Entrevista
Dados de uma conta no BPN, alegações sobre uma casa no Algarve, uma
alegada doença. Cavaco não esquece a campanha de 2011. Mas não culpa
Sócrates, directamente.
"Foi de uma violência tal que muitos se surpreendem como é que eu
consegui ganhá-la", diz Cavaco sobre a sua última vitória. Não está
esquecida.
Revela no livro a sua oposição à aprovação da lei-quadro de nacionalizações, em anexo à lei da nacionalização do BPN, e diz que a teria vetado se não fosse a urgência pública. O então membro do Governo Jorge Lacão disse ao PÚBLICO que queria beneficiar os accionistas do BPN. Como responde a esta acusação?
Não respondo. Eu não conheço o que o dr. Jorge Lacão disse. Volto a dizer-lhe, este livro teve o objectivo de prestar contas. Em relação ao caso que menciona, o que escrevi foi aquilo que aconteceu comigo. A informação jurídica que eu tinha era de que os diplomas deviam ser separados. Não me parece (e continuo hoje a pensar) que sendo necessário um diploma para nacionalizar uma empresa se devesse colocar em anexo uma alteração à lei-quadro das nacionalizações. Penso que [os partidos da oposição] votaram contra por causa desta forma um pouco esquisita de legislar. E eu fiquei condicionado na minha decisão porque se discordasse da lei-quadro então estava a adiar a nacionalização do banco. O que, de acordo com os pareceres do BdP e do Ministério das Finanças, podia conduzir a um prejuízo para os depositantes e a uma instabilidade do sistema financeiro. Devo dizer que o primeiro-ministro disse-me: "Bem eu pensava que isto não era preciso, mas o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros embirrou e acha que isto é preciso, portanto temos de fazer". Eu pedi justificação ao primeiro-ministro e ele deu-me esta. Ele também não estava convencido e o ministro das Finanças penso que também não estava convencido.
Diz que decidiu acabar com a conta que tinha
no BPN depois de uma nacionalização da qual discordava, “face à violação
do sigilo bancário com intuitos políticos a que a nossa conta estava a
ser sujeita”. Essa violação foi dirigida pelo Governo, que era quem na
altura estava já a controlar o banco?
Não tenho informações de que fosse pelo Governo. Mas eu fui informado, recebi a informação. Não vou neste momento revelar quem, em termos mais colectivos do que apenas um individual, estava a fazer com que a minha conta fosse publicada, os seus movimentos [fossem] publicados na imprensa. Ainda por cima eu sou uma pessoa que, quando abro uma conta no banco fica lá vinte, trinta anos, às vezes sem mexer nas aplicações financeiras que são feitas. Mesmo depois da nacionalização eu não retirei os fundos que tinha lá. Só retirei quando de facto percebi.
Em 2009.
Mas a nacionalização foi em 2008. E eu só nessa altura mandei fechar a conta porque tinha a indicação, apareciam os dados, enfim...
Na mesma passagem do livro escreve que havia uma “campanha de calúnias, mentiras e insinuações tinha sido orquestrada por elementos do PS e do Governo”. E acrescenta: “José Sócrates ficou a saber que eu estava convencido de que membros do seu Governo tinham estado por detrás das campanhas caluniosas montadas contra mim”.
Mas isso é a propósito da campanha eleitoral.
Sim. Mas as calúnias que descreve, em relação a uma casa no Algarve.
Sobre a minha casa no Algarve, um absurdo total. Sobre a doença gravíssima que eu teria. Desculpe, essa campanha foi de uma violência, quanto a mim, foi de uma violência tal que muitos se surpreendem como é que eu consegui ganhá-la. Foi de uma violência muito grande. Eu até desculpo aí o Manuel Alegre, tenho consideração por ele e acho que foram pessoas do PS.
Até diz que estranhava que Manuel Alegre pudesse estar ligado aquilo. Face à necessidade de dizer aquilo a José Sócrates acha que ele orquestrou essa campanha contra si?
Não, não tenho informação para dizer. Aí o que eu digo é que a informação que me chegava é que elementos do PS, da campanha de Manuel Alegre, estavam por detrás dessas múltiplas campanhas insidiosas e caluniosas que foram montadas contra mim, que não foi só uma, foram várias. Foi uma campanha muito violenta, muito violenta. Pronto, no fim as virgens ofendidas vieram criticar-me pelo meu discurso de vitória.
Revela no livro a sua oposição à aprovação da lei-quadro de nacionalizações, em anexo à lei da nacionalização do BPN, e diz que a teria vetado se não fosse a urgência pública. O então membro do Governo Jorge Lacão disse ao PÚBLICO que queria beneficiar os accionistas do BPN. Como responde a esta acusação?
Não respondo. Eu não conheço o que o dr. Jorge Lacão disse. Volto a dizer-lhe, este livro teve o objectivo de prestar contas. Em relação ao caso que menciona, o que escrevi foi aquilo que aconteceu comigo. A informação jurídica que eu tinha era de que os diplomas deviam ser separados. Não me parece (e continuo hoje a pensar) que sendo necessário um diploma para nacionalizar uma empresa se devesse colocar em anexo uma alteração à lei-quadro das nacionalizações. Penso que [os partidos da oposição] votaram contra por causa desta forma um pouco esquisita de legislar. E eu fiquei condicionado na minha decisão porque se discordasse da lei-quadro então estava a adiar a nacionalização do banco. O que, de acordo com os pareceres do BdP e do Ministério das Finanças, podia conduzir a um prejuízo para os depositantes e a uma instabilidade do sistema financeiro. Devo dizer que o primeiro-ministro disse-me: "Bem eu pensava que isto não era preciso, mas o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros embirrou e acha que isto é preciso, portanto temos de fazer". Eu pedi justificação ao primeiro-ministro e ele deu-me esta. Ele também não estava convencido e o ministro das Finanças penso que também não estava convencido.
Não tenho informações de que fosse pelo Governo. Mas eu fui informado, recebi a informação. Não vou neste momento revelar quem, em termos mais colectivos do que apenas um individual, estava a fazer com que a minha conta fosse publicada, os seus movimentos [fossem] publicados na imprensa. Ainda por cima eu sou uma pessoa que, quando abro uma conta no banco fica lá vinte, trinta anos, às vezes sem mexer nas aplicações financeiras que são feitas. Mesmo depois da nacionalização eu não retirei os fundos que tinha lá. Só retirei quando de facto percebi.
Em 2009.
Mas a nacionalização foi em 2008. E eu só nessa altura mandei fechar a conta porque tinha a indicação, apareciam os dados, enfim...
Na mesma passagem do livro escreve que havia uma “campanha de calúnias, mentiras e insinuações tinha sido orquestrada por elementos do PS e do Governo”. E acrescenta: “José Sócrates ficou a saber que eu estava convencido de que membros do seu Governo tinham estado por detrás das campanhas caluniosas montadas contra mim”.
Mas isso é a propósito da campanha eleitoral.
Sim. Mas as calúnias que descreve, em relação a uma casa no Algarve.
Sobre a minha casa no Algarve, um absurdo total. Sobre a doença gravíssima que eu teria. Desculpe, essa campanha foi de uma violência, quanto a mim, foi de uma violência tal que muitos se surpreendem como é que eu consegui ganhá-la. Foi de uma violência muito grande. Eu até desculpo aí o Manuel Alegre, tenho consideração por ele e acho que foram pessoas do PS.
Até diz que estranhava que Manuel Alegre pudesse estar ligado aquilo. Face à necessidade de dizer aquilo a José Sócrates acha que ele orquestrou essa campanha contra si?
Não, não tenho informação para dizer. Aí o que eu digo é que a informação que me chegava é que elementos do PS, da campanha de Manuel Alegre, estavam por detrás dessas múltiplas campanhas insidiosas e caluniosas que foram montadas contra mim, que não foi só uma, foram várias. Foi uma campanha muito violenta, muito violenta. Pronto, no fim as virgens ofendidas vieram criticar-me pelo meu discurso de vitória.
A 1ª grande entrevista de Cavaco depois da presidência: pessoas do PS fizeram "múltiplas campanhas insidiosas contra mim. — publico.pt/1765531
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