Jeremias Pondeca: trilhando nas marcas de uma paz podre
O assassinato de Jeremias Pondera representa o quê mesmo? Um passo gigantesco contra a Paz? Uma machadada cruel na reconciliação?
À medida que os beligerantes vão encurtando suas diferenças na mesa do diálogo, o perfil dos assassinados sobe dramaticamente de nível. Depois do baleamento mortal de José Manuel, Membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança, em abril na Beira, agora foram trucidar uma peça chave do processo negocial em curso, que até chefiava a subcomissão para a reforma legislativa.
Alguém nega que isto tem as marcas circunstanciais de uma assassinato político? Esperamos que não.
E aguardamos vivamente a reação do líder da Renamo. Ele pode ter sentido este assassinato como um golpe nos rins, uma violência psicológica tremenda dado que, nos últimos dias (ver SAVANA, última edição) já dava ares de cansaço, indiciando uma predisposição para acelerar do seu lado o processo de paz. É, no entanto, imprevisível captar qual será o sentido da sua reação. O que se pode prever é que a Renamo vai também subir o perfil dos seus alvos, nesta tremenda luta de titãs com guerrilhas urbanas e esquadrões de morte à soldo.
Como golpe psicológico para acelerar a adesão da Renamo à uma nova assinatura de paz pobre, este crime pode ter o efeito contrario: empurrar a Renamo para uma radicalização das suas ações de matança de civis e comissários políticos da Frelimo,.
O grave nisto tudo é que esta saga assassina parece profundamente enraizada como código genético dos dois lados.
Nossos beligerantes aprenderam a usar do gatilho e se viciaram nisso. Mesmo sentados numa mesa de dialogo, eles preferem o bang bang cá fora. Ninguém faz coito com a paz. Dum lado, uma guerrilha sedenta de sangue. Doutro esquadrões de morte aparentemente descomandados, impondo a lei da bala não apenas contra políticos da oposição (veja-se o atentado há meses contra o Secretário Geral da Renamo Manuel Bissopo e as mais recentes ameaças ao Edil de Quelimane, Manuel Araújo), mas também contra quem pensa diferente da Frelimo na sociedade civil. Moçambique vive este enredo trágico. Um partido armado que destrói vidas e bens e uma oposição cada vez mais sem espaço para ação política. Até bem pouco o país era um exemplo de pacificação e transição democrática. Hoje não se recomenda.
Vivemos esta dualidade perversa. Na mesa falamos de paz mas logo a seguir ali na rua armamos um duelo ao sol. A essência de uma paz podre sempre esteve presente no mindset dominante. Para as coisas mudarem, precisamos de homens corajosos. Como Bonifácio Gruveta. Foi ele quem impediu que David Aloni fosse também alvo de uma cilada mortal, insurgindo-se, nos corredores castrenses, veementemente, contra isso. Hoje, ninguém sabe quem dá as ordens e as desordens.
Uma coisa é certa: minhas cartas de Tarot dizem que mesmo que as armas calem no quadro desse diálogo, o país vai continuar seguir nessa paz podre por longos anos. Dhlalkama pode controlar seus guerrilheiros mas, como se viu na Ámerica Latina, nos anos 70 e 80, os esquadrões da morte prolongam-se na vida criminosa ao longo do tempo.
Sem comentários:
Enviar um comentário