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Canal de Opinião por Jafar Gulamo Jafar (*)
Assustador, o que lemos na imprensa na última semana, no que diz respeito a Nacala, ao MDM e aos quadros da Renamo. O semanário «Savana» conseguiu entrevistar o Régulo Dhlakama, e isso serviu para demonstrar que ele não passa de um Frelo mal disfarçado.
Como dizem os brasileiros, «caiu a ficha» do homem, de tal maneira que o melhor é esquecê-lo como actor político deste país.
Ele
disparou para todos os lados, e incluiu como alvo uma personalidade
eclesiástica de peso, alguém que contribuiu com muita clarividência para
o processo de paz moçambicano, alguém a quem a Renamo deve, pelo menos,
o favor de ter sido amigo e solidário, na altura em que era preciso
limar arestas no processo de paz. Trata-se de D. jaime
Gonçalves, Arcebispo da Beira, pessoa interessada na paz, na concórdia,
na defesa dos direitos fundamentais do cidadão, como a liberdade e a
democracia.
Pois, sem se saber porquê, D.Jaime agora foi apelidado de traidor, de Judas, acusado pelo chefão de ter «aconselhado» Deviz Simango a criar o MDM!!!
Seria cómico, mas não dá para deixar passar em claro tamanha
barbaridade, sobretudo porque o «tio Afonso» está a tentar passar um
atestado de menoridade ao Presidente do MDM,
e porque está a envolver terceiros num problema que é nosso, de todos
os militantes da Renamo e não do Arcebispo. Triste, mas revelador do
carácter do indivíduo, é o teor da entrevista, onde diz, entre outras
coisas que D.Jaime colaborava com o partido,
«mas não sabia que nos estava a espionar», acrescentando noutro momento
que «agora temos que lutar não só contra a Frelimo, mas também contra
os nossos desertores e traidores». Dando nomes aos bois, indicou Manuel
dos Santos e D. Jaime como os «maiores traidores do momento».
Mas, não se ficando por aqui, desmascarou-se ao afirmar que «filho de traidor é traidor», ao referir-se a Deviz Simango.
Estas
afirmações bastam para demonstrar o carácter e qualidade de quem se diz
democrata, adversário da Frelimo, e respeitador da liberdade humana. O
homem perdeu a cabeça e justifica os seus actos atirando culpas para
todos os lados. Parece, no entanto, que isso não passa de estratégia, de
maneira a arranjar bodes expiatórios para a sua derrota, ou, se calhar,
para a sua entrega «democrática» dos municípios.
Ele
queria justificar o desaire com um golpe de teatro canhestro e mal
engendrado, de última hora. Deu instruções ao Presidente cessante do
município de Nacala, Manuel dos Santos, para não entregar as chaves ao novo Presidente!!!
Orientou os membros da Assembleia Municipal a não tomar posse. É
evidente que o Presidente do Município não podia obedecer a uma «ordem»
absurda como essa. Primeiro, porque, contrariamente ao que pensa o
básico do Afonso, a entrega das «chaves» é uma cerimónia simbólica (às
tantas ele pensava que o Manuel dos Santos é que tinha chave da porta do
edifício!). Segundo, porque a ausência do anterior presidente
significaria a criação de um ambiente hostil na cidade de Nacala,
ambiente esse que nunca existiu no mandato anterior. A ausência dos
membros da Assembleia Municipal é uma fantochada temporária, e quem
perde é o cidadão de Nacala. O que é
importante discutir, denunciar, repudiar, divulgar, todos os dias, é a
forma como se realizam eleições neste país, como se legalizou o roubo, a
fraude, a manipulação, mas isto ele não faz, porque não tem capacidade
para o fazer, não quer, não lhe interessa, porque é um frelo.
Aconteceram
coisas estranhas nas eleições, mas, o «Conselho Constitucional»,
validou os resultados. Discutir a integridade do Conselho Constitucional
não é o que se pretende agora, mas fica apenas a observação de que se
trata de um órgão que decide por votação, e os políticos que lá foram
colocados têm que justificar a sua posição…
Voltando ao Régulo, aquele, ao querer atacar D. Jaime, Manuel dos Santos e Deviz Simango,
chamando-lhes traidores, deixou cair a sua própria máscara. O único
traidor dos princípios democráticos, dos valores que o partido defendeu
durante todos estes anos foi ele. Podia ter dito tudo, mas não se podia
distrair e proferir um insulto daquele jaez, ao dizer que filho de
traidor é traidor. Quem traiu Urias Simango? Traiu? Porquê? Como? Quem o julgou? Porque foi executado?
Cá
para nós, que defendemos o Estado de Direito e repudiamos veementemente
a acção directa, as execuções sumárias, as chicotadas e os campos de
reeducação, o que foi feito a Urias Simango
devia ser objecto de julgamento. Defendemos isso na Assembleia da
República durante anos, e esse deve ter sido um dos motivos que levou
seus filhos a identificar-se com a causa. Ao proferir tais afirmações, o
Régulo legitimou a execução de Urias Simango
e de outros moçambicanos, fuzilados pela Frelimo, e deu-lhes a sua
bênção, isto é, mostrou a Moçambique e ao Mundo que não passa de um frelo, que não merece estar na Renamo. Esqueceu-se que a pedra que atirou ao Deviz Simango
já percorreu a elipse e caiu no seu frágil telhado de vidro. Ele traiu a
Frelimo e já foi reconquistado, já está a trabalhar para eles, e com
muita dedicação.
D.
Jaime não traiu ninguém, os militantes e quadros que abandonaram a
Renamo fizeram-no de cabeça erguida, exercendo um direito fundamental,
que é o de livre associação. D. Jaime Gonçalves é um cidadão
moçambicano, tem direito a opinião e a expressar livremente as suas
ideias. Como diz o artigo do «Savana», ele também não foi recebido pelo
Régulo, quando quis marcar «audiência».
Nessa altura, a arrogância e compromisso que o Régulo tinha com a frelo
não permitiam discutir as ordens recebidas. Só isso explica tamanha
falta de educação, tamanha deselegância, perante entidade tão
respeitável e perante tão ilustre beirense.
O Régulo pensou poder tratar as pessoas como trata o seu séquito de vassalos, e está furioso, enraivecido.
De repente quer imiscuir-se no que se diz na missa, ele que nem sequer sabe onde fica a porta da igreja.
Manuel
dos Santos, o traidor, recebeu fortes elogios de um conceituado
jornalista da nossa praça, a quem endereço os meus modestos parabéns
pelo facto de se ter lembrado de um cidadão, homenageando-o por ter sido
simplesmente cidadão exemplar. Bem haja!
A
entrevista a que nos vimos referindo termina com uma referência ao
futuro próximo, isto é, às eleições que se avizinham. Foi anunciado pelo
Régulo que o Congresso da Renamo vai indicar como candidato a
presidente da República Afonso Macacho Marceta Dhlakama!!!
Pela
novidade, merece referência. Ah, mas o Congresso ainda não se realizou,
encontrando-se em fase bastante adiantada o processo de marcação das datas!!!... Sucessivos adiamentos… Quanto a fundos, ele espera, mesmo depois destes acontecimentos todos, que os parceiros de cooperação, financiem tão importante evento.
Para
bom entendedor…, vai ser assim, os fundos não existem tal como já não
existem parceiros. E, se o tal Congresso é para indicar o candidato, ele
já está indicado.
O Congresso não vai discutir a vida do Partido, não vai passar um atestado de Frelimice ao Afonso, não vai pô-lo como candidato a presidente do Município da Gorongosa, mas vai, logo directo, indicá-lo para candidato a Presidente da República!!! Coitadinho do Congresso!!! (Jafar Gulamo Jafar, Matola, 11 de Abril de 2009) (*) Jurista
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 14.04.2009
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