Thursday, August 23, 2012

Adelino Gwambe é herói nacional?

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- “Eu não sou juiz” Armando Guebuza, PR

(Maputo) “Consta que Adelino Gwambe foi o fundador da Udenamo e um dos pioneiros da causa de libertação nacional. Merece ou não ser herói nacional?”, perguntou o repórter do Canal de Moçambique a Armando Guebuza. “Eu não sou juiz”, respondeu o presidente da República. Decorriam as cerimónias centrais do Dia dos Heróis, na cripta em Maputo. Estava assim acrescentado mais um dado ao debate sobre quem deve ou não ser considerado herói nacional ficando agora por se saber a quem caberá arbitrar as dezenas de cenários que o tempo tem vindo a desenhar à medida que o país parece virado para o supérflo num momento em que a sua economia parece estagnada e desesperadamente à procura de um rumo.

Adelino Gwambe foi fundador da UDENAMO, precisamente a primeira formação política a manifestar-se disposta a lutar pela Independência de Moçambique. A UDENAMO viria a juntar-se a outras duas UNAMO e MANU na simbiose que acabou por dar origem à “Frente de Libertação de Moçambique”, designação proposta por Fanuel Malhuza, a que Marcelino dos Santos acrescentaria o acrónimo FRELIMO.

O Canal perguntou ainda ao PR se o actual debate, em curso, não será uma futilidade. Armando Guebuza acha que “é um debate necessário”.

Quem é Adelino Gwambe?

Adelino Gwambe foi o percursor da União Democrática de Moçambique, o primeiro partido político moçambicano, em 1960, com apenas 20 anos de idade. Marcelino dos Santos, Fanuel Malhuza e Uria Simango – todos estes muito mais velhos, com acima de 35 anos, foram seus subalternos na Udenamo.

À altura da formação da Frelimo, resultante da fusão da Udenamo, Unami e Manu, Gwambe já tinha um passado de militância revolucionária, sob influência de revolucionários zimbabweanos.

Em meados de 1961, quando se radicou em Dar-Es-Salam, Gwambe era considerado uma figura com ideias pouco ortodoxas. Ele advogava a guerrilha imediata contra o colonialismo português muito antes de esse percurso vir a ser decido por Mondlane e seus continuadores.

A ligação de Adelino Gwambe com então governo do Gana, por via do seu amigo pessoal e presidente daquele país africano Kwame NKruma, não terá sido bem vista pela Tanzania, antogónico ao do Gana no que respeita ao pan-africanismo. Julius Nyerere, presidente da Tanzania, e Kwame Nkruma disputavam a partenidade da causa de libertação de Moçambique.

O governo de Nyerere acabaria por declarar mais tarde Adelino Gwambe “persona non grata” na Tanzania alegadamente porque nas vésperas da independência deste país declarou, numa conferência de imprensa, que a Udenamo já havia feito preparativos para o início da luta armada em Moçambique.

As suas notas biográficas referem que Adelino Gwambe nasceu na província de Inhambane, em 1940. Sabe-se igualmente que trabalhou no Buzi, então distrito de Manica e Sofala, antes de se refugiar em Bulawayo, segunda maior cidade da então Rhodesia do Sul, hoje Zimbabwe.

As rixas com Eduardo Mondlane

Quando se dá a eleição do presidente da Frente de Libertação de Moçambique de que viria a emanar, já depois da independência, uma ala que adoptaria o mesmo acrónimo – Frelimo – ao criar o partido hoje no poder, Adelino Gwambe não esteve presente. Decorria o 1.º Congresso da Frente e Adelino Gwambe estava na Índia.

No seu regresso, na contra-mão da unanimidade da eleição de Mondlane como lider do movimento, as rixas entre ambos agudizam-se. Gwambe acusava Mondlane de estar “sob vassalagem do imperialismo americano”.

As ligações de Eduardo Mondlane aos Estados Unidos da América estão hoje bem documentadas. A CIA, através da Fundação Ford, apoiou financeiramente a construção do Instituto Moçambicano para formar quadros moçambicanos no exilio. O jornal Freedom Fighter, na altura, publicou um artigo em relatava que Mondlane recebera 96 mil USD, naquele tempo uma quantia avultada.

Mais tarde, afastado da Frente de Libertação de Moçambique, Adelino Gwambe funda a Coremo, e embora ainda hoje não provado há dados que indiciam que possa ter sido também executado por decisão extrajucial, em M´telela, pelos seus pares de primeira hora. (Luís Nhachote)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 08.02.2006

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