segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Violadas, mas...


Opinião


Inês Cardoso*Hoje às 00:04





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Inês Cardoso*Hoje às 00:04




Enquanto o vídeo de Donald Trump corria mundo, dizendo que pode apalpar as mulheres que quiser por ser uma estrela, a blogger e escritora canadiana Kelly Oxford lançou um desafio no Twitter. Pediu às seguidoras que partilhassem episódios de assédio sexual de que tenham sido vítimas e os relatos começaram a cair. Ao ritmo médio de 50 por minuto, durante 14 horas.

As reações de mulheres reais podem ter o efeito perverso de desculpabilizar Trump, ao fazerem parecer banais os episódios de menorização e abuso. Porque a realidade é essa: as "conversas de homens" existem. Tal como os toques indesejados, os comentários agressivos e a coação sexual. E é exatamente por isso que temos de ser implacáveis até que deixem de ser considerados normais ou admissíveis.

Os milhares de episódios descritos mostram que existe uma cultura de violação. E não pode haver medo de usar as palavras. A culpa de um certo laxismo à volta do tema não é só dos autores dos abusos. É de todos os que encontram sempre explicações para o inexplicável. A começar pela própria mulher do candidato. Diz Melania que as palavras do marido são "ofensivas e inaceitáveis". Mas, lá vem o "mas" normalizador, o homem apanhado a linguajar sobre as suas investidas de macho não é o homem que conhece. Por isso, aceitou o pedido de desculpa, apelando aos eleitores "que se concentrem nos temas importantes que o país e o Mundo enfrentam".

Até o parceiro na corrida à Casa Branca, Mike Pence, começou por reagir de forma assertiva, mas acabou o dia a congratular-se com o arrependimento demonstrado e a desejar que Trump tenha oportunidade de comprovar que não é como se revelou no vídeo.

Robert de Niro tem toda a razão. Donald Trump é "estúpido", "aldrabão", um "rufia", um "porco". Apetece dar-lhe um murro na cara. Só que não se pode simplesmente reagir ao murro com tanta gente que o rodeia. Importa analisar como é possível esse "palhaço" ter reunido os apoios suficientes para ser candidato e ter estado, como chegou a acontecer, a liderar sondagens.

O que é realmente assustador é como se deixou a arrogância, a xenofobia, a intolerância, a fraude fiscal e o sexismo ganharem dimensão. E não, não é um problema dos americanos. Nem caso único. Sempre que deixamos que a estupidez e a intolerância façam caminho, estamos a permitir que a dignidade humana seja violada. E não pode haver mas, nem meio mas, que o justifiquem.

*SUBDIRETORA



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