Para o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, a crise no Oriente Médio requer uma solução imediata. A posição da Rússia tem sido partilhada por outros jogadores geopolíticos. Convém realçar que a Europa se manifesta em apoio do direito dos palestinos à autodeterminação, o que vem criando um ambiente de tensão entre o Velho e Novo Continentes. Mas nesse caso, os políticos europeus não podem agir de outra maneira. O colaborador sênior do Departamento de Israel e Comunidade Israelenses junto do Instituto de Estudos do Oriente, Dmitri Mariyasis, constata:
“Há uns anos, a direção palestina iniciou uma campanha de reconhecimento político do seu Estado pela ONU. O Velho Continente, na medida do possível, apoiava sempre esse processo, considerando que o Estado palestino devia ser criado. Daí, uma respectiva Resolução da ONU adotada em 1947. Nisso não há nada de surpreendente. Mas isso também é uma pressão sobre Israel para que cesse a construção de colonatos e venha assumir um posicionamento mais construtivo no processo negocial.
Mais uma causa da atual posição defendida pela Europa reside em que muitos países europeus têm uma significativa minoria muçulmana que não deixa de influir sobre a política de seus Estados. Os políticos da Europa contam com intenções de voto dos árabes europeus, devendo levar em conta a sua posição e suas simpatias eleitorais”.
Até há pouco tempo, os interesses de Israel tinham sido promovidos pela Casa Branca, mas, nos últimos tempos, os aliados têm ficado de mal. No parecer da maioria dos analistas, nesse assunto se faz sentir certa antipatia pessoal existente entre Barack Obama e Benjamin Netanyahu, sustenta Irina Zvyagelskaya, do Instituto de Estudos do Oriente:
“Existem enfoques diferentes quanto ao evoluir da situação no Oriente Médio. Torpedeando a política norte-americana nessa região, o governo de Netanyahu se mantinha renitente à regulação do problema palestino, tendo inviabilizado as tentativas do Secretário de Estado, John Kerry, no sentido de retomar o processo de paz. E, nessa situação, as relações estão longe do ideal.
Acrescentaria ainda um fator importante das relações pessoais entre Netanyahu e Obama. As relações entre eles eram difíceis desde o início. Netanyahu estava ganhando pontos devido à capacidade sua de saber dizer “não” aos EUA. Perante tal atitude, a política de Obama na questão palestina era equilibrada, embora o líder israelense tivesse abordagens contrárias”.
É óbvio não ter havido um consenso na questão palestina. Enquanto isso, os palestinos insistem em que o documento seja examinado até ao fim do ano corrente. Os países árabes apelam aos EUA a não usarem o direito de veto no decurso da votação. Os diplomatas europeus têm debatido a possibilidade de adoção de um projeto alternativo.
Israel, por sua vez, se recusa a apoiar o documento em causa, pelo que tal “iria levar ao surgimento de islamitas radicais nos arredores de Tel Aviv”. A proposta de criar um Estado palestino nos territórios ocupados por Israel em 1967 (ou seja, na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e em Jerusalém oriental), não convém, de forma alguma, aos israelenses.
E sua ótica, o reconhecimento da Palestina não irá criar um tecido econômico normal na Autoridade Palestina, sem poder remediar um avolumando “aparelho burocrático” corrupto, mudar a mentalidade de seus dirigentes, interessados mais em destruir Israel do que criar seu próprio Estado.
Perante tal cenário, a Resolução em apoio da soberania palestina poderá criar novos focos da tensão. O resultado da votação irá depender de disponibilidade dos membros permanentes do CS da ONU de assumir a responsabilidade por novas mudanças do clima político nessa região do mundo.
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