Terror(ismo) em Boane
O
último dia de Setembro de 2016 foi marcado por muita violência, em dois
bairros de expansão do município de Boane, a mais de 40 quilómetros da
cidade de Maputo. Um grupo alegadamente composto por cerca de 15 homens,
munido de armas de fogo, instrumentos contundentes, entre outros, fez
um “arrastão” em dezenas de casas, onde, para além de espancar
violentamente as vítimas, roubou dinheiro e telefones celulares.
“Encontraram-me
na porta da sala e começaram a bater-me. Tinham muitos instrumentos”,
descreveu Graciete Fabião. Disse que foi torturada até tirar os quatro
mil e quinhentos meticais que tinha guardado. Mesmo depois de terem
levado o valor e telefones celulares, a violência continuou e até lhe
foi apontada uma arma de fogo. “Quando me apontaram a pistola, houve um
jovem que disse ‘vamos, porque o tal fulano já chegou’. parece que é o chefe deles, que anda de carro”, contou.
Ao
que tudo indica, as casas assaltadas foram seleccionadas a dedo. São
escassos quilómetros da primeira casa à outra por nós visitada, que
também foi vítima dos criminosos. Durante
o assalto, que se calcula tenha durado 30 minutos, o grupo torturou os
membros da família, ameaçou crianças com armas brancas e levou bebidas
alcoólicas e refrigerantes da barraca anexa à casa, além de recargas de
telefones celulares.
“Bateram-me
com ferros e depois amarraram-me. Eram cinco que vi com pistolas,
outros tinham ferros e pás que encontraram aqui ao lado”, disse uma das
vítimas.
Num
outro ponto do mesmo bairro, escalaram a casa de um oficial da Polícia
da República de Moçambique, identificado por Orlando de Magalhães. Foi
violentado de tal forma que ficou com os dois braços fracturados. “Na
tentativa de fazer força, para poder proteger-me, começaram a atirar
contra mim com pé de cabra e progrediram até ao interior do meu quarto,
onde, para além de mim, agrediram a minha senhora, exigindo dinheiro”.
Os
malfeitores conseguiram oito mil e setecentos meticais. Mesmo assim,
acreditavam que conseguiriam mais, uma vez que nessa casa existe uma
barraca, por isso, usaram mais violência.
Da
casa do oficial Magalhães à outra também visitada pelo mesmo grupo, a
distância é de menos de um quilómetro. Nessa casa, até os dois cães de
raça Pittbul foram neutralizados. A dona de casa, o esposo e o filho
foram espancados com muita violência.
Com hematomas no corpo, a dona de casa, que falou à nossa reportagem em anonimato, disse que escapou à violação sexual: “(Foi) tanta a tentativa de violação que me deixou com muitas marcas nas pernas mais graves que esta”.
O
edil de Boane, Jacinto Loureiro, está espantado com o acontecimento,
que o classifica de “atípico”. “Foram cerca de 15 a 20 pessoas que
invadiram o bairro. Não é normal isto acontecer, não temos tido este tipo de crimes. Aterrorizaram, de certa maneira, a nossa população”.
Ainda não há detidos em conexão com o caso. Entretanto, a polícia desdramatiza o número de vítimas e de integrantes do “gang”.
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