Filhos de Jeremias Pondeca na hora do adeus ao pai
Vão
a enterrar, às 10h00 de hoje, quinta-feira, no povoado de Ndolene,
(posto administrativo de Chidenguele, na provincia de Gaza) os restos
mortais de Jeremias Pondeca Munguambe, membro do Conselho de Estado,
dirigente da Renamo e membro da Comissão Mista, que foi assassinado no
passado sábado, 8 de Outubro, na cidade de Maputo.
Ontem,
quarta-feira, realizou-se nos Paços do Conselho Municipal da cidade de
Maputo, o velório, em que estiveram presentes a família, amigos, o
Presidente
República,
Filipe Nyusi, membros do Conselho de Estado, membros da Comissão Mista,
mediadores da União Europeia, membros do Conselho Constitucional,
deputados da Assembleia da República, a governadora da cidade de Maputo,
o presidente do Conselho Municipal da cidade de Maputo e o
ex-Presidente da República Armando Guebuza.
Na
hora da despedida, o filho Jeremias Munguambe, Marcílio Chitunda
Jeremias Munguambe, disse, numa mensagem em nome da família, que o
cobarde assassinato do pai não vai intimidá-los.
“Dói
perceber a sua morte injusta pai. Continuaremos defensores dos seus
ideais. Não podemos pensar diferente, sob pena de nos custar a vida”,
disse o filho de Jeremias Pondeca, acrescentando: “Pai, os que te
assassinaram se vingarão entre eles, e disto podes ter a certeza”.
A família de Jeremias Pondeca diz que nenhum ser humano merece uma morte tão bárbara como aquela.
“Famba a hombe [vai bem], Muangualaze”
Belmira
Pedro, da Associação dos Vendedores de Peixe no Mercado do Peixe de
Maputo, de que Jeremias Pondeca era presidente da Mesa da
Assembleia-Geral, disse que este foi assassinado às 7h20 horas da manhã
de sábado na zona da praia da Costa do Sol.
Belmira
Pedro disse que Jeremias Pondeca como amigo, irmão, colega e um dos
fundadores do antigo Mercado “A Luta Continua”, em 1985, e da Associação
dos Vendedores de Peixe, deixa um grande vazio nos corações, numa
viagem sem volta.
“Foste
um pai. Ensinaste-nos a conviver um com o outro, mesmo com as nossas
diferenças e foste um grande conselheiro nos momentos mais difíceis das
nossas actividades, mesmo na batalha da nossa transferência do antigo
Mercado do Peixe para o actual”, disse Belmira Pedro na mensagem.
“Apesar de teres passado várias sevícias, foste sempre coerente contigo mesmo” – Renamo
A
Renamo, através de uma mensagem lida por Manuel Pereira, dirgente deste
partido, afirma que foi com profunda dor e consternação que o
presidente Afonso Dhlakama, o partido Renamo, a Comissão Política
Nacional, o Secretariado-Geral, membros e simpatizantes em geral tomaram
conhecimento da triste notícia do assassinato de Jeremias Pondeca.
A
Renamo lembrou que o “chefe Pondeca” nasceu a 23 de Dezembro de 1961,
tendo ingressado na Renamo em 1977, sendo militante na clandestinidade, e
tornou-se militante activo a partir de 1991.
“Apesar
de teres passado várias sevícias, foste coerente contigo próprio,
sonhando com o teu partido no poder. Podes crer, irmão, nós seguiremos
em frente com todos os ideais do partido” afirmou Manuel Pereira,
acrescentado: “Não desistiremos dos ideais”.
“Nenhuma morte violenta deve ser insensível para nós moçambicanos” – Amade Miquidade
O
Conselho de Estado, através do seu secretário-geral, Amade Miquidade
declarou: “Estamos aqui para falar a vida de Jeremias Muguambe, cientes
de que aqueles com quem o conselheiro Jeremias Pondeca comungou a vida
comungarão com as nossas palavras, que não são mais do que uma tentativa
de elogio ao percurso deste homem que se tornou conselheiro de Estado”.
“Muito
tinha ainda a dar como contributo no aconselhamento ao chefe de Estado,
quanto às matérias de natureza política, como estabelece a nossa
Constituição e foi em respeito a essa mesma Constituição que o Conselho
reuniu e emanou a necessidade urgente de paz, do calar das armas”, disse
Amade Miquidade.
O Conselho de Estado afirma que Jeremias Pondeca era um moçambicano que procurava, com o seu saber, ser útil à pátria.
“Nenhuma
morte violenta deve ser insensível para nós moçambicanos e muito menos
quando acontece em solo pátrio, pois o respeito à vida é um desígnio de
todos. Por isso, contra a violência, devemos todos nós erguer as nossas
vozes e dizer que basta”, afirmou Amade Miquidade, acrescentando:
“Queremos viver numa pátria onde todos nós queremos andar livremente por
cada palmo desta nossa terra que nos viu nascer e aos nossos
antepassados, sem qualquer temor”.
Apelou para que o Estado, através das suas instituições, continue a trabalhar para que nenhum crime continue impune. (Bernardo Álvaro)
CANALMOZ – 13.10.2016
Quem é o próximo da lista?
O assassinato de Jeremias Pondeca,
em plena luz do dia, em Maputo, durante a sua caminhada matinal na zona
marginal da Costa do Sol, veio levantar o véu e deixar claro que os
algozes de sempre continuam a agir impunemente. Pondeca integrava a
delegação da Renamo no diálogo político com o Governo da Frelimo,
igualmente membro do Conselho de Estado e antigo deputado da Assembleia
da República.
Em Julho último, foi raptado em plena luz do dia, na sua residência na cidade de Chimoio, Manuel Francisco Lole,
quadro sénior da Renamo, e membro da Comissão Política do partido,
antigo deputado da Assembleia da República e ex-membro do Conselho de
Estado. Desde o seu desaparecimento não se conhece o seu paradeiro e há
fortes suspeitas de que a vítima tenha sido posteriormente assassinada.
Em
Abril deste ano, foi assassinado, juntamente com dois acompanhantes, o
quadro sénior da Renamo e membro do Conselho de Segurança do Estado José Manuel, à saída do Aeroporto Internacional da Beira.
Ainda
este ano, no mês de Janeiro, em plena luz do dia, na cidade da Beira, o
secretário-geral da Renamo e deputado da Assembleia da República, Manuel Bissopo,
foi alvejado a tiro tendo escapado à morte, mas nessa ocasião o seu
guarda-costas, que foi igualmente atingido na mesma viatura, acabou
perdendo a vida no local.
O próprio líder da oposição moçambicana, Afonso Dhlakama,
escapou, no ano passado, num intervalo de nove dias, a duas flagrantes
tentativas de assassinato e nenhum dos seus autores já foi
identificado.No ano passado foram assassinados o académico e
constitucionalista Gilles Cistac e o jornalista Paulo Machava, em plena luz do dia, em Maputo.
O
que é estranho em todos esses casos é que as vítimas representam
relativamente a mesma ideologia e visão política, e a maior coincidência
tem a ver com o facto de em todos os crimes os autores não são
encontrados e a alegação das autoridades tem sido a mesma: “estamos a investigar”.
Quando
as vítimas de assassinatos são membros da Frelimo, partido no poder, as
autoridades atribuem a responsabilidade aos homens armados da Renamo,
como aconteceu, recentemente, em Nhampoca, distrito de Nhamatanda,
província de Sofala, com o rapto e assassinato do chefe do posto de
Tica.Importa recordar que, recentemente,
dois quadros seniores da Renamo, nomeadamente Jerómico Malagueta e António Muchanga, foram detidos por motivos, aparentemente, políticos, em Maputo,
devido a pronunciamentos públicos.Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: quem é o próximo da lista?
luís nhachote
CORREIO DA MANHÃ – 13.10.2016
Quem quer instalar “license to kill”?
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Uma crise que já personifica falhanço de um Estado por mais formalismo e protocolo que se queiram apresentar e exibir.
Que
dizer de um Governo que deixa as coisas acontecerem e não traz
respostas convincentes quando as leis os direitos cidadãos são violados?
É aterrador o que alguns procuram apresentar como explicações e respostas à crise que se vive no país.
Um
passado repleto de sangue de vítimas da intolerância política e da
exclusão não pode ser explicado com aquelas conhecidas teses do passado
em que tudo era explicado como resultados da luta entre uma linha
correcta revolucionária e uma outra contra-revolucionária.
O
país real é uma manta de retalhos de clientelismo e enriquecimento
ilícito alicerçados ou suportados por proximidade aos centros do poder.
Enterrados
são os dias em que uma suposta ideologia purista comandava as acções do
Governo e os moçambicanos aceitavam consentir sacrifícios sempre que
solicitados.
Admite-se e aceita-se que as sociedades são dinâmicas e que crenças são adquiridas e abandonadas.
Mas
a degradação moral e política em Moçambique são fenómenos que exigem
reflexão e, olhando ao que se faz e como vive na economia e nas finanças
públicas e privadas, já há razões para que oficialmente se trabalhe no
sentido de alguém vir a público pedir desculpas pelos assassinatos
políticos do passado e do presente.
A nobreza e hombridade, humildade e humanidade das pessoas avaliam-se pela sua capacidade de aceitar erros.
Os
nossos libertadores, assim como foram capazes de instituir uma comissão
para decidir sobre a heroicidade deste ou daquele, devem dar o impulso
inicial para que se institua de maneira oficial uma comissão que elabore
os termos de um perdão em relação aos compatriotas que foram
fisicamente eliminados por razões políticas.
A reconciliação e o perdão, sua outra face, fazem-se com actos corajosos.
Não
estaríamos assistindo a assassinatos políticos nos dias de hoje se
tivéssemos tomado a via da reconciliação efectiva e não verbal.
Há
uma recusa inexplicável de compartilhar Moçambique que só pode ser
explicada porque alguns compatriotas se supõem donos em exclusivo do
país, o que obviamente não é aceitável e jamais foi aceitável para a
maioria dos moçambicanos. Se se procurar pelas causas de crises,
conflitos e violência, encontrar-se-á uma veia de ou filão de
ressentimentos com génese no poder e no que o poder pode oferecer.
Tudo
se complicou entre nós quando uns se julgaram “cavaleiros” que podiam
“cavalgar” todo um povo por força de prerrogativas auto-conferidas.
Agora
que as coisas estão a correr mal, os antigos conselheiros viram-se
contra camaradas numa jogada de acusações que não resistem a análise.
Querem ficar para a história como os “meninos bonitos” de sempre.
Gordos
e endinheirados por obra das privatizações ao “estilo moscovita”,
espalham o seu perfume através de microfones para plateias “organizadas e
disciplinadas”, como se fossem imaculados.
Cultores
refinados do verbo, não arredam pé de se pronunciarem sempre que a
oportunidade surge, e parece que não hesitam em “comprar” tais
oportunidades para “aparecerem”.
As
suas “doutas” declarações são um tanto ou quanto tardias e
irrelevantes, pois estiveram, desde o primeiro dia, na génese do actual
estado de coisas.
Se houve irregularidades eleitorais graves e repetidas, eles estavam lá e pouco ou nada fizeram ou disseram.
A
coragem de alguns é apreciada e de louvar, ao virem a público
reconhecer que se cometeram erros como o de não se conseguir reconciliar
os cidadãos após o AGP.
O
destino dos moçambicanos pertence-lhes e não se pode exigir que só uns
cedam e aceitem o que os outros sempre estiveram a impor.
Se
da nossa alta academia e elite política “só nos saem duques”, têm de
ser os cidadãos em geral a contrariar os apetites inescrupulosos dos
vampiros e defender a democracia política e económica neste país que
lhes pertence.
Aqui,
deve ficar claro que a impunidade com que se utilizam as armas para
resolver problemas meramente políticos tem origens próprias, que não se
esconderão para sempre.
Na
América Latina, durou décadas para que os “estudantes” da Escola das
Américas fossem chamados à responsabilidade pelos excessos e abusos aos
direitos dos seus concidadãos.
Não
queremos um julgamento como o de Nuremberga para ninguém, mas também
nos recusamos a continuarmos a engolir a sopa indigesta que a
comunicação social servil espalha pelo país todos os dias. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 13.10.2016
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