Em entrevista à RTP1, o primeiro-ministro demitido inclinou-se para apoiar Marcelo Rebelo de Sousa nas Presidenciais.
O líder do PSD defendeu que será o secretário-geral do PS a ter a obrigação “política e moral” de “oferecer uma solução de governo”, mas garantiu que é com os partidos à esquerda que esse Executivo terá de sobreviver. Se vier a depender do PSD, Passos Coelho avisa que vai fechar a porta ao PS.
“O PS não tem nenhuma legitimidade para nos pedir seja o que for. No dia em que o PS tiver de depender dos votos do PSD ou CDS para aprovar alguma matéria importante, o que espero é que o doutor António Costa peça desculpa ao país - que enganou o país na solução que corporizou, ao derrubar o governo anterior, oferecendo um governo instável e minoritário no Parlamento - e se demita”, afirmou o primeiro-ministro demitido, numa entrevista à RTP1.
Passos Coelho voltou a criticar a aliança à esquerda ao apontar que não reflecte uma solução de governo “estável” e “consistente” e que dê a garantia de ver aprovados orçamentos e políticas com condições de manter a recuperação da economia e do emprego. Mas apontou António Costa como o líder que tem “do ponto de vista político e moral a obrigação de oferecer uma solução de Governo”. Assumindo que o actual governo estará em gestão até que seja substituído por outro, Passos Coelho reconheceu que permanecer nessas condições “não é uma boa solução”, tendo em conta que tem contra si “uma maioria absoluta no Parlamento a governar”.
Apesar de remeter para o Presidente da República uma decisão sobre o futuro Governo, o líder do PSD defendeu que o PS deveria garantir melhores condições nos entendimentos que fez com o PCP e BE. Uma das maneiras era “fazer uma coligação de governo” para poder “dar mais garantias”. Isso não aconteceu porque, segundo Passos Coelho, os partidos envolvidos não viram essa solução como uma vantagem. A outra maneira de reforçar o entendimento era “haver um acordo com as principais decisões que o Governo vai ter de tomar sobretudo nas relações com a comissão Europeia”, o que veio a chamar “um acordo digno desse nome”.
Passos Coelho reiterou a sua “preocupação” com a compatibilização entre as propostas do PS (dependente dos “partidos radicais”) de “agravar a despesa e reduzir a receita” com as regras europeias. “O PS diz que sim que vai cumprir (...) ou teremos um crescimento extraordinário ou temos de pensar que isso não é atingido”, afirmou.
Relativamente às eleições presidenciais, Passos Coelho assumiu que “é provável” que o PSD e o CDS tenham uma “posição” e “articulada”. Ao contrário do PS que não tinha posição por ter mais do que um candidato no seu campo político. “Não devemos ter esses problemas, não temos mais do que um candidato na nossa área política”, afirmou, referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa, o único que se assumiu como candidato do centro-direita. E é esse mesmo social-democrata que o líder do PSD aponta como “o que mais possibilidades tem de ter candidatura que possa ser mobilizadora”.
Questionado sobre se está decepcionado com as declarações de Marcelo sobre a crise política, Passos Coelho espera que a conclusão deste episódio permita que a campanha presidencial ganhe protagonismo e que os candidatos sejam “instados a dizer o que pensam”. “Penso que alguém que possa estar menos satisfeito confortado com aquilo que ouviu por parte do professor Marcelo se dissipará”, disse, apontando vários pontos de convergência com o pensamento do candidato, entre os quais a concepção da democracia portuguesa, da inserção no euro, da economia social de mercado e a vocação atlantista da política externa. “Marcelo Rebelo de Sousa corporiza bem esses valores. As pessoas da minha área política não se sentirão desentificadas”, concluiu.
Relativamente à devolução da sobretaxa de IRS em 2016, que antes das eleições se previa em valores mais elevados e agora se perspectiva como quase nula, o primeiro-ministro negou manipulação. “As variações mensais têm de ser vistas com cautela, o que importa é o apurado ao final do ano. Mas não é verdade que tenham resultado na intenção de manipular”, sublinhou, classificando como "deslocado" o argumento de que houve uma retenção anormal dos reembolsos do IVA para permitir a divulgação de uma maior devolução da sobretaxa.
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