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Nestes dias, o mundo inteiro assinala a passagem da batalha de Stalingrado que, em janeiro-fevereiro de 1943, marcou a reviravolta no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Hitler insistiu em que este "baluarte", defendido pelo 6º Exército sob o comando do marechal de campo, Friedrich Paulus, fosse retido até a vitória. Todavia, na noite de 30 para 31 de janeiro, o Exército Vermelho cercou o bairro onde se encontrava o quartel-general nazista. Pelas 7 horas da manhã, da cave da mercearia que albergou o quartel-general, saiu um oficial alemão com a bandeira branca.
A propaganda alemã especulava que o lendário marechal Paulus tivesse cometido suicídio na cidade destruída e sitiada pelas tropas soviéticas, mas não violou o juramento militar prestado. Em Berlim até foram organizados funerais simbólicos e Hitler depositou no caixão vazio uma coroa de flores...
Na realidade, tudo era diferente. Os quadros de jornais cinematográficos demonstram as imagens do comandante do 6º Exército saindo ao encontro de soldados soviéticos com as mãos ao alto. O adjunto do marechal pediu que Paulus saísse do armazém através da porta de serviço para que ninguém dos sitiados pudesse disparar nas suas costas, protestando contra a alta traição, disse à Voz da Rússia o historiador russo, Dmitri Surjik.
"Paulus teve sempre dificuldades em tomar decisões importantes. Durante a rendição anunciou que, uma vez aprisionado, não pode dar ou emitir ordens."
Deste modo, Paulus se tornou um primeiro marechal de campo na história militar alemã que se entregou ao adversário. Mas não foi o primeiro alto prisioneiro de guerra que ingressou na Aliança de Oficiais Germânicos. Isto se deu em agosto de 1944 quando soube da morte de um amigo seu, marechal de campo Wilhelm von Witzleben, acusado de participar da conspiração contra Hitler.
Entretanto, foi precisamente Paulus que virou uma figura-chave na organização de antinazistas alemães, afirma o jornalista-historiador, Konstantin Zalesski em entrevista à Voz da Rússia.
"O marechal de campo Paulus acabou por passar para o lado do Comitê Antinazista. Este foi um sonho querido da Direção soviética de Prisioneiros de Guerra que realizara uma operação séria, visando sua contratação, ou, melhor dizendo, o aliciamento."
Nas palavras do historiador, na prisão Friedrich Paulus estava a transformar-se num comunista convencido quase que ideal – costumava ler em original não só as obras de escritores clássicos russos, mas também as obras de Vladimir Lenin. Em 8 de agosto de 1944 foi gravado um dos seus discursos em que ele apelava ao povo alemão a entregar as armas e deixar a luta. Mais tarde, a gravação terá sido transmitida pela rádio alemã. Nos julgamentos de Nuremberg, Paulus prestou testemunho da parte da acusação soviética. Stalin até prometeu que ele seria repatriado. Contudo, o ex-marechal pôde abandonar a URSS somente em 1953 após a morte do líder soviético. Como era a sua vida depois do regresso à RDA? Comenta Konstantin Zalessky:
"Paulus morava numa quinta, nas cercanias de Dresden, na qual todo o pessoal de serviço, incluindo empregadas de limpeza, integrava agentes dos serviços especiais. Tinha ao dispor um carro, mas podia deslocar-se nele por itinerários indicados pelo motorista. Em soma, Paulus viveu uma vida completamente isolada."
Assim, Paulus podia comunicar-se com um circulo restrito de pessoas. Dizem que, enquanto prisioneiro, encontrou-se com sua esposa que foi ter com ele na URSS. Mas esta informação não foi confirmada. A mulher de Paulus morreu em 1949 em Baden-Baden. A sua morte causou-lhe muita aflição. Nunca mais viu também seus filhos que não o deixaram de repreender. O antigo marechal de campo faleceu em 1957.
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