Eish...eish... já o disse, e volto a repeti-lo, orgulhosamente. Sou fanático de Samora Machel. Há muitos anos que vivo fora da minha aldeia, mas fico preocupado com as notícias que circulam sobre o meu país, cuja independência foi proclamada por Samora Machel em Junho de 1975 no Estádio da Machava, em Maputo.
Samora Machel não tolerava manifestações de racismo, tribalismo e regionalismo. Para Samora Machel, não havia mashanganas, matswas, senas, ndaus, chuabos, macuas ou macondes. Havia apenas moçambicanos do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico. Durante a sua governação era proibido falar língua diferente da portuguesa em instituições públicas: hospitais, escolas e ministérios e muitas outras, a menos que fosse em situação de assistência a alguém que não falasse português.
Fui punido no internato em 1980, porque um professor apanhou-me a falar em minha língua materna (não portuguesa) com um amigo. No internato havia moçambicanos de quase todos os cantos e nem todos falavam a mesma língua materna. Consolidar a Unidade Nacional era objectivo central depois da proclamação da independência pelo governo da Frelimo de Samora Machel que adoptou o Português como língua nacional, através da qual os moçambicanos deviam comunicar-se no meio de muitas línguas locais.
Foi uma decisão excelente e sábia, pois ninguém se sentia inferior. Mas não era proibido nas casas e nas comunidades os moçambicanos comunicarem-se em suas línguas locais. Sei ler e escrever a língua dos meus pais (não portuguesa), mas não aprendi na escola. Na escola tive professores de quase todos os cantos do país que não sabiam falar a língua dos meus pais.
O governo de Samora Machel introduziu a alfabetização de adultos nas comunidades para reforçar a expansão do ensino e da educação dos moçambicanos. Gente do norte dava aulas no centro ou no sul e vice-versa em língua portuguesa. Gente do sul trabalhava nas instituições públicas no centro e norte e vice-versa.
Com a morte de Samora Machel em 1986, os seus sucessores vacilaram na luta pela consolidação da unidade nacional através da língua. Surgiram organizações étnico-tribais e regionalistas de marongas, mashanganas, matswas, ndaus, senas, macondes, macuas...etc. O nepotismo, regionalismo e tribalismo então combatidos pela Frelimo de Samora Machel instalaram-se comodamente nas instituições públicas.
Como se não bastasse, o governo introduziu recentemente o ensino de bilingue nas escolas públicas alegando que facilita a assimilação de matéria escolar por crianças. No entanto, quase todas as línguas locais não estão ainda desenvolvidas cientificamente para interpretação de certos fenómenos técnico-científicos e até de nomes científicos. Os mentores do ensino bilingue “descobriram” que afinal falta a padronização da escrita das línguas locais, mas as crianças já estão a ser ensinadas em Rhonga, Shangana, Citswa e outras.
Assumo que hoje um moçambicano Maconde que não fale Citswa ou Xitshangana não pode dar aulas numa escola primária em Massinga, província de Inhambane, ou em Massingir, província de Gaza. Um moçambicano de Gaza ou de Inhambane que não fale Maconde não pode dar aulas numa escola primária em Nangade ou em Macomia, província de Cabo Delgado.
Com este procedimento, a Unidade Nacional propalada é uma ilusão. Moçambique é um Estado com várias nações cuja gestão exige visionários de calibre de Eduardo Mondlane e de Samora Machel e menos Ensino de Bilingue que ameaça a consolidação da Unidade Nacional, arma que derrotou o colonialismo português em Moçambique.
THANGANI WA TIYANI
CORREIO DA MANHÃ – 04.07.2018
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