Professores e encarregados de educação divergem quanto aos manuais a seguir
Por Salane Muchanga (texto) e
Naita Ussene (fotos)
A autorização pelo Ministério da Educação há poucos anos de as editoras privadas poderem elaborar e comercializar o livro do aluno, está a criar problemas para os encarregados de educação. Em causa está o facto de alguns professores do ensino secundário “obrigarem” os alunos a comprar manuais de algumas editoras cujo preço chega a ser o dobro do valor dos livros da mesma disciplina em outras editoras. Os directores de escola atiram a responsabilidade ao ministério de tutela, que por sua vez, reconhece haver lacunas no processo, mas promete soluções a curto prazo.
O SAVANA falou com uma mãe revoltada que não quis se identificar, temendo represálias para o filho na escola. Não compreende o porquê deve pagar 190 meticais a mais por um livro de Educação Visual da 8ª classe. Isto porque o professor do filho recomendou a compra do manual numa editora onde custa 420 meticais, enquanto o mesmo é comercializado a 230 meticais noutras editoras.
“Sou obrigada a comprar novos livros e como se não bastasse, a preço elevado. Com a diferença do preço, entre uma editora e outra, compraria mais um livro para o meu filho estudar”, refere.
Esta situação, que deixa os encarregados a pensar que os professores estão a fazer negócio com as editoras, verifica-se em várias escolas, quer públicas, quer privadas, da cidade de Maputo.
A mãe conta que comprou três livros da antiga instituição pública produtora e distribuidora de material escolar, Diname. Porém, para o seu espanto, o filho não acompanha as aulas de Português, Inglês, e Educação Visual, porque o professor usa outros manuais.
Segundo a mãe, o professor alega que estes livros espelham melhor os conteúdos do novo currículo escolar.
O problema é geral e, vários são os encarregados de educação que compram livros para os filhos, mas que na sala de aula não têm utilidade, pois o professor decide qual a editora que os educandos devem adquirir o manual.
Responsabilidade do ministério
Os directores de escolas reconhecem haver este problema, sobretudo, nas disciplinas de Inglês e Português, mas atiram a responsabilidade ao Ministério da Educação.
Orlando Dima, director da Escola Secundária Francisco Manyanga, entende que, para evitar constrangimentos, os encarregados de educação devem esperar a orientação do professor para comprar o livro “porque nos últimos anos há várias editoras autorizadas pelo ministério que vendem os livros e cada com diversas versões embora o conteúdo seja semelhante”.
“Nós como direcção não podemos definir a editora que o professor deve escolher, cabe a ele seleccionar, “observou Dima.
Todavia, Dima é de opinião de que a ideia de existência de várias editoras a produzir e a comercializar o livro do aluno é positiva “porque fornece opção de escolha. Havendo concorrência, as editoras vão trabalhar no sentido de produzir livros com mais qualidade”.
Mais a opção de escolha obriga aos pais a andar de uma editora à outra. Por exemplo, o livro de Inglês da 8ª classe custa na editora Longman, 242 meticais, na Diname, 265, e na Plural, 370.
As lacunas
Manuel Rego, director de Planificação e Cooperação do Ministério de Educação, explica que a sua instituição não adopta um livro para cada disciplina.
“Primeiro porque o ensino secundário não é gratuito, segundo porque temos que promover o sector privado”.
O que o ministério garante é que os livros produzidos estejam de acordo com o programa de ensino.
No entanto, há livros desactualizados a venda.
Nelson César, professor de Geografia e História no Liceu Polana, apela aos seus alunos a comprar o manual numa das editoras privadas e explica porquê: O livro de Geografia da 11ª classe com o título A Terra, Processos e Fenómenos não apresenta o capítulo Cosmografia, que é um dos temas presentes no novo currículo.
“Este manual, embora aborde outros conteúdos, já está desactualizado, por isso, recomendo aos meus alunos a adquirir outro. Os manuais de outras editoras são também bons, o aluno pode comprar como auxiliar, mas não para acompanhar a aula na sala”, explica.
O professor de Inglês da mesma escola, António Alfredo, prefere uma editora diferente à do colega. Para ele, o livro deve estar bem estruturado e com uma sequência lógica dos conteúdos.
“Seleccionei os livros porque apresentam gravuras nítidas que permitem uma melhor interpretação assim como vários exercícios”, explica Alfredo.
Rego entende que as reclamações dos encarregados de educação, de haver grande diferença do preço do livro para a mesma classe e disciplina, são justas, mas “essa é a regra do mercado e, é difícil para o ministério impor regras numa área em que o ensino não é gratuito”.
Contudo, reconhece que ainda há lacunas e assuntos pendentes quanto à definição do livro.
“Tenho que reconhecer que o assunto está a ser liberal de mais. Falta regularizar um pouco mais este processo e, espero que, até finais deste ano, aprove-se a política do livro que será implementada próximo ano ”, disse Rego.
Para ele, o importante é que deve haver comunicação entre a escola e os encarregados de educação.
Para minimizar a situação, o ministério, na voz de Rego, diz que, nos últimos dois anos, colocou mais livros nas bibliotecas das escolas públicas para permitir que o aluno que não tem recursos para comprar o livro, possa fazer consulta e leitura de manuais, embora reconheça a existência de escolas que não têm bibliotecas e outras que não funcionam.
SAVANA – 19.03.201
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