A FCKS – Fábrica de Cimento do Kwanza-Sul, SA. é uma empresa fundada a 25 de Abril de 2003 na cidade do Sumbe, província do Kwanza-Sul. Tem sede oficial em Luanda, no município de Belas, Avenida Pedro de Castro Van Dúnem Loy n.º 15, e o seu objecto social é o fabrico de cimento.
Apesar de ser uma iniciativa privada, a FCKS foi erguida com fundos de US$ 731,1 milhões de dólares emprestados pela Sonangol. Até hoje, a empresa não devolveu nem um dólar. Assim, será que a Fábrica pertence à Sonangol? Joaquim David, deputado do MPLA e antigo ministro da Indústria, apesar de ostentar o título de presidente e de ter gabinete montado no edifício administrativo, alega que é detentor de apenas 20 por cento da empresa. Um outro sócio é o ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos. Estes foram os únicos dois accionistas que compareceram à assembleia-geral de Julho de 2014, a que tive o desprazer de assistir.
A actual presidente do conselho de administração da FCKS é a engenheira Emanuela Vieira Lopes, antiga ministra da Energia e da Água que a dado momento o presidente da República teve de exonerar, devido à sua enorme incompetência e ao constante nepotismo. O administrador técnico é um namibiano, dono da empresa que durante a construção da Fábrica fiscalizou a obra e facturou cerca de US$ 20 milhões. Hoje, é ele quem verdadeiramente manda na empresa, pois Emanuela nada entende de cimento nem de gestão de projectos.
A todo-poderosa filha de Joaquim David é a administradora financeira que durante os tempos da importação do cimento formou a Flash Lda. com cerca de US$ 3 milhões da FCKS, que nunca pagou.
O antigo presidente do conselho de administração da FCKS, “general Sassa”, conseguiu, durante o seu consulado, desviar US$ 150 milhões para seu bel-prazer. Assim, conforme ficámos a saber na Tanzânia em 2014, numa conferência regional sobre o cimento a que eu e um dos administradores assistimos, o custo total do projecto da FCKS daria para construir duas fábricas na Nigéria ou na Tanzânia. Mas em Angola, como é hábito, a corrupção encareceu o projecto a tal ponto, que hoje o break even da fábrica não permite a venda de menos de 150 camiões por dia. Tudo isto porque o capital inicial pertencia a todos os cidadãos angolanos, e os sócios não tinham nada a perder.
Aquando do desenvolvimento do projecto, a administração de Joaquim David deixou claro que era contra as “orientações superiores” que sugeriam a cedência (oferta) de participações do negócio à empresária Isabel dos Santos. Eis o erro fatal, ainda que revolucionário, de Joaquim David, e que está no âmago dos problemas actuais da FCKS. Passo a explicar.
Em 2014, na qualidade de director comercial, desloquei-me a Kinshasa na companhia de um dos administradores da FCKS, para firmar um contrato de agenciamento com o nosso novo agente local. Conforme nos contou este agente — ex-ministro da Defesa do governo de Kabila Pai — numa das suas viagens a Angola, o presidente José Eduardo dos Santos mandou-o transmitir a seguinte mensagem: “Diz ao presidente Kabila para não afastar os mobutistas do seu governo; é verdade que eles saquearam o país, mas diga-lhe que eu aqui tenho o mesmo problema; o ladrão número um do meu governo, o Joaquim David, ainda o mantenho no governo.” Mudou alguma coisa de então para cá? Claro que não.
Quem conhece as origens de Joaquim David sabe que ele ensinou José Eduardo dos Santos a roubar, bem nos primórdios dos anos 80, instruindo-o para que nunca fechasse um contrato de partilha, com nenhuma petrolífera internacional, antes de garantir para si um dólar por cada barril exportado.
Foi assim que o nosso Zedu, que naquele tempo parecia inocente, contraiu o vírus da corrupção. Hoje, isto traduz-se em mais de um milhão de dólares por dia directos para a conta do presidente todo-poderoso.
O azar da FCKS reside no facto de Isabel dos Santos ter analisado clinicamente o passivo da FCKS acima referido, identificando um nicho do mercado de cimento angolano para a Cimangola, pondo a FCKS fora do caminho. Possuída pelo demónio da inveja, ordenou o cancelamento da venda de óleo combustível à FCKS, sem o qual não há produção de clinker nem de cimento. Estamos perante um crime económico.
Na longa lista de perdedores ficam o País, os mais de mil trabalhadores da Fábrica, entre os quais os meus colaboradores da direcção comercial, a comunidade de Cuacra, o Sumbe, etc.
Em 2014, o presidente José Eduardo dos Santos recusou-se à última hora a inaugurar esta Fábrica, informando o governador Teixeira de Brito de que não compareceria e ordenando-lhe que cessasse o apoio à FCKS.
Até hoje, este é o maior empreendimento de Angola, acima da Biocon em termos de investimento em capital, mas nunca foi inaugurado pelo Executivo. Alguém consegue explicar porquê?
A oposição parlamentar, entretanto, assobia para o lado como se nada fosse. Mesmo depois do relatório publicado pelo jornalista Rafael Marques, nada foi dito.
A nossa oposição parece estar preocupada em chegar também ao caldeirão, para roubar o que for possível. Não consigo imaginar que, caso ganhassem as eleições de 23 de Agosto, Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku deixassem de perpetuar esta situação, que é comum a todas as áreas de negócio lucrativas em Angola.
João Lourenço, ladrão vestido como pele cordeiro (poupem-me!), não vai combater corrupção nenhuma, e muito menos o tráfico de influências e o nepotismo que são apanágio do regime. Até porque os seus filhos vão querer uma fatia do bolo. Uma delas, aliás, já começou no Ministério das Finanças.
Não sou jurista, mas como economista e consultor internacional posso concluir que, se em Angola as leis funcionassem, Isabel dos Santos já teria incorrido em vários crimes: contra a ordem económica; formação de cartel; abuso de poder, etc., etc. A jurisprudência angolana pode até demorar, mas um dia vai condenar tanto o ladrão-mestre como os seus neófitos.
Entretanto, muitos mais perderão o emprego e talvez mesmo o direito de serem angolanos. Que o caso FCKS se torne um ponto de viragem e contribua para condenar o comportamento selvagem do clã Dos Santos.
Florida, 26 de Julho de 2017
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