Elisio Macamo
Ontem às 13:23 ·
Confesso que não consigo perceber a União Europeia. Se calhar nem é para perceber. O seu porta-voz em Maputo voltou a publicar uma reacção incendiária à eliminação física dum político da Renamo em circunstâncias não esclarecidas. Nessa reacção, diz duas coisas que me fazem duvidar da qualidade do pessoal que essa instituição manda para o país. Primeiro, isso no segundo parágrafo, escreve o seguinte: “A violência jamais será uma alternativa ao diálogo pacífico nos esforços de lograr uma solução sustentável para um conflito político. É por isso imperioso que as autoridades não poupem nenhum esforço para levar os perpretadores à barra da justiça”.
Há duas coisas que não estão bem aqui. A primeira diz respeito à suposição segundo a qual este homicídio estaria ligado ao processo de paz. Há muitas razões para pensar que esteja – eu também por acaso penso que pode estar – mas enquanto não houver matéria segura que justifique essa suposição, estaremos sempre perante uma suposição. É atrapalhar os esforços de busca da paz que uma instituição como a UE venha a público com certezas. O único que consegue com isso é fortalecer essa convicção no seio do público, endurecer as posições das partes e tornar ainda mais difícil a tal solução negociada que quer ajudar a obter. Para mim isto é inépcia diplomática, na melhor das hipóteses, e falta de respeito pelos seus próprios anfitriões, na pior.
A segunda coisa que não está bem é o non-sequitur que se segue, por assim dizer. Isto é, depois de dizerem que se trata dum assassinato levado a cabo por uma das partes do conflito apelam a essa parte para não poupar nenhum esforço no seu esclarecimento. Como é que vão fazer isso se eles é que “são” os perpretadores? Ou a União Europeia tem conhecimento duma outra parte diferente das duas que conhecemos? E se tem, porque não o diz directamente para todos ficarmos a saber?
A segunda coisa que não está bem no comunicado é o seu parágrafo final. Diz o seguinte: “Todos os partidos moçambicanos querem a paz para Moçambique e devem manter o compromisso com as negociações evitando todas as acções que possam colocar em perigo um processo apoiado pelo povo moçambicano. A União Europeia continua disposta a ajudar através de todos os meios ao seu dispôr”. Não percebo o parágrafo. Quais são esses partidos moçambicanos que querem a paz para a Moçambique? Se a querem, porque não deixam que haja paz? Porque é que “devem” – ao invés de “deviam” – manter o compromisso? Que linguagem arrogante é esta? Que povo moçambicano é esse que apoia o processo? Que acesso especial é que a União Europeia tem a esse povo para se arrogar o direito de falar em seu nome? Mas mais importante ainda, como é que a gente vai acreditar na disponibilidade da UE em ajudar se com este tipo de comunicados cheios de insinuações ela só contribui para contaminar o ambiente de discussão?
Eu reajo mal a estes comunicados inoportunos porque acho que são mal-avisados e não contribuem para a paz em Moçambique. Esta não devia ser a função duma instituição como a UE. Não sou tão ingênuo ao ponto de colocar completamente de lado a hipótese de haver uma motivação política por detrás do homicídio, mas sou suficientemente realista para saber que quando uma instituição que devia observar uma certa neutralidade – e mesmo isso é pedir pouco, pois formalmente estamos perante uma situação em que um partido político faz recurso à violência armada em reacção aos resultados de eleições que os observadores da UE declararam limpas – constantemente toma partido por um dos lados, acaba fazendo parte do conflito.
Há, infelizmente, um patriotismo boçal entre nós que vê tudo sempre como fruto da “mão externa”. Não me admiraria nada que esse patriotismo boçal fosse ao ponto de incutir em algumas pessoas a necessidade de “defenderem a pátria” com recurso a todos os meios, incluindo o assassinato de opositores. Esse recurso não precisa dum aval oficial do partido no governo, pode ser algo feito por iniciativa própria como muitas outras coisas são feitas no país.
Não reforça a posição do Chefe do Estado – e do Governo – que um parceiro importante, cujo conselho tem força moral pelo compromisso que devia ter com o respeito pela ordem constitucional, nunca abra a boca em condenação ao recurso à violência pela Renamo, um recurso que fere a moral que essa instituição representa, mas volta e meia emita comunicados a lançar suspeitas sobre o governo que a acolhe. Será que esse pessoal da UE não vê que o seu diletantismo pode contribuir para enfraquecer ainda mais um governo e um presidente que são, apesar de tudo, a garantia de qualquer tipo de paz que houver no país?
Sempre que leio estes comunicados lembro-me da famosa frase do Imperador Alexandre no leito da morte: “Estou a morrer com a ajuda de muitos médicos”. Moçambique também. Infelizmente.
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92Lyndo A. Mondlane, Brazao Catopola e 90 outras pessoas
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15 comentários
Comentários
Brazao Catopola Concordo plenamente com o texto. Feliz ou infelizmente não consigo "taggar" pessoas (mesmo por respeito) em meus textos. Hoje fiz um post no qual, entre outras, também condeno essa posições que pretendem ser as unicas corretas (por interesses) ocultando outras verdades ou melhor, como diz um amigo meu, verdades diferentes!!
Gosto · Responder · 3 · Ontem às 13:44
Elisio Macamo acho que a oposição ou jornalistas ideológicos podem emitir comunicados desta natureza. mas uma instituição que passou um atestado positivo às eleições que estão na origem do bang-bang devia, por coerência, criticar quem não aceita os resultados. ou então voltar atrás com o atestado que passou. se não quer fazer isso, então tem que procurar ser um factor de paz.
Gosto · Responder · 4 · Ontem às 15:13 · Editado
Cremildo Chitará Indignação selectiva!
Gosto · Responder · 3 · Ontem às 13:59
Filipe Ribas Penso da seguinte forma: todos os políticos devem ter uma morte natural e por velhice. Os assaltantes devem obter o currículo das suas vítimas antes de perpetrar qualquer crime. A União Europeia deve providenciar investigadores apropriados para os casos em que tenha convicção de que um assassinato vítima uma parte, porque foi cometido por outra parte. Esta com obrigação de evitar que as partes sejam partes.
Importa, também, definir com clareza o perfil dos assassinos e o âmbito da sua actuação, instruindo-os para conhecerem, taxativamente, a quem podem e devem matar para não perturbar processos políticos.
Gosto · Responder · 8 · Ontem às 14:28
Cremildo Chitará Acrescento apenas que os que devem "morrer" de morte natural devem ser os que militam nos partidos da oposição!
Gosto · Responder · 1 · Ontem às 14:52 · Editado
Filipe Ribas Nem mais meu caro Cremildo Chitará!
Gosto · Responder · Ontem às 14:32
Elisio Macamo risos. mas é sério!
Dalfino Hóster Guila Simplesmente lamentável. Um desastre para uma UE prenhe de mentes capazes.
Gosto · Responder · 1 · Ontem às 14:39
Mussá Roots A Embaixada dos "E.U.A também faz um comunicado, com o mesmo "Desenho" que o profe está questionando, aquí...ou seja, assume que aínda não se pode adiantar as causas, e volta e meia, condena intimidação a políticos...
Também não sou ingênuo, parece-me um crime que tem a ver com o conflicto que vivemos... Mas quem sabe?
Estou a imaginar, um fulano, que vive discutíndo com a esposa...morre envenenado...o que ninguém sabe é que ele anda em problemas com o fornecedor de verduras, porque anda com a esposa daquele em segredo, e o mesmo descobriu...também não se sabe que a vizinha tem acesso as panelas, enquanto conversa com a esposa do finado que é amiga,ce esta vizinha morre de raiva por este falecído lhe rejeitar...
Ou seja...vamos assumír que a esposa/viúva é a criminosa, porquanto andavam em conflicto conjugal quase sem solução...mas...
Gosto · Responder · 1 · Ontem às 14:58
Antonio Timbana Obrigado Professor por trazer esta reflexão que muito nos falta. Apesar de existirem muitos analistas políticos no contexto de Moçambique ainda existe pouca reflexão despedida de pré-conceitos. Chamo aqui Pré-conceito toda a ideia concebida sem antes provar o fundamento, apontando quem seriam os provaveis assassinos. As Agências continuam a dizer por "não dito", concordo com Professor Elisio Macamoporque dá impressão que conhece os assassinos.
Gosto · Responder · 1 · Ontem às 15:54
Mendes Mutenda O porta voz da União Europeia peca concluir a investigação e atribuir culpas. É difícil manter a coerência, sobretudo, quando há muita parcialidade. Do olhar político apenas: sinto que há sempre um comunicado quando se trata de um elemento da oposição. No mês passado um Chefe do posto administrativo em Sofala e o régulo local foram raptados em pleno comício e executados. Ninguém apareceu pelo menos para solidariedade. Que se investigue e se chegue a conclusão do que aconteceu, a todos níveis
Gosto · Responder · 3 · 23 h · Editado
Elisio Macamo sabe, o problema é que nem é esse o seu papel. existem canais diplomáticos próprios para se pronunciarem sobre estas matérias sem interferir negativamente nos processos. eles não são a consciência moral de moz. eles, usando da sua autoridade moral, passaram um atestado positivo às eleições cujos resultados estão a ser violentamente contestados. eles é que são incoerente por não dizerem nada a quem promove a violência.
Gito Katawala Ponto aceite ilustre. Por uma questão de coerência, não se deve insinuar que uma das partes que negoceiam a paz terá sido a autora do assassínio. Mas por outro lado, há a incerteza de chegar à conclusão definitiva de quem terá sido o autor moral deste acto. Julgando pelo modus operandi ou a existência de muita coincidência, mortes como essa jamais serão esclarecidas até um dia em que se abrirem registos ou cadastrados de operações dos "esquadrões da morte". Como não se vislumbra uma comissão da verdade e reconciliação, nunca saberemos quem foram os mandantes.
Pelo que eu sei na história da existência da nossa República, nunca houve uma "declassification" por parte do aparato de segurança do Estado, mesmo nos "memoirs" dos eruditos veteranos da Luta de Libertação, nunca fazem anuência aos períodos tenebrosos da nossa existência como nação.
É agora o quê se segue?
Gosto · Responder · 3 · 20 h
Elisio Macamo agora o que se pode seguir é o endurecimento de posições. a renamo vai ficar mais convencida ainda que o adversário é que é responsável - se a ue diz ... - e quem quer que seja que esteja por detrás vai ficar chateadíssimo com nyusi se ele tentar esclarecer e vai fazer ainda mais para torpedear o processo. isso caso a suposição seja correcta. o que me incomoda é que sendo a ue uma instância com um papel moral ela tem todo o interesse em manter a ficção da presunção de inocência. mesmo se alguém tivesse visto um agente da fir a fazer isso, seria do interesse duma instituição que quer desempenhar um papel útil se abster (porque qualquer pessoa pode usar uniforme da fir...) de comentar nestes moldes no interesse do sucesso das negociações. já trabalhou um grande diplomata português na representação europeia, um tipo que não morrendo de amores pelo governo, era duma sensibilidade extraordinária em relação aos desafios de construção dum estado de direito. faz muita falta gente assim. nenhum país merece a mediocridade, nem mesmo moz.
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Rildo Rafael Gito Katawala: O recurso a violência vai ganhando musculatura na pérola do índico e não tardará que ela não consiga se "esconder" por muito tempo! Um dia a violência "aparecerá" com os violentos! Estamos a plantar "fantasmas" da violência!!!
Marcos Sinate Esses discursos da UE reforçam, no meu entender, dois tipos de crença. O primeiro é que os assassinatos dos membros dos partidos da oposição e mesmo alguns do partido no poder são partidarizados (é a Frelimo e/ou a Renamo a matar). O segundo é que os conflitos militares que assolam Moçambique e tantos outros países africanos ocorrem porque há uma “mão externa” e só esta última pode decidir quando é que os conflitos devem cessar.
Enfim, esses devem ser os discursos proferidos pelos diplomatas com a qualidade máxima para trabalhar em Moçambique e provavelmente em toda a África. Penso que em outros países de outros continentes os diplomatas tenham qualificações e qualidades diferentes (superiores).
Rildo Rafael Caro Elisio Macamo:Concordo plenamente consigo que o Porta-Voz da U.E deve tentar (ou mesmo) ser isento ou ainda não chamar a motivação da eliminação física dum político da Renamo a um dos interlocutores do diálogo (suposição) até que realmente se prove que A, B ou ainda C estejam envolvidos ou não no referido acto para não se colocar mais “LENHA” na nossa “FOGUEIRA”. É impressionante como já se supõe que numa situação de eliminação física de um dos membros de partidos políticos envolvidos na busca da paz o mandante/executor seja sempre uma das forças envolvidas! (Terceiro excluído). A dinâmica deste acto pode ajudar a investigação a descortinar os envolvidos de facto (exige-se perícia!). Há que dar celeridade nas investigações para não se dar espaço a “estrangeiros” do estilo da U.E aproveitarem-se para falar em nome do povo e levantar suspeitas infundadas!
Ao caminharmos pelo sentido que os “meios justificam os fins ou os fins justificam os meios” estamos cada vez mais longe de almejar tal paz na medida que ela pode vir a ser alicerçada no rio que tenha no seu leito muito sangue derramado. Digo isto, tanto pela eliminação física do chefe do Posto de Tica e o régulo Nhampoca em Sofala, distrito de Nhamatanda e também pela recente eliminação física do político da Renamo... A teia da suposição “ acompanhada de comunicados ao estilo da U.E irá de certeza alimentar falsas evidências e ou suposições que desencadeará (por hipótese) num ciclo vicioso da violência (Se a informação da U.E) for tomada como certa o que pode não constituir verdade! Também reajo mal a este comunicado como devemos reagir a eliminação de qualquer moçambicano (Seja ele de A, B ou ainda C) nos moldes que assistimos no dia a dia, já agora de qualquer estrangeiro para não acusarem-me de excesso de patriotismo (só pensar em nós próprios).
Elisio Macamo pois.
Carlos Edvandro Assis O que eu percebi Elisio Macamo é que a UE esta bastante avancada tecnologicamente o que os faz falar de forma leve para provocar reacoes propositadas e ai advirá uma provável afrontação com o black & white (imagens nitidas). Tenho eu fé que as varias orbitas e etc implantadas pelos varios espacos do planeta com enfoque pra os nossos que estao fragilizados podem muito bem trazer estas verdades, alias a UE ja deve sem duvidas saber a arquitetura toda feita para este ultimo evento de relevancia sabendo que os interessa salvaguardar os seus (europeus) que estao neste momento neste circuito com vista a laborar a paz. I don't see them being too emotional neither unwise, these guys are wise and they know they are bound to make such pronounciations backed with what makes their confidence. Este procunciamento nao é de impeto local, acredito que seja uma recomendação que esteja a vir da Europa why not world (tecnological eyes).
Mendes Mutenda Mesmo tendo a tal tecnologia, não cabe a ele acusar, julgar e apaziguar
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Elisio Macamo eu na verdade começo a pensar que alguém em maputo, na ue, está activamente a sabotar o trabalho da sua instituição. mesmo "sabendo" de alguma coisa, não seria do interesse da ue desestabilizar o processo. nenhum diplomata sério em maputo aposta num governo renamo, por enquanto. não é porque morram de amores pela frelimo. são realistas e pragmáticos.
Carlos Edvandro Assis Elisio Macamo pode até ser fobia a paz pela UE ou melhor peacephobia.
Claudio Tamele A EU é um caso!! penso que a própria EU é um projecto em desenvolvimento e que chegou a uma incruzilheda sem sida. Os próprios membros da EU estao confusos quando a Estrutura e objectivos da Própria instituica. Penso que comparável demomento a um Navio em afogamento. Penso tambem que a EU seria a última instituicao com moral para falar da Paz. Quando se tratam de conflictos armados entram há um contraste entre Conselho de Seguranca das Nacoes Unidas, EU e NATO. muitas das vezes os interesses económicos e estratégias geo-políticas ditam as regras, portanto, nao existe lógica nenhuma entre estas instituicoes no que diz respeito a processos de Paz. O que se espera destas instituicoes é rendicao às regras por eles ditadas e que naturalmente lhes proporcionam vantagens económicas. O que foi feito da Líbia? nao esteve lá o Chancerler Alemao Gered Schöder com o Gadafi na Tenda? Tony Blayer? Beluskoni? e Sakozy nao assinou acordos para a construicao de Reactores atómicos? e oque é que fizeram com o Gadafi no fim? portanto, é dessa dupla moral a que me refiro. e mais ainda: o Cinismo de deixar pessoas aflitas e famintas afogarem-se mo Mar mediteraneio ou encarceirar-lhes e m centros prisionais considerados sinicamente "centro de acolhimento e registo" é pior doque uma gerra armada.
Claudio Tamele esse funcionário da EU nao me admira com as sua declaracoes parciáis e sínica fazendo do povo cego, desenformado sem capacidade de análise.
Muzila Wagner Nhatsave Com todo devido respeito a UE que se lixe.
Muzila Wagner Nhatsave Esta mais do que claro quem esta a meter lenha na fogueira neste conflito. Uma PARCIALIDADE E INGERENCIA DE BRADAR OS CEUS.
Culpados procurando "culpados"
A seguir partilho mais um texto da autoria de Elísio Macamo. Trata-se de um texto em que autor manifesta indignação pela forma como a representação da União Europeia em Maputo se posicionou relativamente ao assassinato de Jeremias Pondeca, ao mesmo tempo que ele (o autor do texto) também condena o crime e lamenta a morte do malogrado. Partilho o texto aqui, porque no cômputo geral me identifico com o seu conteúdo, e me ocorre tecer um comentário sobre o mesmo...
Agora segue o meu comentário, começando por citação à uma passagem do texto acima partilhado:
«Há, infelizmente, um patriotismo boçal entre nós que vê tudo sempre como fruto da "mão externa". Não me admiraria nada que esse patriotismo boçal fosse ao ponto de incutir em algumas pessoas a necessidade de "defenderem a pátria" com recurso a todos os meios, incluindo o assassinato de opositores. Esse recurso não precisa dum aval oficial do partido no governo, pode ser algo feito por iniciativa própria como muitas outras coisas são feitas no país.»
Nesta passagem, eu discirno duas posições do autor, com as quais estou plenamente de acordo. Primeiro, a posição de que os assassinatos de opositores políticos não têm como ser justificados; são abomináveis e devem sempre ser condenados. Segundo, a posição de que é inapropriada a reacção da representação da União Europeia em Maputo de insinuar que o assassinato de Jeremias Pondeca foi por encomenda do partido no poder, a Frelimo.
Não concordo é com a ideia de que ver intervenção da "mão externa" na criação de problemas que se vivem actualmente em Moçambique é «patriotismo boçal». "Mão externa" existe envolvida nos nossos problemas. Aliás, o próprio conteúdo do comunicado distribuído pela representação da União Europeia em Maputo tem elementos que indiciam o envolvimento da "mão externa" no actual conflito político-militar em Moçambique. Não é inteligente negar hipóteses que não tenham sido provadas inválidas. A aversão que alguém possa ter pela teoria de conspiração não nos deve coibir de aventar, por exemplo, a hipótese de que o assassinato de Jeremias Pondeca pode bem ter sido orquestrado com o envolvimento de quem rapidamente encontra "culpados" e distribui comunicados tendenciosos.
É bom que não haja dúvida de que não é do interesse dos descendentes dos ex-colonos que perderam propriedades em Moçambique, aquando das nacionalizações, ver este a país bem governado. Não estejamos esquecidos de que a Renamo foi criada pelo regime minoritário branco da Rodésia de Ian Smith com a colaboração de ex-colonos para inviabilizar a construção do Estado moçambicano. A sanha desses ex-colonos (ou seus descendentes) pela Frelimo é visceral e parece é impensável que este partido possa governar Moçambique sem ter que enfrentar uma oposição organizada e financiada por esses fulanos.
Portanto, não haja equívoco. O colonialismo ainda está entre nós e usa a velha táctica de dividir para reinar. Eles podem ter encomendado a morte macabra de Jeremias Pondeca exactamente para comprometer o diálogo político em curso entre e o Governo de Moçambique e a Renamo. Esta é uma hipótese que não deve ser descartada por causa da aversão que tenha pela teoria de conspiração. Não é do interesse da Frelimo, tampouco do Governo de Moçambique, inviabilizar o diálogo para o alcance da paz efectiva em Moçambique. Mas é do interesse dos que dão apoio multifacetado à Renamo inviabilizar a governação e paralisar a economia deste país.
O objectivo último desses fulanos é colocar o povo moçambicano contra o seu próprio Governo. Fica, pois, aparente que Jeremias Pondeca pode bem ter sido vítima dos seus próprios patrões, interessados pela instabilidade política que financiam a Renamo para perpetuar em Moçambique. Estou quase seguro da validade desta hipótese, porque não consigo ver ninguém mais interessado na continuidade do conflito político-militar que se vive em Moçambique, excepto os que se servem da Renamo e do Afonso Dhlakama para fragilizar o Estado moçambicano. Vós sabeis que sois; não tentai enganar o povo moçambicano com as vossas farsas.
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