Clima de incerteza, tanto a nível económico como político, marcam o segundo ano do mandato do presidente moçambicano.
O presidente moçambicano completa hoje um ano no poder, com o país numa situação de incerteza, que ameaça arrastar-se, sobretudo no campo político, consideram analistas políticos ouvidos pela Lusa em Maputo.
João Pereira, professor de Ciência Política na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), considera que Nyusi irá debater-se em 2016 com as ameaças da Renamo, principal partido da oposição, de tomar o poder nas seis províncias do centro e norte do país onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014. "A situação é de incerteza, estão todos à espera de ver se o líder da oposição [Afonso Dhlakama] terá ou não capacidade de materializar o seu discurso e também como é que as instituições do Estado vão reagir à materialização desse mesmo discurso." Com a prevalência da incerteza, disse, Moçambique continuará a viver, tal como em 2015, em instabilidade, condicionando os investidores e a ação das instituições do Estado.
Em entrevista à Lusa, o analista e professor de Ciência Política José Jaime Macuane afirmou que o presidente vai ser confrontado com uma escolha entre a crise económica e a militar, defendendo que dificilmente conseguirá gerir as duas em simultâneo. Macuane considera que 2016 será "um ano com um alto nível de incerteza", atendendo ao choque externo que a economia enfrenta e à ameaça de Dhlakama de tomar o poder em seis províncias. "Como decisão estratégica, o chefe do Estado precisa ver qual a crise que consegue gerir a curto prazo", assinalou, lembrando que Moçambique tem pouco controlo sobre o atual choque externo, o qual, associado a problemas estruturais da sua economia, não faz prever resultados positivos tão cedo.
Nesse sentido, "a estratégia mais óbvia seria concentrar-se na questão militar", observou o académico, até porque se tornaria mais fácil gerir depois a crise económica, traduzida por forte desvalorização do metical face ao dólar, com impacto nos preços das importações, disponibilidade de divisas e inflação.
Perante o "ajuste de contas" prometido por Dhlakama, Macuane reconhece que "a possibilidade de um confronto militar é mais alta", mesmo depois de Nyusi ter colocado um travão ao desarmamento compulsivo da oposição.
Por seu turno, o jurista e analista político Alexandre Chivale previu que o presidente vai seguir uma postura que proteja o país de um novo conflito militar, apostando no apelo ao diálogo com o líder da Renamo. "Adotou um tom conciliador que evitou que o país descambasse para a guerra e espero que ele mantenha uma linha de tolerância."
Jornalista da Lusa, em Maputo
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