Saturday, August 4, 2012

II Congresso da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO)

Memórias, por Raimundo Pachinuapa” (3) Ouvir com webReader

 

Para esclarecimento possível, de Luís Alves de Fraga (Coronel da Força Aérea na reserva), em A FORÇA AÉREA NA GUERRA EM ÁFRICA, transcrevo:

Pág. 134: Os primeiros FIAT G-91 chegaram a Moçambique - cidade da Beira, onde foram montados e experimentados - no final do ano de 1968.
Em toda a obra não é referida a existência de outro tipo de caças a jacto.
Pág. 141:
A FORÇA AÉREA E OS NÚMEROS DE MOÇAMBIQUE
Não vamos ser exaustivos na apresentação e aná­lise de números estatísticos. Referiremos apenas alguns marcos que ajudarão a perceber, mais em concreto, a actividade aérea na 3.a RA. Principal­mente podem permitir estabelecer comparações entre os teatros de guerra de Angola e Guiné. Quando um dia se fizer a História da Força Aérea e se conseguirem compilar todos os materiais arquivísticos ainda em fase de tratamento, certa­mente os historiadores terão ao seu dispor informa­ções mais amplas que ultrapassam o âmbito desta obra.
Dos vários relatórios (AHFA, Sala 334, Prat. A3, Cxs. 32, 34, 36, 37, 39, 40, 41, 42, 43) respigámos indica­ções que vão permitir comparar evoluções no largo espaço de dez a doze anos de presença de meios aéreos militares em Moçambique. Comecemos pelo levantamento do número de aero­naves existentes na RA — atribuídas (Atr.) e prontas (Prt.):


Tipo
1962
1963
1964
1972
1973
Atr. | Pr.
ktr.
Pr.
Atr.
Pr.
Atr.
Pr.
Atr.
Pr.
C-47
6
5
5
(a)
5
(o)
8
4
10
4
Nordatlas
4
3
6
4
4
(a)
10
3
9
4
PV-2
4
3
5
(a)
4
(a)
-
-
-
-
T-6
9
6
13
(a)
13
(a)
26
15
26
18
DO-27
8
5
13
(a)
13
(a)
28
14
27
17
Auster
2
0
15
(a)
15
(a)
12
5
12
10
Al III
-
-
-
-
-
-
32
17
32
22
FiatG-91
-
-
-
-
-
-
16
12
15
9
Cherokee
-
-
-
-
-
-
4
2
4
1
Cessna
-
-
-
-
-
-
6
1
6
1
SA-330
-
-
-
-
-
-
-
-
3
8
(a) Desconhecemos os números

Comments


1
Francisco Moises said...
segundo paragrafo do meu e-mail devia ler para "nao atrair a hostilidade.


Francisco Nota Moises

2
Francisco Moises said...
Obrigado sr. Mussandipata, o que disse faz muito sentido. Se nao eram os F-84 que nos sobrevoarem em Zobue em 1966 podiam ter sido avioes rhodesianos. Os rhodesianos vieram depois, da minha saida de Mocambique no dia 17 de Novembro de 1967, a desempenhar um papel importante em combantes, na provincia de Tete, em particular visto que, de acordo com um livro sobre os Selous Scouts, os rhodesianos estiveram convencidos que guerrilheiros zimbabweanos estavam presentes nas bases da Frelimo. Neste livro, que li quando estive na Suazilandia, os rhodesianos alegavam terem emprendidos operacoes contra bases terroristas em Tete que os portugueses nao eram capazes de empreender, seja por falta de competencia ou motivacao--uma atitude tipica daqueles inglesinhos rebeldes. No livro ha uma certa indicacao de que os rhodesianos tinham pouca confianca na capacidade da tropa portuguesa em montar operacoes rigorosas contra aqueles que eles chamavam "terrs"- a versao rhodesiana da palavra "turras."
Mais muitos ex-guerrilheiros da Frelimo com que eu falei na Tanzania e no Quenia, nao concordariam com os rhodesianos principalmene depois de Kaulza de Arriaga ter tomado o comando. Kaulza tinha uma intencao de atacar os guerrilheiros nos paises vizinhos, mas Cetano nao lhe admitiu que era para atrair a hostilidade internacional... Houve aqui uma boa troca de informacoes sobre a forca aerea portuguesa e o que apareceu nao e exausto, visto que a historia e duma certa maneira materia de intelectualidade e nao de absolutismo. Parece-me que aprendemos uns dos outros. Talvez seja tempo para passarmos a outros assuntos, se mais assuntos que nos interessam houver.
Francisco Nota Moises

3
Joao Cuambe said...
Fico grato ao esclarecimento do Sr. Benedito Marime, pessoa por quem tenho muito apreço e estima. De facto, andava este tempo todo equivocado quanto ao novo nome dado a Olivença. É que olhava para os mapas antigos e recentes e onde aproximadamente se localizava Olivença, aparecia Matchedje. Fica, no entanto, a anotação do topónimo correcto.
Gostaria igualmente de corrigir o que afirmei antes quanto aos 20 aviões existentes em todo o território moçambicano por altura do 2° Congresso da FRELIMO. Referia-me a aviões de combate, propriamente ditos. Quer o número que o Sr. Francisco Moisés obteve da Internet (32), quer os dados constantes do estudo do Coronel Luís Alves de Fraga não alteram o que eu disse.
Concretamente:
O T-6, ou Harvard, é uma aeronave de instrução (T refere-se a “Training”). Embora tivesse sido amplamente usado em ataques ao solo, isso não faz dele um “bombardeiro”.
O Lockheed PV2 Harpoon é um avião de reconhecimento concebido para operações navais. Tal como o T-6, foi usado em ataques ao solo no teatro das operações em Moçambique, mas isso também não faz dele um “bombardeiro”. No aeroporto de Vila Cabral encontravam-se destacados, a partir dos fins de 1965, 2 aviões deste tipo. Embora o estudo do Cor. Fraga não forneça dados completos, sabe-se que o número máximo de PV-2 em Moçambique foi de seis. Dois deles foram acidentados no Niassa em 1966, ficando o seu número reduzido a quatro. Em Setembro de 1971 os PV-2 abandonaram Moçambique.
O Nordatlas é um avião cargueiro, tal como o C-47. (O “C” refere-se a “cargo”)
O Dornier Do 27 é um avião utilitário, adequado a pistas de tamanho reduzido, situadas em zonas recônditas. É por isso designada de aeronave STOL (Short/Take Off Landing) ou descolagem/aterragem rápida. Obviamente que foi usado em operações militares em Moçambique, mas isso não faz do Dornier Do 27 um avião “bombardeiro”.
Quanto aos helicópteros Alouette, até à chegada do Gen. Kaúlza d’Arriaga a Moçambique nos princípios de 1970, apenas existiam nas zonas operacionais do norte de Moçambique (Niassa e Cabo Delgado) dois helicópteros. Quem o afirma é o antecessor de Kaúlza d’Arriaga, o General Augusto dos Santos. (vd. José Freire Antunes, A Guerra de África 1961-1974, Vol. I (Lisboa, Circulo dos Leitores, 1995), p. 288) O Gen. Augusto dos Santos é ainda citado na obra de Freire Antunes como tendo dito que não dispunha de meios de transporte aéreos e terrestres suficientes para assegurar a mobilidade das forças sob o seu comando.
Kaúlza d’Arriaga refere na sua obra (Em nome da verdade dos anos decisivos – Edições Referendo, Lisboa, 1987) que os “heli-canhões” (helicópteros equipados com metralhadoras de alto calibre) foram utilizados pela primeira vez no teatro das operações de Moçambique em 1970, por ocasião da Operação Nó Górdio.
Os primeiros 8 aviões Fiat G-91 chegaram a Moçambique a 25 de Dezembro de 1968. Vinham desmontados em contentores. Voltaram a ser montados em apenas 6 dias, tendo sido destacados para o Aeródromo Base N° 5 que se situava em Nacala, só entrando em acção em 1969, como antes havia afirmado.
Relativamente aos F-84, mantenho o que disse, tendo-me baseado em fontes oficiais da FAP.
Mas uma outra questão é a alegada utilização, conforme escreveu o Sr. Francisco Notas Moisés no “Canal de Moçambique” de Junho de 2007, “de 20 bombardeiros em ataques rotativos” a um alvo de reduzidas dimensões como era o local onde estava reunido o Congresso da FRELIMO. O alvo era simplesmente desproporcional para o número de aeronaves mencionado, logo despido de qualquer lógica.
Presumo que o Sr. Sr. Francisco Nota Moisés tenha ficado esclarecido quanto ao facto de Marcelino dos Santos ter sido vice-presidente da FRELIMO.
João Cuambe
joaoc90@hotmail.com

4
mussandipata said...
Tem razão Sr. Moisés, quanto a existência de F-84 em 1966.Os aviões (que sobrevoaram Boroma)podiam ter sido F-84, da BA10-Beira,( como o sr.Cuambe já referiu, que estiveram em Moçambique devido ao UDI da South Rodhesia do Ian Smith) espreitando qualquer "movimentação/infiltração" na fronteira de Malawi por parte de "agentes de sua Majestade".
Também em 1966, poderiam ser os bombardeiros "CAMBERRA" da Rhodesian Air Force, do Ian Smith, ou outros bombardeiros sul-africanos ao serviço da Rhodesia.
Quando terminou o bloqueio ao porto da Beira em 66, os aviões de combate a jacto F-84 "sumiram do BA10???" e do solo moçambicano, voltando a aparecer em finais de 1968 os famosos jactos subsónicos Fiat-G91.
A notar...
É pouco provável que o aeroporto de Chingozi (Matundo-Tete), tivesse operacionalidade em 1966, visto que nessa época, ser simplesmente um aeródromo para o DC3(salvo erro).Daí a utilização da BA10-Beira.

5
Francisco Moises said...
FACTOS VISTOS E VIVIDOS
O facto de que o col. Luis Alves da Fraga (FAP) nao se referiu da existencia de outros avioes a jacto nao quer dizer que nao houve em Moçambique os F-84 que eram avioes a jacto. O que nao posso dizer é se estes avios eram supersonicos ou subsonicos. Sei atraves de leituras que uma versao de F-84 da Força aerea americana destinava-se a carregar bombas atomicas. Tambem atraves de leituras soube, porem que o Fiat G91, fora de fabrico era, era do fabrido italo-germanico e subsonico.
Estive no seminario de Zobue em 1966 e era durante o recreio quando uma bela manha apareceram de surpresa em cima de nos dois avioes que voavam com uma rapidez extremamente estrondosa e a uma altitude baixa, coisa que nunca tinhamos visto dantes. A terra estremeceu. O imenso edicifio do seminario tremulou e o seu teto de zinco tilintou diabolicamente. O estrondo que produziam era assurdissante. Vinham da base aérea de Matundo na cidade de Tete. Os avioes regressaram pela parte da tarde, demonstrando a mesma rapidez e emitindo uma fumaça por onde passavam.
Tiveram muita cautela de nao atravessar a fronteira do Malawi e sem duvida que os malawianos, noutro lado, os viram. E lembro-me de estar eu a falar em Frances com alguns colegas "de ces avions à reaction (avioes a jacto em frances) de la force aérienne portugaise qui peuvent nous jeter des bonbons et nous tuer(avioes à jacto em frances) da força aérea portuguesa que podem nos largar rebuçados e matar" -- obviamente uma piada! Aquele tempo eu gostavam muito de falar frances com outros seminaristas que o conheciam e se atreviam a fala-lo comigo. Tinha uma obsessa, que ainda tenho, com a lingua francesa de que tanto gosto e amo.
Estive de férias naquele mesmo ano e andava eu na companhia de algumas mulheres da aldia de Mulambe wa Mbhondola para as lojas de Magagade em Sofala, a escassos quilometros da margem do Zambeze, quando repentinamente vimos, um pouco de longe a leste de nos, quatro avioes a jacto que iam em direccao da Beira, e nao saberia dizer donde em que vinham. Voavam rapidamente emitindo uma fumaça atraz deles.
E isto foi muito antes da chegada dos Fiat G91 em dezembr de 1968.
Francisco Nota Moises

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