Centro Mtelela paraCEMM
É verdade, e não um mito, que André Matsangaíce esteve em Sacuze (nome, mais tarde, actualizado para Cudzo), detido no centro de reeducação ali existente. É também verdade que dali se ausentou, ilegalmente, uns tempos, após o que regressou voluntariamente ao mesmo; por via deste facto, e tendo em conta que isso poderia ocorrer mais vezes, tanto mais que ele conhecia o terreno – trata-se de uma região limítrofe do Báruè, já na sua província de origem, Manica – a direcção do Centro optou por levá-lo à Beira, aos Serviços Provinciais de Reeducação, para dali mudar de local de reclusão.
Vozes de Sacudzo
3. Benedito Marime *
1. O Centro de Reeducação de Sacudzo situava-se na Serra Cudzo, entre os Rios Vunduzi e Pungué. Possivelmente, o centro adquiriu esse nome por leitura errada dos mapas existentes, ocorrendo a aglutinação da abreviatura de Serra (Sa) e do topónimo Cudzo (Sa+Cudzo), o que pode explicar a origem do nome atribuído ao Centro.
Para o Centro de Reeducação de Sacudzo começaram a ser enviados prisioneiros durante a vigência do governo de transição (20 de Setembro de 1974 – 24 de Junho de 1975). Registou-se uma entrada em massa de prisioneiros a seguir à gigantesca operação policial lançada na noite de 30 de Outubro de 1975 e na madrugada do dia seguinte, nas cidades de Maputo, Beira e Chimoio. Foram arbitrariamente detidas mais de 3,000 pessoas. A operação, que envolveu unidades do SNASP, da PIC, da Polícia e das FPLM, foi coordenada pelo ministro do interior, Armando Emílio Guebuza.É verdade, e não um mito, que André Matsangaíce esteve em Sacuze (nome, mais tarde, actualizado para Cudzo), detido no centro de reeducação ali existente. É também verdade que dali se ausentou, ilegalmente, uns tempos, após o que regressou voluntariamente ao mesmo; por via deste facto, e tendo em conta que isso poderia ocorrer mais vezes, tanto mais que ele conhecia o terreno – trata-se de uma região limítrofe do Báruè, já na sua província de origem, Manica – a direcção do Centro optou por levá-lo à Beira, aos Serviços Provinciais de Reeducação, para dali mudar de local de reclusão.
Esta operação foi feita sem especiais medidas de acompanhamento, o que, aliás, nem era novidade. Essa a razão por que não precisou de se desfazer de algemas nenhumas, que lhe não haviam sido postas. Já na ponte do Púnguè, na Estrada Nacional nº. 1, tanto André Matsangaíce, como outros que seguiam na viatura que o transportava, apearam-se para
apresentação das respectivas guias de marcha e para desentorpecer as pernas, pois a travessia era feita a pé, e não de viatura, tanto mais que nesta só se entrava já na margem direita do rio; foi nesse momento que, imprevisivelmente, André Matsangaíce se atirou ao rio por uma das guardas da ponte, desaparecendo para sempre nas águas do Púnguè, numa acção que, a princípio, pareceu mais de fuga por desespero, do que para iniciar a luta, de que ainda não havia notícia.
apresentação das respectivas guias de marcha e para desentorpecer as pernas, pois a travessia era feita a pé, e não de viatura, tanto mais que nesta só se entrava já na margem direita do rio; foi nesse momento que, imprevisivelmente, André Matsangaíce se atirou ao rio por uma das guardas da ponte, desaparecendo para sempre nas águas do Púnguè, numa acção que, a princípio, pareceu mais de fuga por desespero, do que para iniciar a luta, de que ainda não havia notícia.
É, também, verdade que, meses mais tarde, a 06.05.977, André Matsangaíce, comandando um grupo armado, atacou o centro de reeducação de Cudzo, levando consigo alguns dos detidos e que, na marcha para a Rodésia, se confrontou com forças da ZIPA (Zimbabwean People´s Army), que recuperaram alguns dos detidos, nomeadamente um tal Artur que,regressado ao Cudzo, seria, por isso mesmo, alcunhado de “Zimbabwe”, até pelas canções do ZIPA que ele entoava e ensinou.
Todos estes factos podem ser comprovados pelos membros da então direcção do Centro (o “Xingo”, o “Buluka Nyanga”, o Mafate, o Cachomba, o “Macabeça”, o Estêvão, o “Mu ri Kuva” – creio que muitos deles ainda vivos e, porventura, no activo), pelo Goubeia, que então estava “na Província”, pelo Mussosso, que estava “no Distrito” e por ilustres figuras hoje VIP que, por essa altura, andavam também por ali, para cura, por mudança de ares.
Um segundo ataque da guerrilha de Matsangaíce, mas não liderada por ele, voltaria a atingir o centro de Cudzo em Maio de 1979, levando consigo outros detidos, entre os quais um futuro Brigadeiro, creio que hoje na reserva, de sua alcunha ali, o “Pin”.
Então, na debandada que se seguiu, oportunistas, nomeadamente habitantes locais e detidos que o não seguiram, saquearam o Centro, creditando o feito aos invasores. Com isso, acabaram piorando a situação dos detidos que, encerrado o Centro, se viram redistribuídos por outros mais a Norte do País, tornando mais penosa a assistência, quer pelo Estado, quer pelos familiares dos mesmos.
* Autor do presente texto, cuja versão integral foi publicada no jornal Correio da Manha, edição do dia 16 de Novembro de 2005. Num outro depoimento, o Estimado Membro Benedito Marime revela ter sido em tempos enviado para o Centro de Reeducação de Sacudzo. Afirma ainda que foi restituído à liberdade depois do Centro ter sido alvo de várias incursões da Renamo. Outros prisioneiros, porém, foram transferidos para os Centros de Reeducação de Ruárua e Bilibiza, Província de Cabo Delgado, e de Itoculo, na Província de Nampula.
Foram muitos os cidadãos moçambicanos que tiveram o infortúnio do desterro em Sacudzo. Entre outros, o Estimado Membro do CEMM, hoje diplomata de carreira, Embaixador Pedro Comissario, Hortêncio Langa, Inácio Ombe, Carlos da Conceição José e João Belo Moisés Zitha, Pedro Cumaio Pires, Fernando Raúl Guezimane, José Zefanias Tomás, Simeão Mazuze, Amós Isaías Nhabangue, Orlando Hussene Canana,Virgílio da Conceição Martins, Lucas José Magonzane, e Lencastre Mesa Melo.
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