Terça-feira, 16 de Outubro de 2012
Democracia porca - a portuguesa!
Membros das elites portuguesas do poder |
O problema estrutural
português está identificado: A Porca com as tetas é o Estado; os Leitões são os
membros das classes dirigentes. Portugal é uma pocilga. Oralidade: eis a palavra
que ajuda a compreender a história de Portugal! Ontem, no debate Prós e
Contras, um luso-brasileiro disse que ia contactar a polícia federal
brasileira para pressionar os leitões portugueses. Eu prefiro o exército
americano... para desempenhar essa missão: liquidar os leitões portugueses e
vender os seus corpos mortos na China!
Terça-feira, 2 de Outubro de 2012
Prós e Contras: Manifestações e Forças da Ordem
Panóptico do PORTO |
Eis o texto reaccionário de
apresentação do debate Prós e Contras de ontem (1 de
Outubro):
"Grécia, Espanha, Itália e
Portugal: A crise
agudiza-se e explodem os protestos na rua. O que distingue as
manifestações no sul da Europa. A efervescência das sociedades
angustiadas e a necessidade de defender o Estado de Direito e a ordem
pública. A
importância das manifestações e o delicado desempenho das forças da
ordem. Como é que
as forças de segurança estão a lidar com a tensão crescente?"
Cada um dos quatro convidados de Fátima Campos
Ferreira desenvolveu o seu discurso reaccionário em nome do Estado de
Direito e da ordem pública. O elogio da fotografia da rapariga e do polícia que
circulou pelo Facebook é um elogio reaccionário: os revoltosos dotados de
consciência política radical não podem tratar as forças policiais de
repressão como forças amigas. A violência das forças policiais é usada para
garantir a perpetuação da ordem social estabelecida, precisamente aquela
que gera o empobrecimento dos povos do sul da Europa. Em Portugal, não há
verdadeiramente Estado de Direito ou mesmo democracia: o Estado
foi capturado pela máfia lusitana que usa os aparelhos repressivos de
Estado para garantir os seus privilégios. A fotografia só mereceria um
elogio se o polícia tivesse despido a farda e passado para o lado dos
manifestantes: o caso amoroso desejado pelo General - outro representante do
poder repressivo do Estado - implica a capitulação dos manifestantes perante o
poder estabelecido. Os polícias não podem ser vistos como aliados porque a sua
missão é usar a violência para restabelecer a ordem social que priva os
manifestantes da sua humanidade. Como tenho defendido em diversos lugares, os
manifestantes devem adquirir consciência política radical: a política praticada
pelos governantes portugueses deve ser combatida com novas políticas
radicais. Alguém afirmou que o discurso do século XIX - entenda-se o
pensamento de Marx - está ultrapassado: os privilegiados temem a luta de
classes e dizem condenar a violência, não a sua própria violência
retrógrada mas a violência revolucionária que visa a realização plena
do humanismo integral. Ora, como demonstrou Merleau-Ponty, não há escolha
entre a violência e a não-violência, entre o humanismo e o terror,
mas apenas entre dois modos de violência - a capitalista e a socialista. A
renúncia à violência revolucionária fortalece o reino da exploração
capitalista, mas o seu uso tem a oportunidade de romper o círculo infernal
do terror e contra-terror na medida em que é veiculada pela solidariedade do
povo em sofrimento que, enquanto força política, é capaz de traduzir o
humanismo de ideologia em realidade. Numa sociedade profundamente corrupta e
desigual como a sociedade portuguesa, não há diálogo possível entre os
carrascos e as vítimas, até porque o diálogo não muda nada. A crítica marxista
da democracia liberal não perdeu actualidade e a teoria leninista do
Estado continua a ser pertinente, embora deva ser reavaliada. O marxismo é
verdadeiro ontem e hoje. Aconselho a leitura de Humanismo e
Terror de Merleau-Ponty. (Fátima Campos Ferreira tem uma ideia errada da
ordem pública: os verdadeiros representantes da ordem pública são os
manifestantes, não os seus convidados privilegiados e opressores! O sociólogo
convidado fez uma triste figura!)
J Francisco Saraiva de Sousa
Quarta-feira, 19 de Setembro de 2012
É possível (re)começar a dialéctica marxista?
Porto: Ribeira |
A Queda do Muro de Berlim
gerou um retrocesso civilizacional. Os ideólogos neoliberais
entoaram cânticos de triunfo: o marxismo podia ser finalmente enterrado.
Porém, a crise de 2008 converteu o triunfo em derrota do neoliberalismo. O
marxismo volta a estar na ordem do dia num mundo em que o Ocidente já não está
sozinho. A globalização promovida pelo neoliberalismo virou-se contra ele e, o
que é mais preocupante, contra o Ocidente. O neoliberalismo ameaça os próprios
fundamentos da civilização ocidental: a sua expansão implica um retrocesso
intolerável da cultura. A natureza e a cultura revoltam-se contra o
capitalismo em todos os cantos do mundo, o qual gera os seus próprios coveiros à
medida que se globaliza, como o demonstra o ódio que o mundo global nutre pelos
Estados Unidos. Marx tinha razão quando previa que o capitalismo só entraria em
colapso depois de se ter globalizado; no entanto, a globalização do capitalismo
tem gerado contradições sociais não previstas pela teoria marxista. A dialéctica
é obrigada a globalizar-se e, ao se globalizar, defronta-se com uma
realidade-outra que lhe é estranha: o conceito filosófico de história da
humanidade deve ser completamente revisto ou mesmo abandonado. A globalização do
capitalismo já não é a globalização do domínio ocidental.
Surgiram diversos modelos
dialécticos sem que nenhum deles tenha sido sistematizado de forma
formal-abstracta. Geralmente, alega-se que a dialéctica está inscrita na própria
realidade sem a qual não pode ser exposta. Sem conteúdos não há dialéctica. O
marxismo ocidental produziu algumas figuras dialécticas notáveis. Georg Lukács
praticou a dialéctica da auto-consciência histórica ou dialéctica
sujeito-objecto; António Gramsci destacou as contradições
teoria-praxis; Herbert Marcuse exerceu a dialéctica
essência-existência e Colletti a dialéctica aparência-realidade.
Todas estas figuras dialécticas derivam de Hegel. Walter Benjamin viu na
dialéctica a descontinuidade e o aspecto catastrófico da História. Ernst
Bloch concebeu a dialéctica como fantasia objectiva. Para Sartre, a
dialéctica está enraizada na inteligibilidade da actividade ou praxis
totalizante do próprio indivíduo. Em Henri Lefèbvre, a dialéctica aponta
para o objectivo da humanidade desalienada. A dialéctica de Della Volpe
consiste num pensamento não-rígido, não-hipostasiado, enquanto a
dialéctica de Althusser representa a complexidade, a pré-formação ou a
sobredeterminação das totalidades. As dialécticas de Della Volpe e de
Althusser são claramente anti-hegelianas, sendo a de Althusser marcada
pelas distinções de Mao Tsé-Tung e pelo desenvolvimento desigual de Lenine.
Theodor W. Adorno destaca a crítica imanente e o pensamento de
não-identidade: a sua dialéctica negativa ainda não foi
bem-compreendida. Às figuras dialécticas do marxismo ocidental devemos
acrescentar as figuras dialécticas elaboradas pelo marxismo soviético ou mesmo
por outros dirigentes comunistas, tais como Mao Tsé-Tung e Che Guevara. A
dialéctica de Lenine é extremamente complexa e, pela sua abertura a
Hegel, merece um estudo mais detalhado. Cada uma destas figuras dialécticas
tentou articular a dialéctica e o materialismo. Alguns autores pensam que essa
articulação é impossível: o materialismo dialéctico é, para eles,
impensável. É estranho como consideram ser impossível aquilo que foi realizado
por todas estas figuras dialécticas. Tanto a dialéctica essência-aparência de
Marcuse como a dialéctica negativa de Adorno realizaram essa articulação entre
materialismo e dialéctica. Infelizmente, as obras destes filósofos
deixaram de estar disponíveis em boas traduções. Hoje as livrarias estão
repletas de merda: qualquer tolinho político escreve o seu livro e as manadas
tendem a comprá-lo, não para o ler mas só por comprar. O ofuscamento está
de tal modo generalizado que já não tenho vontade de partilhar nada com ninguém.
Só o pensamento da aniquilação total da sociedade estabelecida conforta o
meu espírito. A dialéctica é aniquilação: lá onde morre um homem ou centenas de
milhares de homens há dialéctica.
J Francisco Saraiva de
Sousa
Terça-feira, 18 de Setembro de 2012
Podemos ser marxistas sem ser comunistas?
Porto e Douro River |
A questão é puramente
retórica: Eu sou marxista e, no entanto, nunca acreditei na possibilidade de
realização real de uma sociedade comunista, e o próprio Marx já era comunista
antes de ser marxista. O comunismo não é uma invenção marxista: ele tem,
portanto, uma arqueologia atrás de si. A Filosofia tem elaborado ao longo da sua
história diversas utopias que lhe permitiram criticar a ordem estabelecida, de
modo a operar transformações significativas do mundo: o comunismo foi uma dessas
utopias sociais. Não nego o papel histórico desempenhado pelo comunismo:
ele serviu de bandeira à luta de classes dos trabalhadores contra a
exploração económica e a opressão política. No entanto, qualquer
tentativa séria de realizar o comunismo esbarra contra determinadas
estruturas da natureza humana. Considero que tentar moldar a própria
natureza humana é uma tarefa perigosa, porque ela produz um acréscimo de
dominação em vez de um acréscimo de liberdade. A actualização do
marxismo que preconizo implica o abandono do projecto comunista e a sua
substituição por um novo projecto político. Já cheguei a defender uma
utopia mínima: uma sociedade não-regulamentada. Porém, o meu
realismo político leva-me a desconfiar da possibilidade efectiva de uma
sociedade de indivíduos autónomos: a dialéctica confronta-se em
cada conjuntura política com os limites que a natureza humana impõe à sua
imaginação. A história é um processo aberto: qualquer tentativa para o
concluir produz mais dominação do que libertação. E a dialéctica
está condenada a oscilar entre a dominação e a libertação se quiser ser a figura
da própria abertura. A ideia de uma sociedade desalienada não é
dialéctica.
Ando muito preocupado com a
ausência de estudos económicos marxistas: a teoria filosófica só pode
criticar a sociedade estabelecida em função de alternativas económicas propostas
por economistas marxistas. Com a emergência do estruturalismo, pelo menos
no espaço francófono, a Filosofia não só recusou a História como também
abandonou a crítica da economia política. O estruturalismo entregou o
destino do mundo nas mãos dos tecnocratas e dos seus modelos neoliberais. O
estruturalismo foi provavelmente a filosofia mais nociva produzida nas últimas
décadas do século XX: todas as outras filosofias que dele emergiram mais não são
do que capitulações da Filosofia perante a economia neoliberal. Ora, como
demonstra a crise de 2008, os economistas não são as figuras mais adequadas para
gerir os destinos do mundo. A economia tal como a conhecemos mais não é do que a
tentativa de moldar o mundo em função dos interesses de determinadas camadas da
classe capitalista. Os manuais de texto da economia devem ser queimados na praça
pública, porque não queremos ser governados por homens que odeiam a cultura
superior. Ser economista é sinónimo de malvado. António Sérgio lamentava a
aversão dos portugueses pelos estudos económicos, sem no entanto ter explicado
essa aversão: as escolas de economia que entretanto surgiram em Portugal
são escolas de ladrões: os seus membros sonham desde cedo com o seu
próprio enriquecimento pessoal à custa dos empobrecimento dos portugueses. Os
economistas e os gestores não geram riqueza; pelo contrário, eles geram
pobreza planeada. O mundo regrediu desde que os economistas e os gestores
capturaram o poder económico e o poder político. A crise em que vivemos é também
a crise desta ideologia económica.
J Francisco Saraiva de
Sousa
Uma comunidade marxista virtual?
Porto: Ribeira |
A actualização do
marxismo exige a formação de uma comunidade marxista virtual. Apelo,
portanto, a todos os marxistas que adiram a este projecto de formar um grupo de
trabalho, dotado de uma agenda teórica e política, para debater a situação do
marxismo num mundo cada vez mais global. Há muitos blogues marxistas, cujos
autores podem unir esforços para revitalizar o marxismo. Tenho trabalhado
sozinho nesse projecto, mas reconheço ser necessário aliar-me a todos aqueles
que consideram que a solução para os problemas sociais se encontra esboçada na
obra de Karl Marx: o cibermarxismo preconiza a luta de classes em todos
os nichos da Internet. Aguardo a vossa adesão e as vossas sugestões.
Portugal é a "pátria" da
indigência cognitiva e cultural. Já tentei criar um grupo real de
trabalho com o objectivo de formar a Escola do Porto, dotada de um centro
de pesquisa social e filosófica e de uma revista. Porém, as pessoas
que aderiram ao projecto careciam de real formação científica e filosófica,
encarando-o mais como uma oportunidade de emprego do que como um grupo activo de
intelectuais comprometidos na luta pela construção de um mundo melhor.
Além disso, os banqueiros e os empresários portugueses são muito conservadores e
reaccionários para financiar um projecto que visa a transformação qualitativa do
mundo. Aquilo que não consegui realizar no mundo real pode talvez ser realizado
no mundo virtual que ultrapassa as barreiras físicas e psicológicas de Portugal;
pelo menos, esta é a minha derradeira esperança.
J Francisco Saraiva de
Sousa
Segunda-feira, 17 de Setembro de 2012
O meu regresso à blogosfera
Porto at night |
A irracionalidade das
sociedades ocidentais - em especial da sociedade portuguesa - espanta-me. Os
gregos diziam que o espanto estava na origem do conhecimento, mas o
espanto que se apodera do meu núcleo existencial confronta-me com a escassez de
palavras adequadas para nomear todos os aspectos irracionais das sociedades
contemporâneas. Encontrar as palavras adequadas para nomear as irracionalidades
das nossas sociedades constitui a primeira tarefa a ser cumprida por uma nova
Filosofia: os vocabulários de que dispomos estão esgotados. Dizer a
verdade da irracionalidade de um mundo cada vez mais global exige um novo
vocabulário. Não é fácil operar uma mudança de vocabulários. Tenho
ensaiado alguns novos vocabulários, mas ainda não descobri o vocabulário mais
adequado para dizer a verdade. Estou demasiado familiarizado com a
tradição do pensamento ocidental para introduzir uma brecha nela, a
partir da qual posso renovar o próprio pensamento filosófico. Em Filosofia, nada
é radicalmente novo: o novo vocabulário que procuro encontra-se já presente nas
entrelinhas da obra de Karl Marx. Actualizar o pensamento de Marx é
emprestar-lhe um novo vocabulário que implica a reformulação do projecto
político do marxismo. A filosofia contemporânea perdeu-se em jogos de
linguagem alienados do mundo. Há mundo: este facto deixou de espantar os
filósofos contemporâneos que se refugiam em palavras mágicas para encontrar
"soluções" para problemas que não são reais. A filosofia-masturbação
mental causa-nos perplexidade: Há mundo, há seres humanos completamente
alienados do mundo. Eis a causa da nossa perplexidade: elaborar uma
filosofia-mundo para quem? Olhamos em nosso redor e não encontramos
audiência: os humanos desapareceram da face da Terra. Hoje a Filosofia não tem
audiência: o capitalismo destruiu a humanidade dos homens, reduzindo-os à
sua animalidade. O capitalismo é inimigo da cultura: lá onde ele se instala a
cultura morre. A teoria filosófica permanece fiel a Marx: a crítica
pressupõe a crítica da economia política; as categorias filosóficas
fundamentam-se em categorias económicas. Guerrilha filosófica: eis como
designo este meu regresso à blogosfera.
J Francisco Saraiva de
Sousa
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