O que pensa o novo cardeal sobre a fé de hoje? Sobre o que se diz a pais que querem batizar os filhos e não são casados, sobre o que se diz a um crente recasado? E aos políticos? As ideias que D. António Marto defendeu num almoço com o DN
Doutorado em Teologia, D. António Marto é tido como um homem de trato fácil, simples, que não gosta de falar de improviso e se prepara até ao ínfimo pormenor para tudo. É conhecido como um dos que eram céticos em relação ao fenómeno de Fátima, mas, diz, que tudo mudou quando participou num congresso e teve de estudar a fundo a mensagem de Fátima e percebeu o seu significado. Nos últimos tempos, tem-se revelado como um dos próximos das ideias do Papa Francisco, que lhe disse que o cardinalato foi "uma carícia de Nossa Senhora". O pensa o novo cardeal sobre algumas das questões da atualidade.
Batismo
O que se diz a uns pais que não são casados pela Igreja e querem batizar o filho? A resposta surge facilmente: "Podemos encarar a situação como uma oportunidade para acolher aquele casal, mas não com chantagem", atira de imediato. "Não se pode dizer eu só batizo o teu filho se te casares pela igreja. Isso é retirar liberdade à pessoa. Mas pode ser a oportunidade para lhes oferecer um caminho de fé", remata.
Recasados
À pergunta sobre o que dizer a um católico que viu o casamento fracassar e se divorcia, D. António Marto responde com a exortação do Papa Amoris laetitia, que diz ser um texto "muito belo". Mas não tem dúvida de que quando há fracasso, estes católicos "continuam a pertencer à família, não podem ser excomungados, depois há todo um itinerário de discernimento pessoal e pastoral que podem fazer." Chegar ao ponto de celebrar novo matrimónio, não. Agora, uma maior integração na comunidade cristã pode e deve haver.
Fé
Sobre se há uma crise de fé ou não, diz: "Antigamente, combatia-se o ateísmo marxista, sabia-se com o que se lidava, Hoje, o problema em relação à fé é a indiferença religiosa. É o pensar-se que: 'Passo bem sem isto, não me diz nada.'"
Educação
Um dos desafios da Igreja é a educação. "É procurar novos horizontes educativos que permitam abrir a mente e o coração à sociedade e aos outros. E nisto a Igreja não pode ficar de braços cruzados."
Catequese
A dimensão da catequese tem de ser revista, em nome de se fazer passar uma mensagem que não está a ser conseguida. Antes a fé era passada como tradição, hoje isso acabou. A juventude exige uma dimensão espiritual mais profunda. "Tornámos a catequese semelhante à escola, não pode ser. Temos de a tornar mais vivencial, experiencial, de a adaptar aos ritmos das famílias. A questão já foi discutida na Conferência dos Bispos e foi decidido que a sua dimensão terá de ser revista."
Fátima
Antigamente era um cético relativamente a Fátima. Depois, "por uma circunstância ocasional, tive de participar num congresso sobre e tive de estudar a fundo o que significava a mensagem de Fátima. Passei a vê-la com um novo olhar. Escrevi um artigo e acho que foi isso que levou o Papa Bento XVI a enviar-me para aqui".
Política
Diz que é preciso estabelecer pontes de diálogo com todos, até para responder à agressividade. "Vivemos numa sociedade demasiado ideologizada pelos partidos, falta encontrar consensos no que é fundamental para podermos caminhar juntos, respeitando as diferenças. É o que o Papa tem feito, virando-se para a China, para o mundo islâmico. Se não houver diálogo interreligioso, se não houver paz nas religiões também não há paz no mundo." E critica: "A política de hoje é a dos mais fortes sobre os mais fracos."
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