Monday, December 22, 2014

O regresso de MBS e a estória da Polícia


Trinta e oito dias depois, proprietário do Maputo Shopping Centrereaparece


- A Polícia diz que cercou a gang raptora na madrugada, mas, estranhamente, não conseguiu deter ninguém

- MBS diz que foi lhe exigido resgate de 100 milhões de dólares e, no fim, o resgate baixou para 5 milhões

- Polícia apresenta três jovens moçambicanos, mas estes negam qualquer envolvimento em casos de raptos

Finalmente, depois de 38 dias de cativeiro, a estória do rapto e posterior sequestro de Momade Bachir Sulemane regista um final feliz, tendo em conta o regresso ou o resgate daquele que é um dos maiores e mais importantes empresários da República de Moçambique.

O empresário diz que está feliz por regressar ao convívio familiar, mas assegura que está muito preocupado pelo facto de a sua consciência dar- lhe indicação de que os raptos e sequestros são um problema sério para o país. São um problema que, nas suas palavras, “tira o sossego e tranquilidade” a qualquer moçambicano. Por isso, assegura ele, “vou dar toda a colaboração e apoio no sentido de o país conseguiram ultrapassar este problema”.

Por seu turno, a Polícia também diz estar feliz, pelo menos por ter conseguido resgatar Momade Bachir das mãos dos sequestradores, mas a luta continua porque não conseguiu deter os prováveis verdadeiros sequestradores. Diz a Polícia que seguiu pistas, viu os raptores, cercou-os, mas, infelizmente, os eles (os raptores e sequestradores) foram mais audazes e conseguiram se escapulir.

A Polícia disse isso com toda a tranquilidade e naturalidade, como tem dito noutras ocasiões: eles fugiram. Os detalhes do “filme” do regresso ou resgate de Momade Bachir são tantos e, nalgum momento, a estória deixa muitas penumbras no ar.

Essencialmente, segundo a Polícia, coadjuvado pelo próprio Momade Bachir Sulemane, o filme do resgate dá-se na Macia, província de Gaza. O que se diz é que Momade Bachir estava no seu segundo cativeiro, para onde foi transferido cerca de 12 dias depois da consumação do rapto à entrada do Maputo Shopping Centre.

Sentindo alegada pressão policial, os raptores terão sentido a obrigação de transferir o empresário para um terceiro cativeiro, em princípio, algures também na Macia. Isto aconteceu, segundo a Polícia, na madrugada de sábado. E no acto da transferência, a Polícia lá estava, mas, no fim, os raptores retiraram o raptado do carro e foram-se. A Polícia prefere dizer que fugiram.

Policia cerca e raptores fogem

A Polícia na Macia disse a jornalistas que tendo já indicações da transferência do sequestro para um outro cativeiro, manteve-se em prontidão no sentido de resgatar o empresário e deter o bando. Pelo que a polícia conta, até conseguiu-se fazer um cerco ao grupo dos sequestradores.

Não fica claro se depois houve ou não perseguição, mas, segundo a explicação da Polícia, “devido à pressão que ia exercendo nessa investigação, os meliantes viram se em apuros, abandonaram a vítima e puseram-se em fuga”.

Esta explicação foi dada por Orlando Mudumane, porta-voz da PRM na cidade de Maputo (também no Comando Geral da Polícia), quando falava a jornalistas na 18ª esquadra, instantes depois de ter chegado a escolta policial que transportou Bachir da Macia até à cidade de Maputo.

Estórias de cercar para depois fugir são normais no seio da Polícia, realidade que levanta muitas suspeitas sobre a veracidade das informações da autoridade policial sobre o que efectivamente tem estado a acontecer em muitas operações de combate ao crime.

49 sequestradores?

Momade Bachir Sulemane, falando a jornalistas, em Macia e na 18ª esquadra da cidade de Maputo, explicou que foi raptado por quatro homens. Disse ter sido levado de olhos vendados para um cativeiro que desconhece, mas acredita que tenha sido na cidade ou província de Maputo. Depois de cerca de 12 ou 13 dias, explica, foi transferido para um segundo cativeiro, desta feita na Macia, onde permaneceu até à madrugada de sábado.

Diz que quatro raptores principais dialogavam com ele permanentemente.

Estes, segundo Bachir, são de nacionalidade zimbabuena e sul-africana. Inicialmente, explicou ele, o grupo exigiu um resgate na ordem de 100 milhões de dólares e diz ter respondido que não tinha o valor.

Porque conseguiu, segundo ele, simpatizar-se com alguns raptores, diz ter perguntado qual era afinal o real número da gang, ao que lhe foi respondido que eram 49 pessoas envolvidas, entre estrangeiros e moçambicanos.

“Aí simpatizei com um raptor zimbabueano. E disse-me que eram, no total 49 raptores. Disse que em cada rapto pagam ao raptor 25 mil dólares. Procurei saber outras coisas junto a eles e informei o Ministério do Interior (MINT). É uma matéria de investigação para a Polícia, não posso dizer nada aqui” – narrou Bachir, para depois jurar que vai colaborar com a Polícia no sentido de levar os raptores à barra da justiça.

De negociação em negociação, Bachir diz que o bando conseguiu reduzir o valor de resgate dos anteriores 100 milhões de dólares para 10 milhões. Já na madrugada de sábado, diz que o grupo tinha baixado o resgate dos anteriores 10 para 5 milhões de dólares e, mesmo assim “eu disse que não tinha esse valor e não tenho”.

Durante o cativeiro, Bachir disse que foi severamente torturado e até “bateram me muito”. Disse ainda que nos primeiros dias, só davam lhe uma maçã, quatro bolachas Maria e sumo. Em Macia diz que foi trancado numa caixa metálica de dimensões reduzidas. É na referida caixa onde tinha que comer e fazer necessidades. Segundo ele, de tanto sofrimento, pensou até em suicidar-se, mas nunca conseguiu.

Polícia endeusada

Momade Bachir Sulemane contou que exactamente na altura que estava a ser transferido para o terceiro cativeiro, cerca de 30 agentes da Polícia, em prontidão, apareceram para o resgatar, realidade que se confirmou instantes depois.

“Ontem, já falaram de 5 milhões de dólares. Exactamente na altura que me estavam a levar para o terceiro cativeiro, em menos de 3 minutos estavam quase 30 homens da PRM activos e conseguiram me resgatar. É tudo quanto eu tinha a dizer. O restante, vou dar toda a colaboração ao MINT. É desejo de todos nós desmantelar estes grupos que estão a tirar-nos tranquilidade e sossego”- explicou MBS, mostrando firmeza em ajudar a Polícia a combater o mal.

“Não tenho outras palavras. Não tenho como agradecer o MINT, eles (polícias) apareceram como Deus para mim” - descreveu Bachir.

Nunca tive segurança

Questionado onde é que estava a sua segurança privada no dia em que foi raptado, Momade Bachir Sulemane jurou que nunca teve segurança porque nunca precisou. Aliás, para Bachir, o facto de não precisar de segurança já é uma clara prova de que não anda no mundo de negócios ilícitos. É que, no seu entender, um pequeno traficante de droga precisa de uma dúzia de seguranças, mas ele não.

“Eu nunca tive qualquer segurança, nem guarda-costas nem ajudante de campo.

Quando pediram-me 100 milhões, a primeira coisa que disseram-me é que eles tinham visto a designação de 2010 (barão da droga). Eu disse, esta é mais uma prova de que eu nunca participei nisso”. Nas suas juras, Bachir chegou a dizer que, no dia em que alguém apresentar-lhe um grama de droga, ele aceita uma prisão perpétua. “Eu disse, desde o primeiro dia, que nunca exerci esse negócio nojento e sujo. No dia que me trouxerem prova de um grama de droga podem me dar a perpétua, eu aceito. Prometi ao povo moçambicano não decepcionar”- disse Bachir.

Disse até que estava a colaborar com o Departamento de Tesouro americano para o esclarecimento da verdade e, se Deus quiser, muito em breve, eles vão retirar o meu nome”. Sobre a posse ou não da segurança, até o vice ministro do Interior, José Mandra, por ter informação de que MBS tinha segurança privada, estranhou o facto de no fatídico dia, o ele ter estado sozinho. Aliás, o que se disse no dia do rapto, é que MBS tinha dispensado a sua segurança privada naquele mesmo dia, ou então, num dia antes.

Estamos a perseguir os fugitivos

Orlando Mudumane, porta-voz da PRM na cidade de Maputo e no Comando Geral da Polícia, como não poderia deixar de ser, apontou o trabalho policial como resultado do resgate de MBS. Disse Mudumane que a Polícia sempre teve pistas em relação ao caso e paulatinamente ia seguindo estas mesmas pistas, até a altura em que se conseguiu resgatar o empresário. Entretanto, confirmou ele, na hora H o bando fugiu. “Nesse momento decorrem diligências para deter os fugitivos que, se supõe, sejam os principais mentores deste rapto seguido de sequestro. Como disse antes, este tipo de crime é complexo e o seu esclarecimento exige um trabalho de investigação muito aturado. Uma investigação que leva bastante tempo. Esse é o primeiro passo, a investigação continua. À medida que os indivíduos forem localizados serão detidos. E esperamos que brevemente consigamos deter os principais responsáveis deste acto” - disse Mudumane.

Três moçambicanos detidos

Ainda na tarde de sábado, a Polícia apresentou, aos jornalistas, um grupo de três jovens nacionais, acusados de fazerem parte da rede que raptou MBS. Entretanto, porque MBS disse aos jornalistas que os raptores eram de nacionalidade sul-africana e zimbabueana, os jornalistas quiseram saber de Mudumane, como a detenção apenas de moçambicanos poderá ser explicada.

Peremptório, Mudumane, respondeu que os três detidos eram supostamente guardas dos cativeiros por onde MBS passou antes de ser transportado para Macia. Diz que foram os referidos jovens que deram algumas pistas que culminaram com o resgate de Momade Bachir. Entretanto, os três jovens negam completamente a sua participação no crime de que são acusados. Aliás, dizem que as autoridades policiais estão apenas a procura de alguém que possa branquear a sua imagem na opinião pública. Os jovens dizem que foram detidos nas suas residências.

MEDIAFAX – 22.12.2014

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