Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )
A Renamo e Dhlakama cresceram na guerra e conhecem muito bem como isto funciona. Afonso Dhlakama ao Canal de Moçambique, frase extraída no site Moçambique para Todos.
Estive na semana passada a conversa com o meu amigo Nkulu para analisar o pulsar da situação político-militar do país que se arrasta há sensivelmente 4 anos. Olhamos para o retrovisor da História e compreende-mos que dificilmente o “monarca” Afonso Dhlakama abandonará a liderança da Renamo, porque é através dela, que materializa os seus apetites e a sofreguidão que sempre teve em amarfanhar Moçambique.
Por causa da imunidade política que goza como líder da oposição (mesmo a perdendo tem a plena consciência de que não levaria tempo muito em reganhá-la), Dhlakama continua sendo The Special One (O especial), contrariando a velha máxima de que o crime não compensa. A própria Renamo é também um caso suis generis em Moçambique e no mundo em geral, por estar representada no parlamento e possuir um bando de criminosos que aterrorizam o país.
Eu e o meu amigo Nkulu não temos dúvida que o sangue que lhe corre nas veias (Dhlakama) é o da guerra. Dizem alguns teóricos que a maioria dos crimes é cometida por necessidades e não por desejos. Mentira. Dhlakama não faz a guerra por necessidade, mas sim por capricho, senão vejamos.
Como líder máximo da Renamo, Dhlakama tem um orçamento astronómico do Estado moçambicano, além de ser um faustoso empresário industrial. Os recursos naturais, que até então constituíam o mote da pugna contra o governo da Frelimo, Dhlakama já os têm em abundância em determinados espaços geográficos por ele controlados. Governar nas seis províncias do país, sem mexer na Constituição, é uma utopia doentia que ele próprio não acredita que um dia possa vir a acontecer.
A minha hipótese sobre a guerra por capricho é baseada nas afirmações do próprio Dhlakama. De forma amiúde, Dhlakama admitiu que cresceu no mato e sente-se um animal do mato. Verdade. Com efeito, não vejo e nem agouro um cenário paz para Moçambique, enquanto Dhlakama se mantiver no poleiro como líder da Renamo. Por isso, considero Dhlakama um empecilho para a paz em Moçambique. O actual diálogo político da Comissão Mista, coadjuvada pela sociedade internacional, será um fiasco porquanto a mente do líder da Renamo está armada. Repito, Dhlakama jamais permitirá que Moçambique ande para a frente, por vontade própria. Há um nítido paradoxo entre as suas palavras e a sua alma. As palavras podem ser de paz, mas a alma é sempre de guerra.
Perguntei ao meu amigo Nkulu se com estas constatações não estava a ser acutilante com Afonso Dhlakama. Sem delongas mas muito contundente, acrescentou o seguinte: “Não sou radical. Eu interpreto o que vejo e vivencio. Não acredito apenas em evangelho, porque as práticas concretas são mais reveladoras. Não nego que haja animais capazes de abandonar a reserva, mas o leopardo ainda não me deu provas concretas da sua domesticabilidade. Não estou a fazer profecias nem especulações, digo o que eu e outros cidadãos, que não fingimos a cegueira, vemos.”
De facto, vejo uma Renamo sem futuro político nos próximos anos, caso continue com essa novela de querer governar à força. Enquanto perde tempo em adensar lamúrias e pieguices imaterializáveis na actual conjuntura política nacional, outros partidos estão a preparar terrenos para os próximos pleitos eleitorais, onde a Renamo, fazendo jus à História, não irá participar.
Chegados aqui, qual é, então, a minha mensagem para os homens armados da Renamo, esses que, a mando do seu líder, continuam a semear terror no centro e norte do país? PRIMEIRA: Não amputem o vosso futuro e a dos vossos filhos por causa de um homem que não é Deus.
SEGUNDA: Não se deixem hipnotizar por ninguém, muito menos por uma pessoa que vos está a levar à ruína.
TERCEIRA: Olhem para a qualidade de vida dos deputados da Renamo, não é igual a vossa. Perante os órgãos de informação social, eles parecem catequisar-se pelas epístolas doutrinárias da perdiz e do seu líder, mas a prática tem demonstrado o contrário. Nenhum deles abandonou a vida luxuosa que ostenta nas cidades para ir viver em “parte incerta”, onde a lei é o próprio Afonso Dhlakama.
QUARTA: Olhem também para os antigos guerrilheiros da Renamo, nenhum deles abandonou a “civilização”, para juntar-se a jagunços na selva. Digo mais: os familiares de Dhlakama estão todos a viver condignamente nas principais cidades do país e no estrangeiro. Ainda que mal pergunte: porque é que eles não se juntam ao seu papai, titio, avô, etc., nas grutas da Gorongosa? Mesmo aquele que se autoproclama fanático da Renamo, nenhum deles aceita a vida de cão que a liderança da Renamo proporciona aos seus guerrilheiros.
QUINTA: Este conflito é pessoal (do vosso líder) e não representa os anseios do povo.
Por que motivo devem aceitar as minhas mensagens?
I): Grande parte dos guerrilheiros desmobilizados (tanto do governo como os da Renamo) estão a estudar nas universidades para melhorar a vida. Começaram de baixo, hoje são titulares de graus universitários. Muitos deles já são licenciados, mestres e doutores. Desarmaram suas mentes e estão na mó de cima da vida.
II): Se vocês fizessem o mesmo, trocando as armas pela caneta, pelos cadernos e pelas escolas, penso que também que estariam em condições melhores de vida. É tudo uma questão de vontade. O antigo presidente da República, Armando Guebuza, dizia que nenhum moçambicano está condenado à pobreza. É preciso encontrar a lucidez e abandonar uma causa que não vos trará benefício nenhum.
III) As dificuldades ou adversidades e a exclusão social, etc., estão em toda a parte, não é doença única de Moçambique. Não é fazendo a guerra que conseguirão minimizar a dor, mas sim com a poderosíssima arma que se chama consciência. A consciência conduz à vitória. A consciência é única arma capaz de derrubar qualquer corrupto.
IV) As acções belicistas da Renamo pode ter alguns êxitos no campo político, forçando o governo a ceder em algumas reivindicações, mas nunca pensar que é suficiente para derrubar a Frelimo. É um esforço inútil pensar que a Frelimo deixará o poder por causa dos ataques frenéticos da Renamo.
O poder conquista-se e para tal a Renamo terá de renovar-se, para conseguir os resultados eleitorais que teve em 1999.
É com consciência pura e persistência que se constroem os partidos políticos vencedores. É tempo de parar e pensar: morrer por morrer, só pela pátria. A construção da paz deve ser continua. Dizia o prémio Nobel da Literatura, José Saramago que A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam.
Que a viagem da paz e pela paz não tenham fim. Que sejam viagens eternas. Esta é a mensagem que vos deixo por ocasião do dia 4 de outubro. Zicomo e um abraço nhúngue a TODOS OS AMANTES DA PAZ. VIVA O 4 DE OUTUBRO.
WAMPHULA FAX – 03.10.2016
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