"NYUSI SOMOS NÓS"
Elísio Macamo
Elísio Macamo
Partilho a seguir uma reflexão da autoria de Elísio Macamo, sociólogo moçambicano radicado na Suíça, porque considero "alimento para o pensamento".
Sugiro que cada um de nós reflicta profundamente sobre as perguntas que o Elísio nos coloca no texto que segue.
Eu estou fazendo isso, com esta partilha.
--- INÍCIO ---
O Presidente que mais nos representa
por Elísio Macamo
Sim, o Presidente Nyusi! Nunca na nossa jovem história alguém foi mais representativo, sobretudo no que de mais negativo nos caracteriza. E mesmo a forma como hoje o ridicularizamos mostra o quão ele foi talhado à nossa imagem.
A coisa começa com o domínio da Língua Portuguesa. Muitos pensam que o problema é não dominar a língua quando, na verdade, o problema é articular um pensamento coerente. Quantos somos capazes disso? Quantos de nós usam conceitos com segurança para além da repetição de slogans mal digeridos? Quantos de nós deixam que conceitos pensem por nós?
Quantos de nós pensam que uma posição de autoridade é suficiente para lhes conferir autoridade na fala? Não é esse o apanágio de muitos de nós que pensam que formação numa área, ocupação numa determinada área profissional, militância num certo partido, preocupação pelos injustiçados do mundo, etc. constituem critérios de validação do que falam?
Quantos de nós pensam que quem interpela criticamente é inimigo? Não é assim na esfera pública, onde muitas vezes não se debatem os méritos das questões, mas sim convicções políticas? Quantas vezes a discussão não arrancou porque quem devia debater perdeu tempo procurando saber que motivações políticas estariam por detrás do que se dizia?
Quantos de nós não se dão por satisfeitos apenas por identificar um bode expiatório, mesmo que eles próprios estejam atolados na mesma lama? Não é assim com as “dívidas ocultas”? Quem elegeu Guebuza? Porque é que nunca tivemos a coragem de admitir que a responsabilidade é colectiva, mas demo-nos por satisfeitos diabolizando os “lesa-pátria” e fechando os olhos à responsabilidade que como membros da comunidade política também temos? Em que é que a campanha “Eu não pago” é diferente da postura do Presidente e do seu partido?
Quantos de nós reconhecem que não estão à altura da tarefa que lhes foi confiada? Quantos admitem insuficiências e, por isso, apostam seriamente na assessoria, dão ouvidos a quem sabe e afastam-se de quem só aplaude, saúda e aquiesce? Quantos de nós estão nos poleiros que ocupam por mérito próprio? Quantos de nós têm a humildade de reconhecer que, por vezes, a posição não reflecte o mérito profissional, mas pode se dever a outros factores?
Quantos de nós acertam sempre na relação entre estratégia e detalhe? Não é esse o nosso maior problema? Falamos à toa porque o que dizemos não promove nem protege nenhum princípio claro para nós, apenas faz uso do direito de falar! Não é assim que a gente faz sempre? Defender e aplaudir conclusões, e prestar pouca atenção ao que nos leva lá?
Quantos de nós respeitam os seus interlocutores, sobretudo quando estes estão abaixo na escala social, profissional e económica? Não andavam aqui pessoas a aplaudir o achincalhamento pelo Presidente de administradores por não saberem responder a detalhes?
Eu não me envergonho pelo Presidente que tenho. Envergonho-me por mim mesmo. A sua má prestação naquela entrevista - que não tem nada a ver com as jornalistas, com intenções coloniais, etc. - é sinal de despreparo, algo que é nosso. Todo o povo merece os governantes que tem. Nyusi é nosso Presidente no sentido literal e figurado do termo. Nyusi somos nós.
Por isso, compatriotas, decidi mudar da forma de bater. Não mais me vou chatear com as suas gaffes. Vou transforma-las em momentos privilegiados de introspecção para não perder de vista o País que é muito maior do que as fraquezas dum único homem. Estando claro que esta Frelimo, sobretudo a sua Comissão Política, já não parece gostar de Moz, é minha obrigação patriótica mudar de abordagem e assumir a responsabilidade que me compete: identificar, nas suas gaffes, o que é pérola indiano, e tentar corrigir...
--- FIM ---
Epílego
Eu sempre tenho apregoado que uma mudança positiva começa a identificação e reconhecimento dos erros que cometemos. Não pode haver progresso, se não podermos dar esta passo. O progresso começa com a identificação e correcção dos erros que cometemos.
É por isso tenho insistido que Joaquim Chissano e Armando Guebuza digam aos moçambicanos que erros cada um cometeu e os reconhece como tal, e peçam desculpas por esses erros, para que sejam repetidos pela presente e futuras gerações de líderes moçambicanos.
No texto acima, Elísio Macamo põe o dedo na ferida. Tenhamos coragem de fazer o mesmo: Filipe Nyusi é a nossa imagem; as críticas que dirigimos a ele, são para nós próprios.
Contestas?
Eu sim, porque faço diferente. Ainda espero que Joaquim Chissano e Armando Guebuza digam aos moçambicanos que eles governaram, que erros cometeram e os reconhecem com tal, e peçam desculpas pelos seus erros aos moçambicanos, agora ainda vivos. Assim será mais fácil a sua absolvição pela nossa História colectiva como País e como Nação soberanos.
Mais (eu) não disse.
Palavra d'onra!
No comments:
Post a Comment