2. O Depoimento de Zeca Caliate Maguaia, ex-Combatente da Frelimo
Eu era Comandante do 4º Sector na região sul da Província de Tete, sucedendo a Fernando Matavela, também conhecido por (Deque Tongànde). Matavela havia sido nomeado para 1º secretário da Província de Manica e Sofala. Por ordem urgente de Samora Machel, teve de se apresentar em Nachingwea e no seu regresso para o Distrito do Guru em Manica e Sofala, passou no meu sector, trazendo consigo um batalhão de combatentes para dar início à guerra naquela frente. Esse batalhão era comandado por Joaquim Mutamanga, também conhecido por Francisco Ndeu. Na altura o comissário político daquela Província era Murrebo Nenhum-Fica, e Eduardo Tomé Nihiya era o comissário político do batalhão.
Na qualidade de comandante do sector na altura, senti-me na obrigação de pessoalmente escoltar o batalhão até ao 7º Destacamento que se situava no distrito de Changara. Acompanhei-os até ao rio Luenha onde terminava o meu sector. Despedi-me de Fernando Matavela, do batalhão e seu pessoal, regressando à minha base Central no 4º Sector. Pelo caminho decidi passar pelo 6º Destacamento que se situava na zona de Chioco junto ao rio Mazoé que era comandado por Damião Phiri. Este movimento coincidiu com uma ofensiva levada a cabo na mesma altura pelo Grupo Especial de Pára-quedistas (GEP), apoiada pela força aérea, nomeadamente caças-bombardeiros Fiat e helicópteros. Quando cheguei àquele Destacamento, o comandante Phiri não se encontrava presente na base, por ter ido participar numa operação contra o inimigo. No seu regresso com o seu grupo de combatentes, vinham também três soldados do GEP que se tinham rendido durante os confrontos com os guerrilheiros. Ordenei ao comandante Damião Phiri, que me fizesse um relatório completo de como se tinham rendido os três GEP. Ordenei -lhe também que juntamente com o chefe da SERSE (Segurança do Sector) que se encontrava na minha comitiva de nome António Neves procedessem a uma revista corporal e minuciosa aos três soldados capturados para ver se podiam encontrar algum material ou algo escondido nos seus corpos. Não encontraram absolutamente nada, apenas o material que traziam à vista.
1. Furriel Pedro Câmara, natural de Quelimane, Província da Zambézia. Trazia o seguinte equipamento: Além de fardamento completo que trazia vestido e boné na cabeça, empunhava uma arma G-3 fabricada em Portugal e com dois ou três carregadores, duas ou três granadas de mão que não me recordo se eram defensivas ou ofensivas, um morteiro de 60 mm com algumas granadas, mais um cantil de água. Trazia nas costas além de mochila que tinha alguma rações de combate e um rádio de transmissão. Tudo foi registado no relatório.
2. Soldado Enfermeiro Boaventura, natural de Manica e Sofala, também trazia equipamento idêntico ao do Furriel Pedro Câmara, mas sem morteiro. Trazia ainda uma sacola que continha alguns medicamentos de primeiros socorros.
3. Soldado Daniel, natural da Província de Tete, que trazia também o mesmo equipamento militar com a sua mochila contendo ração de combate, mas sem rádio nem morteiro.
Concluída a revista e feitas interrogações minuciosas no mesmo dia, falei com os três, dando-lhes as boas-vindas. Seguidamente perguntei-lhes o que vinham fazer, se queriam simplesmente juntar-se a nós naquela selva como novos guerrilheiros? Os três foram unânimes, respondendo que simpatizavam com a guerrilha e que queriam fazer parte dela como moçambicanos e desejavam colaborar na libertação do País ao lado da Frelimo contra o exército colonialista português.
Disse-lhes que não era assim tão fácil um soldado que pertenceu ao exército português, tornar-se um guerrilheiro como nós e disse-lhes mais que tínhamos nas fileiras da guerrilha alguns ex-soldados que citei, como Cara Alegre Tembe e outros.
Estavam presentes ao interrogatório o Comandante Damião Phiri os seus combatentes e o chefe de segurança do sector, António Neves, que foram testemunhas do acto. Terminada a reunião perguntei se queriam tomar banho no Rio Mazoé? Os três responderam positivamente e foram tomar banho. Regressados, jantámos juntos. Dormimos e no dia seguinte logo de manhã, partimos para base Central da região, onde ficaram comigo durante uma semana. Preparei então a viagem deles para a base Central da Província de Tete que se localizava no 1º Sector, onde se encontrava instalado José Moiane e o seu grupo. Mas antes disso, tinha-lhes aconselhado a ter cautela, sobretudo ao Pedro Câmara que parecia um fala-barato. Tinha notado nele através do seu falar sem reservas, parecendo-me de um aventureiro porque para onde se dirigia, ia encontrar-se com diversas pessoas capazes de interpretar mal as suas expressões. Mas ele garantiu-me dizendo: Comandante Caliate fique tranquilo que irei mostrar aquilo que sei para o bem do nosso país e irei fazer tudo para me tornar um guerrilheiro verdadeiro. Foram as últimas palavras que ouvi da boca do Câmara! Daí para diante, nunca mais o vi.
Passaram umas semanas, soube que Pedro Câmara e seus companheiros haviam seguido para Nachingwea e achei bem, pois eles não foram os primeiros. Aliás, na Frelimo havia política de clemência. O que eu não sabia era que a tal clemência não abrangia todos os combatentes do exército português.
Dois meses mais tarde, chegou-me a triste notícia de que Pedro Câmara, tinha sido executado em Cabo Delgado porque foram encontradas na sua barraca (tenda), uma mauser com telescópio, morteiro, granadas e outro material bélico que supostamente destinavam-se a assassinar o Presidente da Frelimo, Samora Machel. O mais certo é que alguém da Frelimo foi ao armazém buscar o material que eles traziam quando da sua primeira apresentação ao Comandante José Moiane que chefiava o 1º Sector e para quem tínhamos enviado o material bélico que os três GEP traziam como prova de confiança. Possivelmente quando seguiram para Nachingwea também enviaram o material que serviu para mais tarde acusá-los.
Os dois companheiros desertores de Pedro Câmara, isto é, Boaventura e Daniel, conseguiram escapar, não sei como. Nachingwea não era fácil de fugir de Nachingwea em direcção ao Quénia ou Etiópia. O Daniel atravessou a Europa, vindo parar a Portugal depois de 25 de Abril de 1974.
Paulo Melchior Focas Centro Mtelela,
parece que so estao a levantar/ ressuscitar fantasmas. E a parte Boa
desta revolução nunca esta patente nos vossos post e estou ficando
preocupado da Real intenção vossa.
Ps: a história tem duas faceta Boa e má, conta nos as duas porque nós somos mais novos e queremos saber de tudo.
Ps: a história tem duas faceta Boa e má, conta nos as duas porque nós somos mais novos e queremos saber de tudo.
Jossias Ramos Creio
que todos os membros estão livres em trazer todas as facetas (essas
duas que te referes). Se tiveres a outra faceta desde que cumpra com os
desígnios e da criação deste Centro Mtelela traga, mano Paulo Melchior Focas. Nota: Sou apenas membro (elemento) como tu, mano Paulo Melchior Focas, precisando de ter toda a verdade da historia desta Nação.
Raúl Salomão Jamisse A história saindo a conta-gotas.
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