A Originalidade Conservada, Difundindo a Informação
Thursday, August 23, 2012
Samora Machel + Samora Machel
Livre Pensador
I
II - A Presidência
No plano interno, Samora sempre assumiu uma política autocrática e
populista, tentando utilizar nos meios urbanos os métodos usados na
guerrilha e promover o desenvolvimento do país em bases socialistas, com
repressão de qualquer dissidência interna. Menos de um mês depois da
independência, Samora anunciou a nacionalização da saúde, da educação e
da justiça; passado um ano, a ...nacionalização das casas de rendimento,
criando a APIE (Administração do Parque Imobiliário do Estado), que
alugava as casas com rendas de acordo com o rendimento do agregado
familiar. Lançou grandes programas de socialização do campo, com o apoio
dos países socialistas, envolvendo-se pessoalmente numa campanha de
colheita do arroz. Conseguiu ainda o apoio popular, principalmente dos
jovens, para operações de grande vulto, tais como o recenseamento da
população, em 1980, e a troca da moeda colonial pela nova moeda, o
metical, no mesmo ano. Outras políticas populares foram as «ofensivas» a
favor do aumento da produtividade e contra a corrupção, geralmente
anunciadas em grandes comícios, para os quais a população era
maciçamente convocada.
No entanto, poucas destas campanhas tiveram êxito e, em parte, levaram à
partida de grande número de residentes de origem estrangeira,
portugueses na sua maioria, o que provocou a paralisação temporária de
muitas empresas e, mais tarde, por falta de capacidade de gestão, o
colapso de muitos setores, como as indústrias têxtil, metalúrgica e
química. Outras medidas impopulares foram o encarceramento nos chamados
«campos de reeducação» das Testemunhas de Jeová, dos «improdutivos» e
das prostitutas e a colocação em locais remotos de jovens com cursos
superiores, medidas com o alegado objectivo de desenvolver regiões onde
havia pouca população. A instalação do aparelho policial e repressivo
gerou também desencanto entre a população, sobretudo urbana, em expansão
rápida nos anos 70 e 80, e as próprias bases do partido Frelimo.
Sob a iniciativa do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular) e da
PIC (Polícia de Investigação Criminal), proliferaram as detenções, quer
em penitenciárias tradicionais, como a da Machava, quer em «campos de
reeducação» perdidos no mato do Norte e do Centro do país. A própria
primeira mulher de Machel, que ele abandonara quando partira para a
Tanzânia em 1963, foi detida, mau grado a sua ausência total de
atividade política. A vida quotidiana dos cidadãos passou a ser vigiada
pelos «grupos dinamizadores», células de controlo criadas a nível dos
bairros e locais de trabalho.
Foi imposta uma reforma agrária, que visava agrupar os camponeses em
«aldeias comunais» segundo o modelo dos kolkhozes e sovkhozes. Para o
efeito, o novo regime moçambicano não hesitou em utilizar os antigos
«aldeamentos», pequenos aglomerados nos quais o exército português
tentara confinar a população rural, tradicionalmente dispersa em
unidades unifamiliares no campo, a fim de a subtrair à influência da
FRELIMO nas zonas do Norte afectadas pela guerra (paradoxalmente, a
própria FRELIMO classificava então esses «aldeamentos» como «campos de
concentração»). A reforma agrária baseada no conceito das «aldeias
comunais» redundou num fiasco colossal.
Na frente externa, Samora sempre seguiu uma política de angariar
amizades e apoio para Moçambique, não só entre os «amigos» tradicionais,
os países do «bloco soviético» e os países vizinhos unidos numa frente
de integração regional, a SADCC, mas até entre os seus «inimigos», sendo
inclusivamente recebido (embora com frieza) por Ronald Reagan e tendo
assinado um acordo de boa-vizinhança com Pieter Botha, presidente da
África do Sul nos últimos anos do apartheid (o Acordo de Nkomati).
Apesar disso, Samora não conseguiu suster a guerra que, iniciada logo a
seguir à independência pelos vizinhos regimes racistas (a África do Sul e
a Rodésia de Ian Smith), se tornou uma verdadeira guerra civil dirigida
por um movimento de resistência armada (a RENAMO). A guerra civil durou
16 anos, provocou cerca de um milhão de mortos e cinco milhões de
deslocados e destruiu grande parte das infraestruturas do país.
A partida da comunidade portuguesa, o insucesso da política de
socialização e a guerra levaram a um colapso económico, e Samora, nos
últimos anos, teve de abrandar a política de orientação comunista,
permitindo aos «quadros» acesso a bens que estavam vedados ao comum dos
cidadãos, encetando conversações com a RENAMO e, finalmente, organizando
acordos com o Banco Mundial e o FMI, no sentido de estancar a guerra e
relançar a economia.
Ver mais
Um dia dedicado às histórias sobre Samora Machel
Source: http://opais.sapo.mz/index.php/politica/63-politica/17303-um-dia-dedicado-as-historias-sobre-samora-machel.html
I
II - A Presidência
No plano interno, Samora sempre assumiu uma política autocrática e populista, tentando utilizar nos meios urbanos os métodos usados na guerrilha e promover o desenvolvimento do país em bases socialistas, com repressão de qualquer dissidência interna. Menos de um mês depois da independência, Samora anunciou a nacionalização da saúde, da educação e da justiça; passado um ano, a ...nacionalização das casas de rendimento, criando a APIE (Administração do Parque Imobiliário do Estado), que alugava as casas com rendas de acordo com o rendimento do agregado familiar. Lançou grandes programas de socialização do campo, com o apoio dos países socialistas, envolvendo-se pessoalmente numa campanha de colheita do arroz. Conseguiu ainda o apoio popular, principalmente dos jovens, para operações de grande vulto, tais como o recenseamento da população, em 1980, e a troca da moeda colonial pela nova moeda, o metical, no mesmo ano. Outras políticas populares foram as «ofensivas» a favor do aumento da produtividade e contra a corrupção, geralmente anunciadas em grandes comícios, para os quais a população era maciçamente convocada.
No entanto, poucas destas campanhas tiveram êxito e, em parte, levaram à partida de grande número de residentes de origem estrangeira, portugueses na sua maioria, o que provocou a paralisação temporária de muitas empresas e, mais tarde, por falta de capacidade de gestão, o colapso de muitos setores, como as indústrias têxtil, metalúrgica e química. Outras medidas impopulares foram o encarceramento nos chamados «campos de reeducação» das Testemunhas de Jeová, dos «improdutivos» e das prostitutas e a colocação em locais remotos de jovens com cursos superiores, medidas com o alegado objectivo de desenvolver regiões onde havia pouca população. A instalação do aparelho policial e repressivo gerou também desencanto entre a população, sobretudo urbana, em expansão rápida nos anos 70 e 80, e as próprias bases do partido Frelimo.
Sob a iniciativa do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular) e da PIC (Polícia de Investigação Criminal), proliferaram as detenções, quer em penitenciárias tradicionais, como a da Machava, quer em «campos de reeducação» perdidos no mato do Norte e do Centro do país. A própria primeira mulher de Machel, que ele abandonara quando partira para a Tanzânia em 1963, foi detida, mau grado a sua ausência total de atividade política. A vida quotidiana dos cidadãos passou a ser vigiada pelos «grupos dinamizadores», células de controlo criadas a nível dos bairros e locais de trabalho.
Foi imposta uma reforma agrária, que visava agrupar os camponeses em «aldeias comunais» segundo o modelo dos kolkhozes e sovkhozes. Para o efeito, o novo regime moçambicano não hesitou em utilizar os antigos «aldeamentos», pequenos aglomerados nos quais o exército português tentara confinar a população rural, tradicionalmente dispersa em unidades unifamiliares no campo, a fim de a subtrair à influência da FRELIMO nas zonas do Norte afectadas pela guerra (paradoxalmente, a própria FRELIMO classificava então esses «aldeamentos» como «campos de concentração»). A reforma agrária baseada no conceito das «aldeias comunais» redundou num fiasco colossal.
Na frente externa, Samora sempre seguiu uma política de angariar amizades e apoio para Moçambique, não só entre os «amigos» tradicionais, os países do «bloco soviético» e os países vizinhos unidos numa frente de integração regional, a SADCC, mas até entre os seus «inimigos», sendo inclusivamente recebido (embora com frieza) por Ronald Reagan e tendo assinado um acordo de boa-vizinhança com Pieter Botha, presidente da África do Sul nos últimos anos do apartheid (o Acordo de Nkomati). Apesar disso, Samora não conseguiu suster a guerra que, iniciada logo a seguir à independência pelos vizinhos regimes racistas (a África do Sul e a Rodésia de Ian Smith), se tornou uma verdadeira guerra civil dirigida por um movimento de resistência armada (a RENAMO). A guerra civil durou 16 anos, provocou cerca de um milhão de mortos e cinco milhões de deslocados e destruiu grande parte das infraestruturas do país.
A partida da comunidade portuguesa, o insucesso da política de socialização e a guerra levaram a um colapso económico, e Samora, nos últimos anos, teve de abrandar a política de orientação comunista, permitindo aos «quadros» acesso a bens que estavam vedados ao comum dos cidadãos, encetando conversações com a RENAMO e, finalmente, organizando acordos com o Banco Mundial e o FMI, no sentido de estancar a guerra e relançar a economia.
Ver mais
Um dia dedicado às histórias sobre Samora Machel
Source: http://opais.sapo.mz/index.php/politica/63-politica/17303-um-dia-dedicado-as-historias-sobre-samora-machel.html