Na terça-feira, o Chefe de Estado e o líder da Renamo voltaram a pegar nos telemóveis, encurtaram a distância entre Maputo e Gorongosa e, na paz, falaram sobre a paz de todos os moçambicanos. Durante a chamada, os dois líderes acordaram que quarta-feira seria o dia do primeiro encontro entre o Presidente da República e todas as figuras envolvidas no diálogo sobre a paz. E assim aconteceu.
Na mesma mesa, Filipe Nyusi juntou os grupos de descentralização e dos assuntos militares, os peritos internacionais e diplomatas que compõem a chamada plataforma de contacto. Depois de breves apresentações, Nyusi explicou o mandato de cada grupo, bem como a missão dos peritos e dos diplomatas.
O primeiro grupo deve propor projectos de legislação e emendas constitucionais que se mostrem necessárias para viabilizar os entendimentos ao mais alto nível sobre a descentralização. Já o grupo de assuntos militares deverá encontrar soluções para o desarmamento total, desmobilização e reintegração social dos homens da Renamo, incluindo mecanismos de verificação desses processos. Cabe ainda a este grupo a discussão das melhores formas de monitorar a cessação das hostilidades. “Estamos felizes, porque, desde que decidimos entrar em tréguas, não houve registo de casos gritantes que mostrassem que há desencontro de pensamentos”, congratulou-se.
Os peritos internacionais vão prestar assistência técnica aos grupos da descentralização e dos assuntos militares. No encontro de ontem, estiveram presentes quatro peritos, sendo dois da Suíça, um da Zâmbia e outro do Quénia. O Chefe de Estado explicou que houve consenso na escolha destas figuras, cujo grupo deverá ficar completo na próxima semana, com a chegada de mais dois.
O consenso também dominou a escolha dos embaixadores para compor o grupo de contacto, nomeadamente, da Suíça (presidente do grupo), dos Estados Unidos (co-presidente), da União Europeia, do Reino Unido, da China, da Noruega e do Botswana. Depois de afirmar que os sete embaixadores e alto-comissários representam os diplomatas acreditados em Maputo, Nyusi explicou as razões da preferência destes no lugar dos mediadores internacionais. Além de alegar custos financeiros para trazer e manter os mediadores internacionais, o Chefe de Estado disse que o diálogo não era “muito produtivo” e falou de “interferências” no processo. “Acabámos vendo que eles (mediadores internacionais) sempre consultavam as pessoas que vivem aqui”, criticou, acrescentando, já em referência aos diplomatas, que “é bom quando estamos a trabalhar directamente com pessoas que vivem aqui, conhecem a realidade e têm autoridade”. Para integrá-los na mesa do diálogo, a Presidência moçambicana não precisou de fazer contactos com os respectivos Estados/instituições que representam. “Eles são embaixadores acreditados para cooperar com Moçambique em nome dos seus países”, justificou Nyusi.
E qual é a missão destes embaixadores no diálogo? Além de apoiar a coordenação técnica do processo de uma paz sustentável, eles deverão mobilizar recursos para financiar o próprio processo. “Para trazer assistência internacional (peritos), reunir, trabalhar e chegarmos às fases do desarmamento, da desmobilização e da reinserção social, vai exigir muitos recursos que sozinhos não teremos capacidade de os suportar. Contamos com os nossos parceiros que, como sempre, nos ajudaram nos processos anteriores”. Está feito o pedido.
Elogios a Dhlakama e diálogo por telefone
Filipe Nyusi não poupou palavras para elogiar a “abertura e simplicidade” de Dhlakama e desafiou os grupos a seguir “o mesmo espírito” que norteia o diálogo ao mais alto nível. “Queremos que vocês repliquem a simplicidade, a humildade, a compreensão e a tolerância. Não estamos a dizer que nas discussões não deve haver ideias diferentes, senão não teria sentido esta reunião. Mesmo nós, quando discutimos, há vezes que levamos muito tempo sem nos entendermos. Mas quando um argumenta e outro pondera, chega-se a um consenso”.
No fim da sessão aberta à imprensa, Nyusi aproveitou para responder àqueles que criticam o diálogo por telefone: “Não somos os únicos a discutir ao telefone. Trump e Putin estão a falar ao telefone e não é problema. Por que é que deve ser problema quando somos nós aqui?”
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