sábado, 13 de abril de 2013

'É Sócrates que está a liderar a oposição'

Aires Pedro:

13 de Abril, 2013por Manuel A. Magalhães
Aires Pedro, candidato à liderança do PS
Hoje, o advogado madeirense Aires Pedro será o único concorrente de Seguro nas eleições directas. É tão crítico do mandato do actual líder quanto elogioso com Sócrates e Costa.
Disse que a liderança de António José Seguro é de «uma pobreza franciscana». Porquê?
Essa foi uma crítica feita por impulso de momento (mas que não retiro), a propósito da defesa que o líder fez da moção de censura. Toda a gente reconheceu que foi bastante fraca. Seguro não foi capaz de responder ao chorrilho de mentiras imputadas à governação do PS feitas pela bancada do PSD.
O que o levou a ser candidato?
Precisamente tudo o que se passou no PS entre a eleição do secretário-geral e a apresentação da moção de censura ao Governo. Seguro não tem feito uma defesa intransigente do património do PS. E eu em Março desafiei-o a apresentar uma moção de censura. Finalmente, pressionado, apresentou-a agora.
Com o regresso de Sócrates, Seguro tem dificuldades em se assumir como líder da oposição?
Eu vejo que Seguro finalmente resolveu fazer a ruptura com a direita. Apraz-me. Só não sei até onde quererá levar essa ruptura. Quanto a José Sócrates, na entrevista e no primeiro comentário na RTP, fez um combate à narrativa da direita e assumiu a crítica devida ao Presidente da República (PR). Que Seguro não fez. É óbvio que aos olhos dos militantes do PS, Sócrates está neste momento a liderar a oposição. Ou quase. Continuarei a desafiar Seguro a imputar ao PR as suas responsabilidades pelo estado em que Portugal se encontra. É urgente que o faça.
Quais são as culpas de Belém?
Várias e graves. O Presidente da República apadrinhou este Governo, em 2011, tudo fazendo para que José Sócrates se demitisse. E nestes dois anos promulgou dois orçamentos eivados de inconstitucionalidades. Pediu este ano a fiscalização sucessiva, apenas para ficar bem na fotografia. Agora, o PR reafirma confiança política num Governo desacreditado. Cavaco Silva é já parte do problema e não da solução.
Disse há dias que temia que Seguro viesse a plagiar Sócrates. Porquê?
Porque Seguro deixou o país em suspenso mais de 24 horas para responder a uma declaração chantagista e violadora do princípio da separação de poderes, que atacou o Tribunal Constitucional. Não sou eu que o digo, são os militantes: é muito mau que José Sócrates tenha dado resposta, na RTP – e muito bem – antes de o secretário-geral o fazer.
Seguro está diferente com o regresso à política activa de Sócrates?
Não tenho quaisquer dúvidas de que o regresso de José Sócrates ao comentário político influenciou pela positiva o actual secretário-geral do PS. Seguro e o partido não aceitaram mais, por omissão, a narrativa da direita.
Se António Costa tivesse avançado, o senhor não avançaria com uma candidatura a líder?
Costa seria a pessoa adequada para liderar o PS. Seria o natural candidato a primeiro-ministro. Senti que, em coerência comigo, tinha de me candidatar. E avancei também para que não houvesse um congresso a uma só voz em que o secretário-geral aparece no congresso como um Deus.
Seguro não o verá mais como o aliado que evita ter um congresso unanimista ‘à coreana’?
Percebo a pergunta. Mas Seguro tudo fez para ter um congresso sem oposição. Primeiro fazendo um acordo com António Costa e depois criando dificuldades à minha candidatura.
Quais são os seus objectivos nas eleições directas deste sábado?
Não vou dizer que entro para perder, mas é notório que não tenho o aparelho nas mãos nem os meios que o líder teve para fazer campanha.
Que meios teve?
Contactos telefónicos com militantes, às minhas custas, e sobretudo as redes sociais. Quanto a Seguro, quando sai de uma acção como secretário-geral em Viseu, para uma acção de campanha na Guarda, será que mudou de carro? Vai em que qualidade? Eu não tive apoios do partido. E a minha candidatura foi ainda sabotada pela direcção do PS-Madeira.
Foi por isso que não conseguiu ser eleito delegado ao congresso? Isso não o diminui como candidato?
Não é assim. Foi por opção própria que entendi não ter que me constituir como delegado. Não faz sentido que o candidato a secretário-geral e, a partir de sábado, primeiro subscritor de uma moção, seja um delegado que se defende a si próprio.
Espera ter votos da ala socrática?
Pela falta de combate de Seguro à direita e pela minha grande admiração por Costa, não será difícil que muitos militantes se identifiquem com a minha candidatura. Também me parece que é natural as pessoas mais próximas de José Sócrates, por quem tenho proximidade política, votem em mim. É uma leitura possível.
Com Seguro reconduzido como secretário-geral, acha que há a possibilidade de não ser candidato a primeiro-ministro?
Se Seguro não for forte a combater a direita, alguma solução poderá ser encontrada.

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