MOÇAMBIQUE
Na província de Gaza, no sul de Moçambique, um complexo agroindustrial que custou 60 milhões de dólares deixou de produzir. O complexo foi inaugurado há dois anos e já mostra sinais exteriores de degradação.
Unidade industrial visa processar e conservar os cereais e hortícolas no vale do Limpopo e arredores
O complexo milionário não tem matérias-primas suficientes e os custos de produção são grandes, por isso um analista moçambicano avisa: em tempos de crise, fazer grandes projetos não chega. É preciso que esses projetos tenham futuro e sejam rentáveis.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, inaugurou o Complexo Agro-Industrial de Chókwè (CAIC), em abril de 2015, com pompa e circunstância. Na província de Gaza, Filipe Nyusi cortou uma fita vermelha gigante junto ao complexo e destapou a placa de inauguração ao lado do embaixador da China, porque o CAIC é um financiamento chinês.
Problemas desde a inauguração
O complexo agroindustrial só funcionou a 12% da sua capacidade. Esperava-se que os parceiros indianos investissem na agricultura na região, para fornecer os produtos necessários para o complexo funcionar: arroz, tomates e castanha de caju. Porém, segundo o diretor da fábrica, Mamed Abacar, os investidores nunca mais apareceram e o CAIC ficou sem matéria-prima.
"Eles tinham dois modelos desenhados: um de fomento e outro modelo de produção própria. No fim das contas os parceiros nunca apareceram, então os gestores da fábrica foram obrigados a procurar alternativas para poder gerir a fábrica", explica o diretor.
A alternativa, segundo Mamed, foi investir diretamente na produção das matérias-primas, mas a colheita ficou aquém do que se esperava, por causa da seca. Além disso, o complexo tinha de importar embalagens de África do Sul, o que encarecia os custos de produção.
Grandes projetos são erros comuns
Agora, o complexo agroindustrial deixou de produzir. As despesas – por exemplo, com funcionários e energia elétrica – atingem os 180 mil meticais por mês (cerca de 2.500 euros).
O CAIC tornou-se um fardo para o Estado, pois a maioria das participações no complexo são do Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE).
Este não é um caso único, diz Carlos Mhula, um analista na província de Gaza. Mhula comenta que, em Moçambique, há uma tendência para repetir erros ao conceber grandes projetos. "Ainda continuamos a montar complexos, ao invés de os complexos se montarem. Esse é um erro repetitivo que nós temos tido", afirma Carlos Mhula.
Segundo o analista, "primeiro, é preciso ter uma produção intensiva dos cereais, para depois usar os recursos existentes, e só depois se constrói uma infraestrutura".
O analista aponta, a título de exemplo, o Centro de Investigação e Transferência de Tecnologias Agrárias, no distrito de Mandlakazi, no sul de Moçambique, e o futuro aeroporto de Chongoene, em projeção – projetos que, segundo Carlos Mhula, vão trazer ao Estado mais despesas do que lucros.
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- Data 03.08.2017
- Autoria Carlos Matsinhe (Xai-Xai)
- Assuntos relacionados Direitos Humanos em Moçambique, Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Moçambique, Eleições em Moçambique, Vale , Filipe Nyusi, Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), Comunidade de Sant’Egidio (Comunidade de Santo Egídio), Gaza, Rio Save
- Palavras-chave indústria, crise financeira, má gestão, investimento, Moçambique., agroindústria, Gaza
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