A passagem por Maputo do Ministro da Defesa de Angola, vice-Presidente do MPLA e cabeça-de-lista do mesmo partido para as eleições de Agosto deste ano, General João Lourenço, tem estado a alimentar conversas de vária estirpe, sobretudo quando o dirigente chamou atenção para o facto de os malandros não dormirem, tudo fazendo para que tanto a Frelimo como o MPLA sejam arredados do poder, dando ênfase à necessidade de no seio dos dois partidos reforçar-se a coesão interna.
Estranhamente, mesmo sem citar nome quem quer que fosse, como malandro, diversas sensibilidades políticas e sociais de Angola e Moçambique se insurgiram contra as palavras de João Lourenço. Vá –se lá saber o porquê de tanto alarido, quando se sabe que não houve menção explícita de algum partido ou dirigente político. O que João Lourenço disse é que “os malandros não dormem e tudo farão para ver a Frelimo e o MPLA fora do poder.” A pergunta que não se calava era: afinal, quem são os malandros?
Como que num exercício de confissão expontânea, veio a terreiro a UNITA lançar farpas, não só contra o MPLA, João Lourenço, mas também contra a Frelimo. A Renamo, por sua vez, igual a si própria, manifestou o seu descontentamento pelos pronunciamentos do governante angolano. Quem tentou mostrar as putativas garras da adolescência foi o líder do MDM, segundo maior partido da oposição em Moçambique, fazendo acusações graves ao MPLA, ao se referir ao facto de este partido estar supostamente pejado de malandros e terroristas.
Isto remete-nos necessariamente aos episódios da nossa infância, em que perante as carências próprias da época (na década 80), era comum, entre as crianças da altura, meter as mãos nos açucareiros, com o fito de se apropriar indevidamente do açúcar que as mães guardavam com todo o cuidado. Infelizmente, quais inexperientes na matéria, deixávamos as marcas dos dedinhos no açúcar, para além de ser visível a inevitável diminuição da quantidade do açúcar. Perante tal facto e como forma de identificar o infractor, a mãe só dizia: “alguém roubou açúcar aqui em casa”. Dada a ingenuidade, a tentativa de se demarcar do actos ilícito era uma verdadeira confissão, que nos valia uma boas e correctivas palmadas, sanção correspondente ao furto.
Estamos em crer que, João Lourenço, socorrendo-se da estratégia que as nossas mães usavam na nossa infância, nem precisou de dizer quem eram os malandros! Eles trataram de se denunciar, uns pela violenta reacção verbal, bem como pela tentativa infrutífera de se demarcar desse epíteto. Bom, a forma pouco cortês com que quase todos reagiram a isso, é revelador de que estamos efectivamente perante malandros assumidos, alguns, que espontaneamente se candidataram para tal. Em suma, com sói dizer-se: a carapuça serviu.
Até porque quem acompanha atentamente a política moçambicana há-de se recordar que em 2016, Afonso Dhlakama, o vitalício líder da Renamo, disse, numa entrevista concedida a um dos jornais locais que se o Governo moçambicano o eliminasse fisicamente – como se deu com Jonas Savimbi – dentro da Renamo iria emergir um líder mais malandro ainda, com probabilidade de complicar ainda mais o processo de pacificação efetiva do país. Apesar de não ter se referido a Renamo como tal, se o tivesse feito, não nos parece que alguém dentro da Renamo tivesse legitimidade de se insurgir contra João Lourenço, que nada mais estaria senão a parafrasear o líder deste partido que, implicitamente, assumiu que ele é malandro e o seu provável substituto só podia ser um malandro superior a ele.
Temos razões de sobra para crer que o General João Lourenço estava claro sobre que malandros se referia. Aliás, ele não disse que todos os que pretendem ver a Frelimo e o MPLA são malandros, mas que os malandros não dormem e querem ver os dois partidos fora do poder. Ou seja, há malandros (como disse João Lourenço) que querem ver as duas forças políticas fora do poder, mas não significa que todos os que os querem fora do poder sejam malandros.
Até porque não são só os partidos políticos da oposição que querem a Frelimo e o MPLA na oposição. Em Moçambique já vimos embaixadores ou outros diplomatas (principalmente do Ocidente) em manobras de campanha eleitoral aberta à favor de partidos de oposição, o que é revelador da vontade pessoal e, porque não, do país que representam, em ver a Frelimo, partido no poder, na oposição. É também evidente a estratégia de asfixia económico-financeira a que o país vem sendo submetido, com o único propósito de “regime change”.
Não deve ser novidade que em Angola há movimentos encapuçados em ONGs que dizem em alta voz que deve haver alternância do poder, como se isso fosse alcançado de forma administrativa e não pela soberana vontade popular.
Em suma, partidos políticos de oposição nos dois países, reclamaram a sua qualidade de malandros, o que obviamente, a bem da transparência, tal reclamação deve ter o devido provimento. Quem somos nós para lhes negar algo que lhes é por direito.
É caso para dizer: malandro, sempre malandro!
Um abraço da Pérola do Índico.
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