Moçambique, a Pérola do Índico
Tenho
acompanhado, com particular interesse, a actual situação política que se
vive em Moçambique, quando o País está a cerca de 100 dias das eleições
presidenciais que, provavelmente só provocarão uma grande alteração
dentro da Oposição com a entrada do MDM para o lugar de maior partido da
Oposição.
Depois de
analisar toda a vasta informação que me tem sido enviada, esta poderá
ser a última vitória da Frelimo, porque as grandes divisões existentes
no seu seio, entre os novos quadros políticos e os quadros oriundos da
luta armada, começam a extravasar para opinião pública melhor informada.
Estes novos quadros estão à espera de uma forte votação no MDM, para
encetarem um processo interno de Mudança, havendo, inclusive, alguns a
fazer jogo duplo. Não perspectivo uma derrota da Frelimo, porque as
condições, para que tal aconteça, estão muito longe de estarem reunidas.
Alguns exemplos:
FRELIMO, o passado, a estagnação e a pobreza
1 – O regime continua a ser uma ditadura, mascarada de democracia;
2 – Os militares radicais dos tempos do Samora Machel continuam a dominar o poder;
3 – A corrupção
continua a dominar a economia do País e é fomentada pelos detentores do
poder e que são os seus grandes beneficiários;
4 – Metade das
Receitas do Orçamento Geral do Estado provêm dos estados doadores o que,
na actual crise económica, poderá ter efeitos perniciosos na economia,
porque se prevê uma assinalável quebra nessas doações;
5 – Grande parte
dessas receitas não é aplicada no desenvolvimento do País, mas desviadas
para outros fins, nomeadamente o enriquecimento fraudulento dos
dirigentes da Frelimo;
6 – Toda a terra
pertence ao Estado, da qual o Governo põe e dispõe, pelo que a
iniciativa privada não existe ou é muito escassa;
RENAMO, uma vitória militar que não conseguiu ser uma vitória política
7 – Todo o aparelho do Estado é controlado pela Frelimo e o apoio estatal às autarquias depende da sua cor política;
8 – O ensino oficial é baseado no racismo contra os brancos, especialmente, contra os portugueses, com argumentos impensáveis;
9 – O clima de
medo está instalado em todo o País, especialmente, em Maputo, onde o
assassínio de advogados é uma constante, pelo que a justiça é aplicada
contra todas as normas do Direito Internacional;
10 – As eleições
não são livres e, muito menos, democráticas. Além da “compra” de votos,
há a intimidação, os votos que entram nas urnas sem que os eleitores
votem, enfim, uma encenação da democracia.
MDM, a esperança, o futuro, a democracia e a liberdade
Perante este cenário, só resta à
Oposição pedir a intervenção das Organizações Internacionais para
supervisionarem o processo eleitoral e, depois, aguardar pelo processo
de “autofagia” da Frelimo que poderá iniciar-se a qualquer momento,
embora dependendo muito dos resultados eleitorais.
(Continua…)
NOTA: Na
próxima Quinta-feira, 30/7, vou participar, na qualidade de
ex-combatente, no programa "Destaques" da Rtv, das 16.00 às 17.30 horas.
Este canal de televisão emite na posição 14 da Cabovisão Digital e na
posição 21 da TvCabo. Espero colocar alguns excertos no Youtube.
Álvaro Teixeira (GE)
Publicado por gruposespeciais às 22:21
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Terça-feira, 14 de Julho de 2009
A MINHA VIDA DE GE – Parte 3
(...Continuação)
Depois de me ter instalado na Beira,
apresentei-me, no dia seguinte, no Centro de Instrução de Grupos
Especiais – CIGE, no Dondo, uma pequena vila, situada a cerca de 30 Kms.
da Beira, servida pela estrada Beira - Vila Pery (Chimoio), que apesar
de pequena, tinha vida própria.
Monumento à entrada da Vila do Dondo
Aqui começou a minha integração nos
GE’s. Um mundo diferente, novas mentalidades, novas formas de encarar a
Guerra, enfim, um mundo à parte. Por todo o lado havia boinas amarelas e
farda preta (uniforme dos GE’s) ou boinas roxas e camuflados (uniforme
dos GEP’s), cuja existência eu desconhecia. O frenesim era enorme e
aumentou com a chegada dos graduados destacados para a “Operação
Furacão”, provenientes dos diversos distritos e aquartelamentos de
Moçambique e muitos militares de alta-patente que iriam coordenar toda a
operação.
Estabelecem-se as primeiras amizades e
iniciam-se as conversas sobre o passado de cada um. Havia histórias
para todos os gostos, desde as emboscadas em que caíram, às minas que
rebentavam na passagem das colunas, aos ataques aos aquartelamentos,
assaltos a bases da Frelimo, etc. Ouvi de tudo e dei graças por ter
estado cerca de 6 meses em Olivença e nada dessas coisas eu tivesse que
enfrentar. Foi no Dondo que eu comecei a despertar para outra realidade,
bem mais cruel do que o isolamento de Olivença. Comecei a ouvir falar
de mortos, de feridos e do horror da guerra e comecei a compreender o
comportamento estranho de alguns militares. Apercebi-me, então, de que,
após a formação do GE, iria ser confrontado com uma realidade que me
parecia virtual. Ia mesmo para a guerra, ia passar pelas mesmas
situações, mas com uma grande diferença, é que os militares que iríamos
formar, durante 6 meses, eram nativos das zonas onde o GE iria actuar no
teatro de operações. Este tempo de instrução era crucial e todos
tínhamos a consciência disso, pelo que todos nos empenhamos em dar o
melhor que sabíamos para tornar os GE’s nas autênticas “Máquinas de
Guerra” , conforme foram apodados, e que a Frelimo tanto temia.
Dondo - Rua da Vila Lusalite
Na minha opinião, é pena que, com base
na imensa documentação cinematográfica, em posse das nossas Forças
Armadas, não tivesse aparecido um Oliver Stone português, para retratar
esta realidade, muito parecida com a que se vê nos filmes sobre a guerra
do Vietname. Estou a escrever e, ao mesmo tempo, a reviver todo aquele
aparato militar na pequena vila do Dondo, que incluiu a construção de um
novo CIGE, propositadamente, para esta operação militar que envolveu
cerca de 4.000 militares.
Ovar, 14 de Julho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Hermínio da Palma Inácio
Este “post” é um pouco mais curto,
porque acabei de receber a notícia da morte de um grande amigo, Hermínio
da Palma Inácio. Conheci-o, em Lisboa, em finais de Maio de 1974, no
Café Nicola, no Rossio, quando estava acompanhado de um, também, grande
amigo já falecido, Fernando Oneto. Conversávamos muito, quando tudo era
uma grande confusão. Ele próprio me confidenciou, muitas vezes, que o
receio que tinha era de que Portugal se tivesse libertado de uma
ditadura, para cair noutra, tais eram as indefinições da Junta de
Salvação Nacional e da influência dos grupos radicais. Palma Inácio era
um democrata e, sempre, defendeu os grandes valores da Liberdade, da
Justiça Social e da Fraternidade.
Aqui fica a minha singela, mas sentida, homenagem a um grande lutador. Descanse em paz.
O meu muito obrigado, meu Grande Amigo.
Para saber mais sobre a vida de Hermínio da Palma Inácio, clique no seguinte endereço:
http://www.barlavento.online.pt/index.ph p/noticia?id=14359
Publicado por gruposespeciais às 23:12
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Quarta-feira, 8 de Julho de 2009
A SOCIEDADE PORTUGUESA E A GUERRA COLONIAL – Parte 2
"...Os Homens só morrem quando a Pátria se esquece deles.."
(…continuação)
Monumento aos Mortos na Guerra Colonial - Lisboa
(…continuação)
Monumento aos Mortos na Guerra Colonial - Lisboa
Como é do conhecimento geral, o
Movimento do Capitães inicia-se como uma reacção corporativa a
directivas do regime e veio, mais tarde, a introduzir a componente
política, devido à derrota eminente das nossas Forças Armadas na
Guiné-Bissau. A solução política, para o desfecho da Guerra Colonial,
começou a ganhar força e há informações, que eu não posso confirmar, que
o governo de Marcelo Caetano se preparava para reconhecer, forçado
pelos generais António de Spínola e Costa Gomes, o direito da Guiné à
autodeterminação e independência, de modo a evitar uma derrota militar,
com todas as consequências que isso provocaria nas outras colónias,
Angola e Moçambique.
Torna-se claro que esta tomada de
posição obedecia a um projecto militar que consistia no reforço das
Forças Armadas em Moçambique, onde a situação militar estava no limiar
do ponto crítico, com os ataques da Frelimo no corredor da Beira/Manica.
A situação em Angola estava
controlada, com a FNLA e o MPLA retirados para o Zaire e com a Unita a
pautar as suas acções no sudoeste de Angola. Há que realçar que, nesta
ex-colónia, a luta armada já há, bastante tempo, era mais uma luta
fratricida entre os três Movimentos do que, propriamente, contra o
Exército Colonial Português.
Depois deste meu exercício de memória,
feito um pouco por alto neste “post”, uma vez que a situação de
Moçambique irei abordá-la mais em pormenor, quando passar a descrever a
minha actuação como GE, há que ter em consideração os seguintes aspectos
de uma Guerra, pela qual era obrigatório passar, mas que, quase ninguém
(os nossos militares) achava como sua:
A – Nunca, na nossa instrução militar, foi incutida a ideia de ir para África matar “pretinhos” indefesos;
B – Pelo contrário, foi-nos incutido
um espírito de protecção às populações e qualquer desmando conhecido era
severamente punido;
O autor do Blog com um órfão de guerra - Niassa (Moçambique)
C – Muitos dos nossos militares
prestaram serviço às populações, nomeadamente, no que diz respeito aos
cuidados de saúde, à preparação de terrenos para aproveitamento
agrícola, as chamadas “machambas”, na abertura de vias de comunicação,
no ensino, na construção de habitações, no fornecimento de energia
eléctrica, etc.;
D – O respeito pelos usos e costumes
das diferentes etnias, além de ser uma constante, era, também, um ponto
de convergência e de partilha. Era habitual a participação dos nossos
militares nas festas organizadas pela comunidade local e existia
reciprocidade, nomeadamente, na festa de Natal em que participava toda a
gente;
E – É evidente que aconteceram coisas
desagradáveis, o caso de Wiriamu é o mais conhecido e é, de facto, um
crime de guerra, mas que não passaram de acções individuais de pessoas
tresloucadas, porque nunca houve qualquer ordem de limpeza étnica e
estou convicto de que, por mera hipótese, se uma qualquer ordem dessas
fosse emanada, certamente que não seria cumprida.
Não é minha pretensão fazer qualquer
branqueamento da Guerra Colonial, que, do meu ponto de vista, nunca
deveria ter existido, mas a verdade é que ela existiu e que constitui
um período muito negro da nossa História, devido à falta de visão, para
não utilizar outros termos, dos nossos “pacóvios” governantes.
Por outro lado, nunca tivemos acesso a
uma informação neutra, mas sim a informação contraditória das partes
interessadas: A Rádio Moscovo e a Rádio Argel, por um lado e a, então,
Emissora Nacional com o seu programa “A Rádio Moscovo não fala verdade” e
as crónicas do jornalista Ferreira da Costa, sobre a situação em
Angola.
Acabada a Guerra Colonial, o assunto
passou a ser tabu e, infelizmente, não tivemos um Oliver Stone, para
descrever aos portugueses a realidade cruel deste passado recente. A
bibliografia existente quase não passa de testemunho pessoais, pelo que a
sua integração no contexto histórico, torna-se difícil de apreender.
As
duas séries produzidas pelo jornalista Joaquim Furtado para a RTP1, têm
o valor que têm, mas não passam de testemunhos pessoais, quase sempre
das mesmas pessoas, e que não passam de uma tentativa de comer o
interior do melão sem lhe tirar a casca.
E será, do meu ponto de vista, por
estes motivos que ainda existe uma grande clivagem entre os Partidos de
Direita e os de Esquerda sobre esta temática e, além disso, uma grande
parte da sociedade considerar que uma homenagem aos Mortos da Guerra
Colonial ou às confraternizações de ex-combatentes são demonstrações de
um espírito saudosista ou revanchista. Isto não corresponde,
minimamente, à realidade. Há ex-combatentes em todos os quadrantes
partidários, da extrema-direita à extrema-esquerda, mas há uma realidade
inequívoca e que é a de que os partidos de esquerda, ao não conseguirem
lidar com esta situação, a mesma tem sido aproveitada pelos partidos de
direita.
Acho que é tempo de acabar com estas
clivagens, a fim de que os nossos mortos possam descansar em paz e que
os vários milhares de ex-combatentes, cujas vidas foram desfeitas pelos
traumas de uma guerra injustificável, tenham direito a uma vida digna e
sejam integrados numa sociedade que os rejeitou.
Ovar, 7 de Julho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Publicado por gruposespeciais às 13:47
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Sábado, 4 de Julho de 2009
A SOCIEDADE PORTUGUESA E A GUERRA COLONIAL
Cerimónia Fúnebre
Há poucos dias coloquei um inquérito de opinião, num Blog do qual sou co-autor “Ovar_novosrumos” e cuja pergunta é a seguinte:
“Concorda que Ovar, a exemplo da
maioria dos municípios portugueses, construa um monumento de homenagem
aos seus mortos na Guerra Colonial?”.
Castelo de Paiva | Covilhã | Oliveira de Azemeis | Lisboa |
Muito embora o número de respostas ainda não seja significativo, permite, desde já, retirar uma conclusão:
Há uma grande percentagem de
portugueses que, ainda, não compreende o papel das nossas Forças
Armadas, especialmente dos milicianos, desempenhado no período da Guerra
Colonial, essencialmente, por falta de informação que ajude à
compreensão de tudo o que se passou nessa época e do seu enquadramento
na política geoestratégica mundial da altura.
1 – Portugal era governado em regime de ditadura colonial-fascista e o serviço militar era obrigatório;
2 – O Governo de então considerava que
Portugal ia da Europa a Timor e era uno e indivisível, pelo que os seus
militares eram obrigados a prestar o seu serviço no local para onde
fossem mobilizados;
3 – A imensa maioria da população era despolitizada e a taxa de analfabetismo rondava os 50% no início da década de 1960;
4 – A Guerra Colonial era vista como um drama por toda a gente, mas a resignação era total;
5 – Cada funeral de um militar morto
na guerra constituía uma grande manifestação de pesar e esse militar
passava a ser considerado como mais um herói que morreu ao serviço da
Pátria;
6 – O sentimento anti-colonialista só
se começou a fazer sentir, em muito pequena escala e restrito a
organizações clandestinas de extrema-esquerda, nos finais da década de
1960 e princípios da de 1970, galvanizadas pelo “Maio de 68” e pelo
movimente “hippy”, cuja sigla era “make love, not war”.
7 – É claro que durante os anos 60
aconteceram algumas acções anti-colonialistas, tal como a protagonizada
por Henrique Galvão, com o desvio do “Paquete Santa Maria” ou outras
efectuadas pela LUAR e pela ARA, mas que a propaganda do regime se
encarregava de ocultar ou de destruir, atribuindo a estes acontecimentos
um cunho de delito comum ou atitudes de traidores da Pátria;
8 – A política geoestratégica mundial
era dominada pela “Guerra Fria”, que estava no seu auge e os dois blocos
imperialistas, o Americano e o Soviético, lutavam taco-a-taco pela
manutenção e pelo alargamento da sua influência e é neste enquadramento
que surge o caso de Cuba e da Guerra do Vietname e, anos mais tarde, o
derrube do regime chileno de Salvador Allende;
9 – Enquanto a União Soviética ia
aproveitando as independências dos Países Africanos para alargar a sua
influência, os Estados Unidos da América consolidavam as suas posições
na América Latina;
10 – O regime português
colonial-fascista fica confrontado com estas duas situações, se, por um
lado, não contava com o apoio dos EUA, em termos políticos, era
confrontado com uma guerrilha apoiada pela URSS. Os EUA ainda tentaram
meter uma lança em África com o seu apoio à UPA de Holden Roberto, mais
tarde transformada na FNLA. A URSS dominava o PAIGC na Guiné, o MPLA, em
Angola e, após a morte de Eduardo Mondlane, a FRELIMO, em Moçambique;
Imagem de um dos Massacres da UPA - Angola 1961
11 – É neste quadro que ocorre a
Revolução de 25 de Abril de 1974. Os EUA, com o presidente Nixon
debilitado pelo escândalo do “Watergate”, nada poderiam fazer para
evitar que a URSS alargasse a sua influência em África, com as
independências das ex-colónias, através do seu apoio à “Independência,
já” e da sua influência em algumas cúpulas militares da Junta de
Salvação Nacional.
(Continua…)
Ovar, 4 de Julho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Publicado por gruposespeciais às 16:44
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Quarta-feira, 1 de Julho de 2009
O MEU TRIBUTO A CHE GUEVARA
A
famosa foto de Che Guevara, conhecida formalmente como “Guerrilheiro
Heróico”, onde aparece seu rosto com a boina negra olhando ao longe, foi
tirada por Alberto Korda em cinco de Março de 1960 quando Guevara tinha
31 anos num enterro de vítimas de uma explosão.
Somente foi publicada sete anos depois.
O Instituto de Arte de Maryland – EUA denominou-a “A mais famosa fotografia e maior ícone gráfico do mundo do século XX”. É, sem sombra de dúvidas, a imagem mais reproduzida de toda a história expressa um símbolo universal de rebeldia, em todas suas interpretações, (segue sendo um ícone para a juventude não filiada às tendências políticas principais).
Somente foi publicada sete anos depois.
O Instituto de Arte de Maryland – EUA denominou-a “A mais famosa fotografia e maior ícone gráfico do mundo do século XX”. É, sem sombra de dúvidas, a imagem mais reproduzida de toda a história expressa um símbolo universal de rebeldia, em todas suas interpretações, (segue sendo um ícone para a juventude não filiada às tendências políticas principais).
Poderá parecer
descabido incluir neste Blog uma homenagem e um tributo a Che Guevara,
mas, do meu ponto vista não é, uma vez que, infelizmente, o seu exemplo,
em muitos aspectos, continua actual, basta reparar no Golpe de Estado
ocorrido nas Honduras há bem poucos dias.
Aprendi a
conhecer a vida e a obra do Comandante Che Guevara, a partir dos meus 17
anos, quando frequentava o último ano do terceiro ciclo do ensino
secundário. Começou, a partir daí, a crescer a minha admiração por esta
grande figura da história mundial recente e considerada uma das maiores
100 personalidades do século XX, embora sabendo que ele tinha sido
assassinado em 1967, de uma forma ardilosa montada pelo imperialismo dos
EUA em que estes fizeram passar a mensagem de que ele tinha sido vítima
dos plantadores de coca da Bolívia.
Ernesto “Che”
Guevara era um comunista de formação política, mas era, sobretudo, um
combatente anti-imperialista e libertário e tinha uma utopia: a
libertação dos povos oprimidos.
Esta utopia, ele
que era natural da Argentina, onde se formou em medicina, fê-lo lutar,
como braço direito de Fidel Castro, ao lado dos guerrilheiros cubanos
que, a partir da Sierra Maestra, derrubaram a ditadura de
extrema-direita de Fulgêncio Baptista. Tanto ele, como Fidel Castro,
esperavam contar com o apoio dos EUA no desenvolvimento de Cuba.
O decanso do Guerrilheiro
(“Eu tinha a
maior vontade de entender-me com os Estados Unidos. Até fui lá, falei,
expliquei nossos objectivos. (...) Mas os bombardeios, por aviões
americanos, das nossas fazendas açucareiras, das nossas cidades; as
ameaças de invasão por tropas mercenárias e a ameaça de sanções
económicas constituem agressões à nossa soberania nacional, ao nosso
povo”.) (Fidel Castro, a Louis Wiznitzer, enviado especial do Globo a Havana, em entrevista publicada em 24 de Março de 1960).
Ocupou altos
cargos na administração cubana, mas a falta do apoio americano, obrigou o
regime de Fidel Castro a enveredar pelo apoio da União Soviética. E é, a
partir desta altura, que Che Guevara se começa a aperceber do
Imperialismo Soviético e que os ideais comunistas que ele perfilhava não
passavam de uma utopia, mas a sua personalidade libertária, fruto das
experiências vividas em toda a América Latina, nunca se alterou.
Era Ministro da
Indústria, quando abandona Cuba, em 1965, contrariando os conselheiros
soviéticos, para percorrer o caminho da sua utopia. Fidel Castro tinha
proclamado Cuba como uma República Marxista-Leninista o que, para Che
Guevara, um comunista utópico, com raízes anarquistas, não era mais do
que um colete-de-forças para a sua forma de encarar a vida. Deixou todas
as mordomias que o regime comunista de Fidel Castro lhe proporcionava e
embrenhou-se nas matas do continente sul-americano, para prosseguir a
sua luta de libertação dos pobres e oprimidos. Morre na Bolívia e o seu
cadáver, sem os dedos das mãos, é exibido como um troféu pelos militares
daquele País. Recusou-se a servir o imperialismo soviético, para morrer
às mãos dos servidores do imperialismo americano em 9 de Outubro de
1967, em La Higuera, Santa Cruz, Bolívia, contava, então, 39 anos de
idade.
O cadáver de "Che" Guevara, em exposição
Não me atrevo a
acabar este artigo, sem recordar Eduardo Mondlane. Cada um tinha a sua
utopia e, ambos, nunca seriam ditadores. A utopia de Mondlane era a
Libertação do seu País e do seu Povo e estabelecer um regime
democrático, de estilo ocidental, em Moçambique.
Esta
utopia levou-o ao seu assassinato às mãos daqueles que, dentro da
Frelimo, perfilhavam os “ideais” marxistas-leninistas-maoistas e estavam
a soldo do imperialismo comunista da União Soviética e da China e que,
ainda hoje, se mantêm no poder, não porque o povo vote neles, mas porque
a falta de intervenção cívica, que tanto jeito dá ao governo, leva a
que as taxas de abstenção que ultrapassam, largamente, as taxas de
votação.
A luta de ambos
não foi em vão, mas se a utopia de Che Guevara continuará no reino da
utopia, já a de Eduardo Modlane e Uria Simango poderá concretizar-se a
curto prazo. Para isso é necessário que os seus seguidores tenham o
poder e a inteligência de mobilizarem o Povo de Moçambique para ser o
protagonista de uma Revolução Pacífica e Democrática no próximo dia 28
de Outubro.
Faço votos para
que assim seja e que os Moçambicanos consigam concretizar a utopia de
Eduardo Mondlane, 40 anos após a sua morte.
Prisioneiros no Campo de Extermínio da Frelimo, em Netela, Niassa
Moçambique ainda não fez a paz com o seu passado, mas a memória destas pessoas exige-a
Ovar, 1 de Julho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Publicado por gruposespeciais às 18:22
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