante muitos anos. O que posso dizer e apenas que aquando da captura dos reaccionários em 1974 eu era o Comandante do Campo de preparação político-militar de
Nachingweia, para onde foram conduzidos esses reaccionários. Todos eram humanamente tratados e nunca torturámos alguém. Fui igualmente o governador de Niassa até 1983, altura em que de lá saí para
cumprir outras tarefas que me confiaram. Nada mais posso acrescentar, senão isso. (Aurélio Benete Manave).

NÃO HÁ RAZÃO PARA TAL
Sintomático do receio e terror psicológico que a questão provoca nos então detentores do poder político em Moçambique, passados que são décadas do silêncio absoluto, e a indisponibilidade mostrada por alguns em abordar com profundidade a "questão Simango". Tal é o caso de Óscar Monteiro, um nome sonante da vida nacional moçambicana após independência. Monteiro afirma que apesar de ter conhecido Simango, conviveu pouco tempo com ele, pois cedo passou a representante da Frelimo em Argélia, o que, de certo modo, o impediu de o conhecer com profundidade. Pouco adiantou sobre o homem. Contudo reconhece
ter tido alguns contactos com o Reverendo no contexto da luta armada de libertação nacional. Nada mais acrescentou, porque "ando muito ocupado e não sei quando é que terei disponibilidade para falarmos
disso." (Óscar Monteiro) Apesar da insistência do autor, visando marcar uma entrevista para outra ocasião, Monteiro pouco interesse mostrou em abordar o assunto. Todavia, Monteiro aparecera mais tarde
a lamentar-se do fim que tiveram Os presos de M'telela dizendo que não se devia ter feito uma tal coisa, pois "não havia razão para isso" (Óscar Monteiro)

O EMBARAÇO DE CHISSANO
Joaquim Chissano, que subira ao trono depois da: morte de Samora Machel em Outubro de 1986, num comício em Maputo a 9 de Janeiro de 1990, igualmente denotando perturbação, em resposta a uma questão sobre os presos políticos levantada na ocasião por um cidadão Zebedias Jaime Machava, viria sub-repticiamente a confundir a questão que lhe era colocada. Estava-se no auge da paz, e uma amnistia em favor dos chamados "bandidos armados", e os considerados "traidores da Pátria", havia sido decretada.
Corajosamente, e em resposta ao apelo formulado por Chissano para que as pessoas naquele comício apresentassem livremente as suas preocupações, implicitamente, Machava levantou a questão de Simango
e outros presos de consciência, tendo-se estabelecido então com o presidente um estranho diálogo nos seguintes termos:
(Machava) Chamo-me Zebedias Jaime Machava. Eu vim aqui para poder apresentar algumas questões que sinto. Eu tenho acompanhado passo a passo a evolução política do nosso país, do nosso partido, e tenho
também acompanhado as iniciativas do nosso governo no sentido de estabelecer a paz neste país. E também queria aproveitar esta oportunidade para poder exprimir o meu sentimento perante os membros
do governo, os membros do Bureau Político e membros do partido para poder fazer chegar essa preocupação que eu tenho.
O governo da República Popular de Moçambique procedeu a uma amnistia aos bandidos armados. Essa amnistia abrange todos aqueles que estão a matar. Os que foram os primeiros que ainda permaneciam no
banditismo armado beneficiam dessa lei quando vieram se entregar voluntariamente, e quando abandonaram a via violenta. Estão beneficiados por essa lei.
Então, eu queria pedir a todos os membros que estão aqui para podermos também rectificar, ver também aqueles que praticaram crimes durante a luta de libertação nacional, os desertores, aqueles que desertam ou que .. .aqueles que nós consideramos como dissidentes, aqueles que não quiseram corresponder com a linha da Frelimo. Estes até este momento estão numa situação de privação, não é? Estão privados não ouvimos falar deles, não se ouve quase nada, não é? não se ouve. Não sei se existem ou já morreram eu não sei. Portanto, eu queria que o povo moçambicano, dentro do sentimento que nós temos de amnistiar aqueles que fizeram ma1, ou que fazem mal, então.
(Chissano) - Sim podemos responder a sua preocupação,já compreendemos.
(Machava) -Sim
(Chissano) - A amnistia era para todos, incluindo esses aí.
(Machava) - Sim
(Chissano) - Não estão incluídos. Estão amnistiados.
(Machava) - Estão amnistiados?
(Chissano) - Uns estão em Portugal, estão na América. Não são muitos. Podem vir a qualquer altura aqui e esses aí para eles a amnistia não acaba. Podem
(Machava) - E também...
(Chissano) - Obrigado
(Machava) - Desculpe Sua Excelência.
(Chissano) - E por causa dos outros. Temos que limitar o tempo.
(Machava)_ Há aqueles que estão nas nossas mãos. Aqueles...
(Voz de mulher) A luta continua! (Rádio Moçambique)
EXECUTADO À REVELIA
Entre as escassas informações (a maioria das quais desencontradas) existem também acusações e ilibações caricatas que ilustram o peso de consciência que reina nos que detinham o poder nas mãos. Fernando Ganhão, outra figura de destaque nas hostes do regime, afirma que tomou conhecimento da liquidação física de Simango posteriormente ao acontecido. Segundo ele, "aquilo foi decidido lá no norte sem o conhecimento de ninguém cá em Maputo.
Foi "AM" quem fez aquilo. Mandou para lá um indivíduo que andava com a filha dele. Parece que mandou liquidar esse indivíduo e, por extensão, todos os presos políticos que estavam a guarda dele no Niassa. Todos foram mortos. Samora chateou-se muito com isso. Ninguém sabia de nada cá. Mesmo Marcelino dos Santos não sabia de nada. Foi uma decisão unilateral de alguém consultar o próprio Chefe do Estado e a direcção máxima do partido. (Fernando Ganhão)

EXEMPLO DE JUSTIÇA POPULAR
Marcelino dos Santos altura segunda pessoa importante na hierarquia partidária foi categórico ao afirmar que a decisão de executar sumariamente Simango e outros presos políticos fora um exemplo de "justiça altamente popular", tendo frisado:
"Mas que se diga bem claramente que nós não estamos arrependidos da acção realizada porque agimos utilizando violência revolucionária contra traidores e contra traidores do povo moçambicano. (Marcelino
dos Santos)
As informações existentes - fruto de mais de 15 anos de cuidadosa investigação - indicam os anos entre 1977 como o período mais provável em que o Rev. Uria Timóteo Simango terá sido morto cruelmente. A sua esposa, professora Celina Simango, viria a ser executada, segundo uma das fontes, em Julho de 1982 na companhia de duas outras senhoras dentre as quais Lúcia Tangane, esposa de um destacado prisioneiro de M'telela -(Raul Casal Ribeiro), ex-comissário politico da Frelimo e secretário-adjunto do Departamento
de Defesa após a morte de Filipe Samuel Magaia.
SAMORA NÃO QUERIA AQUELE HOMEM MORTO
Por sua vez, Mariano de Araújo Matsinhe, outro proeminente membro da hierarquia da Frelimo, afirma que "a confissão Política não foi informada sobre a liquidação física dos presos. Samora não queria
aqueles homens mortos. Queria mantê-los vivos para depois mostrar-lhes o Moçambique independente que ele sonhava.
Ele foi pressionado para fazer aquilo. Nem eu, nem o presidente Chissano sabíamos da morte de Simango e de outros. Alguns passaram a saber que os presos foram liquidados através de uma informação que o
presidente Chispando acabou dando em resposta a perguntas feitas por alguns moçambicanos exilados nos Estados Unidos foi numa reunião com moçambicanos em Nova Iorque. (Mariano Matsinhe)
Mas Matsinhe não ousa divulgar quem terá pressionado Samora Machel a fazer a que ele chama "aquilo", remetendo para a inconcebível ideia de uma Frelimo com separação de poderes, onde par um lado estava
Machel dirigindo uma Comissão Política (Bureau Político) imaculada nos actos e, por outro, o mesmo Machel, na companhia alguns veteranos da luta ar como Salésio Nalyambipano, Lagos Lidimo, Abel
Asikala e alguns mais, agindo independentemente. Uma espécie de anarquia que não bate certo com a realidade, mas, em todo o caso hipótese que não se pode descurar se se tiver em conta que o Serviço
Nacional de Segurança Social (SNASP), então instituído em Outubro de 1975, conferia ao Chefe do Estado plenos poderes de agir (em alguns momentos) num círculo restrito com os oficiais daqueles serviços,
sem prévia consulta aos diversos órgãos do partido no poder.
A IMPRENSA ESTRANGEIRA
No início do último trimestre de 1976, um grupo de jornalistas nacionais e o cineasta mauritano Abid Med Honda, contra todas as previsões, visitaram M'telela no âmbito de uma digressão que faziam pelo norte do País. Com a excepção de Muradali Mamadhusen, então Director Nacional de Informação no Ministério da Informação, os restantes componentes do grupo não sabiam em que local de Niassa se encontravam. De Lichinga, foram todos introduzidos em viaturas tendo seguido para um destino incerto. Chegados a -M'telela, reconheceram de imediato Uria Simango e Joana Simeão.
"Na altura" - segundo relataria um dos jornalistas "a nossa preocupação imediata foi ver o estado de espírito em que se encontravam esses homens e se estavam sendo bem tratados, embora o comandante do campo - um tipo alto e forte, todo ele simpático para connosco - nos tivesse garantido que os presos estavam sendo bem tratados, custou-nos a acreditar pelo semblante que ostentavam aqueles detidos. Ao responderem as nossas perguntas, os presos transmitiam no seu olhar uma mensagem de tristeza e profunda angústia. Víamos medo nas suas respostas porque estavam a volta guardas a controlar todos os movimentos. Para despistar aqueles guardas, e pôr os presos à-vontade. alguns de nós tiveram que mentir
dizendo que eram jornalistas estrangeiros. Fomos fazendo perguntas em inglês e francês ao que Simango e Joana iam respondendo sem problemas porque os guardas não entendiam essas línguas. De regresso a Lichinga ficou combinado que nenhum jornalista deveria fazer uso do material recolhido. E como o seguro morreu de velho. Muradali recolheu tudo, desde apontamentos, filmes, gravações, etc. Esse material está algures aí em Maputo, certamente com os detentores do poder. Os presos estavam sendo maltratados. Julgo que previam um fim fatal.
(Eliodoro Baptista)
UMA DATA PROVÁVEL
Mas a data de 25 de Junho de 1977, segundo aniversário da Independência nacional, tida como o dia da saída dos presos do Centro de acordo com Maria Flora Ribeiro - e data prováveis da execução dos mesmos, entra em colisão com uma das principais testemunhas de M'telele - Manuel Pereira - como mais adiante se verá, Contudo, é curioso notar que aquela data poderá, de facto, ter sido a data da execução de diversas sentenças decretadas nos corredores do poder em Maputo. Com efeito, a 25 de Junho de 1977, no
outro extremo de Moçambique, na zona de Nambude em Cabo Delgado, o então director local da Contra Inteligência Militar, António Miguel, é referido como tendo presidido à execução pública de dois antigos
combatentes, nomeadamente do comandante Joaquim Mandeio Muthamangue, cognominado Francisco Ndeio e do seu adjunto Pedro Canisio.
No decurso da tarefa que the fora incumbida, Pereira constatou que Uria Simango e outros políticos detidos no Centro de M'telela, haviam sido executados em Outubro de 1978. O ano de 1978 como altura
provável da execução dos prisioneiros políticos voltaria a ser ventilado pelo próprio Sérgio Vieira no decurso de um debate televisivo em 2001. Ao se abordar o sistema de reeducação no Moçambique pós-Independência, Vieira admitiu terem havido falhas durante a vigência do monopartidarismo em Moçambique. Sem precisar datas, afirmou que no período entre 1978 e 1979 se haviam cometido excessos, tendo os mesmos culminado com a execução sumária de presos políticos. Em particular, Vieira afirmou ter assinado e ordenado diversas execuções extrajudiciais. Todavia, em jeito de conclusão,
afirmou que não se sentia arrependido.
E SIMANGO NÃO PEDIU PERDÃO
Para RR, os presos políticos foram executados em Junho de 1980 pouco depois da passagem de Samora Machel por Niassa a caminho de Madagáscar. RR que estava ligado as Forcas de Defesa e Segurança na
cidade de Lichinga, diz que lembra-se muito bem do mês porque Samora fez uma escala rápida em Lichinga e no dia seguinte estava de volta a Maputo para anunciar a nova moeda, a metical.
CF por sua vez, citando afirma que a sua fonte informou que o Rev. Simango foi severamente maltratado durante a sua audição. Permaneceu de pé quase seis horas consecutivas perante as pardas figuras que o exigiam que pedisse perdão. Alguns dos presos aflitos, acabaram acedendo ao pedido na esperança de verem as suas penas comutadas.
Contudo, a despeito do cansaço físico que denotava e a constante zombaria à sua volta, Simango negou continuamente pedir perdão. "Não vejo razão nenhuma que me leve a ter que pedir perdão. Não fiz mal
nenhum. A quem devo pedir perdão, aos senhores?" - insurgia-se constantemente Simango, de acordo com a mesma fonte.
NACIONALIDADE E RELIGIAO
Em 1957 foi-lhe concedida uma bolsa de estudos por uma instituição religiosa nos Estados Unidos da América. Todavia, as autoridades coloniais impediram-no de se ausentar de Moçambique para prosseguir
os estudos. Segundo pessoas da época, a recusa fundava-se no facto de, ate então, estarem frescos na memória das autoridades portuguesas os transtornos causados por Kamba Simango aquando do seu
regresso dos Estados Unidos à cidade da Beira. Certamente, as autoridades consideravam ser perigoso se Uria trilhasse os mesmos caminhos que kamba. Para além do mais, vivia-se nessa altura outra turbulência causada por um outro Simango-Sixpence - promotor do Núcleo Negrofilo de Manica e Sofala. A coberto do Núcleo, Sixpence Simango e seus correligionários, os Negrófilos, como habitualmente se identificavam os membros do Núcleo, transformaram-se em ouvido e fiéis mensageiros das populações negras perante as autoridades.
Contra as sevícias infringidas pelas autoridades coloniais contra a população negra, o Núcleo Negrófilo de Manica e Sofala destacava-se nos pronunciamentos em nome dos oprimidos.
O destino havia apanhado o jovem pastor Uria Simango nesse ambiente de discriminação racial e de perseguições.
A semente do nacionalismo havia sido plantada anos antes pelo Rev. Kamba. Todavia, o conceito de nação em Manica e Sofala, e em particular entre as populações da etnia shona, agudizar-se-ia com o deflagrar do motim da Machanga. O motim seria urna das principais fontes de inspiração para uma luta aberta contra a presença colonial portuguesa em Moçambique. Vários jovens abandonaram nessa época a colónia indo refugiar-se na então Rodésia do Sul. Do Búzi, onde trabalhava numa empresa açucareira, saiu o principal percursor da Udenamo, Lhomulo Chitofo Cwambe, mais conhecido por Adelino Gwambe.
Muitos outros abandonariam Mocambique exilando-se nos países vizinhos.
Mas da leitura de um estudo recente sobre e motim de Machanga,
depreende-se que o levantamento não tinha um cunho político, pois foi motivado pelo comportamento irresponsável de alguns funcionários administrativos corruptos que haviam desviado donativos de
emergência para as vitimas dum ciclone que havia assolado a zona.
Simango havia tomado conhecimento da Constituição na África do Sul, por um grupo de moçambicanos oriundos maioritariamente de Mambone e Machanga de uma associação denominada Associação Fúnebre de Moçambique (AFM). Ferraz de Freitas queria saber de Urias Simango e Ngwenha qual o papel que a Igreja Protestante havia tido nos levantamentos de Machanga e Mambone.
Para além de mais, sendo Resende um agente do Vaticano, não poderia na altura fazer mais ondas do que então fazia. Pelo que Simango nunca se expunha muito perante o bispo no respeitante à independência das colónias portuguesas. Contudo, de Resende e Bertulli, soube Simango extrair grandes ensinamentos. Tanto um como outro nutriam denodada admiração pelo jovem pastor negro que, contrariamente à maioria naquela época, falava bem o português e o inglês, e tinha ideais claros sobre a salvação humanidade.

05-06-2004

A book that will make waves URIA SIMANGO

22/05/2004 MOZAMBIQUE
A book that will make waves
The biography of a former vice president of Frelimo who was executed after the country gained independence, will go on sale in Maputo next month.
A political science student at the University Eduardo Mondlane in Maputo is the author of a biography of the former vice president of Frelimo, Uria Simango . Simango was executed after the country gained independence, and he is still the subject of controversy thirty years on. The book by Barnabé Lucas Nkomo, entitled Uria Simango : un homem, uma causa (468 pages) will be published by Ediçoes Novafrica of Maputo. It is the result of long years of research and interviews with people who lived through the events and will raise considerable doubts on the official version of the role of Uria Simango in the movement of national liberation. This will not fail to cause a degree of embarrassment to the leaders of the governing party just six months before the general elections at the end of this year.
Nkomo, a native of the province of Sofala, like the Simango family, has reconstituted the first years in the life of Uria Simango , then a churchman, and of his close ties with the Udenamo, a nationalist movement which afterwards formed the core of the Frelimo of which Simango later became vice president. By working from testimonies by the founder members of Frelimo and from documents declassified by the American State Department, the author is able to sketch a portrait of the various factions that were in contention at the time within Frelimo. The author also outlines Simango 's last years, interned by his former companions in arms, in a re-education camp in Niassa province (in the northern part of the country) where he was summarily executed on an unknown date sometime between 1977 and 1979. Since then Uria Simango has always been presented as a reactionary ?enemy of the people? in Frelimo mythology. However, Nkomo sees him more as ?a nationalist missionary whose commitment and dedication to the cause of freedom of his people were negated by his country's recent history? .
One of Uria Simango 's sons, Lutero is now the leader of the Partido da Convençao Nacional (PCN, opposition) while another son, Davis, was elected mayor of Beira in November 2003 on an opposition list presented by Afonso Dhlakama's Renamo.

07-05-2004

Eduardo Mondlane 1968 - Lutar por Moçambique

Veja como os visitantes do MACUA DE MOÇAMBIQUE respondem ao inquérito sobre a obra e tire as suas próprias conclusões:
Eduardo Mondlane 1968 - Lutar por Moçambique Responda ou sim ou não à mesma pergunta. Obrigado.
Tinha conhecimento desta obra? Sim. 8,59% (55 votos)
Tinha conhecimento desta obra? Não. 9,69% (62 votos)
Já tinha lido esta obra? Sim. 4,84% (31 votos)
Já tinha lido esta obra? Não. 12,81% (82 votos)
Achou importante conhecer esta obra? Sim. 14,22% (91 votos)
Achou importante conhecer esta obra? Não 2,03% (13 votos)
Se E. Mondlane não tivesse desaparecido, Moçambique seria diferente? Sim. 14,38% (92 votos)
Se E. Mondlane não tivesse desaparecido, Moçambique seria diferente? Não. 3,13% (20 votos)
Acha a obra factualmente correcta? Sim. 10,47% (67 votos)
Acha a obra factualmente correcta? Não. 2,81% (18 votos)
Gostaria de ver DOCUMENTOS DO IMPÉRIO aumentada com novos documentos? Sim. 17,03% (109 votos)
Total: 640 votos
(*) Posição obtida em: 06/05/2004
http://www.macua.com/documentos82.html

02-05-2004

Historieta Portuguesa

Retirado de um grupo de moçambicanos na net:
Leiam esta carta de um leitor do jornal Notícias, foi publicada na secção "Carta dos Leitores" do Jornal Notícias do dia 17 de Abril...
Mais uma vez vem à baila aquele tão característico sentimento de recalcamento do ex-colonizado, com o qual eu simplesmente não concordo nem um pouco.
Leiam a carta e digam se concordo comigo, mas eu sinceramente não alinho neste tipo de pensamento... o querer culpar os portugueses e a sua colonização não nos leva a lado nenhum, e só cria rancores
desnecessários.
Não está em causa a colonização(qualquer ela que seja, absurda!), mas acho que o nosso país está como está, acima de tudo, por culpa própria (ou mais especificamente da FRELIMO)!! Aquela que se julga
dona da terra...
Obrigada pela luta da independência, vocês realmente foram os que lutaram e conquistaram a
independência do nosso Moçambique, o povo está agradecido a vocês!! Mas isso não vos dá o direito de serem donos da terra, de estarem no poder à quase 30 anos, de serem corruptos e o povo não poder reclamar... simplesmente porque vocês alcançaram a independência, e julgam-se donos da terra!!
a democracia por si só, implica alternância de poderes!!
Kandayane Wa Matuva Kandiya
Notícias, 17 de Abril de 2004
1. Historieta Portuguesa
Uma das piores senão a pior desgraça que há cinco séculos abateu o Povo Moçambicano, foi o de ter sido colonizado por portugueses.
Oriundos de um pequenino país da Europa, produto da fusão de vários povos, acabaram sendo conhecidos por Lusitanos.
Encravado no extremo sudeste [sic] da Península Ibérica, Portugal foi várias vezes feito colónia ou província Castelhana, depois de ter sido sucessivamente esgravatado por Iberos, Celtas, Fenícios,
Gregos, Cartagineses, Romanos, Vândalos, Suevos, Alanos, Visigodos, e por fim ainda hoje se podem encontrar naquele país, vestígios dos seus últimos colonizadores, os Muçulmanos, também conhecidos nessa época por Sarracenos, Árabes, Maometanos e Mouros.
Trazendo consigo recalcamentos de vários sofrimentos não podiam ter encontrado melhor campo para descarregar e semear as suas mágoas, as desilusões e enfim a sua fúria senão no pobre Povo Moçambicano.
Mal se tornou independente da Espanha pelo tratado de Zamora assinado entre D. Afonso Henriques e o Rei de Espanha lá para os anos 1149 por aí, e apercebendo-se da sua pequenez no tamanho e na
forma, Portugal decidiu desde logo tornar-se grande à custa de conquistar, subjugar e dividir para reinar outros povos, imitando os seus anteriores suseranos romanos e, pedaço a pedaço, os "Tugas" como hoje são apelidados formaram um "grande império português" que, partindo da praia do Restelo iniciou uma marcha longa cujo destino seria a Índia, contornando e conquistando quase todos os povos da parte ocidental do Continente Africano, desembocando depois em Moçambique.
Quer dizer, o conceito de poder e grandeza para os portugueses de então, não era em termos de possuir ou armazenar riqueza, tal como ouro, carvão ou gás de Moçambique que sempre jazeram no subsolo
inexploráveis (sic), muito menos o petróleo ou os diamantes angolanos que também sempre existiram, mas apenas e só apenas descobrir o caminho marítimo para a Índia, para de lá carregar para Europa piri-piri e outras especiarias culinárias, tais como gegimbre (sic), açafrão, colorau servindo apenas de entreposto comercial!
Ridículo não é?
Mas foi assim mesmo: a noção de riqueza e grandeza para os portugueses de então, não consistia na busca e/ou descoberta e estar sobre o seu domínio as areias pesadas de Angoche, Moebase e Chibuto
em Moçambique, Mancarra, olém de dedém ou borracha da Guiné, cacau em São Tomé e Príncipe, ou pelo menos algumas palancas em Angola que fariam delirar de encanto aos (sic) visitantes do Jardim Zoológico
de Lisboa, não senhor!
Apenas e só apenas espezinhar outros povos e levar para Portugal, pimenta, cravo e títulos honoríficos para os seus reis. Por exemplo, um dos seus reis o Rei D. João II, quiçá o mais sanguinário dos reis
portugueses, teve a alcunha ou o cognome de "Princípe Perfeito", após ter ordenado o abate de muitos dos seus adversários, mandando igualmente ao cadafalso o Duque de Bragança e apunhalado com as suas
próprias mãos o Duque de Viseu e assim ficou Rei e Senhor absoluto de tudo, passando depois a usar pomposamente os títulos de "Rei de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar em África, Senhor da
Guiné, da Conquista e Navegação, da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia".
Assim, El-Rei, ficava sumptuoso e altivamente arrogante gabaroso e amalham (sic) ao ponto de "chutar" alguns poderes para os seus "vice-reis" lá para as Índias, após ter descoberto o tão almejado caminho
marítimo e levar a Lisboa, malaguetas e outros afrodisíacos!
Com este tipo de colonizadores, outra sorte não podia nos calhar senão a pior.
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Um comentário:
Em parte concordo contigo, repito, em parte, pois o culpar os colonizadores de fato não nos levará a lugar nenhum, a não ser a sentimentos de raiva, e ódio infundados, que aliás são dos mais perigosos, visto que o sujeito ignorante, é capaz de fazer "loucuras.
Por outro lado, é importante, distinguir, da culpabilização da colonização e dos colonizadores, pois tratam-se de dois aspetos diferentes, a colonização em si, nos colocou numa situação de eternos perdedores, ou inferiores. e isso poderás ver o estilo de linguagem que se cria, no período da colonização para designar o negro africano, importante perceber que isso não acontece apenas em Moçambique, e não é obra exclusiva do colonizador português, mas de uma conjuntura, sócio-economica da europa quanto um todo...
também, não posso, concordar contigo, quando dizes "Não está em causa a colonização(qualquer ela que seja, absurda!),
Mas acho que o nosso país está como está, acima de tudo, por culpa
própria (ou mais especificamente da FRELIMO)!! Aquela que se julga
dona da terra..."
Bem, a FRELIMO, embora tenha uma grande parcela de culpa pelo que vem acontecendo em nosso país desde que se alcançou a independência, é responsável também por um significativo crescimento.
Pois, Moçambique, forçado a seguir o Marxismo L. em detrimento do capitalismo, provocou uma guerra sem tamanho que os países capitalistas, luta essa que foi travada e combatida com garra e aguçada visão de futuro pelos frelimistas, hoje, devido a essa opção, está o nosso país sendo agraciado por um crescimento significativo, em relação só a título de exemplo, aos países que optaram pelo capitalismo logo após a Independência...
Não vou aqui escrever um ensaio, sobre a nossa breve história, pois minha intenção primeira é mostrar o lado inverso dos discursos que muitas vezes por conhecermos pouco nossa história temos feito, esses discursos, cheios de paixão e zelo, podem nos trair!
Não concordo e nem me afirmo frelimista, mas nossa realidade política, enquanto a nova geração não buscar e propor alternativas concretas, continuará por mais sei lá quantos anos nas mãos na Frelimo, pois ainda não conseguimos fazer frente nos vários aspetos imprescindíveis ao referido partido, falta-nos oposição de peso...

Fui, me desculpem se me alonguei demasiado, mas o discurso arraigado pela paixão me levou a tal extremo (rsrsrsrsssss)

Gaspar Sitefane

26-04-2004

Sérgio Vieira “ginga” por matar

Jornal Zambeze – 04.04.2004
Por Yá-qub Sibindy*
No jornal “Domingo” de 04 de Abril de 2004, página 8, na coluna "Carta a muitos amigos", Sérgio Vieira fala como um mestre hipócrita, de "Reconciliação com os compatriotas instrumentalizados pelos saudosistas do colonialismo e os radicais do racismo rodesiano e sul-africano” Temos imensas dúvidas se a propalada reconciliação a FREL IMO também a fez com os familiares e parentes das vítimas dos fuzilamentos e deportados protagonizados pelo regime. A reconciliação não faz esquecer que a FRELIMO fuzilou cidadãos inocentes, deportou para as densas matas do Niassa e Cabo Delgado cidadãos cujas razões são ainda desconhecidas.
Quando Sérgio Vieira, publicamente e em sede do Parlamento, declarou que “Fuzilámos os reacionários e traidores da Pátria", deveria o PGR ter requerido a sua suspensão da AR e submetê-lo à investigação. Em nenhum momento Sérgio Vieira e seus colegas carniceiros substituíram os tribunais e muito menos ainda deliberar quem é reacionário ou revolucionário, poupar a vida ou passar a certidão de óbito a cidadãos, pelo facto de não concordarem com a Frelimo. A PGR não deveria aguardar por queixas dos familiares destes para se fazer justiça.
A sobrevivência deste bando de assassinos deve-se ao facto de a Frelimo ainda continuar a controlar todos os poderes do Estado, apesar de uma separação fictícia. Sérgio Vieira não tem provas de que o Dr Eduardo Mondlane foi assassinado por Urias Simango Silvério Nongo e noutras aparições mete Samuel Dhlakama no barulho. Durante a luta de libertação nacional a Frelimo tinha estatutos e programa e não se sabe porquê um grupo de pessoas tem que decidir pela vida dos demais, à margem dos órgãos. Documentos oficiais existentes provam que Urias Simango foi vítima de uma cabala de assassinos infiltrados na Frelimo.
Urias Simango opunha-se que as armas de libertação servissem para matar combatentes e por isso arranjou-lhe vários inimigos de entre os “revolucionários" que tentavam assaltar o poder, após a morte de Eduardo Mondlane. É absurdo classificar de reaccionário alguém que pensa de tal modo. Não está claro quem se opunha à libertação da pátria. Sérgio Vieira usa sofismas para manipular a historia pretendendo ser advogado dos criminosos.
Se a Frelimo tivesse poupado a vida de Urias Simango e seus companheiros do martírio, hoje poderiam ser grandes parceiros do desenvolvimento democrático, económico, sócio-político do nosso País, tal como Nelson Mandela, poupado pelo apartheid, o tem sido para a RSA e o mundo. Temos dificuldades em dizer quem foi mais cruel, se o regime do apartheid ou os bandos revolucionários da Frelimo.
As matanças de inocentes continuaram mesmo depois de 1975
A cultura de matanças e assassinatos continuou na Frelimo mesmo depois da proclamação da Independência Nacional, em 1975. EM Moçambique havia um Estado constituído com todas as suas instituições implantadas em território nacional, deveria, por esta razão, guiar-se na base das leis e não perseguir métodos terroristas, que até aos nossos dias prosseguem sob outras formas de crime organizado que Sérgio Vieira chama de “evolução de um corpo social”.
Os juízes que são coagidos a julgar as farsas do crime organizado na BO acabam entendendo que são usados por malfeitores e dizem que os mandantes estão fora a passear a sua classe de corruptos, protegidos pelo poder do Estado. Sérgio Vieira não compreende que o seu partido já não é de “vanguarda dos operários e camponeses". Fala para as pessoas como se ainda fosse o "manda-chuvas" do SNASP, considera os outros como insignificantes que nada têm a dizer sobre o País. Ainda não entendeu que Moçambique já não é "propriedade" da Frelimo
Não fosse desconhecido teria sido morto pela SNASP
Dou-me por feliz por ter sido “um ilustre desconhecido”. Gostaria de lembrar a Sérgio Vieira que se não fossemos “um ilustre desconhecido”, não teríamos sobrevivido ao SNASP que empreendia buscas para apanhar cidadãos com opiniões diferentes ou contrárias sobre a história do País e seu Povo ou que discordavam da ideologia comunista, teria sido “pescado” e nossa família teria tomado conhecimento do facto pelos jornais anunciando a nossa “fuga” da cadeia, apelando aos GDs, GVs, Milícias Populares, Células do Partido para nos “capturarem”, tal como acontecia com vários outros moçambicanos.
Os familiares das vítimas ainda aguardam por um esclarecimento do que se passou com os seus parentes. Sérgio Vieira deve ter ficado aliviado quando Afonso Dhlakama desmentiu que não levaria os dirigentes da Frelimo ao julgamento quando fosse eleito Presidente da República. Seria “renovação na continuidade” se Afonso Dhlakama, na qualidade de chefe de Estado, impedisse que cidadãos demandem a justiça sobre os seus familiares mortos pelo regime. Sérgio Vieira não perde por esperar, o vendaval que virá partir-lhe a coluna vertebral.
Armando Guebuza, então chefe da bancada da Frelimo, não emitiu nenhuma declaração publica a distanciar-se do deputado Sérgio Vieira quando declarou que “nós matamos os reacionários e traidores”. Estamos a conviver com criminosos confessos, que não perderam tempo para tirar vida a seus compatriotas e camaradas de armas. Seria um grande erro político se nas próximas eleições o eleitorado voltar a dar voto de confiança de confiança a assassinos que ainda se não arrependeram dos seus males, por mais que o povo tente esquecer, votam à carga, vangloriando-se dos crimes hediondos que cometeram como se tivessem degolado animais.
Frelimo reclama verdade absoluta para si
Não queremos ser julgados pelas gerações vindouras quando questionarem a nossa seriedade em não termos sabido distinguir assassinos dos revolucionários, governantes honestos de bandos de malfeitores, ladrões de votos de democratas, delapidadores do bem público e “mainatos” de capitais de "empresários de sucesso". Arrogantes e incompetentes de prometedores do futuro melhor e mudanças, manipuladores da justiça. O que estamos escrevendo ficará na memória colectiva e não afundado no fundo do mar como os arquivos da Frelimo que foram mergulhados no Oceano Índico, em Dar-Es-Salam, pelos criminosos e manipuladores da história de Moçambique com objectivos de reclamar para si a verdade absoluta dos factos.
*Candidato à Presidência da República

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