O último prisioneiro da fortaleza construída pelos portugueses
Índia vai encerrar a cadeia de Diu na fortaleza construída em 1535 e considerada uma das maravilhas de origem portuguesa no mundo. Um homem de 30 anos é o último recluso
Quando a Índia tomou conta da Fortaleza de Diu, em 1961, esta estrutura de arquitetura militar construída pelos portugueses há quase 500 anos já integrava uma cadeia. A área de reclusão manteve-se aberta na ilha indiana mas o seu encerramento já está decidido. Para se consumar só falta sair o último dos reclusos, um homem de 30 anos que aguarda julgamento e que ocupa sozinho a ala prisional, vigiado por cinco guardas. É o prisioneiro mais solitário da Índia. Quando sair, e não há data prevista, o espaço irá ser entregue à agência arqueológica indiana para fins culturais e turísticos
O recluso, Deepak Kanji, 30 anos, vive numa cela que foi concebida para 20 pessoas - a área total da cadeia recebia até 60. Tem direito a cama, água, televisão e 50 metros quadrados de espaço vazio. Preso por tentativa de homicídio da mulher, por envenenamento, o homem só pode sair da cela durante duas horas por dia. Com cinco guardas prisionais e um funcionário, a prisão tem as suas torres de vigia vazias.
Prisioneiro mais solitário da Índia
"Fazemos turnos e o preso é vigiado 24 horas por dia, mas a situação tem os seus desafios", disse Chandrahas Vaja, que dirige a prisão, ao jornal The Hindustan Times. "Não podemos proporcionar nenhuma atividade para o prisioneiro, pois é o único. Para as refeições dele, tivemos de fazer um acordo especial com um restaurante perto do forte", acrescentou.
Desde 2013 que a decisão de encerrar a cadeia está tomada. Na altura, estavam ali sete reclusos, incluindo duas mulheres. Quatro foram transferidos para a prisão de Amreli, a cerca de 100 km de Diu, e outros dois já cumpriram as penas desde aí. Kanji ficou sozinho já que o seu processo ainda está em julgamento no Tribunal de Diu. "É conveniente mantê-lo aqui enquanto será julgado. As audiências são no tribunal de Diu e Amreli, a prisão mais próxima, fica muito longe", explicou o chefe dos guardas.
O problema é que o prisioneiro todos os dias pergunta pela sua situação na justiça, devido ao isolamento, alega o responsável da prisão. "Os guardas têm que fazer companhia porque não há mais ninguém. Em prisões maiores, com mais pessoas, as autoridades organizam atividades sociais que são importantes para a saúde de qualquer prisioneiro. Aqui, pouco podemos fazer. Esperamos que a transferência aconteça rapidamente."
Uma das maravilhas portuguesas no mundo
A Fortaleza de Diu foi construída em 1535/1536, mas teve restauros posteriores e alterações significativas em 1546, e é uma estrutura arquitetónica considerada ímpar na expansão portuguesa. Foi decisiva para que Portugal conseguisse o controlo da rota marítima das especiarias e das sedas no século XVI. Com a sua localização no Índico, era importante como entreposto comercial. Chegou a ser conhecida como a Gibraltar do Oriente. Os portugueses estiveram 424 anos em Diu, entre 1537 e 1961 ano em que através da Operação Vijay a União Indiana, que conquistou a independência em 1947, acabou com o domínio português em Goa, Damão e Diu.
Em 2009 foi classificada como uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo, numa iniciativa do governo português para divulgar o património que Portugal deixou no Mundo durante a expansão marítima.
A prisão, ocupando apenas uma pequena parte, já funcionava quando a Índia tomou conta de Diu, em 1961. Hoje, os turistas podem visitar a fortaleza sem terem, contudo, acesso ao estabelecimento prisional. Para já. A ideia é que todo o monumento fique acessível aos visitantes e já há planos para dotar o espaço de novas funcionalidades para ser um destino turístico mais atrativo.
As autoridades de Diu também anseiam pela saída do último prisioneiro. Já usam o slogan "Diu sem crime" para promover o antigo território português, já que a zona, defendem, tem uma criminalidade muito baixa e o encerramento da prisão é uma medida saudada como um passo para a promoção turística.
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