Canal de Opinião
por Jafar Gulamo Jafar
Ano
de eleições, ano de intimidação. A cada ameaça de derrota, surge a
velha morte, a prisão, a tortura, a política do medo. Eis a democracia
que temos, a política que temos. E o nosso eterno líder calado,
estrategicamente mudo. Quando é para se pronunciar, grita que é o maior,
que é o responsável por não haver resposta armada, que se ele quisesse,
já tinha posto o país a ferro e fogo. Mas que não, que como ele é fiel à
sua palavra, não deu ordens para invadir a Ponta Vermelha, aconselhou
calma aos seus homens, dispostos a tudo, prontos para a guerra. A
continuar assim, vai ser ameaça de prisão por um lado, devidamente
temperada com alguns presos e servida com muitas inaugurações, por um
lado, e um festival de basófia militar do outro.
Tudo
para ocultar a incapacidade de resposta política pronta, a falta de
visão e de intervenção. Enquanto ouvimos a velha máxima de que «a
vitória prepara-se, a vitória organiza-se», ele continua a derrotar os
inimigos internos, as ameaças de dentro, para se manter a todo o custo
na liderança. É o chefe das vassouras.
Tanto
varreu, tanto limpou, que já não tem ninguém para varrer. Nem sequer
percebeu que os militantes mais esclarecidos se foram embora, ele não os
afastou, eles é que foram demonstrar que estavam na política por
direito próprio, por mérito, por convicção. Querem ter a oportunidade de
manifestar a sua posição, de debater ideias, de participar na vida
política, que é afinal o fim último da actividade política.
Contrariamente
à opinião de alguns peritos, há quem pense que o objectivo primordial
não é a conquista do poder, mas a possibilidade de discutir, de debater
os problemas do país, por forma a fazer com que da discussão possa
nascer a luz, como aprendemos nos bancos de escola.
O
que o líder tem feito é contribuir para que exista um monólogo chato e
infrutífero, que não leva a lado nenhum. Podemos identificar algumas
áreas vitais para o futuro do país, que nunca foram discutidas pelos
cidadãos, e que trarão consequências imprevisíveis. Uma delas é a nossa
integração na SADCC, no que toca à livre circulação de pessoas e bens. A
decisão foi tomada, o nosso Parlamento não discutiu o problema, o
governo tratou a questão como se fosse um mero problema técnico, e
Moçambique corre o risco de se transformar num mercado da África do Sul,
sem obter contrapartidas económicas, nem reforçar a capacidade
produtiva.
Outro
exemplo é o da política agrícola do país, objecto já de inúmeras
mudanças e de opções fracassadas. O chefe, preocupado em gerir empresas
falidas, nem sequer se apercebeu que o governo prepara dossiers, faz
campanhas, erra estrondosamente. Ele, calado…!
Primeiro
veio a agricultura familiar, baseada na enxada e no par de bois, e o
chefe não tugiu nem mugiu. Depois veio o biodiesel, e nada de reacção.
Acabou a jatropha, e nada!!! Chegou a revolução verde, e ele não está,
ausentou-se, não ouviu falar.
O cidadão procura terra e não encontra, existem milhares de hectares improdutivos e o chefe está de férias.
Assiste,
calado à partidarização do Estado, às viagens missionárias de Ministros
e Directores nacionais aos distritos, para frelimizar o país.
Não
vê o regresso em força à distribuição forçada de cartões de partido,
como condição para ser estudante universitário, para ser dirigente no
Estado, para ter a vida facilitada.
Não entende que em matéria de economia o cerco aperta, a oligarquia vai dividindo tranquilamente o bolo.
Não
se apercebeu que o regabofe da distribuição de dinheiro nos distritos
não passou de uma manobra de compra de votos, a troco de financiamentos.
Que
financiamentos esses, que não passaram pelo crivo dos estudos de
viabilidade económica, cujos destinatários não são capazes de
rentabilizar o que receberam, que não vão devolver o dinheiro.
Onde
estava o senhor, senhor Afonso Dhlakama, que não exigiu um debate
alargado do assunto? Porquê 7 milhões e não 70? E para quê? Que
programas são esses, destinados a todos, mas decididos só por alguns?
Os
dirigentes moçambicanos fartam-se de apoiar o Robert Mugabe, e o grande
líder calado, sem opinião, sem participar na campanha que todo o mundo
lançou para travar o descalabro de um País e a miséria de milhões de cidadãos.
A
sua falta de intervenção nota-se particularmente no capítulo da
segurança dos cidadãos. Ele assiste impávido à inactividade do sistema
judicial, à escolha de casos a julgar, enquanto milhares de processos
nem sequer chegam a julgamento. Está no camarote a ver inocentes a ser
condenados, e os culpados a pavonear-se em grandes automóveis e vivendo
em mansões.
Apesar
da denúncia sistemática de crimes e escândalos, ele não se pronuncia, e
tudo fica na mesma, as autoridades nem sequer ligam, os processos não
nascem.
O
partido tem obrigações para com os eleitores, e não as cumpre porque o
chefe é um incapaz (serásó isso?). o Pior é que não faz nem deixa fazer.
Tamanha
inacção pode ter causado o nascimento de um novo partido, cujo sucesso
vai depender de muitos factores, de muito trabalho, e de grande
clarividência.
Não
parece que sejam de seguir os exemplos dos partidos que existem na
praça, sendo que os erros da Renamo devem ser o exemplo do que não se
deve fazer em política.
Não
se pode querer fazer tudo sózinho, nem em política, nem noutra qualquer
actividade. Não se pode concentrar toda a actividade nas mão de um
punhado de pessoas, e muito menos fazer do partido um corpo fechado,
avesso a ideias novas, a sangue jovem e a novos membros.
A
transformação de um partido num grupo regional, étnico ou tribal, é um
delito social, contrário aos mais elementares princípios democráticos,
prática corrente nos partidos existentes, apesar de parecer o contrário.
Vale
recordar o que ficou dos comentários tecidos em redor da vitória de
Barak Obama, quando os nossos dirigentes, grandes cultores da
nacionalidade «originária», se ufanaram de existir um presidente
«negro», nos EUA. Nem sequer é preciso dizer que, ou os homens são
daltónicos, ou, quando convém, o homem já é «negro», como o Lewis
Hamilton, enquanto que aqui, o tratamento aos não negros, é o que todos
sabemos.
Foi
um acto inteligente, iniciar um partido com os contactos
internacionais, com o relacionamento com os moçambicanos na diáspora. É
preciso mostrar seriedade, mostrar que todos somos necessários e poucos
para construir Moçambique.
Diferentemente
do Régulo «despontual», nem sequer passaria pela cabeça que o
Presidente atrasar-se sistematicamente, fazer «secar» durante horas
embaixadores, jornalistas, convidados, para não falar de membros do
partido.
O
que vos escreve, acreditando estar a lidar com alguém civilizado,
tentou marcar umas três audiências, mas nem sequer foi recebido. Mas
isto, como já era hábito, não surpreendeu. Faz-nos voltar aos tempos das
reuniões que eram marcadas para as 17 horas e começavam às 23 horas,
para terminarem na madrugada seguinte. Ou das outras que deviam começar
às 8 horas e começavam às 13 horas.
Coitados dos diplomatas que, querendo ajudar o partido, eram obrigados a grandes sessões de espera, como pedintes.
E
os jornalistas, esses, mesmo secando, não informavam o público, como
era seu dever, da grande «despontualidade» do Grande Líder.
Claro
que, como um dos melhores presidentes de Município do País, as
pretéritas linhas nem sequer servem de lembrete, apenas de memorando,
pois ele, certamente, também sofreu com as secas que apanhou.
Importante,
sem dúvida, é o grande trabalho que tem que fazer para dar voz aos
cidadãos de Maputo e de Gaza, fazer com que se lhes acabe a apatia e
falta de representatividade.
Por
culpa exclusiva do chefe, todas as tentativas de representar estes
cidadãos falharam redondamente, e estes deixaram de se ver representados
no Parlamento. Os universitários, esses nem se interessam mais pela
política, o mesmo se dizendo dos jovens em geral.
Um
dos grandes desafios é desmistificar o cenário actual, onde parece ter
havido uma «Conferência de Berlim» que dividiu o país em Norte e Sul.
Há
que conquistar o eleitorado, que dar uma imagem de transparência, de
abertura permanente, de trabalho sério e responsável. Os partidos não
podem ter secretários gerais de opereta, meros verbos de encher, para
assinar documentos e pouco mais. Os partidos têm que ter estudiosos dos
assuntos nacionais, cada área deve ser tratada com competência, para que
hajam respostas prontas e atempadas, uma verdadeira fiscalização da
actividade política.
Não basta falar de «governo sombra», se calhar é preferível nem sequer falar, desde que se trabalhe e se intervenha.
O
Grande Líder, que se auto intitulou o pai da democracia, rapidamente
arranjou mais um título, agora é, também, o avô do MDM. (Jafar Gulamo
Jafar, Matola, 06 Abril de 2009) (*) jurista
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 08.04.2009
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