Anigugui
Por Samuel Matusse
Muitos actos importantes da nossa História têm duas vertentes e como é óbvio, um mesmo facto não pode ter acontecido de duas maneiras diferentes, se isso se verificar, significa que uma ou todas são falsas!
Às vezes até são factos simples que não precisam de qualquer escamoteamento, mas mesmo assim, aparecem com várias versões, porquê?
Por exemplo, as crianças são ensinadas que Samora celebrou a Independência às zero horas do dia 25 de Junho de 1975, mas hoje aparecem vozes que dizem que quando Machel chegou ao Estádio da Machava, já passava das zero, logo, não pode ter celebrado àquela hora. Qual é o problema de dizer a hora exacta em que foi celebrada a nossa independência? De facto os Acordos de Lusaka podem rezar isso, mas depois na prática, por diversos motivos, o fundador da nossa República não pôde cumprir, que se diga a verdade, porque isso não retira nada... o mais importante é termos ficado independentes,.. (obrigado Samora)!
Uns dizem que Machel se atrasou por causa da chuva que caía naquele
dia, outros que perdeu a hora porque estava num "alto papo" com o
Grande Homem Álvaro Cunhal, conhecido de todos nós! Qualquer destes
motivos é plausível, se isto é verdade, porque não dizer?
Também existem várias versões de quem deu o primeiro tiro e o lugar onde foi dado... porquê tudo isso?!
Mesmo sobre o Massacre de Mueda, já há duas versões. Há quem diga que
morreram 600 pessoas e outros dizem que foram 30. Qual é o número
certo?
Já não digo quando se fala donde morreu o Obreiro da nossa Unidade
Nacional! A História "oficial" sempre disse que o fatídico
acontecimento deu-se nos escritórios da Frelimo em Dar-es-Salam, mas
ultimamente aparecem vozes, mesmo de dentro do Partido, que dizem que
Dzovo morreu em casa duma sua amiga americana chamada Bety King!
Algumas vozes fazem notar que Bety era amiga no bom sentido da
palavra e que tal casa era restaurante e lá King vivia com o seu marido!
Penso que com esta explicação pretende-se dizer que não havia nada de... orgia! Todavia, é uma explicação escusada!
O que está em causa é referir que morreu no escritório quando não é
verdade! Não entendemos porque se oculta que Dzovo morreu fora do
escritório porquanto o que fez com que o inimigo lhe enviasse a bomba,
foi o facto de Dzovo querer nos libertar a todos nós? (obrigado Dzovo!)
O inimigo não lhe matou porque foi à casa da Bety! Aliás, por mais
que Dzovo tivesse perdido a vida por uma causa não directamente ligada à
Causa Nacional, para nós, o povo, seria o nosso Herói porque nós não
definimos o Herói pela forma como morre, mas sim pelos seus feitos em
vida. Um Homem pode ser Herói a vida inteira e depois morrer de
malária... vai deixar de ser Herói porque não morreu em combate? Não!
Há algum mal em Dzovo ter pegado documentos no escritório para ir
dar "uma olhada" num restaurante enquanto "enganava o estômago" talvez
com um chazito?! Nós, o povo, sabemos quanto Dzovo por nós se sacrificou
ao deixar um trabalho tão bem remunerado na ONU para vir lutar por
todos nós, o que é que pode anular tudo isto dos nossos corações?! Os
inimigos do povo já descobriram que o Poder tem... mentido muito
(desculpe-me a sinceridade!) para o povo e aproveitam-se disso para
criarem suas versões mesmo naquilo em que, excepcionalmente, o Poder
disse-nos a verdade!
Vejam que os inimigos do povo aproveitando-se das frequentes
distorções da História têm nos estado a dizer que existem dois Heróis
Nacionais que saíram da cripta! É claro que não acreditamos, mas nos
faz mal...
E as ossadas que Chelito trouxe da Tuga em Junho de 1985, são ou não
de Gungunhana? Os jornalistas da Tuga disseram ao saudoso Albino Magaia
que Chelito estava a ser fintado, é verdade?! Afinal de contas o que é
que na nossa História tem uma única versão?! O nosso poder... mente
muito...
Ultimamente o País tem novo Hino Nacional, tão lindo quanto o
primeiro! Quantas vezes ouvi pessoas a assobiarem o "Pátria Amada"! Não
é por falta de respeito àquele Símbolo Nacional, mas a sua
extraordinária beleza, amiúde nos tenta a assobiar... há moçambicanos
que em pleno içar da bandeira, são tentados a bater compassadamente com
o pé no chão!
É que o nosso Hino foi bem cozido! Mas como no nosso País já é moda
as páginas da História terem duas versões, o "Pátria Amada" também não é
excepção, ninguém consegue dizer-nos ao certo quem é o autor daquela
toda maravilha! Alguns dizem que é co-autoria do Dr. Salomão Manhiça e
do Maestro Chemana, mas outros dizem que não é nenhuma co-autoria, tudo
aquilo é fruto da extraordinária massa cinzenta do Dr. Manhiça!
Curiosamente, na Homenagem organizada pelo B.M., a título póstumo,
para o maestro Chemana no dia 19 de Junho de 2008, mano Guebas
disse-nos que aquele era co-autor do Pátria Amada! Mas, muitos
entendidos continuam a dizer que Manhiça, sozinho, esmerou o Pátria
Amada!
Eu, como doente de música, um dia telefonei para um entendido a
perguntar quem na verdade era o autor do Pátria Amada, em resposta
disse-me: "o de Portugal é Alfredo Kheil, o daqui não sei bem se é
Manhiça sozinho ou Manhiça com Chemana!"
Não é isto uma vergonha?! Conhecemos o autor do Hino dum Pais irmão e
não conhecemos o do nosso?! A culpa é do Poder que mente muito!
Quem é na verdade o autor do Pátria Amada? Digam-nos a verdade, só queremos saber!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 02.02.2011
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