Jornal Zambeze – 04.04.2004
Por Yá-qub Sibindy*
No jornal “Domingo” de 04 de Abril de 2004, página 8, na coluna "Carta a muitos amigos", Sérgio Vieira fala como um mestre hipócrita, de "Reconciliação com os compatriotas instrumentalizados pelos saudosistas do colonialismo e os radicais do racismo rodesiano e sul-africano” Temos imensas dúvidas se a propalada reconciliação a FREL IMO também a fez com os familiares e parentes das vítimas dos fuzilamentos e deportados protagonizados pelo regime. A reconciliação não faz esquecer que a FRELIMO fuzilou cidadãos inocentes, deportou para as densas matas do Niassa e Cabo Delgado cidadãos cujas razões são ainda desconhecidas.
Quando Sérgio Vieira, publicamente e em sede do Parlamento, declarou que “Fuzilámos os reacionários e traidores da Pátria", deveria o PGR ter requerido a sua suspensão da AR e submetê-lo à investigação. Em nenhum momento Sérgio Vieira e seus colegas carniceiros substituíram os tribunais e muito menos ainda deliberar quem é reacionário ou revolucionário, poupar a vida ou passar a certidão de óbito a cidadãos, pelo facto de não concordarem com a Frelimo. A PGR não deveria aguardar por queixas dos familiares destes para se fazer justiça.
A sobrevivência deste bando de assassinos deve-se ao facto de a Frelimo ainda continuar a controlar todos os poderes do Estado, apesar de uma separação fictícia. Sérgio Vieira não tem provas de que o Dr Eduardo Mondlane foi assassinado por Urias Simango Silvério Nongo e noutras aparições mete Samuel Dhlakama no barulho. Durante a luta de libertação nacional a Frelimo tinha estatutos e programa e não se sabe porquê um grupo de pessoas tem que decidir pela vida dos demais, à margem dos órgãos. Documentos oficiais existentes provam que Urias Simango foi vítima de uma cabala de assassinos infiltrados na Frelimo.
Urias Simango opunha-se que as armas de libertação servissem para matar combatentes e por isso arranjou-lhe vários inimigos de entre os “revolucionários" que tentavam assaltar o poder, após a morte de Eduardo Mondlane. É absurdo classificar de reaccionário alguém que pensa de tal modo. Não está claro quem se opunha à libertação da pátria. Sérgio Vieira usa sofismas para manipular a historia pretendendo ser advogado dos criminosos.
Se a Frelimo tivesse poupado a vida de Urias Simango e seus companheiros do martírio, hoje poderiam ser grandes parceiros do desenvolvimento democrático, económico, sócio-político do nosso País, tal como Nelson Mandela, poupado pelo apartheid, o tem sido para a RSA e o mundo. Temos dificuldades em dizer quem foi mais cruel, se o regime do apartheid ou os bandos revolucionários da Frelimo.
As matanças de inocentes continuaram mesmo depois de 1975
A cultura de matanças e assassinatos continuou na Frelimo mesmo depois da proclamação da Independência Nacional, em 1975. EM Moçambique havia um Estado constituído com todas as suas instituições implantadas em território nacional, deveria, por esta razão, guiar-se na base das leis e não perseguir métodos terroristas, que até aos nossos dias prosseguem sob outras formas de crime organizado que Sérgio Vieira chama de “evolução de um corpo social”.
Os juízes que são coagidos a julgar as farsas do crime organizado na BO acabam entendendo que são usados por malfeitores e dizem que os mandantes estão fora a passear a sua classe de corruptos, protegidos pelo poder do Estado. Sérgio Vieira não compreende que o seu partido já não é de “vanguarda dos operários e camponeses". Fala para as pessoas como se ainda fosse o "manda-chuvas" do SNASP, considera os outros como insignificantes que nada têm a dizer sobre o País. Ainda não entendeu que Moçambique já não é "propriedade" da Frelimo
Não fosse desconhecido teria sido morto pela SNASP
Dou-me por feliz por ter sido “um ilustre desconhecido”. Gostaria de lembrar a Sérgio Vieira que se não fossemos “um ilustre desconhecido”, não teríamos sobrevivido ao SNASP que empreendia buscas para apanhar cidadãos com opiniões diferentes ou contrárias sobre a história do País e seu Povo ou que discordavam da ideologia comunista, teria sido “pescado” e nossa família teria tomado conhecimento do facto pelos jornais anunciando a nossa “fuga” da cadeia, apelando aos GDs, GVs, Milícias Populares, Células do Partido para nos “capturarem”, tal como acontecia com vários outros moçambicanos.
Os familiares das vítimas ainda aguardam por um esclarecimento do que se passou com os seus parentes. Sérgio Vieira deve ter ficado aliviado quando Afonso Dhlakama desmentiu que não levaria os dirigentes da Frelimo ao julgamento quando fosse eleito Presidente da República. Seria “renovação na continuidade” se Afonso Dhlakama, na qualidade de chefe de Estado, impedisse que cidadãos demandem a justiça sobre os seus familiares mortos pelo regime. Sérgio Vieira não perde por esperar, o vendaval que virá partir-lhe a coluna vertebral.
Armando Guebuza, então chefe da bancada da Frelimo, não emitiu nenhuma declaração publica a distanciar-se do deputado Sérgio Vieira quando declarou que “nós matamos os reacionários e traidores”. Estamos a conviver com criminosos confessos, que não perderam tempo para tirar vida a seus compatriotas e camaradas de armas. Seria um grande erro político se nas próximas eleições o eleitorado voltar a dar voto de confiança de confiança a assassinos que ainda se não arrependeram dos seus males, por mais que o povo tente esquecer, votam à carga, vangloriando-se dos crimes hediondos que cometeram como se tivessem degolado animais.
Frelimo reclama verdade absoluta para si
Não queremos ser julgados pelas gerações vindouras quando questionarem a nossa seriedade em não termos sabido distinguir assassinos dos revolucionários, governantes honestos de bandos de malfeitores, ladrões de votos de democratas, delapidadores do bem público e “mainatos” de capitais de "empresários de sucesso". Arrogantes e incompetentes de prometedores do futuro melhor e mudanças, manipuladores da justiça. O que estamos escrevendo ficará na memória colectiva e não afundado no fundo do mar como os arquivos da Frelimo que foram mergulhados no Oceano Índico, em Dar-Es-Salam, pelos criminosos e manipuladores da história de Moçambique com objectivos de reclamar para si a verdade absoluta dos factos.
*Candidato à Presidência da República
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