Rafael Marques em exclusivo ao SAVANA
Foi um dos convidados de
cartaz para o seminário
sobre Corrupção e Justi-
ça Criminal, organizado
pela Associação Moçambicana
de Juízes (AMJ) e pelo Centro
de Integridade Pública (CIP).
Coube a ele a primeira oração do
evento que, de 27 a 29 de Setembro
corrente, discutiu a eficácia e
a garantia de justiça criminal no
tratamento da corrupção. Rafael
Marques, o destemido activista
e jornalista angolano, iniciou a
sua intervenção com golpes de
mestre que electrizaram a plateia.
“Quando recebi o convite da Associação
Moçambicana de Juízes
para falar neste seminário, julguei
tratar-se de um engano, ou mesmo
uma armadilha. Até hoje, a minha
relação com juízes tem se limitado
a processos de julgamentos
e a condenações, precisamente,
pelo facto de eu denunciar actos
de corrupção e as consequentes
violações dos direitos humanos”,
estava iniciada a locução que viria
a durar 24 minutos. Vinte e quatro
horas depois da palestra, na qual
disse também que o sistema judicial
angolano é apenas o prolongamento
da cleptocracia vigente
no país onde quem se demarca de
fazer parte do sistema é ostracizado
ou excluído e quem combate
a corrupção, a má gestão pública
e os abusos de poder é punido
pelas autoridades, Marques deu
entrevista ao SAVANA. Nela, desaconselha
Moçambique a aplicar
a chamada solução angolana, nomeadamente,
a eliminação física
de Afonso Dhlakama, o presidente
da Renamo, tal como aconteceu
em 2002 com Jonas Savimbi da
UNITA, na oposição em Angola.
Alerta que o modelo angolano
de extravagância, esse depois vai
gerar problemas muito mais sé-
rios no país. “Sirvam o povo e não
precisarão de matar ninguém”,
aconselha o autor do “Diamantes
de Sangue: Tortura e Corrupção
em Angola”, um livro que denuncia
envolvimento de Generais das
Forças Armadas angolanas em assassinatos
e torturas no negócio de
diamantes.
A 11 de Novembro próximo, Angola
vai completar 41 anos da independência.
Acha que Angola de
hoje é o país porque os nacionalistas
angolanos se bateram contra o
colonialismo português?
Os nacionalistas tinham uma visão
para o país cuja implementação dependia
e depende sempre das gera-
ções seguintes. Milhares de Angolanos
deram a sua vida pela causa da
independência nacional e só poucos
assumiram-se como os libertadores
da Nação. Mas o povo, ou seja,
muitos se engajaram na luta pela
libertação e hoje são esquecidos. A
questão fundamental é lembrar que
temos tudo para construir um país
diferente, isto é, a realização do sonho
angolano. Neste momento, temos
um país que é gerido à medida
do presidente e das suas necessidades
pessoais e da sua família. Cabe
aos angolanos conscientes lutarem
pelo sonho colectivo de um país
onde todos caibamos, onde acima
de tudo haja respeito pela dignidade
humana e serviço público dedicado
ao cidadão e não aos dirigentes. Depende
da capacidade daqueles que
querem o bem imporem-se sobre
aqueles que continuam a praticar o
mal. Quando vivemos numa sociedade
onde os membros do governo
são venais, extremamente corruptos
e pouco dados ao respeito pelos
cidadãos, então, é uma questão daqueles
que querem o contrário, que
querem promover a moral pública,
o respeito pelo cidadão, a elevação
do cidadão através de uma educa-
ção de qualidade, da provisão de
serviços que permitam a este cidadão
ter emprego, ter acesso a uma
saúde de qualidade, lutarem pela
integridade, moral pública, afirmarem
e exigirem a prática do bem na
sociedade porque hoje em África
temos vergonha de assumir o bem.
Somos conduzidos pelo mal, por
corruptos, incompetentes, indivíduos
ineptos e temos medo deles, mas
temos escárnio pelas pessoas que
procuram promover um certo sentido
de dignidade entre os cidadãos
e de probidade. Aqui em Moçambique,
anos atrás, aqueles que se batiam
contra a corrupção, pelas boas
práticas, eram considerados e chamados
de leprosos. Então, ser um
cidadão íntegro, cívico, chega a ser
leproso. Aquele que rouba, tem um
carro bonito, tem um fato bonito e
tem acesso a uma vida de luxo, este
é o modelo que os cidadãos querem
seguir. É isto que está errado nas
nossas sociedades e é isso que devemos
combater com todas as nossas
energias. Não precisamos roubar
nem castigar ninguém para sermos
ricos, termos um bom fato, para ter
o que os homens gostam em África
– muitas mulheres – para viajarmos,
para comprarmos casa em Portugal
ou na África do Sul. Não precisamos
pisotear o pobre, não precisamos
espoliar o pobre, antes pelo
contrário, devemos garantir que o
pobre tenha um bom emprego para
que seja um consumidor e gerador
de riqueza.
O presidente José Eduardo dos
Santos, que sempre criticou, foi,
de acordo com a história oficial
angolana, um dos nacionalistas
que um dia lutou pelos princípios
de independência. Sente alguma
perda, pelo presidente angolano,
desses valores de independência e
liberdade do homem?
É preciso esclarecer que a luta pela
independência teve grandes nacionalistas
e lutadores e José Eduardo
dos Santos não foi um deles. Ele
juntou-se à luta como se juntaram
muitos outros, mas não teve nenhum
papel relevante na luta pela
independência de Angola. Muitos
o fizeram, como Mário Pinto de
Andrade, Holden Roberto, Viriato
da Cruz e muitas outras figuras
que hoje não são reconhecidas em
Angola, precisamente, porque foi
preciso abafar os melhores filhos
para elevar a mediocridade que hoje
governa Angola.
Então, 24 anos depois da introdução
do sistema democrático em
Angola, que democracia é que há
no país?
Nós temos o que hoje muitos teóricos
chamam de democracia eleitoral,
que é um regime que se auto-legitima
por via das urnas, mas sem
necessariamente ser democrático.
Basicamente nós temos um regime
autoritário.
O Estado Angolano foi tornado
numa lotaria
Em verdadeiras democracias, o poder político encontra, necessariamente,
o seu fundamento na
aceitação popular, até porque a democracia,
como diz a literatura, é o
governo do povo, pelo povo e para
o povo. Se não tem aceitação popular,
como já disse noutras ocasi-
ões, então, em que base assenta o
poderio do regime angolano?
Assenta na corrupção. O Estado
hoje foi tornado numa lotaria para
aqueles que apoiam o presidente
ou que o queiram apoiar para ter
acesso a emprego. Até nas escolas,
os professores para serem promovidos
têm de apresentar cartões de
militantes do MPLA (Movimento
Popular de Libertação de Angola,
partido no poder) para serem promovidos
ou mesmo para ter emprego
efectivo. Há toda uma série de
manipulações que obrigam o cidadão
a juntar-se ao MPLA e apoiar
o presidente para poder sobreviver e
é preciso quebrar isso.
Apesar de terem sido libertos, há
três meses, nesta entrevista é inevitável
falarmos da detenção dos
15+2 jovens acusados de tentativa
de golpe de Estado.
Aquilo demonstrou já o nível de
infantilismo político do regime do
presidente José Eduardo dos Santos,
quando prende miúdos para
acusá-los de tentativa de golpe de
Estado tudo para justificar a sua
manutenção no poder. Isso significa
que ele já chegou a um ponto que já
não sabe mais o que fazer para justificar
as suas acções. A única coisa
que fizeram foi dizer que o presidente
está há mais tempo no poder,
já expirou o seu prazo e deve ir embora.
O país não é do José Eduardo
dos Santos. Qualquer cidadão tem
o direito de dizer está na hora de o
senhor ir embora e por isso é que
até há votos para os cidadãos dizerem
“não queremos mais o senhor,
queremos outro”. Mas em Angola a
Constituição foi alterada para impedir
o cidadão escolher, directamente,
o presidente. O presidente
não é eleito, nem pelo parlamento,
nem pelo povo, é o primeiro nome
da lista partidária que ganha elei-
ções que se torna presidente e ele
eliminou essa escolha porque sabe
que o povo directamente não o votaria.
Ele não gosta do povo e sabe
também que o povo não gosta dele,
só os corruptos é que o gostam, e
os candidatos ou aspirantes a corruptos
e aqueles que, por ignorância,
seguem cegamente o MPLA,
mas qualquer cidadão consciente
não pode estar de acordo com José
Eduardo dos Santos.
Pareceu um exagero quando dizia,
no seminário sobre Corrupção e
Justiça Criminal, que o regime
angolano valoriza mais bois que
pessoas.
Ainda bem que me fazem lembrar
isso. Eu gostaria que vocês ouvissem
para depois me dizerem que estou a
exagerar ou não. Aqui está o vídeo:
[… no Cunene…tivemos o infeliz
infortúnio de falecerem algumas
pessoas; o governo da República
de Angola, através do seu programa
“Água para Todos”, conseguiu
fornecer água para os criadores de
gado, estamos a falar de uma população
essencialmente pastorícia,
para salvar, primeiro, o gado que é o
principal elemento de trabalho dessas
populações e depois salvar grande
parte da população…]. Desculpem,
exagerei? Está aqui António
Luvualu de Carvalho (embaixador
itinerante de Angola em Portugal).
Bem, ainda no seminário dizia que
o regime angolano encarna a corrupção
que, na verdade, é o único
acto de transparência em Angola.
Como é que isso se manifesta?
O presidente nomeia a sua filha
para presidente do Conselho de
Administração de uma empresa
pública. Em Moçambique vocês
aceitariam que Filipe Nyusi nomeasse
o seu filho Florindo para
gerir a maior empresa pública do
vosso país. Achariam isso normal?
E digo mais: a corrupção é um acto
de transparência porque a Lei é clara
em relação a isso, é nepotismo, é
corrupção. Os dirigentes violam todos
os dias as Leis. O governador
do Cuenne, esta mesma província
que está em seca, é detentor de 80
por cento das acções de um banco
e é presidente da Assembleia-geral
desse banco. Vocês aqui em Mo-
çambique aceitariam?
E onde é que está o poder judicial
angolano para travar a corrupção?
É tão corrupto quanto é parte do
sistema da corrupção. Esse é que é
o problema, não podemos esperar
uma justiça que também alinha nos
esquemas todos de corrupção.
Rafael Marques, quando pára, lê
os cenários, repara o futuro, vê
alguma saída rumo ao sonho angolano?
Claro que vejo, por isso é que estou
na linha da frente. O futuro não
cairá do céu. O futuro é aquilo que
nós fazemos hoje e se reflecte no
amanhã.
É uma luta com muitos espinhos…
Todas as lutas para que eu me torne
num mau cidadão ou num cidadão
desengajado fazem-me lutar mais
porque temos de reconquistar o Estado
e devolvê-lo ao seu soberano
que é o povo. E temos de ajudar de
forma pedagógica, a educar o povo.
E é um privilégio para mim estar
na primeira linha da frente nessa
luta pela afirmação da dignidade do
cidadão angolano. Não é um sacrifício,
é um privilégio e faço por vontade
própria e de acordo com a minha
própria consciência. Ninguém
me pediu, ninguém me obriga e
se ganho ou não ganho com isso, é
uma questão que não me preocupa
porque sinto-me bem a agir como
bom cidadão. Não tenho vergonha
de fazer o bem, de lutar contra a
corrupção. Vergonha devem ter os
bandidos, os corruptos, eu não. Eu
tenho honra e não me devo sentir
intimidado. Não me devo sentir
discriminado por ser uma pessoa
honrada.
Aprisionaram-nos sob as
suas botas tirânicas
Muitas vezes quando caem críticas
sobre altos dirigentes, há quem
diz que não, vamos discutir a floresta
e não as árvores”. É possível
dissociar o presidente Angolano
dos problemas que o país enfrenta?
Vamos agora ver a floresta: desde
a instauração do sistema multipartidário
em Moçambique já houve
três presidentes. Angola continua
a ter o mesmo presidente. Eu era
criança quando José Eduardo dos
Santos chegou ao poder, já tenho
filhos e daqui há bocado terei netos
e ele continua lá. Então, aqui o
problema é do indivíduo que representa
todo esse sistema. Está tudo
amarado ao poder do presidente e,
obviamente, ele tem os seus representantes,
através dos quais exerce
o poder, mas com a sua saída esses
indivíduos terão de sujeitar-se
a novas regras políticas porque a
sociedade e eles próprios, internamente,
já não tolerarão que Angola
tenha outro presidente por 37 ou 40
anos. Qual é a justificação para se
dizer que os angolanos que são 24
milhões, de facto, não têm cabeça,
só um indivíduo tem cabeça para
ser presidente. Precisamos de novas
ideias e a forma como o presidente
gere o Governo, enquanto chefe do
Executivo, é destrutiva para a maioria
dos angolanos, é benéfica para si
e para o interesse estrangeiro e não
para os angolanos.
Alguma vez esteve com o presidente
dos Santos?
Estive com ele uma vez.
A tratar assuntos do país? Se sim,
o que ficou assente?
Foi há mais de 20 anos e foi por
ocasião das primeiras eleições em
Angola em 1992. O presidente não
é um indivíduo dialogante que promova
encontro com críticos. Antes
pelo contrário procura sempre corrompê-los
ou silenciá-los, exclui-los
ou eliminá-los.
Pessoalmente já sofreu tentativas
de corrupção? Sabemos que de
ameaças, sim.
Já passei por tudo que se pode imaginar.
E mantenho-me firme.
Se pudesse estar com o presidente
José Eduardo dos Santos, que
conselho lhe daria?
Senhor presidente, limpe a casa,
limpe o palácio, entregue o poder
e vá descansar com a sua família e
negoceie, enquanto ainda é tempo, a
sua saída pacífica para que não saia
aos atropelos, criando mais problemas
ao país.
Teme que a sua saída não seja pacífica?
Os ditadores gostam sempre de sair
à força porque vêem-se sem avenidas
para se retirarem de forma pací-
fica porque cometem tantos crimes
e depois tem medo de serem julgados.
Então preferem sempre levar o
poder até às últimas consequências
e José Eduardo dos Santos não é excepção,
ele tem medo, ele sabe que
cometeu muitos crimes e tem medo
que esses crimes venham persegui-
-lo, mesmo dentro do seu próprio
partido.
No recente Comité Central do
MPLA, um histórico do partido,
Ambrósio Lukoki, abandonou o
órgão, afirmando que “cheguei
à conclusão de que estar no Comité
Central já não faz sentido
porque o Comité Central não faz
a sua função, é imposto posições
que tem de aprovar sem discussão”.
Dizia o antigo nacionalista,
ministro no pós independência e
embaixador na Tanzânia que “o
presidente do partido e chefe de
Estado regista uma impopularidade
recorde pelas suas desinteligências
e arrasta, na sua queda, certos
inocentes no MPLA. A impopularidade
que está granjeando o partido
é o preço a pagar o MPLA enquanto
instrumento de trampolim
do engenheiro José Eduardo dos
Santos para o seu absolutismo”. A
pergunta é: será a ruptura?
A crise económica e a diminuição
do bolo da corrupção terá mais impacto
dentro do MPLA do que, por
exemplo, a saída do Lukoki ou outro
porque os militantes do MPLA
tornaram-se obcecados pela corrupção.
É preciso desestruturar os
sistemas de corrupção para as pessoas
irem procurar outro modo de
vida que não seja aquele de estar
sempre a roubar ao Estado e aos
cidadãos.
O que lhe parece a situação angolana
no concerto dos outros países
da região e de um continente africano
onde os libertadores, regra
geral, têm a tendência de encarar
os Estados como se de propriedades
privadas se tratassem?
O caso de Angola não é diferente,
é a mesma história. Os níveis da
corrupção ultrapassam o bom senso.
É a captura do Estado, os indivíduos
capturaram o Estado para si
próprios. Libertaram-nos do jugo
colonial para aprisionarem-nos sob
as suas botas tirânicas. Então, substituiu-se
apenas o opressor. Em vez
de termos um opressor estrangeiro,
passamos a ter um opressor nacional.
“O modelo angolano de extravagância depois gera problemas muito sérios”
Durante muitos anos,
Angola e muitos países africanos, e não
só, tiveram Moçambique
como uma referência.
Continuam hoje a admirar o
nosso país?
Sim, porque os moçambicanos
têm um sentimento de humildade
que as elites angolanas não
têm. A grande diferença é que
em Moçambique há respeito
pelo cidadão. Em Angola não
há. Mas vemos, por exemplo,
com as mortes que estão a ocorrer
aqui em Moçambique com
esta situação de conflito latente
e perguntamo-nos o que está a
originar o conflito.
Como é que pode evitar, Mo-
çambique, cair na angolaniza-
ção?
Falando mais com os angolanos
para que os moçambicanos percebam
que têm oportunidades
soberanas para não caírem no
buraco de Angola e não seguirem
aquilo que se chama aqui
por solução angolana para o
conflito. Conversem, façam a
paz, aproveitem o potencial que
este país tem para gerar riqueza
que dá para todos, os da Renamo,
da Frelimo e o povo em geral que
quer educação para os filhos e saúde.
Façam isso. O modelo angolano de
extravagância, esse depois vai gerar
problemas muito mais sérios no país,
não é um modelo a seguir esse, não é
aconselhável.
Mas os defensores da solução angolana
dizem que a morte de Jonas
Savimbi resolveu o conflito. Então,
se em Angola foi a solução, porquê
Moçambique não pode seguir?
Boa pergunta. Angola teve, depois
da paz, por 10 anos, um dos maiores
crescimentos económicos do mundo.
Então, como é que um país a subir
em flecha, de repente tem dificuldades
em dar pão aos cidadãos. Hoje
há fila para se comprar pão em Angola.
O que vem depois disso? Mo-
çambique pode adoptar essa solução,
mas o que vai ganhar com isso?
Quando a solução passa pela morte
do outro, passamos a achar que qualquer
problema se resolve com a morte
do outro e é assim que os poderes
ditatoriais passam a vida a matar. É
assim que Hitler tentou encontrar a
situação final para os judeus, idem
para o regime do apartheid que criou
a segregação racial e muitos outros
governos. Matou-se o Savimbi em
2002. Sim, realizou-se a paz, fizeram-se
muitos edifícios, mas viagem
pelo interior de Angola, há pessoas a
morrerem à fome por causa da seca
no sudeste de Angola. O que se faz
sobre isso? E como ouviram aqui na
entrevista, o governo diz que primeiro
temos de cuidar do gado, depois é
que cuidamos das pessoas.
Então, que conselho para Maputo,
se a solução angolana não é a melhor?
Olhem para o povo, sirvam o povo
e não precisarão de matar ninguém.
E quando a acção for centrada nas
necessidades do povo, o próprio
(Afonso) Dhlakama ou se adaptará
ou entregará as pastas porque não
verá mais como continuar a acção
como político e poderá reformar-se,
ou então, se juntará aos seus irmãos
da Frelimo na provisão de políticas,
iniciativas e acções que levem à melhoria
de vida dos moçambicanos,
que deve ser a acção central dos
políticos. Este é o conselho. A solu-
ção angolana funciona para garantir
que as famílias instaladas no poder,
que capturaram o Estado, estejam à
vontade no seu processo de saque do
país. Não é pelo bem do povo.
É fácil para um partido libertador
como a Frelimo que, tal como o
Tensão político-militar
“Não caiam na solução angolana”
Por Armando Nhantumbo
“A solução angolana funciona para garantir que as famílias instaladas no poder,
que capturaram o Estado, estejam à vontade no seu processo de saque do país.
Não é pelo bem do povo”.
MPLA, governa o país há mais
de 40 anos, primar por essa tolerância
ao pensar diferente e,
mais ainda, pela transparência,
boa governação, enfim,
uma verdadeira democracia e
não apenas eleitoral?
Depende do nosso esforço. É
possível. Se centrarmos a nossa
acção no cidadão, tudo faremos
para que o povo exerça a soberania
com consciência. Os dirigentes
devem sentir-se apenas
como servidores públicos e não
como superiores em relação ao
seu próprio povo.
É jornalista e, como tal, tem
algo a dizer sobre a indústria
da comunicação social. Como
é que descreve a imprensa
angolana, hoje? Em Moçambique,
por exemplo, temos na
imprensa pública e afim, grupos
de choque pró-governo e
anti-oposição e todos aqueles
que pensam diferente.
Angola é pior. Nós temos já um
grupo chamado “os bajuladores”
cuja tarefa é a de louvar sempre
as iniciativas do governo e tentar
demonstrar que aquilo é um
paraíso.
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