Como será o bailout da LAM?
Eis a grande questão: onde o Governo irá buscar dinheiro para injectar no fluxo de caixa da chamada companhia de bandeira? Na semana passada, os aviões das LAM ficaram por terra porque seus fornecedores de combustíveis exigiam um pagamento à cabeça. Quando o problema foi sanado, o Ministro Carlos Mesquita (Transportes e Comunicações), que faz a tutela sectorial, disse que a crise resultara de um “desencontro de contas”.
Eis a grande questão: onde o Governo irá buscar dinheiro para injectar no fluxo de caixa da chamada companhia de bandeira? Na semana passada, os aviões das LAM ficaram por terra porque seus fornecedores de combustíveis exigiam um pagamento à cabeça. Quando o problema foi sanado, o Ministro Carlos Mesquita (Transportes e Comunicações), que faz a tutela sectorial, disse que a crise resultara de um “desencontro de contas”.
No dia seguinte, o Conselho de Administração (CA) foi sacado, curiosamente não por ordens directas dessa tutela sectorial, como habitualmente, nem por indicação expressa do Ministro Adriano Maleiane (Economia e Finanças), responsável pela tutela financeira. O anúncio veio do IGEPE, o Instituto de Gestão de Participações do Estado, um órgão adstrito à tutela financeira. É óbvio que Maleiane teve mão na remoção da administração cessante, dando a impressão de que ela fazia uma gestão deficiente.
Mas os problemas da LAM parecem mais profundos, nomeadamente a empresa está altamente endividada. Contas do Tribunal Administrativo relativas a 2016 colocavam a divida da LAM nos 4.1 de biliões de Meticais (1 UDS equivalem a 60 Mts), resultante empréstimos contraídos na banca comercial local e a fornecedores nacionais e estrangeiros. Entre os fornecedores locais, contam-se gasolineiras, os Aeroportos de Moçambique e a SMS (catering), uma sociedade anónima onde a LAM detém 50% das acções (a SMS cortou drasticamente seu serviço à LAM; Na semana passada, quando os voos foram reestabelecidos, passageiros partilharam fotos do serviço de catering a bordo: uma embalagem de batatas fritas e um copinho de água).
A LAM, dizem fontes do sector, precisa de uma injecção massiva de capital para reduzir sua divida com fornecedores, minorando suas relações. Onde ir buscar esse dinheiro? E quanto na verdade precisa? Ir buscar lá fora parece ser uma miragem. Desde que no início do ano passado que, após Governo optou por falhar pagamentos das obrigações emitidas no quadro do vasto procurement ilícito que originou as chamadas dívidas ocultas, nossos ratings de crédito estão abaixo de lixo nos mercados externos.
A saída é o Governo tentar buscar dinheiro cá dentro. Mas onde? Através da emissão de mais obrigações de Tesouro? Do recurso à banca comercial? Afinal qual é exactamente o estado da saúde financeira da LAM? A situação é altamente delicada. Os sucessivos governos foram protelando uma solução radical, optando por tapar buracos pontualmente. Hoje, com a actual crise, encontrar uma saída será mais complicado. Precisará de um golpe de mestre.
E de o Governo assumir que a LAM não pode fechar porque tem um papel fulcral na economia e sua manutenção é também um objectivo politico. Por isso, precisa de um bailout. Mas para isso, o Governo terá de passar cima dos preceitos do Banco de Moçambique na gestão da estabilidade da economia. Nos finais do ano passado, o Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, dava conta, em tom alarmante, de uma divida pública doméstica na ordem dos 100,5 biliões de MTs, originada pelo crescente recurso do Governo a fontes internas para financiar as contas do Tesouro, donde saem injecções de dinheiro em empresas como a LAM. É provável que a banca comercial local rejeite quaisquer possibilidades de refinanciar a LAM. O único recurso será mesmo passar por cima de Zandamela e dos limites prudenciais de endividamento interno. O que causará uma profunda mossa na reaproximação do Governo ao FMI.
PS: Agora que Mateus Magala, o PCA da EDM, revelou a dimensão da roubalheira na eléctrica, é necessário que ele dè o terceiro passo. Qual? Entregar seu relatório ao Ministério Público para os devidos efeitos. O primeiro passo foi dado com mestria: procurar: os leakages de dinheiro na cadeia de valor da relação com os fornecedores, onde havia intermediários fantasmas e comissões avultadas. O segundo passo foi pagar suas dívidas a HCB. Agora trata-se de viabilizar a acção penal contra todos os prevaricadores e recuperar o património financeiro roubado nos últimos anos. A senhora Beatriz Buchili tem aqui quase todo o trabalho de base feito. Basta agir depressa. Mostrando sua intolerância com a corrupção comprovada.
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