segunda-feira, 9 de julho de 2018

Como será o bailout da LAM?

Foto de Cris Cintura.



Como será o bailout da LAM?
Eis a grande questão: onde o Governo irá buscar dinheiro para injectar no fluxo de caixa da chamada companhia de bandeira? Na semana passada, os aviões das LAM ficaram por terra porque seus fornecedores de combustíveis exigiam um pagamento à cabeça. Quando o problema foi sanado, o Ministro Carlos Mesquita (Transportes e Comunicações), que faz a tutela sectorial, disse que a crise resultara de um “desencontro de contas”.
No dia seguinte, o Conselho de Administração (CA) foi sacado, curiosamente não por ordens directas dessa tutela sectorial, como habitualmente, nem por indicação expressa do Ministro Adriano Maleiane (Economia e Finanças), responsável pela tutela financeira. O anúncio veio do IGEPE, o Instituto de Gestão de Participações do Estado, um órgão adstrito à tutela financeira. É óbvio que Maleiane teve mão na remoção da administração cessante, dando a impressão de que ela fazia uma gestão deficiente.
Mas os problemas da LAM parecem mais profundos, nomeadamente a empresa está altamente endividada. Contas do Tribunal Administrativo relativas a 2016 colocavam a divida da LAM nos 4.1 de biliões de Meticais (1 UDS equivalem a 60 Mts), resultante empréstimos contraídos na banca comercial local e a fornecedores nacionais e estrangeiros. Entre os fornecedores locais, contam-se gasolineiras, os Aeroportos de Moçambique e a SMS (catering), uma sociedade anónima onde a LAM detém 50% das acções (a SMS cortou drasticamente seu serviço à LAM; Na semana passada, quando os voos foram reestabelecidos, passageiros partilharam fotos do serviço de catering a bordo: uma embalagem de batatas fritas e um copinho de água).
A LAM, dizem fontes do sector, precisa de uma injecção massiva de capital para reduzir sua divida com fornecedores, minorando suas relações. Onde ir buscar esse dinheiro? E quanto na verdade precisa? Ir buscar lá fora parece ser uma miragem. Desde que no início do ano passado que, após Governo optou por falhar pagamentos das obrigações emitidas no quadro do vasto procurement ilícito que originou as chamadas dívidas ocultas, nossos ratings de crédito estão abaixo de lixo nos mercados externos.
A saída é o Governo tentar buscar dinheiro cá dentro. Mas onde? Através da emissão de mais obrigações de Tesouro? Do recurso à banca comercial? Afinal qual é exactamente o estado da saúde financeira da LAM? A situação é altamente delicada. Os sucessivos governos foram protelando uma solução radical, optando por tapar buracos pontualmente. Hoje, com a actual crise, encontrar uma saída será mais complicado. Precisará de um golpe de mestre.
E de o Governo assumir que a LAM não pode fechar porque tem um papel fulcral na economia e sua manutenção é também um objectivo politico. Por isso, precisa de um bailout. Mas para isso, o Governo terá de passar cima dos preceitos do Banco de Moçambique na gestão da estabilidade da economia. Nos finais do ano passado, o Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, dava conta, em tom alarmante, de uma divida pública doméstica na ordem dos 100,5 biliões de MTs, originada pelo crescente recurso do Governo a fontes internas para financiar as contas do Tesouro, donde saem injecções de dinheiro em empresas como a LAM. É provável que a banca comercial local rejeite quaisquer possibilidades de refinanciar a LAM. O único recurso será mesmo passar por cima de Zandamela e dos limites prudenciais de endividamento interno. O que causará uma profunda mossa na reaproximação do Governo ao FMI.
PS: Agora que Mateus Magala, o PCA da EDM, revelou a dimensão da roubalheira na eléctrica, é necessário que ele dè o terceiro passo. Qual? Entregar seu relatório ao Ministério Público para os devidos efeitos. O primeiro passo foi dado com mestria: procurar: os leakages de dinheiro na cadeia de valor da relação com os fornecedores, onde havia intermediários fantasmas e comissões avultadas. O segundo passo foi pagar suas dívidas a HCB. Agora trata-se de viabilizar a acção penal contra todos os prevaricadores e recuperar o património financeiro roubado nos últimos anos. A senhora Beatriz Buchili tem aqui quase todo o trabalho de base feito. Basta agir depressa. Mostrando sua intolerância com a corrupção comprovada.
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18 comentários
Comentários
Vasquinho King A declaracao de falencia e venda de activos iria salvar a empresa
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Sic Spirou 1. mesmo que exista essa mola pra injectar a infectada LAM , quem nos garante que desta vez será bem gerida a grana!? problema não deve ser só falta de grana!! 
2. sem dúvidas que estas empresas públicas estão amarradas (não é coisa doutro mundo) a que
stões políticas; os gestores devem saber separar entretanto, o trigo de joio nesses momentos, nada de abrir as pernas pra tudo que o político quer da mesma.
3. na LAM também precisam de levar pessoas pra a esquadra! e diga-se, seria bom começo que o caso Embraer, tivesse um desfecho rápido e exemplar * pra passar a mensagem de que não se pode brincar ali com dinheiro público.
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Cris Cintura A solucao e entregar a gestao da LAM a grandes companhias mundiais como a EMIRATES, QUATAR, e CIA.....estas estao em condicoes de virar o texto ao actual cenario ..Internamente nao ha capacidade para tal! Insistindo nos actuais moldes de gestao vamos assistindo a degradacao diaria da LAM ate ao ponto de declararem FALENCIA TECNICA !
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Rui Costa tudo muito bom mas o melhor foi o fim. Buchili's " induction program" está re-establecido e servido à PGR pela EDM . Abra-se esse precedente ; haja pelo menos essa atitude dos novos gestores das EP's,
Preparar tudo ,para a PGR " ter que" entrar, e a a
cção penal fazer das suas. A impunidade na EDM(e outras) atingiu a raia do patètico descarado, os novos gestores , não estão a segurar bem a cadeira, ao ocultar factos danosos das gestões anteriores, que percebam isso.
Sobre a LAM , ou se vende 49% , e com esse taco se paga o passivo ou nada.... e please ,um gestor de fora !!. Gestão de Linha Aèrea , prestadora de contas ,contrata-se, não se nomeia dentro da familia. 
Merci Monsieur Mosse.
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Sonya Mondlane Preucupante.
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Kelven Fernando Massala Ainda vai rolar muita tinta nesse jogo. ...
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Miguel Manjaze O que doi eh o facto das dividas da LAM, incluirem USD 800.000, que foram parar nos bolsos de gestores fantoches, atraves da operacao "Xihivelo".
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Benedito Sefanhane Posse Privatizar 51% das ações.
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Luís Loforte A LAM precisa que dinheiro lhe entre, mas também precisa que dinheiro lhe não saia!
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Gonzalo Chirindja Minha ex-empresa.
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Jeremias Mondlane Na minha modesta opinião as LAM deviam ser tuteladas pela HCB ou INH numa parceria com o BM aonde a correlação de forças possa ditar uma gestão transparente. Agora dizer tiramos do IGEPE, respeito a parte, qual foi o destino dos últimos gestores desta entidade que o estado confiou para tamanhas responsabilidades.
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Carlos E. Nazareth Ribeiro Mosse, um bom acto introdutório ao problema LAM. Mas falha quando vaticina a "...viabilização da acção penal...". Marcelo Mosse, você regressou com força e com determinação mas sabe, perfeitamente, que NENHUMA acção penal vai ser desencadeada, sabe que a decadência da LAM começou na era pós-samoriana, a Era da Impunidade!!!
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Luís Loforte ...da "impunidade" conveniente, porque geradora de novos ricos!
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Carlos E. Nazareth Ribeiro Rio-me, Luís, mas com amargura pois tens toda a razão.
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Rui Costa Vem aì atrás uma geração que espero bem se revolte destas "cagadas afònicas"que a nossa geração achou não terem cheiro. O "plano dinàstico" de surdez na continuidade..não vai pegar.
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Jeremias Mondlane Erros a parte, mas há uma geração de gestores de ouro que mesmo em tempos de crise conseguiram fazer das tripas o coracao e as empresas estavam aí
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Domingos Mazivila O Estado ainda pode ter participações em entidades de interesse estratégico nacional como a LAM, EDM, HCB, etc. 

Porém, o que sempre dissemos, é que o Estado não deve e não pode fazer negócios, muito menos negócios que podem ser tão prejudicais a toda
 a cadeia de valor de turismo e indústrias afins, e até a própria reputação e imagem do país. 

Estas entidades como a LAM, devem ser capazes de funcionar como entidades comerciais próprias, fora de apadrinhamentos estatais, que de certa forma acabam sendo monopolistas. Está é uma situação embaraçosa que sempre viemos chamando atenção ao perigo.

Vide “The Role of State in Business”, “Open Skies...impacto da liberalização do transporte aéreo em Moçambique”. Na altura a própria LAM e entes do Estado diziam convictos que estava tudo bem. Não passaram 3 meses para que as dívidas do sector fossem ao público e em tão pouco tempo, boom, temos este vexame. 

Força aí camaradas!
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Virgílio Elias Tamele Marcelo, uma injecção massiva de capital não só vai adiar o óbvio.Tal como as outras empresas públicas, a LAM precisa de um programa de recuperação e transformação sustentável. Uma gestão independente e professional, e estancar o procurement ilícito. A solução talvéz esteja fora da LAM, no investimento em linhas férreas que ligam o país, e busca de investimentos nas vias marítimas.Na redução dos preços da LAM enchendo os aviões e competindo com as carreiras rodoviárias e jactos privados. Não existe um golpe de mestre. O tempo que se levou a construír o medriúque precisa ser destruído.É curioso que se exija uma solução interna porque se fosse possível não estariamos nesta situação.Precisa principalmente duna decisão e coragem.
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Magacebe Majacunene Gestão, o que tem faltado a L A M.Arrasta a anos e hoje é culminar de diversos erros alguns deles provocados de propósito.Fizeram um assalto a companhia começando por pontapear a sua experiência de 40 anos de crescimento. LAM é rentável se tiver uma gestão de aviação comercial.Os políticos,os ministérios,os órgãos eleitorais,os amigos têm de pagar Antes de viajarem na LAM.Fez o que fez, mas a equipa do eng.Viegas dirigiu a LAM numa fase em que teve de garantir as ligações entre as capitais, as únicas durante 16 anos de guerra fratricida.
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