EDUCAçãO:
Jovens estudantes de Engenharia não tremem diante dos desafios da futura profissão. Projectos arrojados foram por eles apresentados a dias em Maputo, enfocando a urgência de o país investir na industria e na agricultura aplicando tecnologia de baixo custo e adaptada as necessidades dos cidadãos. Nas linhas que se seguem, domingo apresenta os “ sonhos” dos engenheiros do amanhã.
A Universidade Eduardo Mondlane (UEM) promoveu, há dias, em Maputo, uma Feira de Engenharia desafiando estudantes a exporem sua arte e engenho na busca de soluções inovadoras para o desenvolvimento do país.
E os estudantes surpreenderam pela positiva, apresentando projectos científicos de certa forma enquadrados com as matrizes de desenvolvimento do nosso sector agrícola e industrial.
Trata-se de “sonhos” articulados ao realismo que podem dar corpo a ideias com pernas para andar. Efectivamente, a UEM, seu corpo docente e estudantes, estão a mostrar obra. Trabalham mecanismos que oferecem meios, ferramentas e tecnologia para processos industriais.
Os estudantes já mostram que aprenderam alguma coisa, correspondendo, desta forma, ao apelo do Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, que lhes lançou repto para que invistam em acções que visam substituição das importações, promovendo soluções amigas do ambiente e fomentando incubadoras para solução dos problemas dos moçambicanos nos distritos do país.
domingo destaca alguns dos “sonhos” dos jovens estudantes de Engenharia, desde projectos de pulverização semi-industrial de tomate visando sua melhor conservação através de mecanismo de atomização.
O projecto, apresentado por jovens que frequentam o curso de Engenharia Química, pretende, também, agregar mais valor a este produto nacional, evitando perdas no processo produtivo.
Destacamos igualmente o projecto de produção de pão sem glúten cujo aproveitamento assume valor vital para cidadãos que vivem com doença celíaca.
Ficamos igualmente impressionados com diversos projectos apresentados por jovens que frequentam o curso de Engenharia do Ambiente, recentemente introduzido na UEM.
Eles mostraram que é possível a produção de biogás a partir de lamas fecais, de material orgânico. Apostam na produção de etanol a partir da cana-de-açúcar.
Os estudantes propõem, por outro lado, que o país assuma a produção de biocombustíveis como medida fundamental para promoção de misturas com combustíveis tradicionais, o que reduziria a factura das importações, equilibrando a nossa balança comercial.
Aprecie alguns destes projectos nas linhas que se seguem.
Produção de pão sem glúten
Estudantes de quarto ano de Engenharia Química da Universidade Eduardo Mondlane estão a ensaiar a produção de pão sem glúten, evitando o uso farinha de trigo.
“O glúten está contido na farinha de trigo, dentre outros cereais”,explicam.
Os ensaios de produção iniciaram com recurso a batata-doce de polpa alaranjada, sementes de abóbora e mapira.
Eles juntaram as farinhas, adicionando um glucoloide, polímero usado para dar consistência ao pão, contribuindo também ao seu crescimento.
Os estudantes garantem que o valor nutritivo de pão que produzem é inquestionável.
“A batata-doce e a mapira e sementes de mapira têm teor de vitaminas elevado”,sublinham.
Os estudantes referem que o público-alvo do pão por eles produzido são pessoas portadoras da doença celíaca, causada pela intolerância do glúten, uma proteína encontrada no trigo, aveia, cevada, centeio e seus derivados, como massas, pizzas, bolos, pães, biscoitos, cerveja, vodka e alguns doces, provocando dificuldade do organismo de absorver os nutrientes dos alimentos, vitaminas, sais minerais e agua.
Os principais sintomas de doença celíaca são diarreia com perda de gordura nas fezes, vomito, perda de peso, inchaço nas pernas, alterações na pelo, fraqueza das unhas, queda de pelos, diminuição de fertilidade, alterações no ciclo menstrual e sinais de desnutrição.
Como explicaram os estudantes, o principal tratamento da doença é uma dieta com total ausência de glúten. Geralmente, quando a proteína é excluída da alimentação, os sintomas desaparecem.
A doença celíaca não tem cura, por isso, a dieta deve ser seguida rigorosamente pelo resto da vida.
Etanol a partir de melaço de cana
Neste projecto estudantes produzem etanol a partir de melaço da cana-de-açúcar. “No nosso país ainda não existem registos de que esse melaço é aproveitado. Então o nosso projecto é uma sugestão para aproveitamento desse produto”, dizem.
Explicam que o processo de produção consiste em, primeiro, diluir o melaço, antes de ajustar a concentração as exigências da levedura, microrganismo usado para acelerar a fermentação.
Depois da fermentação ocorre a destilação. Na destilação é obtido o álcool, que é separando de dez em dez minutos, sabido que em cada etapa do processo é encontrado álcool em concentrações diferentes.
O produto final é sempre mistura de água e etanol. “Mas nós queremos etanol puro se possível. Então separamos o álcool de dez em dez minutos para sabermos até que níveis estamos a produzir etanol em maior quantidade e qualidade”, ressalvam.
Na primeira extracção é encontrado etanol em maior concentração, cerca de 90 por cento de pureza, que vai diminuindo com o tempo.
Dependendo da concentração, o etanol produzido vai ser usado para diversos fins. Os estudantes referem que com 90 por cento de pureza, o etanol pode ser usado como aditivo a gasolina, o que contribui para aumento do índice de octanagem dos motores.
As misturas podem também ditar a diminuição do preço da gasolina dependendo do custo de produção do etanol.
Biogás com esterco de bovinos
Neste projecto estudantes estão empenhados na produção de biogás a partir de esterco de bovinos.
Com recurso a um recipiente com material biodegradável, em solução aquosa, criam óptimas condições de decomposição e fermentação.
Geralmente microrganismos promovem a decomposição deste material num meio anaeróbico. O recipiente tem que estar hermeticamente fechado.
A produção de biogás é feita em moldes experimentais no recipiente ligado a um gasómetro, de onde pode ser levado directamente para uso em cozinhas caseiras ou industriais.
No conjunto de gases obtidos na experiencia dos estudantes, destacam-se metano, dióxido de carbono e oxigénio. No ensaio directo, os estudantes conseguiram obter 36 por cento de metano. “Podemos verificar que esta em maior proporção. Imagina se fosse em maior escala”,disseram, garantindo que é possível o país produzir o gás metano, não só para cozinha, mas até para industria e quem sabe instalar uma central com turbina a gás para produção de energia electrica.
Eles são estudantes de Engenharia de Ambiente, novo curso introduzido na Universidade Eduardo Mondlane com objectivo de contribuir para solução de alguns problemas ambientais.
Estudantes apostam, desta forma, na minimização dos níveis de acumulação de resíduos sólidos, contribuindo também no decréscimo de aplicação de fertilizantes tóxicos.
Aproveitamento de lamas fecais
Estudantes de Engenharia do Ambiente estudam a produção de biogás a partir de lamas fecais.
O ensaio visa melhor o saneamento do meio ambiente através de colecta de águas negras.
Basicamente os estudantes montam um sistema de colecta, e apos determinado tempo de retenção hidráulica no reactor, as lamas fecais são decompostas por accao de micro-organismos.
A decomposição ocorre num período de vinte e um a trinta dias. Apos decomposição, o gas vai ao gasómetro de onde pode ir directamente a cozinha.
Estudantes recomendam, também, o aproveitamento de lamas fecais na produção de fertilizantes.
Esta foi uma forma que os estudantes encontraram de contribuir para reduzir volume de resíduos a despejar em contentores.
Por outro lado, estudantes apresentaram um projecto de aproveitamento de restos de vegetais.
Basicamente eles usam máquina trituradora de resíduos para terem pouco volume, o que facilita degradação de matéria orgânica.
O processo que se segue ‘e o da fermentação e produção de gás metano.
Chips com recurso a batata-doce
Estudantes de Engenharia Mecânica criaram uma máquina de descasque da batata-doce e produção de lascas, que introduzidas nas frigideiras, processam chips.
O nosso objectivo com este projecto ‘e alcançar tanto as grandes empresas como os pequenos produtores, dizem os estudantes, acrescentando que Moçambique tem grande produção de batata-doce, havendo necessidade de processamento aproveitamento semi-industrial, para agregação de valor.
Máquina de processamento de peixe
Vanildo Constantino, estudante de Agronomia na UEM, apresenta-nos uma máquina de escamar o peixe, na qual as lâminas tendem a girar no sentido contrário ao das escamas.
A medida que a máquina vai girando, retira as escamas do peixe em pouco tempo.
Texto de Bento Venâncio
bento.venancio@snoticicas.co.mz
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